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Estátua de Camões, em Lisboa |
No próximo dia 10 de Junho, evoca-se o 434.º aniversário do falecimento do Poeta dos poetas da História de Portugal, quando exalou o seu último (e amargurado) suspiro: Luiz Vaz de Camões.
Deixou uma herança magnífica para a posteridade: a epopeia "Os Lusíadas", uma vasta, maravilhosa e invejável poesia lírica (o livro "Rimas") e, pelo menos, três peças teatrais ("Filodemo", "Auto de El-Rei Seleuco" e "Anfitriões"). Um outro livro de rimas, "Parnaso", foi-lhe criminosamente roubado quando vivia, na miséria, na cidade-ilha de Moçambique...
Sua sofredora mãe, Ana de Sá e Macedo, e o lendário e fidelíssimo "escravo" Jau (ou Jarco, como se cita numa versão mexicana), terão sobrevivido ao seu passamento.
Onde estão os seus ossos?... Ninguém sabe! Aquele belo túmulo no Mosteiro dos Jerónimos (onde tanto "chefe-de-estado" vai cerimoniosamente depôr uma coroa de flores e fazer uma insensível e hipócrita vénia), se tem lá algum esqueleto é, de certeza, de um qualquer ilustre desconhecido. Camões não está lá!...
Admirado pelo mundo inteiro (pelo menos pelos "Lusíadas"), tem estátuas em Portugal, Brasil, Moçambique, Goa, Angola, Macau.
E pela Literatura mundial, não faltam obras alusivas via teatro, romances e ensaios.
No Cinema, regista-se um filme de luxo, "Camões", realizado por Leitão de Barros em 1946, com a magistral interpretação do nosso saudoso actor António Vilar.
Luiz Vaz de Camões, português absoluto, atrevido, corajoso, espadachim, namoradeiro, valente soldado (que até perdeu um olho ao norte de Marrocos), amigo de paródias, sempre apaixonado por esta ou aquela, várias vezes conheceu a prisão ou o degredo. Viveu também em Marrocos, Goa, Macau e Moçambique, tendo sofrido um dramático naufrágio quando regressava de Macau para Goa, na costa do Camboja.
A "Santa Inquisição" e alguns poetas rivais e invejosos, tiveram-no sempre "à perna". Mas foi ele que ficou, magnífico, para sempre!
Está bem lembrado pela nossa (e não só) Banda Desenhada. Ora vejamos o que nos foi possível apurar até agora:
DE AUTOR DESCONHECIDO - Foi publicada, no Séc. XIX, numa folha volante com 25 vinhetas, possivelmente a primeira versão em banda desenhada da "Vida de Camões".
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"Vida de Camões" - Folha volante datada de 1880
in "Dicionário de Banda Desenhada - Léxico Disléxico", de Leonardo De Sá (Ed. Pedranocharco, 2010) |
FERNANDO BENTO E ADOLFO SIMÕES MÜLLER - História publicada no "Diabrete", mais tarde reeditada num mini-álbum pela Gulbenkian e depois num álbum pela Futura.
Duas pranchas de "Luís de Camões", in "Diabrete", dos n.ºs 702 a 730 (1950)
Capas das edições da Gulbenkian e da Futura, respectivamente
Ainda por este saudoso desenhista, o "Cavaleiro Andante" publicou ilustrações de algumas estâncias de "Os Lusíadas".
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Capa de Fernando Bento ("Cavaleiro Andante", n.º 232)
Ilustrações sobre "Os Lusíadas", in "Cavaleiro Andante" n.º 61 e 76, respectivamente (1953). |
JOBAT (ou José Batista) - Tem uma versão antiga, publicada no Diário Popular, em 1972, e que foi editada em francês, com argumento de Michel Gérac. Tornou a ser publicada, mais tarde, no semanário algarvio "O Louletano", na página "9.ª Arte: Memórias da Banda Desenhada", que Jobat coordenava.
Capa e vinheta de "La Vie Passionnante et Passionné de Camões",
de Michel Gérac e José Baptista (Jobat)
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Prancha de "A Vida Apaixonada e Apaixonante de Camões",
publicada no semanário "O Louletano" (2003) |
Tem também outra versão, mais curta, "O Trinca-Fortes", publicada no n.º 49 do "Jornal do Cuto".
Capa e pranchas 1 e 6 de "Trinca-Fortes", por José Baptista,
in "Jornal do Cuto", n.º 49 (1972)
CARLOS ALBERTO E JOSÉ DE OLIVEIRA COSME - Pela Agência Portuguesa de Revistas, o espantoso mini-álbum, a preto e branco, "Camões, sua vida aventurosa". Este exemplar é raríssimo de se encontrar. Esta obra foi reeditada a cores, pela Asa, em 1990. Consta que está esgotado...
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Capa de "Camões, sua vida aventurosa"
(Edição da "Agência Portuguesa de Revistas", 1972) |
"Camões, sua vida aventurosa", por Carlos Alberto e José de Oliveira Cosme,
em versão a preto e branco...
Capa da versão a cores - Edições ASA (1990)
Também com ilustrações de Carlos Alberto foi editada, em 1966 (com várias reedições posteriores), a caderneta de cromos "Camões" que, não sendo exactamente uma obra em banda desenhada, consideramos ter todo o interesse em aqui referir.
Capa e contra-capa da caderneta de cromos "Camões"...
...e duas páginas interiores da mesma.
JOSÉ MANUEL SOARES E RAUL COSTA - Existe um álbum, que já teve segunda edição, publicado pela Câmara Municipal de Odemira.
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Capa do álbum "Luis Vaz de Camões", com edição da Câmara Municipal de Odemira (1990)... |
...e duas pranchas do mesmo álbum.
RUI PIMENTEL E JORGE SERRÃO - "Camões aos Quadradinhos", numa adaptação da peça teatral homónima de Helder Costa. Tem edição da Agência Portuguesa de Revistas.
Capa e pranchas de "Camões aos Quadradinhos",
por Rui Pimentel (desenhos) e Jorge Serrão (argumento)
(Agência Portuguesa de Revistas)
RICARDO CABRITA - Camões participa no mini-álbum "Tágide: Um Poema à Constância".
Capa e prancha de "Tágide: um poema à Constância", de Ricardo Cabrita
LUÍS AFONSO - Tiras humorísticas publicadas no vespertino "Público". Camões aparece sempre nas tiras de 10 de Junho. Deixamos aqui apenas dois exemplos.
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"Bartoon", por Luís Afonso (jornal "Público", 10.06.2011) |
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"Bartoon", por Luís Afonso (jornal "Público", 10.06.2009) |
PEDRO CASTRO - Na sua "aceitável" colecção "Heróis", editou o último fascículo, o n.º 8, dedicado a Camões.
"Luís de Camões", por Pedro Castro (in "Heróis", n.º 8)
JORGE MIGUEL - Tem o belo álbum "Camões, De Vós Não Conhecido Nem Sonhado?", sob edição Plátano.
"Camões - De vós não conhecido nem sonhado?", por Jorge Miguel (Plátano Editora, 2008)
JOSÉ ANTUNES - Publicou, em 1957, na revista "Mundo de Aventuras" (entre os n.ºs 386 e 411) uma história chamada "Trinca-Fortes"...
Capa e três pranchas de "Trinca-Fortes", por José Antunes, in "Mundo de Aventuras" (1957)
...e em duas pranchas publicadas no n.º 18 da revista "Camarada", em 1963, e reeditadas nos "Cadernos Moura BD", pela Câmara Municipal de Moura...
"Luís de Camões", por José Antunes, in "Cadernos Moura BD", n.º 5 (2004)
Publicou ainda uma capa na revista "Pisca-Pisca", onde se anuncia uma história completa sobre Camões (desenhada por Fernand Cheneval e à qual mais adiante faremos referência).
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Capa da revista "Pisca-Pisca", n.º 6 (Junho de 1968), desenhada por José Antunes |
EUGÉNIO SILVA E PEDRO CARVALHO - "Luís de Camões", em duas pranchas, para um livro escolar...
"Lições de História Pátria - 3.ª classe", com desenhos de Eugénio Silva e texto de Pedro Carvalho
(Porto Editora, 1967)
...e também para um livro escolar e igualmente em duas pranchas, desenhou "Aventuras de um Poeta - Camões".
JOSÉ GARCÊS - Das abordagens deste nosso mestre da BD, salientamos as referências ao poeta em "Camões, o Autor da Epopeia Moderna", no n.º 134 da revista "Girassol", em 1972...
"Camões, o Herói da Epopeia Moderna", por José Garcês,
in revista "Girassol", n.º 134 (1972)
...e, em parceria com A. do Carmo Reis (autor do texto), na "História de Portugal em BD" (2.º volume).
Capa e prancha do segundo volume da "A História de Portugal em BD"
(Edições Asa, 1985)
JOSÉ RUY - Sob edição da Editorial de Notícias, adaptou "Os Lusiadas" em três tomos...
Capa e prancha do primeiro volume.
Capa e prancha do segundo volume.
Capa e prancha do terceiro volume.
...e para a revista "Mama Sume" abordou Camões (segundo Almeida Garrett) em duas pranchas.
Camões visto por José Ruy na revista "Mama Sume"
BAPTISTA MENDES - Tem "A Vida de Camões", numa versão curta estreada no "Jornal do Exército" e depois incluída no álbum "Por Mares Nunca Dantes Navegados" (ed. Futura)...
