quarta-feira, 29 de junho de 2022

BREVES (107)

ILUSTRAÇÕES DE JAYME CORTEZ EM BEJA
No Museu Rainha Dona Leonor, em Beja, está patente a exposição de ilustração “Jayme Cortez”, com curadoria de Fabio Moraes e Paulo Monteiro.
A mostra, realizada no âmbito do XVII Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, permite visitar alguns dos seus trabalhos mais emblemáticos.
Nascido em Lisboa, em 1926, e radicado no Brasil desde 1946, Jayme Cortez atravessou a segunda metade do século XX brasileiro como um cometa. Artista inspirado e verdadeiramente multifacetado, realizou uma obra colossal desenhando cartazes para cinema, capas para livros e revistas, e inúmeras bandas desenhadas. De entre a sua produção, que se iniciou em São Paulo nos anos 50, sobressaem os trabalhos que criou num género pouco comum: o terror. São famosas as capas que desenhou para a revista Calafrio ou as dezenas de histórias de terror que povoaram de espíritos malignos as noites de muitos adolescentes.
Este acervo, que se encontra à guarda do futuro Museu da Banda Desenhada de Beja, constitui um corpo fundamental para o estudo da arte popular deste período.
A exposição estará aberta ao público até 31 de julho.


ANGELI ENCERRA COMO CARTUNISTA... MAS NÃO COMO ARTISTA
Angeli, o grande cartunista da Folha de S. Paulo desde 1973 (há quase cinquenta anos!), criador de personagens icónicos como "Rê Bordosa", "Wood & Stock", "Bob Cuspe", "Mara Tara", "Osgarmo" ou "Os Skrotinhos", luta há alguns anos contra a Afasia Progressiva Primária, uma doença neurodegenerativa que afecta a comunicação, incapacitando o doente na expressão verbal ou escrita.
Por essa razão, Angeli parou a sua actividade enquanto cartunista, algo que foi confirmado pela esposa, Carolina Guaycuru: "O traço dele mudou muito nestes últimos anos, e mais ainda nestes últimos meses. Já não acompanha mais a linguagem do cartum, da tira. Mas se tornou um grafismo mais plástico, mais solto. Por isso, a decisão de parar com a colaboração com o jornal”.
"Encerra como cartunista, mas não como artista. Ele tem ainda muito para mostrar", acrescentou Carolina.
Daqui enviamos um grande abraço a Angeli, convictos de que saberá enfrentar esta adversidade com a esperança e a dignidade com que nos brindou até agora, enquanto artista.


ANIVERSÁRIOS EM JULHO

Dia 03 - Arlindo Fagundes
Dia 07 - Ionut Popescu (romeno)
Dia 10 - Juan Espallardo (espanhol)
Dia 12 - Ricardo Cabrita
Dia 16 - Miguelanxo Prado (espanhol) e Hugues Barthe (francês)
​Dia 23 - Carlos Almeida
Dia 25 - Attila Fazekas (húngaro)
​Dia 30 - Achdé (francês)​
​Dia 31 - Lança Guerreiro
CR/LB

sexta-feira, 24 de junho de 2022

NOVIDADES EDITORIAIS (238)

OS RUFFIANS - Edição Gradiva. Autores: guião e traço de Yves Swolfs e côr por Julie Sweolfs. Tradução de Jorge Lima. É o segundo tomo da vigorosa série "Lonesome".
Implacável por fazer justiça, o cavaleiro solitário e sem nome indicado, mas certeiro no tiro, prossegue no encalço de um pregador fanático e cruel, Markhan...
Mas outras entidades vão armadilhando os seus intentos.
"Lonesome" é um western especial, notoriamente impiedoso, mas que agarra facilmente o leitor bedéfilo que se preze.


FAIT PAS TANT D'MANIÈRES! - Edição Glénat. Autor: Ralf König.
No nosso post da rubrica "Talentos da Nossa Europa", a 25 de Março de 2017, revelámos este impagável autor alemão. Aconselhamos a sua leitura ou releitura...
Digamos que Ralf König "não brinca em serviço". Pois não, uma vez que ultrapassa tudo com a sua delirante mordacidade. Ele diverte-se e diverte-nos a todos nós.
Nestas circunstâncias, as situações que aborda seriam bem dramáticas e algumas delas, até, angustiantes. No estilo humorísticos e suavizante, soltam-se as nossas gargalhadas. Aplausos, pois!



