domingo, 27 de setembro de 2020

NOVIDADES EDITORIAIS (203)

LA FORÊT CARNIVORE - Edição Casterman. Autores, segundo o personagem-série "Alix", criado por Jacques Martin: argumento de Valérie Mangin, traço de Thierry Démarez e cores de Jean-Jacques Chagnaud.
É o 10.º tomo da série "Alix Senator", até agora, talvez, o mais violento e cáustico, sem fugir aos encantos destas narrativas.
Alix, desgostoso pela morte da sua amada Lídia, aceita o convite de seu primo Vanik e regressa à Gália. Nesta zona trágica onde Júlio César fez acontecer uma dolorosa e repugnante tortura e matança sobre os heróicos gauleses comandados pelo intrépido Vercingétorix (que, rendido e prisioneiro em Roma, aqui foi assassinado)... Aliás, Roma só vencia pelo assassinato dos grandes líderes dos povos que ele, César, queria à força subjugar... O gaulês Vercingétorix e o numida Jugurta tiveram fins paralelos; o lusitano Viriato, é o que sabemos... O germano Armínio, sempre vitorioso, foi assassinado por ordem do sogro que o detestava e estava vendido aos romanos. Só escapou o rei dácio Decébalo, que preferiu suicidar-se a render-se a Roma.
Nesta narrativa, Vanik conta a Alix o seu empenho em fazer renascer as glórias de Alésia, na zona onde foi brilhante e destemida. Mas, por aí, existe uma floresta que alberga os cruéis sobreviventes da vencida Alésia.
Agora, é um povo sanguinário e sem contemplações que, por vingança ou justiça, se manifesta em carnificinas tanto contra os romanos como contra os gauleses "romanizados". Quem dirige este povo veterano é Ollovia, viuva de Vercingétorix. Um ódio implacável ensopa uns e outros. Mas Ollovia teve dois filhos, um de cada um dos seus maridos, o primeiro gaulês e o segundo, romano...
Tudo se narra nesta aventura que, sensatamente, convém ler.


ROSA, MINHA IRMÃ ROSA - Edição Asa. Autores: argumento de Alice Vieira e arte de João Amaral, e ainda um prefácio pela própria Alice Vieira.
Esta conceituada escritora foi apanhada pela Banda Desenhada, pelo talento do desenhista João Amaral. E resultou!
​É uma obra suave e terna. Aparentemente, é toda dirigida a um público infantil (admitamos) e ao feminino.
Mariana é uma petiza que vive feliz com seus pais, com uma das suas avós (da outra, já falecida, guarda nostálgicas recordações) e a sua amiga Rita. De repente, os pais decidiram trazer-lhe para este universo, uma irmã, a Rosa. Porquê e para quê? Este aumento da família iria resultar?
João Amaral, por sua vez, deu uma volta, de qualquer modo positiva, ao seu vigoroso estilo de se aplicar à Banda Desenhada. