quarta-feira, 28 de março de 2018

NOVIDADES EDITORIAIS (143)

LA CITÉ DU DRAGON - Edição Glénat. Autores: argumento de Willy Duraffourg e Philippe Thirault, traço de Federico Nardo e cores de Aretha Battistutta.
“La Cité du Dragon” é o primeiro tomo da série “Macao”.
Quem viveu, visitou ou reside em Macau (ex-território português) vai certamente gostar desta obra, onde a região está bem marcada, a par do enredo no mundo do jogo e de incómodas intrigas.
Não é a primeira vez que Macau figura na Banda Desenhada (francófona), pois há, pelo menos: “Rendez-vous à Macao” (43.º tomo da série “Michel Vaillant” por Jean Graton) e “L’Empereur de Macao” (27.º tomo da série “Bob Morane” por William Vance).
Na recente obra, León Chung é um jovem jornalista hongkonguês que se desloca a Macau para reportar os sinuosos e perigosos bastidores do mundo do jogo e não só. É “apanhado” pelo poderoso e misterioso Sr. Kwan Taoque o contrata “à força”, para que o jornalista escreva as suas memórias ou talvez, a sua lenda.
León, não vai ter a vida fácil... embora com muitas benesses.


OLIMPO TROPICAL - Edição Polvo. Argumento de André Diniz e arte gráfica de Laudo Ferreira, ambos brasileiros.
O Rio de Janeiro já não é bem a lendária e deslumbrante “Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil” de sedutoras praias e de carnavais espectaculares... O autêntico Rio de Janeiro de agora, assustador e avassalador, é onde impera a violência constante com roubos, torturas, mortes e droga. Um temível e imparável inferno que, das famosas e imensas favelas, domina a seu belo prazer toda a
incauta grande cidade que envolvem.
Com “Olimpo Tropical”, os autores revelam-nos um retrato bem cruel, porém realista e sem fantasias doces para se sonhar.
É uma obra de peso e amarga que, no entanto, é muito conveniente que se leia.
Um aplauso pleno ao talento e à coragem de André Diniz e de Laudo Ferreira.


L’OR DES CAÏDS - Edição Dargaud. Autores: argumento de Vincent Brugeas, traço de Ronan Toulhoat e cores do próprio argumentista.
Este é o primeiro tomo da série “Ira Dei”.
Por volta do ano 1040, toda a zona do Mediterrâneo andava infestada (situação que, parece, nunca amainou...) pelos mais diversos povos e crenças religiosas. As guerras e os massacres são implacáveis. Com desmesuradas ambições e raivosas violências, ninguém pode confiar em ninguém. As vinganças cruéis sucedem-se.
Arte gráfica com belas e apreciáveis cenas.
LB

domingo, 25 de março de 2018

ENTREVISTAS (28) - MONIQUE ROQUE

Nascida em Bruxelas, na Bélgica, Monique De Rom (Santos Roque, após o casamento) foi durante muitos anos companheira e argumentista de Carlos Roque, prolífico desenhador português que distribuiu a sua carreira entre Portugal e aquele país do centro da Europa.
Tem o Curso de Ciências Comerciais e Consulares (tirado no Institut Superieur de Commerce de Belgique, em Bruxelas) e nessa cidade exerceu funções no Euratom. Foi, depois, trabalhar em Roma para a FAO (organismo da ONU para a Agricultura).
Após três anos em Itália, regressou a Bruxelas e casou, em 1968, com Carlos Roque, iniciando com este uma frutuosa parceria, escrevendo argumentos e gags para séries BD que criaram juntos. Na vida como no trabalho, Monique e Carlos mantinham uma grande cumplicidade, o que se traduziu em magníficas tiras e pranchas de personagens absolutamente inesquecíveis como "Angélique", o pato "Wladimyr" ou o Mágico "Patrake".  
Em Portugal, onde o casal também viveu, Monique deu aulas de francês no Banco de Portugal e no Instituto Nacional de Administração.  
Com o falecimento de Carlos, em 2006, Monique colocou de lado a sua faceta de argumentista, deixando, em definitivo, na gaveta os muitos projectos que o casal sonhava desenvolver. 
Hoje, reside alternadamente na Bélgica, seu país-natal, e em Portugal, que abraçou como seu, também. 
Tentando resgatar de um anonimato mais ou menos forçado a argumentista que tantos gags inventou para Carlos desenhar magistralmente, apresentamos hoje uma curta mas interessante entrevista com Monique Roque, que esperamos seja do agrado dos nossos leitores.


