quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

FALECEU JOSÉ MANUEL SOARES

José Manuel Soares (1932-2017)
Depois de dezasseis anos num estado quase vegetativo devido a três AVC's sofridos, faleceu, a 31 de Dezembro passado, mestre José Manuel Soares, tão ilustre pintor como autor de vasta obra pela Banda Desenhada.
Residia na Costa da Caparica e era casado com a pintora Ângela Vimonte.
Nasceu em S. Teotónio (concelho de Odemira) a 7 de Setembro de 1932.
Tinha uma galeria com exemplos da sua Pintura, em Leiria.
Foi homenageado pela BD, na Sobreda (1986), em Moura (1993) e, em 1996, no 15.º Festival de Banda Desenhada de Lisboa.
Colaborou para muitas publicações, como “Diabrete”, “Cavaleiro Andante”, “Pimpão”, “Mundo de Aventuras”, “Fagulha”, “Lusitas”, “O Odemirense”, “Cara Alegre”, “Jornal de Almada”, “Diário do Norte”, “Alentejo Popular”, etc.
Capas para a revista "Cara Alegre" (anos 50)
Capa e ilustração de "Os Quatro Cavaleiros Invencíveis",
Colecção Manecas (Edição Romano Torres)
Capas de "Os Fidalgos da Casa Mourisca", Edição Agência Portuguesa de Revistas

Com vastíssima obra pela 9.ª Arte, muito poucos exemplos estão registados e recuperados em álbum, a saber:
Em 1985, pelas Edições Futura, um álbum com as narrativas “A Ala dos Namorados” e “De Angola à Contracosta”, obras publicadas anteriormente na revista "Cavaleiro Andante".
Capa e prancha de "A Ala dos Namorados", por Artur Varatojo (texto) e José Manuel Soares (desenhos),
Colecção Antologia da BD Portuguesa #15, Edições Futura (1985) 

Pranchas de "De Angola à Contra-costa", por José Manuel Soares,
in Cavaleiro Andante #365 a #382.

Em 1990, “Luís Vaz de Camões”, com edição da Câmara Municipal de Odemira.
Capa e prancha de "Luis Vaz de Camões", por Raul Costa (texto) e
José Manuel Soares (desenhos), Edição Câmara Municipal de Odemira (1990)

E, em 2000, pelo Grupo Bedéfilo Sobredense (GBS), o n.º 15 de “Cadernos Sobreda-BD”, com as narrativas “O Morcego de Veludo” e “Rasto de Fogo”.
 
Capa e prancha de "O Morcego de Veludo", in "Cadernos Sobreda BD" #15
Edição Grupo Bedéfilo Sobredense (2000)
Pranchas de "Rasto de Fogo", por Raúl Cosme (texto) e José Manuel Soares (desenhos)
in "Cadernos Sobreda BD" #15, Edição Grupo Bedéfilo Sobredense (2000)

Alguns outros títulos da sua arte como desenhista: “Zeca”, “O Filho do Leão”, “Giácomo, o Indesejável”, “O Ferido do Bosque”, “Zona Perigosa”, “O Palácio de Cristal”, etc.
 
Capa e pranchas de "Zeca", por Raul Oliveira Cosme (texto) e José Manuel Soares (desenhos),
in "Mundo de Aventuras" #392 a #403 (1957)

De entre outros, desenhou argumentos de Artur Varatojo e de Raúl Cosme.
Pela sua Pintura, foi digna e diversas vezes premiado.
José Manuel Soares pintando no seu ateliê.
Expôs exemplos da sua banda desenhada na Sobreda, Moura, Lisboa, Viseu e Leiria.
José Manuel Soares no salão Moura BD 93, onde foi o Convidado de Honra
Em Agosto de 2014, foi inaugurado em Pinhel o Museu José Manuel Soares, no primeiro andar da Casa da Cultura (antigo Paço Episcopal, edifício datado do Séc. XVIII). Uma justíssima homenagem à memória e à obra do artista, onde se pode apreciar a sua Pintura e a sua Banda Desenhada.
Inauguração do Museu José Manuel Soares, em Pinhel, em Agosto de 2014
Que mestre José Manuel Soares esteja agora na devida paz eterna.
À viúva, Ângela Vimonte, o BDBD apresenta as mais sinceras condolências.
LB/CR