LE SCANDALE ARÈS - Edição Casterman. Autores, segundo Jacques Martin: o argumento é de Roger Seiter e a arte de Régric. É o 33.º tomo da série "Lefranc".
Guy Lefranc é destemido e corajoso, mas também demasiado curioso. E por estas qualidades, com frequência é envolvido em situações perigosas que não estão longe de ameaçar a sua vida.
É o caso desta narrativa: em Junho de 1940, dois misteriosos aviões franceses destruiram uma coluna de blindados alemães. Esta estranha vitória não está porem, registada nos arquivos militares!...
Bem mais tarde, Lefranc e os seus companheiros Marlène e Jules Meyer, começam a investigar este bizarro "silêncio"... Mas as autoridades militares e os serviços secretos franceses estão apostados em tramar as ideias de Lefranc e seus amigos...


MATTEO / QUINTA ÉPOCA - Edição Ala dos Livros. Autor: Jeran-Pierre Gibrat.
Tomo belíssimo, como aliás a série, aqui tudo se passa de Setembro de 1936 a Janeiro de 1939, durante a sangrenta e abominável Guerra Civil de Espanha.
É quase inacreditável tanta barbaridade, mas as guerras são assim, sobretudo se é uma guerra civil...
E tudo começou logo no início da Humanidade, pois segundo "A Bíblia", obra fantasiosa judaico-cristã, a lenda conta assim: Caim matou seu irmão Abel.
Que grande bronca!...


FAUNA - Edição: DitirambosBD. Autores: Joana Afonso, Ricardo Baptista, André Caetano, Raquel Costa, Nuno Filipe Cancelinha, Diogo Carvalho, Francisco Ferreira, Sónia Mota, Sofia Neto e Carla Rodrigues. 3.º tomo da colecção "Ditirambos".
Um "Ditirambo" não é apenas um canto em honra de Dionísio ou de Baco. "Ditirambos" é também uma antologia de autores portugueses, com diferentes técnicas e pontos de vista, que obedecem a dois únicos requisitos: trabalhar um tema em quatro páginas.
Depois do "Êxtase" e do "Abismo", temas escolhidos nos primeiros dois números desta curiosa e bem cuidada colecção (com excelente grafismo e impressão, diga-se), aí está a "Fauna" como ponto comum neste terceiro volume.
Um conjunto de oito histórias que se leem de uma assentada, algumas delas autênticas pérolas de virtuosismo gráfico como as de Joana Afonso, André Caetano ou Sofia Neto... entre outras.
Nota muito positiva para este projecto que - não duvidamos - continuará a progredir nos próximos números.
LB/CR

terça-feira, 14 de junho de 2022

ILUSTRAÇÕES E HISTÓRIAS EM QUADRINHOS por José Ruy (13)



Continuo agora a mostrar as ilustrações ainda inéditas de um livro por publicar, as Novelas d’O Mosquito, de José Padiña (que usava sempre pseudónimos e nunca o seu nome verdadeiro) e que não tinham sido ilustradas. O Teixeira Coelho nessa altura estava já dedicado a fazer Histórias em Quadrinhos e não tinha tempo para as ilustrações das novelas.
Desta vez o ETCoelho dignou-se fazer apenas o cabeçalho. Junto os esboços que ele ensaiou, por curiosidade.
O Padiña usou nesta novela o pseudónimo «Peter Tenerife».

Vamos à história: contarei a traços largos, mas de modo a poderem compreender o que representam as ilustrações.
Palavras de Padiña:

Foi um velho, muito velho, quem me contou esta história. Tinha-a ouvido do avô dele, e o avô também a ouviu do avô respetivo: segundo depreendi pelos pormenores, cheguei à conclusão de que tudo acontecera em Goa, durante o século XVIII. Mas se não foi precisamente em Goa, pelo menos foi em qualquer cidade da Índia Portuguesa. E quanto à época, é que não me restam dúvidas.
Rara era a noite em que os seus salões se não iluminavam com milhares de lanterninhas chinesas e se não enchiam de convidados.