BDBD - Sendo natural da Bélgica (um país onde a BD tem um estatuto tão especial), a Monique, antes de conhecer Carlos Roque, tinha alguma afinidade com a banda desenhada (como leitora, por exemplo) ou era algo que não fazia parte da sua vida? 
Monique Roque (MR) - Na verdade, a banda desenhada não fazia muito parte da minha vida. Em miúda comecei a ler as aventuras de Tintin e algumas outras obras, mas preferia ler livros com texto - romances, essencialmente - dado que os meus pais tinham uma grande reserva deles. Transmitiram-me, desde muito jovem, o gosto pela leitura. 


Monique, quando jovem,
caricaturada por Carlos Roque
BDBD - Como foi que você e o Carlos se conheceram?
MR – O nosso encontro foi o resultado de muitas coincidências. Em primeiro lugar houve o encontro do melhor amigo de Carlos, José Conde Reis (que emigrou também para a Bélgica) com a minha melhor amiga (que se chama também Monique). Foram eles que tiveram a ideia de um encontro entre o Carlos e eu. Só que, nesta altura, eu não queria encontrar ninguém. Tinha decidido sair da Bélgica e participei num concurso da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura, com sede em Roma). A minha candidatura foi aceite e estava à espera de ser convocada para trabalhar lá. Finalmente, encontrei o Carlos... três semanas antes de partir para Roma. Simpatizámos logo mas tivemos, então, uma relação complicada devido à separação e à distância. Foram bem três anos de separação entre Carlos, em Bruxelas, e eu, em Roma. De facto, só tomámos contacto durante as três primeiras semanas antes da minha viagem. Depois foi tudo por telefone e cartas (não havia nem telemóvel, nem e-mail nesta altura!). O Carlos foi visitar-me a Roma algumas vezes, enquanto eu voltava de férias a Bruxelas também às vezes, mas tivemos pouco tempo juntos. Por isso digo que foi uma relação um pouco complicada e difícil de gerir. Depois de três anos, resolvi regressar a Bruxelas onde casámos... e vivemos muito felizes, como se diz nos contos de fadas!

BDBD - Sei que o Carlos a introduziu nos "bastidores" da banda desenhada, onde privou com muitos dos grandes nomes da BD europeia. Como foi essa experiência? Que memórias guarda desses tempos?
MR - Guardo excelentes recordações disso. Foi uma experiência muito rica em descobertas e emoções. Encontrei e falei com gente tão famosa: Hergé, Franquin, Roba, Morris, Goscinny... não posso citar aqui todos. Por exemplo, Franquin gostava muito do Carlos e do seu trabalho, ao ponto de lhe pedir para fazer os títulos dos álbuns de Spirou ou de Gaston Lagaffe! Era toda a gente muito simpática e o ambiente sempre muito convival. Fomos a exposições, jantares, tertúlias...
Para mim era tudo novo e excitante. Depois encontrei, também, os artistas portugueses e o mundo da BD em Portugal. Outra experiência muito interessante.

BDBD - Como foi que a Monique se tornou argumentista?  
MR - Foi muito simples. No princípio, era só ajudar o Carlos no texto em francês. Mas depois começámos a discutir ideias de gags e, pouco a pouco, a minha participação foi-se desenvolvendo. 


Monique e Carlos Roque
BDBD - Qual era o vosso método de trabalho? As ideias surgiam espontaneamente e eram trabalhadas depois em conjunto, ou o Carlos apenas se limitava a desenhar a história que a Monique criava, sem interferir no processo de criação do argumento?
MR - Nós gostávamos de trocar ideias de histórias. Eram trabalhadas em conjunto e surgiam naturalmente; uma vez era mais uma ideia do Carlos, outra vez era minha. Depois vinha o trabalho de criação: encontrar o texto à medida dos desenhos. Era muito gratificante e gostei muito desta “actividade” nova. Não tinha cara de trabalho, mas sim de prazer verdadeiro. Criar em conjunto e ver o resultado.

BDBD - E a Monique? Também interferia com o desenho do Carlos, dando sugestões e ajustando pormenores? Lembra-se de alguma situação, em particular, em que isso tenha sucedido?
MR - Um bom exemplo é o nosso pato Wladimyr. Fui eu quem sugeriu ao Carlos que desenhasse um pato mas ele estava muito reticente: havia já muitos patos na banda desenhada, e não gostava de bichos a brincar a homens. Mas o mundo de Wladimyr, afinal, não tinha nada disso. Optámos por histórias mais ao estilo dos Peanuts. O Carlos mostrou-me os primeiros esboços do pato e gostei logo. No princípio era um projecto pouco ambicioso: fazer alguns gags, porque talvez não fosse fácil encontrar ideias boas. Por fim, fizemos uma centena de histórias, com capas e sumários para o jornal Spirou. Até ganhámos um prémio, o prémio St. Michel

BDBD - O Carlos trabalhou com outros argumentistas, ao longo da sua carreira. E a Monique? Trabalhou exclusivamente com o Carlos ou também criou argumentos/gags para outros desenhadores?
MR - Trabalhei só com o Carlos. Estava bastante ocupada porque tinha um emprego. Fazer BD era só nos tempos livres.

BDBD - Falemos um pouco dos personagens/séries que criaram juntos. Creio que o primeiro foi a Angélique, certo?
MR – Sim, comecei com Angélique. À partida, Angélique foi inspirada pelo Malaquias, sendo uma versão feminina desta personagem de que o Carlos gostava muito. Havia poucas personagens de raparigas na BD. O Carlos imaginou, então, esta rapariga falsamente inocente que inventa cada uma para "atormentar" o seu querido tio... A principio, o Director do jornal Spirou, Charles Dupuis, não gostava muito da figura do tio que achava "demasiado gordo", mas o Carlos explicou que a intenção era mesmo jogar com o contraste entre estes dois "heróis". Gostei muito de participar nas peripécias desta adorável pequenina. Como já disse, as ideias de gags vinham de discussões a dois. Era muito gratificante e divertido fazer isto. A série trazia algo de novo nas personagens e teve bastante sucesso.

BDBD - O Pato Wladimyr foi talvez a vossa série de maior sucesso, tendo mesmo ganho o Grand Prix, como já disse...
MR - De facto, eu gosto de patos e foi por isso que tive esta ideia. Como expliquei, o Carlos hesitou mas quando lhe dei algumas ideias de gags ele começou a ganhar interesse no projecto. O Carlos, com o seu talento, criou um pato totalmente diferente e conseguiu torna-lo muito expressivo. Foi a chave do sucesso da série. Também o facto de ter sempre o mesmo cenário e as personagens que, pouco a pouco, entraram neste mundo à parte de Wladimyr, tudo isso explica o sucesso. Ficámos muito contentes por ver que o público percebeu bem a nossa filosofia na série.

BDBD - Wladimyr e Elodie eram os alter-egos de Carlos e Monique? Há pelo menos uma história muito bem conseguida, em duas pranchas, onde isso se pode perceber... 
MR - Essa história é muita gira e foi muito divertido fazê-la. Tirámos fotografias para obter mais realismo. Foi uma ideia que tivemos um belo dia e gosto muito do resultado final. Não diria que o Wladimyr é o alter-ego do Carlos enquanto eu seria Elodie, mas é verdade que algo das nossas personalidades se reflete nestas personagens. E também é verdade que fizemos críticas e comentários muito pessoais através desta série…

BDBD - Também criou argumentos/gags, ou ideias, para a série Patrake, tendo mesmo emendado o nome com que o Carlos tinha baptizado o personagem (Mandraço!?). A sua sensibilidade feminina alertava o Carlos, com regularidade, para pequenos/grandes detalhes como este?
MR - Como já disse, nós trocávamos ideias e tínhamos muitas afinidades na nossa maneira de pensar e de viver. A nossa relação era muito forte. Logicamente havia uma influência minha no trabalho do Carlos. Foi uma grande colaboração, que resultava do nosso grande entendimento em geral. É verdade que interferi para escolher o nome do Patrake. O nosso mágico é uma paródia humorística do Mandrake e o Carlos queria um nome bastante próximo, para evidenciar a referência. Pensei então em "Patrake", que faz lembrar alguém com pouco jeito. O Patrake, coitado, não é um mágico muito esperto!...
                
Tiras de "Patrake, o Mágico" publicadas na TV Guia Júnior, suplemento da revista TV Guia.

BDBD - Restam-nos o Malaquias e o gato Moska. Fale-nos um pouco destes personagens.
MR - O Malaquias foi um trabalho do Carlos, em Portugal, antes de me conhecer. Gosto muito desta série mas não há nada de mim neste personagem. O gato "Moska" é outra coisa. É inspirado num gato nosso, que partilhou connosco dezoito anos de vida. É pena que o Carlos não tenha tido tempo para continuar os esboços, pois tinha muitas e boas ideias para gags. Ficaram, assim, na casa dos projectos...
Tiras do gato Moska (com o título "Aqui há Gato..."), publicadas na TV Guia Júnior,
suplemento da revista TV Guia.

