domingo, 31 de maio de 2020

BREVES (82)

CORONAVÍRUS COM HUMOR (1)
Muitos cartunistas e banda-desenhistas, por todo o Mundo, têm aproveitado esta quarentena forçada para criarem cartunes alusivos ao tema do momento, o Coronavírus 19.
Aqui deixamos alguns exemplos, agora que as medidas de confinamento começam a abrandar, recordando, contudo, aos nossos leitores que ainda é cedo para cometermos exageros. Bom senso precisa-se, por enquanto.
Mas se continuar com as medidas de protecção é importante (uso de máscaras, higiene das mãos, etc), sorrir também o é. Por isso, aqui vos deixamos alguns trabalhos de artistas estrangeiros, com a sua visão crítica e divertida sobre este assunto. Proximamente traremos aqui, também, os trabalhos de alguns autores portugueses, tão ou mais divertidos do que estes que agora publicamos.
Cartune de Kléber (Brasil)
Cartune de Hector Salas (Brasil)
Cartune de Nicolas Tabary (França)
Cartune de Santy Gutierrez (Espanha)
Cartune de Espé (França)




FALECEU RICHARD SALA...


No passado dia 7 de Maio faleceu, com 61 anos, o banda-desenhista e cartunista Richard Sala. 
Nascido em Oakland (EUA), Sala trabalhou como freelancer e publicou o seu primeiro livro em quadrinhos (Night Drive) em 1984.
Ficou conhecido pela sua banda-desenhada surrealista, de terror e mistério.
Entre os seus trabalhos estão The Hidden, The Bloody Cardinal, Violenzia e outros divertimentos mortais, The Chuckling Whatsit, The Grave Robber's Daughter e muitos outros.

Sala trabalhava para a editora "Fantagraphics" e anunciara recentemente que ia publicar um webcomic intitulado Carlotta Havoc Versus Everyone.


GENE DEITCH, DESENHADOR DE POPEYE E TOM & JERRY, DEIXOU-NOS...
Gene Deitch (1924-2020)


Nascido em Chicago (EUA), a 8 de Agosto de 1924, Gene Deitch faleceu no passado dia 16 de Abril, aos 95 anos, em Praga, na República Checa, onde residia.
Ilustrador, cartunista, animador e director de cinema, Gene produziu filmes animados para estúdios diversos.
Trabalhou em personagens clássicos como "Tom & Jerry", "Popeye" ou "Krazy Kat". Era pai do banda-desenhista Kim Deitch.


ANIVERSÁRIOS EM JUNHO
Dia 03 - Roger Widenlocher (francês)
​Dia 09 - André Juillard (francês) e Theo Caneschi (italiano)
Dia 10 - BDBD e António Carichas
Dia 11 - Isabel Lobinho
Dia 14 - Luís Louro, Dodo Nitá (romeno) e Cosey (suíço)
​Dia 24 - Séra (franco-cambojano) e Joan Boix (espanhol)
​Dia 27 - Jean Pleyers (belga)
​Dia 29 - João Spacca (brasileiro)



LB/CR

sábado, 23 de maio de 2020

CAPAS (2) - EUGÉNIO SILVA


ALGUMAS CAPAS POR EUGÉNIO SILVA
Eugénio Silva
​​O barreirense Eugénio Silva é outro dos encantadores desenhistas da nossa 9.ª Arte. Prosseguindo esta nossa rubrica, ocasional, sobre belas capas de álbuns e/ou mini-álbuns, aqui registamos algumas delas nascidas sob o talento de Eugénio Silva.
Na que toca a "Contos das Ilhas", um projecto colectivo onde também participam Catherine Labey, Carlos Alberto Santos e José Garcês (como desenhadores) e Jorge Magalhães (como argumentista), a capa refere-se ao conto "O Coelho Branco", do álbum em questão.
"Amoni", narrativa publicada em 1965 no suplemento do matutino "Diário de Notícias", "A Nau Catrineta", quando recuperado na íntegra em 1996 no n.º 11 de "Cadernos Sobreda-BD", ganhou direito a capa por gentileza expressa de Eugénio Silva.
Aqui vão as onze belas capas que bem merecem aplausos.
LB

terça-feira, 19 de maio de 2020

A INFLUÊNCIA DA CENSURA NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS, EM PORTUGAL (2) - por José Ruy


