CONTRA OS BRETÕES, MARCHAR, MARCHAR!
Ou o que fez surgir "A Portuguesa"
Assim começa a HISTÓRIA:
A 2 de Fevereiro de 1387, D. João I de Portugal matrimoniou-se com a dama inglesa D. Filipa de Lencastre. Foi o solenizar de um Tratado, reafirmando-se assim, entre D. João I de Portugal e Ricardo II de Inglaterra, em Windsor, depois de já em1373, tal ideia ter sido concertada entre D. Fernando I de Portugal e o príncipe inglês John de Gant.
Mais ou menos, tudo isto foi a génese da famosa Aliança Luso-Inglesa que ainda hoje, de nossa parte, servilmente e com um certo toque de vazio romantismo tacanho, vamos aceitando…
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Casamento de D. João I com Dª Filipa de Lencastre, em 1387 |
Deste enlace, da inglesa Filipa e do português João, nasceram nove filhos, dois dos quais morreram crianças. Dos outros, os cinco filhos varões - Duarte, Pedro, Henrique, João e Fernando - firmaram a "Ínclita Geração". Mas, daí para cá, a vetusta "aliada" Inglaterra só nos tem enganado, traído, roubado e apunhalado. Uma descarada canalhice!
Já lá irei à nossa gloriosa "A Portuguesa", mas cumpre-me antes, como português, fazer um breve apanhado histórico das britânicas patifarias ao nosso País, à nossa Pátria, tanto mais que imensos compatriotas nossos tais factos talvez ainda desconheçam!... Ora, vamos lá.
Muito antes deste conveniente matrimónio anglo-português já havia em plena Idade Média, acordos de pesca, navegação, comércio e determinadas políticas, entre o nosso País (ou Reino) com a Inglaterra, a Dinamarca e a Flandres…
A 14 de Agosto de 1385, aconteceu a gloriosa vitória de Portugal vencer Castela em Aljubarrota. Foi cá um estoiro contra o ávido Reino aqui mesmo ao lado!... Para aqui, os Ingleses apenas enviaram uma diminuta força de apoio de archeiros, que terão ensinado aos Portugueses a famosa "técnica do quadrado"...
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Batalha de Aljubarrota (1385) |
Algum tempo volvido, resultou uma das maiores crises políticas: o Reino de Portugal, num processo de traição e outras porcarias, caiu nas garras do ambicioso Reino de Castela… Já então, a Inglaterra, a França e a Holanda, sobretudo, não queriam portugueses nos seus horizontes e glórias… Pois, pois!...
Por estes tempos, um pirata inglês (dito, corsário), o senhor Francis Drake, atacou e fez violentos estragos em terras lusas, sobretudo no Algarve, Cascais e Açores. Por esses tempos ainda, D. António I de Portugal, cognominado "o Rei Efémero", após a sacrificada e heróica derrota em Acântara, pediu o apoio aos Ingleses que lhe viraram as costas… e veio a morrer, bem infeliz, na zona de Paris, pois foi acolhido pela França.
Em 1640, Portugal e a Catalunha lutaram pela restauração dos respectivos reinos, então sob Castela. O astuto e muito diplomático cardeal Richelieu, então primeiro ministro de França, nestas rebeliões, acabou por ajudar Portugal. Obrigado, França! Perdoa-nos, Catalunha!... E por aqui, a "doce" Inglaterra não tugiu nem mugiu!...
Quando a infanta D. Catarina (filha de D.João IV e de D. Luísa de Gusmão), por casamento, se instalou em Londres e para lá levou o "vício do chá", como dote matrimonial, Portugal ofereceu aos "sagrados aliados" as nossas cidades de "Além-Mar", de Tânger, Bombaim e Columbo. Isto não impediu que a Inglaterra deixasse de andar sempre voraz por tudo quanto cheirasse a Português!
Com a "crise" napoleónica, Wellington e Beresford vieram em auxílio (?!…) de Portugal, onde se refastelaram, como se Lisboa fosse um bairro de Londres!... Até ousaram assassinar (enforcar) o grande general Gomes Freire de Andrade!...
Outro ignóbil surripianço bretão a Portugal: as ilhas do Atlântico Sul, que embora não propriamente povoadas pelos portugueses, eram ainda terras nossas insulares à luz do Tratado de Tordesilhas (7 de Julho de 1494): Ascensão, Santa Helena, Tristão da Cunha e Gonçalo Álvares. As esquadras portuguesas escalavam-nas com frequência, sobretudo Santa Helena, cujo primeiro habitante fixo foi o soldado Fernão Lopes, e onde bem mais tarde acabou os seus dias o admirável Napoleão Bonaparte… Pois em inícios do século XIX, os hipócritas Bretões, sem dizerem água vai, ocuparam definitivamente tais ilhas!... E Portugal não reagiu!... Medo de Londres?!…
Agora, dou aqui dois convenientes saltos (lá chegarei à "Portuguesa"...) no tempo cronológico, aqui registado de um modo breve:
1 - Na Primeira Grande Guerra Mundial, enquanto as tropas Inglesas fugiam apavoradas (com "as calças nas mão"?...), bem como os poucos dos nossos, ante um feroz ataque alemão, um único português fez heroicamente frente às tropas de Berlim: o magnífico e ímpar "Soldado Milhões". E, nesse clima infernal, ainda teve o nobre gesto de salvar um médico escocês que ia morrendo afogado.