BDBD - Há uma história/paródia, também com argumento seu, desenhada maravilhosamente pelo Carlos Roque em preto e branco, que se baseava vagamente n’ "Os Pássaros", de Hitchcock. Que razões os levaram a trabalhar esse tema? Eram apreciadores de cinema, de uma maneira geral, ou gostavam particularmente dos filmes do mestre do suspense?
MR - Nós gostávamos muito de cinema em geral, de todos os géneros, e penso que vimos quase todos os filmes de Hitchcock. É mais uma prova da nossa comunhão de gostos: o Carlos ia ver as obras de Hitch e também eu ia. Não me lembro muito bem de como surgiu a ideia das quatro páginas desta história, que não é bem uma paródia mas sim uma referência com admiração. Lembro-me, sim, que tivemos muito prazer em inventar tudo isto e, naturalmente, o Carlos conseguiu um desenho perfeitamente adaptado ao ambiente da história. Teve bastante sucesso na revista Spirou.    
"Os Passarocos de Manfredo Ycxkcoc", por Monique e Carlos Roque,
in "O Mosquito" (5.ª série) #3 (1984)

BDBD - Deixou alguns argumentos na gaveta, que o Carlos Roque não tivesse tido tempo de desenhar?
MR - Infelizmente a gaveta estava cheia de projectos diversos, incluindo o tal Moska. Guardei os esboços, as ideias anotadas, etc. Mas sem o Carlos, tem de ficar assim...

BDBD - Li, algures numa entrevista, que a Monique e o Carlos Roque consideravam os seus personagens como “os filhos que não tiveram”. Nunca pôs a hipótese, após o falecimento do Carlos, de outros autores pegarem nos vossos "filhos" e continuarem as respectivas séries?
MR - Pensei nisso mas não encontrei ninguém interessado nesta oportunidade. Na verdade talvez não me sentisse apta a gerir bem esta situação...
Acho que a BD moderna difere bastante daquela que o Carlos conheceu. Tenho a certeza - ou quase a certeza - que o Carlos, tal como eu, não ia gostar muito do que se faz agora na BD. Isto é a minha opinião, puramente pessoal, e não se deve generalizar. Felizmente ainda há bons desenhadores mas não é fácil encontrar alguém que queira “adoptar os nossos filhos”. Pelo menos, até agora, não encontrei essa “pérola rara”!

BDBD - O Carlos esteve (e está, como se comprova nesta entrevista) sempre muito presente na sua vida. Nota-se que havia uma relação muito forte entre ambos. Nunca pensou em publicar um álbum com as melhores tiras do Wladimyr, as melhores histórias da Angelique ou os melhores gags do Patrake? Não acha que falta um álbum que recupere esses trabalhos? 
MR - Claro que pensei (e ainda penso!) nisso. Mas, tal como é difícil encontrar desenhadores, também é muito complicado achar um editor. Já tentei aqui em Portugal mas, depois das promessas do início, não se concretizou nada. Aliás, vou tentar tratar disso quando voltar da Bélgica. Também na Bélgica encontro as mesmas dificuldades. A BD porta-se melhor lá, talvez, mas o que funciona são os mangás e a BD “moderna” de que falei acima.
Carlos Roque tinha o sonho de publicar os seus personagens em Portugal, como se pode comprovar por este projecto de capa e contra-capa para uma colecção de álbuns que, lamentavelmente, nunca se viria a concretizar...


BDBD - Em 2011, o Carlos Roque foi alvo de uma homenagem póstuma no salão Moura BD, com uma bela exposição de originais (que viajou, depois, para o Festival da Amadora desse mesmo ano) e a entrega do Troféu Balanito Especial, que a Monique recebeu no palco do Cine-Teatro Caridade completamente lotado, perante um caloroso aplauso do público.
Apesar disso, acha que a obra e a memória de Carlos Roque têm sido suficientemente relembradas pelo meio bedéfilo?
MR - Acho que não e lamento isso. Fiquei muito feliz quando ocorreu esta homenagem em Moura, e ainda estou muito agradecida à Câmara de Moura por ter tomado essa decisão. Sei que alguém (chamado Carlos Rico) teve um papel muito importante nessa iniciativa. Foi muito bom e guardo preciosamente o Troféu Balanito.
Também foi muito bom ter, depois, a oportunidade de ter uma sala dedicada ao Carlos Roque (e a mim) no Festival da Amadora. Ainda bem que há gente interessada na obra do Carlos. Mesmo não sendo muitos, são de qualidade. Agradeço muito por ter esta nova oportunidade de falar dele.

BDBD - Quer dizer mais alguma coisa ou deixar alguma mensagem aos nossos leitores?
MR - Só quero fazer uma sugestão: se não conhecem as historias desenhadas pelo Carlos Roque, tentem descobrir algumas. Penso que farão uma bela descoberta. E se já conhecem a sua obra, muito obrigada pelo interesse. Ele merece. Disto tenho toda certeza.