Ora, numa dessas festas, aconteceu que ...
Em certo recanto onde o bulício das gentes incomodava menos, estavam dois jovens conversando.
- Não me parece bem que nós, cristãos, possamos manter-nos indiferentes perante este problema das «castas». O que me revolta sobretudo é a degradação dos párias. Entre as outras castas, as diferenças são grandes, e isolam-se cada uma dentro do seu círculo, enfim, não há caridade, mas também não há grande agressividade.
Assim falava aquele jovem que tinha o ar mais grave e triste. Vinha com o grupo uma mocinha, chamava-se Florinda, e era a noiva de Daniel.
Achou que também devia fazer um comentário: 
- Desconfio que tem projetos de transformar a nossa casa em convento.
Daniel mirou a noiva de soslaio, e respondeu:
- Bem melhor era que as cabeças ocas não tivessem boca, para nós não percebermos o vazio delas...
- Isso quer dizer que me chamas idiota, não é?
- Exatamente.

Balsemão Geraldes, (o de bigodinho no desenho) como superelegante que era, precipitou-se a defender a ofendida.
Avançou - meneando-se - e engrossando a voz desafiou-o:
- Neste momento, senhor D. Daniel de Outeiro, eu represento o meu pai para vos dizer que em nossa casa não se consente o insulto a uma senhora. Façam o favor de sair!
Fabrício adiantou-se e desembainhou a comprida espada.
- Vós não me conheceis ainda. Cheguei ontem de Portugal. Chamo-me Fabrício Cecílio, Fabrício, o espadachim...
Daniel não se demorou a empunhar a sua lâmina e a colocar-se ao lado de Fabrício, que ripostou serenamente:
- Sim, sairemos. Mas antes quero aumentar os bordados dos vossos lindos fatos.

Balsemão esquivou desastradamente o primeiro golpe de Fabrício, gritando a senha «S. Sebastian y amor», que era o convite para os seus amigos acudirem. Seriam pelo menos uns vinte. Daniel, que era mais um homem de gabinete, limitou a sua ação a proteger as costas de Fabrício. Este, pelo contrário, até fazia impressão ver a velocidade da espada dele a desferir cutiladas seguidas umas atrás das outras.

Um deles, porém, ainda logrou ferir Daniel, que teve de soltar a espada. Com um salto, Fabrício lançou-se no meio dos inimigos, mesmo no sítio onde eles estavam mais concentrados, e então é que foi assistir a um combate lindo.
Uns dez ou doze caíram logo no chão, a gemer. Outros largaram as espadas e correram a bom correr. Balsemão Geraldes estava entre estes últimos.

Não vendo mais inimigos, Fabrício serenou e prestou atenção a Daniel. O golpe que o amigo sofrera era mais grave do que a princípio parecia. O sangue corria com abundância: uma veia fora atingida. O jovem fizera ligaduras com lenços, mas a sangria não tinha termo. Fabrício pegou no amigo como se ele fosse uma pena. Desceram um lanço da escada sem encontrar ninguém.


Bonifácio Geraldes, o dono da casa, sozinho no meio do átrio, com uma mão na ilharga e a outra sustendo a espada que ele ergueu ao aparecerem os nossos heróis, bradou com voz tonitruante:
- Alto aí! Nenhum de vós sairá desta casa enquanto não chegar a justiça D’el-Rei!
Fabrício hesitou, parando um momento. Mas logo continuou. Um pesado reposteiro ondulou mais fortemente, e ouviu-se um murmúrio por detrás dele.
Fabrício ultrapassou o dono de casa, chegou à porta, correu os ferrolhos, segredou a Daniel:
- Vai andando. Procura uma cadeirinha, e diz que te levem a casa...
Fabrício ficou ainda um pouco a falar com o dono da casa e depois saiu.

Ao fechar a porta, Fabrício estacou, ficando cego pela escuridão da noite. Adiantou uns passos, e reparou que havia
encostada à beira do palácio uma cadeirinha.
Um criado veio-lhe ao encontro, com um quadrado de papel. Era da parte de Florinda. O criado disse que vira Daniel, ferido, sentado no degrau da porta, e que uns homens o tinham levado, por uma porta das traseiras.