"A Vida de Camões", por Baptista Mendes - Edições Futura (1980)
...e numa versão longa, em trinta e sete páginas a preto e branco, publicada no "Jornal do Exército" (entre o #245, de Maio de 1980, e o #267, de Março de 1982).
Nota actualizada: Em Junho de 2023, a Câmara Municipal de Moura publicou esta história, completamente remontada e colorida pelo autor, com nova legendagem de Catherine Labey, inserida na colecção "Cadernos Moura BD".
"A Vida de Luis Vaz de Camões", por Baptista Mendes, in "Cadernos Moura BD" #12
(Ed. CM Moura, 2023)
ARTUR CORREIA E MANUEL PINHEIRO CHAGAS - Obviamente, incluíram o Poeta na divertida e didáctica "História Alegre de Portugal".
"História Alegre de Portugal" (volume 1),
de Artur Correia e Manuel Pinheiro Chagas (Bertrand Editora, 2008)
VÍTOR PÉON - Também outro dos nossos grandes desenhadores, Vítor Péon, abordou Camões e "Os Lusíadas" em "Gesta Heróica" (obra editada em dois volumes).
Pranchas de "Gesta Heróica - Factos e Aventuras da História de Portugal"
(Editorial O Livro, 1983), por Vítor Péon
Finalmente, deixamos aqui uma versão que descobrimos ao acaso, enquanto navegávamos na net, cujo autor é (supomos) Vítor Oliveira. Foi inserida no manual escolar do 10.º ano "Das Palavras aos Actos", publicado pela Asa.
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Versão de Vítor Oliveira (?), in "Das Palavras aos Actos" (Edições Asa, 2007) |
Existirão mais desenhistas portugueses que tenham abordado este tema? É bem possível...
Vejamos agora o que conseguimos registar pelo estrangeiro.
BÉLGICA:
GAL - Da autoria de Gal (aliás, Georges Langlais), em quatro pranchas, "Camoëns, le Poète Soldat", publicada na revista "Spirou" n.º 853, em 1954.
"Camöens, le Poète Soldat", por Gal ("Spirou" belga, n.º 853)
YVES DUVAL E FERNAND CHENEVAL - "Luís de Camões, Herói e Poeta de Génio", também em quatro pranchas, publicada no "Pisca-Pisca" (n.º 6), em 1968, e mais tarde reeditada no "Mundo de Aventuras" (n.º 375), em 1980.
"Luís de Camões, Herói e Poeta de Génio" por Yves Duval e Fernand Cheneval
BRASIL:
NICO ROSSO E PEDRO ANÍSIO- Em 1973, sob edição Ebal, o álbum "Os Lusíadas", com uma prévia versão curta sobre a vida de Camões, pelo desenhista italo-brasileiro Nico Rosso e o argumentista Pedro Anísio.
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Capa de "Os Lusíadas", por Nico Rosso, Edições EBAL (Brasil) (Out./1973) |
...e duas pranchas por Pedro Anísio (texto) e Nico Rosso (desenho)
LAILSON CAVALCANTI - Em 2006, a editora Companhia Editorial Nacional, publicou "Lusíadas 2005" por Lailson Cavalcanti, uma adaptação verdadeiramente aberrante, por muito que o artista se tivesse convencido que a adaptação (?!!...) era inovadora. Achámo-la repulsiva e desrespeitosa a Camões e a Portugal.
"Lusíadas 2005" por Laílson Cavalcanti (Companhia Editorial Nacional)
FIDO NESTI - adaptou "Os Lusíadas" para a colecção "Clássicos em HQ".
"Os Lusíadas em Quadrinhos", adaptação do brasileiro Fido Nesti para a série
"Clássicos em HQ" - Editora Peirópolis (2006)
MÉXICO:
JUAN MANUEL CAMPOS - Há uma versão de Juan Manuel Campos, "Los Luisiadas - Luis de Camoens", da qual, e até agora, só conseguimos obter a capa que reproduzimos.
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"Los Luisiadas - Luis de Camoens" (Niesa Editores) |
ALFONSO TIRADO - Por sua vez, em 1963, as Ediciones Recreativas, no fascículo ou mini-álbum n.º 87 de "Vidas Ilustres", editaram "Luis de Camoens" com grafismo de Alfonso Tirado.
"Luis de Camoens", por Alfonso Tirado (Ediciones Recreativas) (1963)
E, pelo Estrangeiro, quantas mais versões existirão que ainda não conseguimos "descobrir"?...
Para a elaboração deste post, agradecemos os apoios gentilmente prestados por Artur Correia, Baptista Mendes, Carlos Gonçalves, Eugénio Silva, Jorge Magalhães, José Coelho, José Eduardo Monteiro, José Garcês, José Manuel Vilela, José Ruy, Leonardo De Sá e Luís Afonso (e que nos perdoem se algum nome mais aqui nos escapou).
Viva CAMÕES!