BDBD - Muito obrigado, Monique, por esta entrevista, e esperemos que esse álbum com trabalhos de Carlos Roque seja, em breve, uma realidade.

CR

terça-feira, 20 de março de 2018

NOVIDADES EDITORIAIS (142)

SAN-ANTONIO CHEZ LES GONES - Edição Casterman. Autor: Michaël Sanlaville, segundo a obra de Frédèric Dard.
Em 1949, o romancista francês Frédèric Dard criou o herói detective, o Comissário San-AntonioForam mais de centena e meia de volumes, com pleno êxito, cuja obra prosseguiu por seu filho Patrice, após o seu falecimento no ano 2000.
Em 2004, Frédèric Auburtin realizou a longa metragem “San Antonio” com o actor Gérard Lanvin.
Pela Banda Desenhada, a carreira deste herói teve várias fases, nunca atingindo a popularidade conseguida na Literatura. A mais notória foi a dos sete tomos (Ed. Fleuve Noir) com arte de Henri Desclez ( e colaboração de Franz nos dois primeiros).
San-Antonio festejará 70 anos em 2019. Por isto, a Casterman resolveu (e muito bem) relançar as aventuras deste herói. No argumento e na arte gráfica, o jovem francês Michaël Sanlaville, que dá um belo novo fôlego à série destas aventuras.
San-Antonio é um bonitote intuitivo, sedutor e arrojado. A aventura, com os seus toques humorísticos, é bem cativante. A ler!


ERMAL - Edição Escorpião Azul. Autor: Miguel Santos.
Uma boa surpresa deste jovem autor nacional, que nas suas paixões  pela Ficção Científica, Terror e Fantasia, nos leva com “Ermal” a uma suposição interessante: o 25 de Abril nunca existiu e com o hemisfério norte devastado por uma guerra nuclear, os que vão sobrando num Portugal escaqueirado, refugiam-se no Ultramar, onde grassa uma outra e diferente guerra.
No meio de tanta violência e crueldade, há um homem apostado em descobrir o sentido de toda esta infernal situação...


LE BANQUET - Edição Dargaud. Autores: argumento de Jean Dufaux, grafismo de Theo (aliás, Theo Caneschi) e cores de Lorenzo Pieri. “Le Banquet” é o décimo tomo da magnifica série “Murena”.
A série “Murena” cativou e galvanizou leitores desde a primeira hora. A arte, bela e vigorosa, pertencia (pertence) a Philippe Delaby, que faleceu prematuramente em 2014. E foi a grande crise, tanto para a editora como para o argumentista. Que fazer com esta série extraordinária: ficar-se pelos nove tomos existente ou encontrar um novo desenhista que se aproximasse da linha de Delaby?
Depois de avanços e recuos, lá encontraram um desenhista digno: Theo.
E Theo, cujo talento já era conhecido (séries “Le Trône d’Argile” e “Le Pape Terrible”), agarrou muito bem a continuação de “Murena”, com o seu próprio estilo, próximo e logicamente não bem igual ao do saudoso Delaby. Assim, esta série vai continuar e em boas mãos.
Parabéns, Theo!
LB

sábado, 17 de março de 2018

HERÓIS INESQUECÍVEIS (54) - ARCHIE CASH

Eis um ponto bizarro: vamos lembrar o actor Charles Bronson (1921-2003) ou o personagem-BD Archie Cash (1971-...)?
É que, “ambos os dois”, parecem clones um do outro!...
Malik (William Tai),
o desenhista da série
Não é errada esta “dúvida”, pois, intencionalmente, o desenhista da série, Malik (aliás, William Tai, francês de origem asiática), assim fez questão de afirmar, que Archie Cash é mesmo baseado na fisionomia do famoso actor. E muito bem!...
Este é um caso extraordinário!
O actor Charles Bronson - que não era totalmente norte-americano, mas isso não interessa nem donde, nem aqui e nem agora... - tem um belo registo na sua filmografia, como por exemplo: “Vera Cruz” (1954), “A Flecha Sagrada” (1957), “Os Sete Magníficos” (1960), “O Passageiro da Chuva” (1960, filme francês com a magnífica actriz francesa Marlene Jorbert), “A Grande Evasão” (1963), “A Batalha das Ardenas” (1965), “Adeus, Amigo” (1968, espantoso filme francês sobre a lealdade na amizade, com Alain Delon), “Aconteceu no Oeste” (1968), “Sol Vermelho” (1971), etc.
De Bronson para Cash, fica apenas a confusão aparente pelas aparências  fisionómicas e pela maioria das interpretações simillares... Glória a ambos!
Pois estes dois viris clones, o Charles Bronson e o Archie Cash, são apenas um conseguido jogo gráfico do desenhista francês Malik, acima citado, e do argumentista Jean-Marie Brouyère. Bravo!
Da série constam, para já, 15 álbuns sob edição belga da Dupuis.
Em Cinema, nada consta... por enquanto!
Capa do primeiro álbum de Archie Cash, "Le Maître de l'Épouvante", Edição Dupuis (1973)

