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Estátua de Gil Vicente, datada de 1842,
da autoria de Francisco de Assis Rodrigues |
Gil Vicente ou "Mestre Gil", como respeitosamente também é tratado, é uma valorosa figura da nossa Cultura que tem certos aspectos discutíveis a envolvê-lo. Isto, porque o tomam como o grande notável do Teatro Português e também como exímio ourives.
Não há acordo, pois doutos estudiosos divergem nos seus pareceres: o Gil Vicente dramaturgo e ourives, era uma só e mesma pessoa ou havia dois com o mesmo nome e, de certo modo, contemporâneos?
Mas é o Gil Vicente autor-encenador-actor que agora e aqui nos interessa.
Terá nascido pelo ano de 1465, não havendo certezas do local: Guimarães? Lisboa? Ou algures na zona da actual Beira Interior?
Viveu protegido pela Corte (D. Manuel I e D. João III). Frequentou altos estudos em Portugal e em Espanha e é possível que também se tenha cultivado por breve tempo em França.
Casou com Branca Bezerra (donde dois filhos) de quem enviuvou, casando depois com Melícia Rodrigues, que lhe deu mais três filhos: Paula, Luiz e Valéria. Destes, foram os dois primeiros que compilaram até onde foi possível, os textos dispersos (teatro e poesia) do pai.
Mesmo assim, alguns foram criminosamente censurados pela Santa Inquisição.
A sua obra com as devidas ideias, localiza-se na transição da Idade Média para o Renascimento.
Sabe-se que escreveu, pelo menos, 47 peças mas quatro delas ("Auto da Vida no Paço", "Jubileu de Amores", "Auto da Aderência do Paço" e "A Caça dos Segredos") perderam-se. E o "Auto da Festa", só séculos volvidos, foi encontrado pelo Conde de Sabugosa.
A estreia de Gil Vicente foi auspiciosa quando, na Corte, na noite de 8 de Junho de 1502, apresentou e interpretou o seu texto "Monólogo do Vaqueiro" (ou "Auto da Visitação). O seu caminho para este seu inspirado talento, às vezes místico e outras, bem crítico e mordaz, estava apontado. Dizem que o nosso popular Teatro de Revista tem a sua base nos textos de Mestre Gil. Ficou famoso além fronteiras
e sabe-se até que o filósofo holandês Erasmo de Roterdão estudou o idioma português para apreciar as suas obras no original.
E vieram peças atrás de peças, como: "Quem Tem Farelos?", "Auto da Alma", "Auto da Índia", "O Velho da Horta", "Auto da Barca do Inferno", "Auto da Barca do Purgatório", "Auto da Barca da Glória", "Cortes de Júpiter, "Farsa do Juiz da Beira", "Auto do Amadis de Gaula", "Auto da Índia", "Farsa de Inês Pereira", "Auto de Mofina Mendes" e, a última que escreveu, em 1536, "Floresta de Enganos". Depois, retirou-se para Évora onde faleceu nesse ano (ou no seguinte...), estando sepultado no Mosteiro de S. Francisco, em cuja campa está o epitáfio que previamente escrevera.
É considerado o "pai do Teatro Português", o que não é rigorosamente verdade, pois nos princípios da nossa nacionalidade já havia manifestações teatrais em festividades religiosas e também na corte de D. Sancho I (que reinou de 1185 a 1211) com a representação dos "arremedilhos", onde se celebrizaram os mais antigos actores portugueses de que há memória: Bonamis e Acompaniado.
Mas é com Gil Vicente que o Teatro Português se regista a sério, tanto mais que ele inspirou e bem, outros autores da época: António Ribeiro Chiado, Luiz Vaz de Camões, Baltazar Dias, António Ferreira, Sá de Miranda, etc.
E a Banda Desenhada no meio disto tudo?
Pois já lá vão bons anos, a saudosa desenhista Manuela Torres criou, em três pranchas, "O Ourives da Corte" , reproduzida no n.º 2 de "Cadernos SobredaBD", do qual, infelizmente, ainda não temos imagens para disponibilizar.
Manuel Ferreira publicou no "Camarada", em duas pranchas, a vida de Gil Vicente...
"Gil Vicente", por Manuel Ferreira, in "Camarada" #10 (1965)
Em duas pranchas, também Baptista Mendes criou uma biografia de Gil Vicente, com primeira publicação no "Jornal do Exército".
"Gil Vicente", por Baptista Mendes (Jornal do Exército, 1975)
E, enfim, cinco notáveis álbuns!
Com o talento de José Ruy e pela Editorial Notícias:
"Auto da Índia / Farsa de Inês Pereira"...
Capa e prancha de "Auto da India", por José Ruy (Editorial de Notícias)
...e "Os Autos das Barcas" (Auto da Barca do Inferno, Auto da Barca do Purgatório e Auto da Barca da Glória).
Capa de "Os Autos das Barcas" e prancha de "Auto da Barca do Inferno",
por José Ruy (Editorial de Notícias)
Com a mestria humorística de Artur Correia e pela Bertrand Editora, outros dois álbuns: "Auto da Barca do Inferno"...
"Auto da Barca do Inferno", por Artur Correia (Bertrand Editora, 2007)
...e "Farsa de Inês Pereira".
Capa e prancha de "Farsa de Inês Pereira", por Artur Correia (Bertrand Editora)
Com base noutra peça de Mestre Gil, Artur Correia está a elaborar o "Auto de Mofina Mendes" (Venha ele!).
Por fim, com desenho de Laudo Ferreira e cores de Omar Viñole, temos, em edição brasileira, o "Auto da Barca do Inferno", da série "Clássicos em HQ".
Capa e prancha de "Auto da Barca do Inferno", de Laudo Ferreira e Omar Viñole
(Editora Peirópolis - Brasil, 2011)
Conselho: leiam, pela Literatura em si ou pela Banda Desenhada (ou vejam-nas, se algum peça estiver em cena) as obras do autor aqui recordado.
A Cultura portuguesa e Gil Vicente agradecem.
LB