sábado, 27 de janeiro de 2018

O AMIGO DA ONÇA

Recordando O Amigo da Onça


Famosíssimo, este personagem não é da Banda Desenhada, mas sim, quase exclusivo do Cartune.
O Amigo da Onça nasceu a 23 de Outubro de 1943, para a revista “O Cruzeiro”, com autoria de Péricles até 1961.
Foi, e é, um personagem gráfico de uma força sarcástica, que põe em delírio o riso de todo o cidadão atento e inteligente, e põe a bufar de raiva incontida os possidónios e prepotentes de e na vida. Que espanto de genial criação do saudoso Péricles!
O Amigo da Onça será, e é, um maravilhoso crítico social mordaz, cínico e terrivelmente desconcertante. Magnífico!
Foi criado por Péricles, a pedido de Leão Gondim, director da revista “O Cruzeiro” e, mais tarde, foi também publicado na revista “Semanário”.
Para além do cartune, também passou por tiras da Banda Desenhada, pelo Teatro, pelo Cinema e pelo Cinema de Animação.


Um espantoso e eterno personagem que, sozinho e com as suas terríveis opiniões, chuta para qualquer distante espaço tanta vertigem de heróis-BD” que por aí abundam com cinzentas vaidades.


Os Autores:
Péricles (1924-1961), criador de O Amigo da Onça
PÉRICLES - de seu nome próprio Péricles de Andrade Maranhão, nasceu no Recife a 14 de Agosto e 1924 e faleceu, por suicídio, a 31 de Dezembro de 1961, no Rio de Janeiro. Estranha e precipitada morte, pois Péricles, com o seu encantador e hilariante humor crítico, sofreria de solidão.
Fechou-se no seu apartamento, abriu o gás e... deixou um aviso na porta: “Não risquem os fósforos!.
CARLOS ESTÊVÃO (1921-1972) - descendente de portugueses, Carlos Estêvão de Souza, nasceu no Recife e faleceu em Belo Horizonte. Famoso pela sua arte e pelo seu humor, acompanhou de muito perto O Amigo da Onça, do qual foi até certo ponto um capaz continuador.
GETÚLIO DELPHIM - nascido no Rio de Janeiro, continuou por dois anos, a obra/herói de Péricles, na melhor linha do criador original.
SERGIO MORETTINI - nascido em Buenos Aires em 1961, radicou-se no Brasil. Para além de O Amigo da Onça, criou outro personagem famoso, o “Mico Legal “.
OCTAVIO CARIELLO - nascido no Recife em 1963, também escritor e argumentista, com textos de Jal, apostou em recriações de O Amigo da Onça.
Será que alguém mais, pelo menos no grande Brasil, vai continuar com as impagáveis senteças do insubstituível Amigo da Onça?
A terminar esta justa recordação, a explicação da origem deste nome, que surgiu via uma anedota:
Dois amigos, caçadores, conversam enquanto esperam uma “vitima” ...
- O que faria se estivesse mesmo na selva e uma onça aparecesse na sua frente?
- Ora, dava um tiro nela!
- E se não tivesse nenhuma arma e fogo?
- Matava-a com o meu facão.
- E se não tivesse facão?
- Apanhava um bom pedaço de pau.
- E se não tivesse pau?
- Subia a uma árvore.
- E se não houvesse alguma árvore?
- Fugia a correr.
- E se estivesse paralisado pelo medo?
- Irra! Você é meu amigo ou amigo da onça?