Capa e prancha de "Un Train d'Enfer", Edição Dupuis (1976)
Capa e prancha de "Le Démon aux Cheveux d'Ange", Edição Dupuis (1978)
Capa de "Curare", o último álbum da série até ao momento, Edição Dupuis (1988)
Prancha de "Curare", Edição Dupuis (1988)
As entusiasmantes e corajosas aventuras de Archie Cash, em Portugal, foram apenas publicadas nas revistas (todas, hoje extintas) :”Mundo de Aventuras”, “Spirou” (edição portuguesa, 2.ª série) e “Jornal da BD”... Depois, “tudo”, imbecilmente, se perdeu...
Capa do "Mundo de Aventuras" #270 (30.11.1978)
Bom: “perdidos”, mas sempre bem vivos e “recordados”, estão por nós o Bronson e o Cash. Valeu?
Continuem, Malik e Brouyère!
LB

terça-feira, 13 de março de 2018

A ILHA DO CORVO QUE VENCEU OS PIRATAS (13)


Como prometemos no anterior artigo, vamos continuar a acompanhar a realização deste painel de azulejos que vai ser colocado na Ilha do Corvo, baseado na Banda Desenhada que conta como os corvinos, no século XVII, impediram uma invasão de piratas que pela época assolavam o Arquipélago dos Açores, e que o BDBD Blogue tem vindo a divulgar.
Vamos seguir a explicação do técnico Mário Duarte, responsável pela Azulejaria «Cerâmica da Praia», na preparação desse trabalho.


«Após a aplicação nos azulejos dos dois testes iniciais, o resultado é aqui mostrado, com a escolha final relativa ao plano. Essa escolha é, no nosso entender, a correta».

«A seguir, tendo já prontas todas as películas (num total de 38) inicia-se a sua gravação em redes e procede-se à respetiva impressão».

«Retoque dos écrans. Genericamente chamamos écrans ao quadro e à rede onde é gravada a imagem da película. Normalmente há a necessidade de realizar retoques, que não é mais do que o processo de tapar as ‘’impurezas’’ - tudo o que não faz parte da imagem original, mas que durante o processo de gravação, por uma razão ou outra, ficou registado».

A fase seguinte consiste em transportar as imagens para os azulejos. Vejamos como isso é feito pela descrição do técnico Mário Duarte.

«Para a estampagem nos azulejos, estes são colocados sobre uma superfície plana, em vez da vertical (em taipal) como é o caso da pintura à mão».

«Quando a dimensão do trabalho o justifica, os azulejos são numerados no tardoz, para auxiliar na aplicação dos azulejos à parede, ou noutro suporte (por exemplo, montagem em moldura).
O nosso processo de numeração é, como a imagem seguinte indica, da esquerda para a direita e de baixo para cima, a partir o n.º 1».
«A seta é um reforço indicativo da posição correta do azulejo ao ser aplicado. O trabalho final é acompanhado de um esquema numérico (grelha de montagem) correspondente».

Mas vejamos agora o aspecto exterior da oficina.
Nas colunas, painéis de azulejo, a prata-da-casa, como vinhetas de uma Banda Desenhada fazendo parte da linha do horizonte, desse Oceano imenso que rodeia cada ilha.

No próximo artigo o nosso amigo Mário Duarte continuará a descrever como vai ser feita a estampagem nos azulejos. Não percam.