Continuamos a contar a minha experiência quanto à censura que nos anos 1950 era aplicada nas publicações infantojuvenis.
Para quem se interessa por este tema, aconselho vivamente a leitura da tese de doutoramento de Ricardo Pinto Leite, um sobrinho do Roussado Pinto. É um trabalho muito rigoroso, exaustivo e proficuamente documentado, o melhor que se fez até hoje em Portugal sobre o assunto.
Pois quando estava a acabar a história em quadrinhos de «O Bobo» de Alexandre Herculano, no «Cavaleiro Andante», pensei desenhar a seguir a «Peregrinação» que, entretanto, o ETCoelho me aconselhara. Comprei na antiga Livraria alfarrabista A Barateira os sete volumes da obra e fiquei apaixonado.
O Teixeira Coelho, uns anos antes, em 1952, havia feito duas páginas dessa obra de propósito para a primeira exposição de HQ em Portugal, que organizáramos no Palácio da Independência, mas não dera seguimento e, ao partir para França, disse-me que não a continuaria e para eu meter mãos à obra. 

Apresentei a ideia ao Simões Müller, o diretor da revista, que torceu o nariz.
Devo explicar que esse autor era considerado «maldito» pela censura e nem sequer o davam em leitura nas escolas, sendo um clássico. Isso pelo facto de ele afirmar que tinha feito pirataria na China, o que não se coadunava com a imagem do português suave que era preciso dar a conhecer às novas gerações.
Eu ia insistindo, mostrando que era uma boa história de aventuras, passadas no Extremo Oriente e, por isso, com todo o exotismo ambiental.


Mas o Müller achava que se eu queria fazer uma história desse género tinha os «Fumos da Índia», que, no seu ver, era inócua quanto ao «lápis azul».
A publicação de «O Bobo» aproximava-se do fim e eu continuava a insistir na «Peregrinação», destacando ao diretor as partes históricas nobres da narrativa, e que funcionaria como divulgação junto da juventude desse clássico, por intermédio da HQ. Avancei com algumas páginas e mostrei-lhe.
Por fim acabou por ceder, embora receoso.
A partir desse momento comecei a construir a figura do «herói» por imaginação, pois de todos os seus retratos nenhum é da época. E a autocensura começou a funcionar. Mendes Pinto foi um marinheiro do século XVII, que passou por muitas tempestades no Mar da China e sofreu grandes naufrágios. Ora o seu aspecto seria de um homem barbudo de muitas semanas, sem ver terra nem ter descanso no mar.
Mas essa imagem aproximar-se-ia do «pirata padrão», que nos era fornecido pelas histórias inglesas e pelo cinema norte americano, de barba hirsuta e até de pala no olho. Isso alertaria a censura para ver à lupa como «descambaria» essa bonecada, sobre uma figura já proscrita, e poderia, por isso, ser cortada, pura e simplesmente. 
Então criei esta personagem imberbe e de aspeto simpático.

Realmente nunca incomodaram o jornal durante a publicação, talvez até porque o diretor era bem quisto e confiariam nele para nunca deixar publicar algo que colidisse com as normas. Efetivamente, as apreciações sobre Mendes Pinto eram absurdas, pois ele foi embaixador dos governadores de Goa e Malaca em muitas situações delicadas na China, era comerciante e quando o seu navio foi assaltado por piratas e resolveu queixar-se ao responsável na região, este aconselhou-o a fazer o mesmo. Olho por olho.
E em todo o desenrolar da história no «Cavaleiro Andante», que durou 75 semanas, mantive-o com bom aspecto, a bem da sua reputação.
Censura, a quanto obrigavas!

Fernão Mendes Pinto em certa altura, descreve na sua obra as ações de um seu companheiro, António de Faria, e atribui a ele atitudes menos ortodoxas da narrativa. A esse, já coloquei barba e a matar o pirata Coja Acem, num duelo feroz. Mas sem deixar de ser um bom cristão.
Era preciso «dançar» conforme a música, mas criando novos passos de dança trocando o passo quando era possível.