E você, bedéfilo, é o quê?!...
LB
Documentário sobre O Amigo da Onça (Parte I)

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

NOVIDADES EDITORIAIS (138)

MARIA ET SALAZAR - Edição Des Ronds Dans l’O. Autor: Robin Walter.
Este álbum é uma grande surpresa: a editora, que não conhecíamos, o jovem autor francês Robin Walter e a obra em si, “Maria et Salazar” (Maria e Salazar), que nos
encanta e emociona.
Maria Manuel, portugueses e ainda muito jovem casal, emigram para França (anos 70...) em busca de melhor vida económica e fugindo ao sufocante regime do ditador António Salazar. O álbum é um documentado relato de toda esta situação em Portugal e dos nossos sofridos emigrantes. E, de certo modo, com sérios momentos autobiográficos do autor.
Uma narrativa de ternura e de agradecimento do autor na sua estima total pelos portugueses. Obrigado, muito obrigado, monsieur Robin Walter!
Nota - não vamos aqui relatar esta história, mas colocamos já os aspectos fundamentais: é obrigatório ler esta obra e é obrigatório (sabe-se lá por que editora nossa!...) uma devida edição em português.


QUARANTASEI - Edição Leopoldo Bloom Editore. Autores: argumento de Valentino Rossi e arte gráfica de Milo Manara. Na apresentação, um prefácio de Vincenzo Mollica e um breve “desabafo” do próprio Rossi.
Estamos hoje nas novidades-surpresa, e agora e sobretudo, pela estreia como argumentista, de Valentino Rossi, dito o “VR 46”...
Milo Manara continua admirável na sua arte, não se esquivando à sua afirmada linha erótica. Mesmo assim, nesta obra, o seu belo estilo está um tanto ou quanto diferente, mas sempre cativante.
Valentino Rossi, italiano, nascido em Urbino a 16 de Fevereiro de 1979, é um notável motociclista profissional já com invejáveis prémios. Todavia, não se imaginava que ele fosse também um capaz argumentista-BD!...
Mas assim foi agora em “Quarantasei” (Quarenta e Seis), numa relativa linha biográfica, onde coloca momentos de ficção científica e de humor (com o seu fiel cão Guido e um bizarro e divertido galo Osvaldo)... Mais ainda: em certas passagens da narrativa, ele encontra e dialoga com dois dos seus ídolos favoritos, o cantor Jim Morrison  e o actor-motociclista Steeve McQueen!...
Um belo delírio, toda esta história!
Um magnífico álbum que, por agora, só podemos ler em italiano.
Registe-se neste espaço, o nosso agradecimento pleno a Mary Bartolo Andreoli, nossa representante em Itália e Malta, que, volta não volta, nos faz chegar de seu carinho, algumas belíssimas obras italianas. Grazia tanta, Mary!


LA NAISSANCE DES DIEUX - Edição Glenat. Autores: (são muitos!...) pelo que se salientam apenas alguns. Com a lógica coordenação entusiasta de Luc Ferry, tem-se o argumento de Clotilde Bruneau, arte de Federico Santagati e Dim D. e capa de Fred Vignaux.
Acertadamente, este deveria ser o primeiro tomo da admirável série-colecção “La Sagessse des Mythes”... mas aparece agora “a meio da ponte”. A Glenat e Luc Ferry é que sabem!... De qualquer modo, esta cronologia um tanto desnorteada, não atrofia o nosso entusiasmo por esta bela e corajosa série.
LB

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

ENTREVISTAS (27) - DANI ALMEIDA

Dani Almeida
Na novíssima geração de desenhistas portugueses, há valores que já se demarcam bem, com altos e positivos pontos. Daqui, por exemplo, Dani Almeida, que hoje apresentamos com entrevista incluída.
De seu nome completo Daniel Rodrigues Correia de Almeida, nasceu a 15 de Maio de 1997, em Viseu, onde reside e onde cursa Artes e Multimédia, na Escola Superior de Educação.
Ainda na infância, já desenhava “bonecos” com pleno entusiasmo.
É possível que seu pai, o contista, poeta e pintor Carlos Alberto Almeida, tenha tido alguma influência por esta salutar vertigem...
A série televisiva “Power Rangers” e a BD japonesa (Mangá) foram também duas boas alavancas.
Dani Almeida tem participado em vários salões-BD. Ganhou o primeiro prémio dos concursos em Viseu (2005 e 2010) e em Moura (2011).
Para além da sua banda desenhada, sempre a evoluir, também é ilustrador, retratista e decorador.
Ilustrou dois livros de contos de seu pai: “Histórias do Mar” (2013) e “Histórias da Feira “(2014).
Foi o autor dos cartazes do Salão-BD de Viseu, em 2009, e da exposição “D. Afonso Henriques na BD”, em 2017.
Cartaz da exposição "Dom Afonso Henriques na Banda Desenhada" (2017),
com ilustração de Dani Almeida
Se bem que aparentemente tímido para o diálogo, conseguimos, no entanto, a sua afável “coragem” para esta entrevista:

BDBD - Como nasceu a tua aproximação à Banda Desenhada e à Ilustração: por influência paterna ou por exemplos que cedo começaste a observar?
Dani Almeida (DA) - Lembro-me de falar com o meu pai sobre um personagem da Banda Desenhada. Esse personagem era o Homem-Aranha. Mais tarde, nesse dia, fomos a um hipermercado e vi um VHS da série animada do mesmo personagem. O meu pai comprou-me o VHS e, depois de o ver... não consegui parar de o rever. Penso que foi assim que entrei no mundo da BD.

BDBD - Sendo tu ainda bastante jovem, já ganhaste prémios em concursos-BD, duas vezes em Viseu e outra em Moura. Que significam para ti tais triunfos?
DA - Eu vejo esse triunfos de uma forma muito boa, não só pelo prémio em si, mas também como uma forma de mostrar o meu trabalho e aquilo que posso fazer como artista, neste caso mais específico, como artista de BD.
Pranchas de "Crueldade Humana... Justiça Animal", trabalho com que Dani Almeida
 foi premiado no Concurso de Banda Desenhada e Cartune de Moura (2011)

BDBD - Começaste por estar próximo dos Super-Heróis norte-americanos e da Banda Desenhada japonesa... Continuas por aqui ou buscas um estilo mais pessoal?
DA - Penso que parte de mim irá continuar por estas vertentes da BD, mas tento também, procurar o meu próprio estilo e traço, para que me possa destacar dos demais grandes artistas.

BDBD - Dos artistas famosos, indica alguns que mais admiras...
DA - Pois, alguns: Jim Lee, Lee Bermejo, Jae Lee, Steve Mcniven, Gabriele Dell’Otto e Alex Ross.

BDBD - A Banda Desenhada humorística não te seduz? E a erótica?
DA - Não tenho grande apreciação por nenhum destes géneros. Prefiro um estilo mais sério ou até mesmo, “noir”.

"Histórias do Mar", livro de Carlos Almeida
com ilustrações de Dani Almeida
(Edições Vieira da Silva)
BDBD - Já ilustraste dois livros de contos de teu pai... É fácil trabalhares com o teu progenitor?
DA - Sim, damo-nos muito bem, concordamos um com o outro a maioria das vezes, e quando discordamos, se um desenho devia ser de uma forma ou se deveria ser de outra, arranjamos uma solução.

BDBD - Alguma vez pensaste em criar um herói para uma série?
DA - Já pensei em vários, quando era mais jovem, mas depois apercebi-me que não basta criar um nome, poderes e/ou um fato. É preciso tornar o personagem credível e é preciso torná-lo interessante. E outra coisa de que me apercebi, é que, a maior parte das vezes, já existia um personagem do género do que criara.

BDBD - E para quando o teu primeiro álbum de Banda Desenhada?
DA - Não faço ideia, mas espero que seja num futuro próximo...

BDBD - Nesta linha, qual é o teu grande sonho? Pensas fazer carreira como desenhista?
DA - O meu sonho é fazer um pouco de tudo no que diz respeito às Artes Visuais. Gostaria de fazer Banda Desenhada, tal como Animação. Fazer arte conceptual para filmes ou videojogos, storyboards para filmes de animação, efeitos especiais para filmes, etc...
Prancha de "Viagem Alucinante"
Prancha de "Encruzilhada da Morte"

Prancha de "Sol e Sombra"
"Viriato", Cartune (2015)
"Infante Dom Henrique", cartune (2016)
BDBD - Muito obrigado, Dani, por me teres “aturado” para esta conversa (pelo menos, a primeira). E, como agora se diz por aí: FORÇA, que a Força está connosco!
LB