José Ruy
5 de março de 2018

sábado, 10 de março de 2018

BD E HISTÓRIA DE PORTUGAL (15) - PORTUGAL E CEILÃO

Nos orgulhosos feitos dos portugueses (de ontem, pois tudo isso se vai esfumando em estranhas brumas da memória), aconteceram peculiares situações após a nossa “descoberta” da ilha de Ceilão.
Camões, seguindo a linha poético-romântica, citou este país-ilha como Taprobana, na base de lendárias e mitológicas histórias de um certo antigamente...
Hoje, tal território é uma república um tanto abaixo do subcontinente indiano e chama-se agora Sri Lanca, cujo embaixador para Portugal tem residência em Paris...
Porquê, hoje e aqui, o registo da nobre relação entre o Ceilão e o nosso Portugal? Pontos de honra!
Muitos cingaleses (os naturais dessa nação) ainda têm orgulho nos apelidos portugueses que aí se registaram. Segundo o douto historiador Damião Peres, naqueles tempos, já pelos 1500, o jovem e valoroso D. Lourenço de Almeida (que veio a ter morte heróica na defesa de Diu), foi dos primeiros portugueses a fazer contactos concretos nesse território.
Curioso: Portugal não conquistou esse país-ilha. Assinou apenas um pacto de feitoria e comércio, e os cingaleses cedo passaram a estimar a nossa gente. O pior, foram os ambiciosos e vorazes holandeses, e depois os ingleses, que tudo fizeram para nos arrebatar tal território, tão doces e amigos eles eram de nós!...
Exemplos sobre Portugal-Ceilão na nossa Literatura temos duas belas prosas: “A Rendição de Columbo”, por Henrique Lopes de Mendonça, e “Alma Lusitana”, por António de Campos Júnior, num episódio solto no final do quarto volume da sua obra “Luiz de Camões”.
Há a registar  agora os dois únicos (até ao momento) exemplos desta relação Portugal-Ceilão, na Banda Desenhada:

1 - OS SETENTA DE CEILÃO, por Carlos Baptista Mendes, em apenas duas pranchas. Mas aqui, a guerra era com os árabes que queriam de lá expulsar os portugueses e explorar os cingaleses, pois julgavam-se donos dessas áreas...
Saiu-lhes o tiro pela culatra!

"Os setenta de Ceilão", por Baptista Mendes (texto e desenhos),
in "Mundo de Aventuras" (2.ª fase) #244 (1978)

2 - OS PESCADORES DE PÉROLAS, por Franco Caprioli e Roudolph, narrativa publicada na saudosa revista “Cavaleiro Andante”, do n.º 1 ao n.º 18. Uma bela e emotiva narrativa, onde, fraternalmente, portugueses e cingaleses enfrentam os poderosos e ambiciosos holandeses. Que história!...
"Os Pescadores de Pérolas" por Roudolph (texto) e Caprioli (desenhos),
in "Cavaleiro Andante" #1 a #18 (1952)

O nosso louvor para estes autores, o nosso Baptista Mendes e os italianos Roudolph (Raul Traverso) e Franco Caprioli.
Só não se entende porque bizarros caprichos da Diplomacia, o Ceilão (ou Sri Lanca) não tem embaixador residente em Lisboa e Portugal não tem embaixada na capital cingalesa!... Mais escandaloso, é sabermos daquele povo, na Malásia, que está totalmente abandonado por Lisboa (ou seja, por nós, portugueses), que tem apelidos portugueses, que usa em pleno a religião católica, a culinária portuguesa (conforme se vai recordando), palavras soltas do nosso idioma, usa nas festas o nosso belo, colorido e musical folclore, que sonha sempre pelo nosso distante país...
Mas isso é outra História!
LB

terça-feira, 6 de março de 2018

BREVES (54)


MANGÁ EM SETÚBAL


Inaugurou no último sábado, dia 3, na Casa da Cultura, em Setúbal, a exposição Tsuru
Trata-se de uma colecção de mangá que reúne autores japoneses clássicos e contemporâneos inovadores, reconhecidos pela sua contribuição para a arte da banda desenhada e também para a cultura japonesa.
Eis uma excelente oportunidade de descobrirmos alguns tesouros da BD japonesa, tão popular nos dias que correm, entre o público mais jovem.




COIMBRA BD QUASE A ABRIR PORTAS!
Entre 8 e 11 de Março decorrerá a terceira edição da mostra internacional de banda desenhada "Coimbra BD", na Casa Municipal da Cultura.
Exposições, conversas com autores, sessões de autógrafos, lançamentos, banca de livros, sessões de cinema ou concurso de "cosplay" fazem parte da programação deste jovem evento.
A presença do italiano Walter Venturi - consagrado desenhador de Tex e Zagor - é uma das grandes apostas da organização. 
Também o português André Lima Araújo - desenhador da Marvel, Image Comics e Titan Books - tem presença confirmada.




EXPOSIÇÕES DE BANDA DESENHADA DECORREM NO CPBD
Na sede do Clube Português de Banda Desenhada - sita na Avenida do Brasil, 52 A, Amadora -, estão patentes, para os amantes da 9.ª Arte, três exposições, a saber: os "70 anos de Superman", "Dom Afonso Henriques na Banda Desenhada" e "Infante Dom Henrique na Banda Desenhada" (sendo estas duas últimas as mais recentes produções do Gicav, com quem o CPBD estabeleceu uma frutuosa parceria). As exposições podem ser visitadas todos os sábados, entre as 15:00 e as 18:00 horas.