O papel era de Florinda, a pedir desculpa do seu procedimento no salão e que o criado podia levar Daniel para sua casa. De repente apareceram os guardas do Governador, que Geraldes mandara chamar. Eram quatro homens mais um oficial.

De dentro abriram imediatamente, e os guardas entraram. Não tardaram a reaparecer. Dois criados carregavam com Daniel, meio desmaiado. E logo depois a patrulha pôs-se em marcha. A porta do palácio fechou-se.
Assim que os guardas dobraram a esquina, Fabrício saiu-lhes ao caminho e desbaratou o grupo com facilidade.
Fabrício acompanhou a cadeirinha com Daniel ferido e dirigiu-se a casa da sua noiva.

A casa tinha um jardim em redor. Florinda, acompanhada por seu irmão - um rapaz de 19 anos, esperava, num banco cerca do portão do jardim, a chegada da cadeirinha.
- Oh! Como está o pobre Daniel? - perguntou Florinda,
- Está muito mal. E além disso corre outro perigo grave: os guardas do Governador querem prendê-lo. Os Geraldes queixaram-se de nós...
- Levá-lo agora para casa é o mesmo que entregá-lo à prisão. E no estado dele seria morte certa...

Instalaram Daniel num pavilhão do Jardim, escolheram dois bons cavalos e o irmão da moça prontificou-se a guiar Fabrício até à morada de um físico para tratar o Daniel.

Na volta, trouxeram o físico na garupa do cavalo de Daniel, e Fabrício tomou a dianteira para inspecionar o que se passava perto da casa de Florinda.
E aquilo foi inspiração do Céu. Alguém seguira a cadeirinha de longe, era o próprio Balsemão Geraldes em carne e osso. O repugnante espião voou direito ao Governador, acordou-o explicou-lhe o crime de Fabrício que atacara os guardas e lhes roubara Daniel, e pedia uma escolta reforçada para os ir prender a ambos a casa do pai de Florinda - a ocasião era ótima de fazerem figura, com as costas protegidas pelos soldados... - e partiu a tropa toda à caça dos prisioneiros.
Foi nesse momento que Fabrício, ainda ao longe, e sem ser visto, descobriu o que se passava. Galopou ao encontro de Miguel, avisando-o, e que desse uma volta maior com o mouro, enquanto ele desviaria as atenções do «regimento». E Fabrício era realmente homem capaz para se defrontar sozinho contra um regimento!

No entanto, Fabrício não podia arriscar-se a ser vencido, isso era arriscar a liberdade de Daniel, pois os outros, sendo vencedores, já não teriam mais hesitações em revistar a casa.
Portanto, procurou dar outro aspecto ao problema. Num arranque mais violento e mais enérgico, à força dum ciclone de cutiladas, abriu passagem através dos adversários, e fugiu. Obteve o efeito desejado. Todos galoparam atrás dele. Fabrício, propositadamente, encaminhou-se em direção à pequena fortaleza onde vivia o Governador, atravessando as ruelas da cidade, e acordando a população com o barulho infernal daquela cavalgada de sombras.

Chegado à fortaleza, Fabrício encontrou a porta fechada. No alto da muralha havia uma sentinela.
- Eh! Vai avisar o Sr. Governador que Fabrício Cecílio deseja falar-lhe!
Entretanto os perseguidores - sobre os quais Fabrício ganhara apenas um avanço de escassos cem metros - aproximavam-se rapidamente.
A porta abriu-se por fim, e a tropa de dentro, vendo que Fabrício lutava contra guardas do Governador, atacou também o nosso herói. Eram peões, armados de compridas lanças, alabardeiros e mais tropa miúda. Tomaram por alvo o cavalo, e logo feriram o pobre animal, mas antes que o cavalo fosse ferido de morte e o arrastasse na queda, pulou ele para o chão.

