Este
artigo é a continuação da história da Bulgária, país que visitei de ponta a
ponta, fazendo pesquisas e desenhando pormenores em todas as Cidades
importantes, que são muitas.
É o que
vou agora mostrar, os esquissos feitos passo a passo numa recolha de elementos
e dados históricos.
Comecei
logo no avião da Balkan Air, que tomei em Madrid, pois esta companhia não fazia
escala em Portugal em 1989. Tudo o que fui vivendo seria transferido para as
personagens, por isso o interesse pelos mínimos detalhes, desde os letreiros em
búlgaro colocados no avião, ao tipo de bancos, janelas, passando pelas fardas
das hospedeiras de bordo.
Mas porquê
desenhar, e não simplesmente fotografar, o que aparentemente seria mais rápido,
perguntarão.
Acontece
que em locais específicos em todo o mundo, nem sempre nos é autorizado
fotografar, e além disso num desenho podemos definir um recorte que na
fotografia se perde com sombras e a amalgama de planos. Mas o apontamento tem
de ser muito rápido. Como nem sempre há condições para utilizar lápis de cor ou
aguarelas, aponto por escrito as cores.
O que
mostro são folhas de blocos de tamanho reduzido, 12 x 17 cm, que cabem num
bolso e discretamente posso usar em qualquer altura.
Em
cima, apontamentos rápidos dos motoristas. O primeiro, acompanhou-me durante a
estada em Sófia, e o de baixo no circuito por todo o país. Por fim, a guia
búlgara que falava corretamente o português.
À esquerda, um esquisso do hall do hotel «Mar negro», em Varna. A seguir uma roulotte
adaptada para venda de café e outras bebidas com algo para comer. Tinha uma
pequeníssima esplanada com duas mesas e cadeiras, numa praça junto ao mar. Nessa
folha fiz apontamentos escritos recordando detalhes e situações de regiões por
onde íamos passando. Escrevi «macieiras pequenas».
Na Bulgária não deixavam
crescer as árvores de fruto para cima, iam cortando os ramos obrigando-as a rebentar
para os lados, e assim uma pessoa em pé podia proceder à apanha dos frutos, sem
precisar de escadas ou de algum mecanismo para o efeito. Era um espetáculo
estranho, ver aqueles alinhamentos de árvores anãs, mas tão funcionais.Na página ao lado, tirada ao acaso do conjunto, assinalo um caso curioso que não resisto em divulgar. Perto de um campo de aviação, uma autoestrada serve de alternativa para os aviões aterrarem, quando as condições meteorológicas não permitem faze-lo na pista. Foi concebida mais larga, e na área não existem árvores.
Mais
uma prova da utilidade de se conhecer pessoalmente os locais que queremos
incluir nas narrativas.
Na
Cidade de Vratza chamou-me a atenção esta picota, que também é usada no nosso
país, mas com a secção que leva o balde dentro do poço, constituída por segmentos
de madeira articuladas por meio de argolas.
Num
museu fixei este primitivo canhão artesanal, construído por camponeses na sua
luta contra o opressor turco, que durante 500 anos ocupou a Bulgária. Era em
madeira. O cano do canhão tinha um tubo de ferro no interior por onde saia a
bala, com anéis deste material a abraçavam o revestimento também de madeira.
Foi assim que os resistentes começaram a fazer frente aos turcos.
O
desenho a seguir foi executado num carro em andamento, quando seguíamos numa
das autoestradas. Registei aqui o recorte do horizonte, com as montanhas à esquerda
e poucas árvores a ladear. Este esquisso é o suficiente para eu utilizar no
desenho definitivo, de modo a que o leitor identifique o local onde as
personagens se encontram, e não fazer um horizonte qualquer, inventado. As
pessoas que vivem nos locais reconhecem assim o que se mostra no livro. Isso
dá-lhe autenticidade.
Tenho pena pelo facto desta história não ter visto até agora a luz do dia, mas dou por bem empregue todo o esforço e trabalho, pois aprendi muito e isso é o melhor que podemos colher destas aventuras. Também desconheço se a Bulgária mantém estas características.
Voltaremos
a retirar da gaveta mais uma história.
Mas isso faremos no próximo
artigo.