O ELIXIR DA ETERNA JUVENTUDE...


Ainda na Amadora, mas na Bedeteca Fernando Piteira Santos, inaugurou há poucos dias "O Elixir da Eterna Juventude - Mútuo Consentimento", exposição produzida a partir do álbum BD de Osvaldo Medina e Fernando Dordio, inspirado na obra do cantautor português Sérgio Godinho.
A exposição estará patente até 26 de Maio.
Contactos Bedeteca: Av.ª Conde Castro Guimarães, 6 - Amadora; telef. 214 369 054; e-mail: bibliotecas@cm-amadora.pt




BEJA BD/2018 À VISTA
Aproxima-se a data do Festival Internacional de BD de Beja-2018.
Para já, três indicações:
- O núcleo principal do Festival volta a ser junto à Casa da Cultura.
- O Festival é inaugurado na noite de 25 de Maio e terá o seu encerramento a 10 de Junho.
- Será efectuada uma homenagem-evocação ao saudoso e grande artista luso-brasileiro, Jayme Cortez.
A pouco e pouco, iremos dando mais notícias.




Séra
O REGRESSO DE SÉRA
Com notável obra-BD, Séra (aliás, Phousera Ing), é cidadão francês, nascido no reino asiático do Camboja.
Já esteve em Portugal, que ele bem estima, inclusivé em 2002, quando foi o desenhista estrangeiro homenageado na “Sobreda-BD” desse ano, a par dos nacionais Zé Manel e Carlos Rico.
A sua bela, variada e às vezes controversa obra, mantém-se toda ela incrivelmente sem qualquer edição portuguesa. A carreira teve uma hipotética “paragem” por cerca de dois anos, porque Séra, entre a França e o Camboja, se documentava e elaborava um álbum especial que se anuncia para muito breve: “Concombres Amères”. Falaremos desta obra, assim que a conhecermos. Haja um tantito de paciência, valeu?


Annie Goetzinger (1951-2017)
ADEUS, ANNIE GOETZINGER...
E, de repente, chegou-nos a bem triste notícia! Estávamos ao telefone com o desenhista Hugues Barthe, quando este nos perguntou se sabíamos do falecimento de Annie... Não, não sabíamos e foi um grande choque!
Logo investigámos na netAnnie Goetzinger, aos 66 anos, falecera a 20 de Dezembro do ano passado, vítima de doença prolongada.
Nasceu em Paris a 18 de Agosto de 1951. Residiu, já adulta, alguns anos em Barcelona. Elegante (tal como a sua longa obra), sempre de bom humor e afável conversadora, foi premiada várias vezes. A última vez que esteve em Portugal, foi para ser homenageada ao vivo pelo conjunto da obra, no salão “SobredaBD / 2006”. Tinha também uma grande paixão por gatos.
Obras principais: “Aurore”, “L’Avenir Perdu”, “La Sultane Blanche”, “Paquebot”, “Judy Garland”, “Casque d’Or” (o único álbum que também foi editado em Portugal), “Féline”, “Le Tango du Disparu” (também editado no Brasil), “Colette” e a série “Agence Hardy”.
Fica-nos agora, para a eternidade, a saudade de uma bela amizade.
Adeus, Annie Goetzinger!


Servais Tiago (1925-2018)
...E ADEUS SERVAIS TIAGO!
Dois meses depois de Annie Goetzinger, foi a vez de Servais Tiago nos deixar, aos noventa e dois anos.
Lisboeta, nascido a 16 de Junho de 1925, Armando de Almeida Servais Tiago colaborou em revistas como "Sempre-Fixe", "O Mosquito", "Diabrete", "Cartaz", "Riso Mundial", "Boletim do Clube Português de Banda Desenhada" ou "Almada BD Fanzine".
Foi um desenhador de estilo caricatural e humorístico, sendo "Barnabé" o seu personagem mais conhecido.
Fez ilustrações e capas de livros, tendo-se, também, dedicado ao cinema de animação (fundou a Movicine) onde obteve alguns prémios em festivais internacionais.
Em 1943 produziu "Automania", que venceu o prémio Galo de Ouro da Pathé-Baby, o Troféu Ferrania e a Taça do Melhor Filme do Concurso Nacional de Cinema de Amadores, sendo, ainda hoje, o filme português de animação original mais antigo, completo e em bom estado.
Servais Tiago faleceu tragicamente em Lisboa vítima de atropelamento por um eléctrico.
LB/CR