Tinha reparado que cerca da porta da fortaleza existia uma pequena igreja. Abrindo caminho à cutilada, correu para lá, e com um salto pisou o solo sagrado. A igreja pertencia a uns missionários franciscanos. O ímpeto com que Fabrício entrara, os passos desencontrados que deu, e o modo como se deixou cair nas lajes no meio da nave central, exausto e extenuado de tanta luta, distraiu os religiosos suspenderam a oração e vieram direito a ele.
- Que se passa, senhor cavaleiro?!
Fabrício tinha a cara suja de sangue dum golpe que recebera na testa e trazia também a roupa rasgada num ombro, por onde o sangue lhe ensopava o fato. Os ferimentos do nosso herói e a gritaria dos seus perseguidores aglomerados na porta da capela, dispensavam resposta à pergunta dos religiosos. Ajudaram Fabrício a erguer-se, e conduziram-no até ao claustro, onde lhe lavaram as feridas e lhe fizeram os pensos.

Fabrício contou-lhes resumidamente as aventuras da noite, e ia-lhes pedir que levassem ao Governador um pedido de audiência particular, quando apareceu o irmão porteiro e falou assim ao Superior:
- Está ali fora o senhor Governador, que deseja falar a Vossa Reverência... Fabrício ergueu-se, num salto instintivo, calculando que uma visita tão apressada não devia ser de boas-vindas.
Mas o Padre Superior sossegou-o:
- A casa de Deus é uma casa de paz...
- Mas... eu gostaria de lhe falar também... Quero explicar-lhe a intriga que fizeram contra nós, e a injustiça e desumanidade que seria se prendessem Daniel...
O Padre-Superior guardou silêncio uns momentos e por fim o rosto iluminou-se-lhe.
- Já sei o que lhe hei-de dizer! Esperai um instante!
E desapareceu, veloz. Passada uma longa hora, voltou. Vinha ainda mais sorridente do que quando partira.
- Está tudo arrumado! - exclamou.
- Tudo arrumado?! Que disse o Governador?
E o religioso contou que Fabrício estava ali, com Daniel e que no dia seguinte se apresentariam à sua justiça.
Entretanto mandara recado a Daniel a oferecer-lhe abrigo numa missão, situada a dez léguas de distância.
- Ninguém se lembrará de o ir lá procurar...



E o resto desta novela ilustrada, fica para o próximo artigo.

sexta-feira, 10 de junho de 2022

O NOSSO 10 DE JUNHO

Foi precisamente a 10 de Junho de 2012 que nasceu o blogue BDBD. Já lá vão uns bons anos...
É pois, emotivamente, que hoje aqui evocamos esta data.
É apenas uma merecida evocação, pois as situações diversas nas pessoas e no Planeta não estão para grandes euforias. Mas aqui registamos o nosso belo 10 de Junho, com um abraço para todos os que nos têm acompanhado e incentivado.
LB/CR

domingo, 5 de junho de 2022

JOSÉ RUY EM MOURA - A REPORTAGEM

Esteve patente em Moura, entre 18 e 29 de Maio, durante a 41.ª edição da Feira do Livro daquela cidade alentejana, a exposição "José Ruy: Literatura e Banda Desenhada", onde foi possível apreciar algumas das adaptações literárias que este desenhador transpôs para a linguagem da BD (algumas delas por mais do que uma vez, como é o caso de "O Bobo", de Alexandre Herculano, e outras ainda inéditas, à espera de uma oportunidade para serem publicadas em álbum).
Esta exposição, numa parceria entre as Câmaras Municipais de Moura e Viseu, e o Gicav - Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu, segue agora para a cidade de Viriato onde em Agosto ficará patente na Feira de São Mateus. Depois entrará em itinerância por escolas e bibliotecas. 
Previamente agendada para 20 de Maio estava a apresentação pública do #11 da colecção "Cadernos Moura BD" (edição da Câmara Municipal de Moura, com tiragem de 250 exemplares), onde foram reeditadas duas histórias: "Porque não hei-de acreditar na Felicidade?" (um conto de Alves Redol) e "O Demónio Cego" (uma história sem legendas, algo raro na obra de Mestre José Ruy). Infelizmente, a sessão teve de ser relegada para o último dia do certame uma vez que tanto José Ruy quanto Carlos Rico estavam a recuperar de covid na data inicialmente prevista.
Cartaz alusivo a anunciar a presença de José Ruy em Moura