2 - A 11 de Novembro de 1965, o corajoso Ian Smith proclamou unilateralmente a independência da Rodésia (hoje, Zimbábuè), território que tinha apoio quase total de abastecimento no porto da Beira (Moçambique). Londres, com uma esquadra sua, logo decretou o bloqueio (e provável desembarque de tropas) da Beira!... Não funcionou bem, pois logo os Franceses para aí enviaram forças navais para defender o território que ainda era português e, por sintonia, a Rodésia.
Smith, para não complicar a vida a Lisboa (que discretamente o apoiava) optou - embora fosse bem mais caro - por se abastecer de quase tudo, via os portos sul-africanos de Durban e Cape Town.
Se tiverem tempo devido, procurem saber das opiniões justas e sarcásticas de dois génios literários Irlandeses, George Bernard Shaw e Oscar Wilde, sobre os Ingleses (ou Bretões).
Concentro-me agora no fulcro deste pertinente e histórico texto, e também em aplauso sentido aos nossos desenhistas em relação ao tema.
Acontece que houve a vil jogada política em relação à tão cobiçada África na famosa Conferência de Berlim, que delimitou o que é que pertencia a quem… A França e a Alemanha, cedo aceitaram as propostas lusas, mas a Inglaterra…
Por esses tempos, raros e heróicos sertanejos se aventuraram a "conhecer" África, de França, Itália, Inglaterra, Portugal… Nós, aplicámo-nos em admiráveis odisseias, épicas e terrestres, donde alguns nomes mais notáveis: António Ferreira Silva Porto, Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e Alberto Serpa Pinto.
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Silva Porto, Roberto Ivens, Hermenegildo Capelo e Serpa Pinto |
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O mapa cor-de-rosa |
Pelo lógico pensamento político euro-africano da época, a nossa ideia era ligar Angola a Moçambique, o célebre "Mapa Cor-de-Rosa", num só território luso-africano.
Teria sido bonito e glorioso para a respeitável lusofonia, mesmo que tais territórios, no futuro, dessem origem a certos e novos países africanos…
Foi então que o safado (é o suave adjectivo possível) de um ambicioso e intriguista político bretão (britânico, inglês ou o raio que…), um tal de Cecil Rhodes, alucinou Londres com outra ideia: em vez do "Mapa Côr-de-Rosa" português e em latitude, "de Angola à Contracosta", devia a Inglaterra impor-se e possuir em pleno, e em longitude, o "Cape to Cairo", ou seja, da África do Sul ao Egipto. Que sinistro e traiçoeiro canalha!
Então, Londres enviou um escabroso ultimato a Lisboa a 11 de Janeiro de 1890: Portugal, ou ocupava em pleno tal espaço ou a Inglaterra "tomava conta" do mesmo.
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O ultimato da Inglaterra a Portugal visto pelo caricaturista Raphael Bordallo Pinheiro |
Nós estávamos, económica e militarmente, num tempo bem infeliz e El-Rei D. Carlos cedeu às ameaças prepotentes da "nossa ancestral aliada" (Salvo seja!).
E então nasceu o nosso tão belo e emotivo Hino Nacional, "A Portuguesa"!
O Povo Português aceitaria melhor uma desastrosa e trágica guerra contra a Inglaterra, em vez de um "acocoranço"… mas não houve guerra e a cambada de além Canal da Mancha, ganhou!
Vozes (ou escritos) de notáveis ao lado do nosso Povo, como Guerra Junqueiro, Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, bem criaram os seus vigorosos textos, mas de nada valeu. Portugal estava impotente!
Valeu, sim, a parceria do poeta HENRIQUE LOPES DE MENDONÇA e do compositor ALFREDO KEIL que, num momento intenso e vibrante, criaram "A Portuguesa", o nosso Hino Nacional. No entanto, veio a acontecer uma "emenda ou alteração imperdoável" nos versos justos e de sentida revolta de Lopes de Mendonça (que até ficou proibido de frequentar a Corte): no original, não é "contra os canhões" que devemos marchar mas sim "contra os bretões". Mais uma vez, Lisboa teve medo que Londres amofinasse e uivasse!...
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Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça |
Ainda há um lógico e justo filme sobre todos estes aspectos, mas a nossa Banda Desenhada, na medida do possível, registou a história de "A Portuguesa" pelo menos em duas versões: uma, em duas pranchas, por CARLOS BAPTISTA MENDES...
"A Portuguesa", por Baptista Mendes,
in "Jornal do Exército" (1972)
...e a outra, em formato álbum (com lançamento no próximo domingo, 25 de Agosto, em Viseu) por JOSÉ PIRES.
Capa e pranchas de "A Portuguesa: História de um Hino", por José Pires
Edição: Gicav/Câmara Municipal de Viseu (Agosto/2019)
Cá por mim (L.B.), sempre que tenha de cantar o nosso Hino utilizarei o termo original "Contra os Bretões"... E que o tão badalado "Brexit" lhes faça bom proveito!
Viva Portugal!
Luiz Beira