No próximo artigo: outra ação da censura na saída do país. Não das histórias, mas…

quinta-feira, 14 de maio de 2020

CAPAS (1) - AUGUSTO TRIGO


Algumas belas capas por Augusto Trigo
Augusto Trigo
Temos um amigo, todo bedéfilo e cinéfilo, que, entre outras das suas paixões, tem a "doideira" (positiva) de coleccionar capas elaboradas por notáveis da BD, em especial da nossa.
Nesta linha, aparecemos hoje com um tema que vamos aqui trazer uma vez por outra. Assim, começamos com o impecável AUGUSTO TRIGO, com quem há muito tempo andamos a "negociar" um encontro para uma mais do que merecida entrevista… Lá calhará, sem a ditadura do demoníaco Covid-19... Depende do "calhómetro"!
​Frisamos: registamos apenas algumas das sempre belas capas, esperando que este nosso artista de alto calibre, nascido em Bolama (na Guiné-Bissau), fique contente. Pois, sem mais "palavrório", vamos lá ​às ​gravuras (capas), tanto de narrativas suas como de ​séries/heróis de outros colegas seus. Aí vai.

LB


sexta-feira, 8 de maio de 2020

A INFLUÊNCIA DA CENSURA NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS, EM PORTUGAL (1) - por José Ruy

Após a publicação da série de artigos sobre "As Histórias que residem na gaveta", convidámos Mestre José Ruy a prosseguir a sua colaboração com o BDBD.
José Ruy aceitou, amavelmente, o nosso convite, sugerindo-nos que lhe indicasse-mos alguns temas para trabalhar. E nós, que há muito desejávamos abordar no nosso blogue o tema da Censura, de imediato lho recordámos, atendendo ao facto de José Ruy ter vivido essa experiência enquanto autor de banda desenhada.
Assim nasceu um novo conjunto de artigos, cuja publicação se inicia hoje, com tudo aquilo que José Ruy nos tem a contar acerca desse período conturbado das Histórias em Quadrinhos em Portugal, findo apenas a 25 de Abril de 1974, quando a Revolução dos Cravos pôs termo a 48 anos de Ditadura, deixando lugar à liberdade de expressão.

BDBD




A propósito da recente comemoração, em 2020, da Revolução de 25 de Abril de 1974, o BDBDBlogue pensou debruçar-se em algumas questões sobre a ação que a censura exercia nas histórias ilustradas publicadas nos jornais infantojuvenis nos anos 1950.
Pela minha parte, posso partilhar a experiência que tive, pois atravessei todo o período em que a censura nos ensombrava na criação das histórias que escrevíamos e desenhávamos.
Os jornais iam à censura prévia, onde os desenhos eram submetidos a cortes e correções. Mas os livros só eram enviados para aprovação depois de publicados. Isso representava, caso os "censores" fizessem cortes, perder toda uma edição para ser retificada, ou simplesmente cortada completamente. O prejuízo era enorme para o editor, e esmorecia a coragem de avançar com temas subjetivos, à partida, de serem censurados.
Para compreenderem melhor, vou mostrar exemplos em simulacro, de como as publicações dessa época eram obrigadas a submeterem-se às ordens da censura.
A prancha seguinte é de Fred Harman, o grande autor norte-americano da série "Red Ryder".
Vamos simular que ia ser publicada numa revista. Eram enviadas provas à censura, juntamente com o texto traduzido, claro.
De volta, a prova viria com cortes para que depois pudesse ser publicada. As armas de fogo não podiam ser apontadas às pessoas, portanto era preciso elimina-las do desenho. 
Na redação, com guacho branco tapavam as armas, ficando o desenho com este aspeto caricato.