Para os que não puderam estar presentes, fica aqui uma pequena reportagem fotográfica sobre o evento.
José Ruy (que pernoitara em Beja após uma visita ao FIBDB) chegou a Moura por volta das onze horas da manhã. Antes de almoço, parámos dez minutos na Taberna "O Barranquenho", só para apreciar a decoração do espaço e o respeito pela tradição e cultura daquele povo raiano, que deixaram José Ruy, a esposa Maria Fernanda e a filha Teresa maravilhados. Não houve tempo para mais pois o programa era extenso e o tempo curto. Mas ficou no ar a promessa de uma visita mais demorada um destes dias...
José Ruy e Luís Rico, jovem empresário que gere a Taberna

Dirigimo-nos para o centro da cidade, onde a tenda gigante em que a Feira do Livro decorria nos aguardava. Lá dentro, logo à entrada, a exposição de José Ruy - bem destacada em painéis de madeira pintados a negro - chamava-nos para uma primeira visita.
À esquerda, José Ruy revela a Carlos Rico como "Ubirajara" era legendada tipograficamente no Cavaleiro Andante, causando, por vezes, quando o texto era demasiado extenso, alguns cortes nos desenhos das vinhetas. Á direita, Maria Fernanda, a esposa do Mestre.
Ao fundo, José Ruy e Carlos Rico à conversa. Em primeiro plano, alguns dos álbuns de
José Ruy que estavam à venda na Feira do Livro.


Seguimos, finalmente, para o almoço, no Restaurante "O Túnel", a poucos metros da tenda. No final da refeição, José Ruy mostrou-me uma pequena cana de bambu, esculpida com a forma de uma caneta de aparo. Revelou-me que a tinha adquirido numa viagem ao Japão e que a usara para desenhar "O Demónio Cego", uma das histórias que publicámos nos "Cadernos Moura BD". A caneta é uma pequena maravilha pois, ainda que sem tinta, tive oportunidade de "simular" alguns traços e garanto-vos que a facilidade com que desliza no papel é bem maior do que um aparo de metal. Isso mesmo me confirmou José Ruy, acrescentando também que a caneta de bambu permite alcançar nuances que o pincel ou o aparo não atingem. 
A cana de bambu esculpida em forma de caneta

Depois de um pequeno passeio pelas "Ruas Floridas" (que ficam no centro da cidade e são primorosamente decoradas pelos seus moradores com vasos de flores durante todo o ano) regressámos à tenda, espreitámos os livros da feira e descansámos, por breves instantes, do calor que se fazia sentir.
Uma pausa, a seguir ao almoço, pouco antes de ter início a apresentação
dos "Cadernos Moura BD".

Os "Cadernos" numa estante da Feira do Livro, prontos para os autógrafos do Mestre.

Iniciou-se, por fim, a apresentação dos "Cadernos Moura BD", onde fiz um breve resumo das ligações de José Ruy a Moura, nos últimos trinta anos, que começaram precisamente em 1992, quando o autor foi "Convidado de Honra" no 2.º salão Moura BD. Seguiu-se uma exposição no salão de 2002 ("A Face Oculta de José Ruy") e a colaboração no álbum colectivo "Salúquia: a Lenda de Moura em Banda Desenhada" (em 2009), para além de diversas visitas ao extinto salão Moura BD.
A exposição "Literatura e Banda Desenhada" e a publicação deste Caderno acabaram por fazer justiça a um desenhador que, finalmente, vê o seu nome incluído numa colecção de referência entre os autores clássicos nacionais.

Após a sessão, José Ruy autografou alguns Cadernos, antes de rumar para a Amadora. 
Deixo-lhe aqui um agradecimento público (apesar de tudo insuficiente) não só pelo esforço que fez para estar presente nesta iniciativa, como também pela disponibilidade que demonstrou, desde o início, para seleccionar e enviar material para a exposição e o Caderno, prejudicando certamente com isso algum outro compromisso.  

Por fim, lembramos aos nossos leitores que o "Caderno Moura BD" pode ser adquirido contactando a Câmara Municipal de Moura ou para o e-mail: carlos.rico@cm-moura.pt.

Nota: uma parte das fotos que ilustram este post são da autoria de Teresa Pinto, Fábio Moreira (CM Moura) e Taberna "O Barranquenho", a quem agradecemos a amabilidade.
CR