Vou explicar como constavam as normas estipuladas.
Era interdito desenhar cenas de violência, apontar armas de fogo a pessoas, tal como vestimentas arrojadas nos corpos femininos. As saias não podiam ser mais curtas do que o nível do joelho, nem as mangas acima do cotovelo, e por aí adiante, incluindo decotes.
No género de histórias publicadas no Cavaleiro Andante, não acontecia terem motivos a serem sujeitas a estes cortes mas nas edições da Agência Portuguesa de Revistas era muito frequente, pois eram de carácter policial e western.
Mas estas diretrizes não se aplicavam só a desenhos. Também se estendiam às fotos das revistas de cinema que apresentassem pin-ups. Neste caso era mais difícil a emenda pois tínhamos de "tapar" as zonas desnudadas com tinta retoque. Eu trabalhava nessa altura no Diário de Notícias, no departamento de Rotrogravura, e cabia-me a mim essa tarefa pois os acrescentos nas fotos tinham de ser feitos de modo a não se notar que fora um corte da censura.
A foto de baixo é dos anos 50. Mostro a seguir como só era permitido que saísse na revista, depois de retocada.
As fotos, depois da intervenção, iam novamente à aprovação, para confirmação do censor.
 
Naturalmente que os diretores dos jornais eram industriados nessas determinações e impediam, à partida, que se realizassem "ousadias".
Os redatores recebiam da direção essas orientações e, por sua vez, apertavam connosco, os autores. Era uma autocensura que se instalava na nossa cabeça, de modo que quando criávamos uma cena, tínhamos em conta que poderia ser cortada.
A fiscalização partia logo de cada um de nós. Por isso, ao elaborarmos as obras, pensávamos ao mesmo tempo na maneira de contornar essas imposições para evitar o lápis azul, obedecendo por um lado mas, por outro, conseguindo não alterar a mensagem que pretendíamos passar. 
Não era fácil, mas conseguíamos por vezes. Mostrarei como nos artigos posteriores.

Quando, na década de 1950, colaborava na revista "Cavaleiro Andante" , ao terminar a história em publicação do romance "O Bobo", de Alexandre Herculano, que, por ser histórico, deixavam passar as batalhas e as mortes violentas das personagens, pensei que tema iria escolher para desenhar a seguir...

O próximo artigo: 
Na nova história escolhida, foi preciso não alertar a censura...

domingo, 3 de maio de 2020

NOVIDADES EDITORIAIS (196)

MATTÉO / 3 - ​Edição Ala dos Livros. Autor: Jean-Pierre Gibrat.
​Belíssima e invulgar obra que narra as alegrias (poucas) e os dramas de um certo e especial herói, Mattéo, que teoricamente vive em França, sempre que pode, sendo filho de um anarquista espanhol. O personagem central vive os tempos entre as duas Grandes Guerras... Um destino amargo sofrido com coragem por Matteo. Normalmente, tem dois amigos e uma apaixonada.
Este tomo que se denomina "Terceira Época, Agosto de 1936", entusiasma-nos fortemente. As duas anteriores "épocas", que não conhecemos, foram editadas em português por uma outra editora.
Aconselhamos a leitura desta obra e felicitamos a editora Ala dos Livros por estar a publicar obras de alta qualidade.


TINTIN, LE DIABLE ET LE BON DIEU - ​Edição Desclée de Brouwer. Autor: Bob Garcia.
Não é um álbum-BD, mas um precioso volume, tipo Ensaio, onde o autor especifica, ponto por ponto, quem influenciou toda a obra de mestre Hergé, sobretudo, os mais diversos aspectos e/ou "pressões" de cariz religioso.
Quem e quem marcou a espantosa carreira de Hergé? Quem o inspirou e quem o atormentou?
Sobretudo os imensos tintinófilos que abundam pelo mundo, devem ler e conhecer esta obra muito esclarecedora.


ÉROS ET PSYCHÉ - ​Edição Glénat. Sob o entusiasmo e a coordenação do historiador Luc Ferry, tem como autores fundamentais: Clotilde Bruneau (argumento), Diego Oddi (traço e guião), Ruby (cores) e, pela capa, Fred Vignaux.
Trata-se de mais um belo tomo da preciosa e bem apaixonante série "La Sagesse des Mythes".
É uma série de leitura obrigatória pela sua força cultural, que já está a ser também editada em português (pela Gradiva).
De que trata este tomo pleno de erotismo, directo ou apenas "sonhado"? Ora toca então a lê-lo...
Aplausos à Glénat e à Gradiva!
LB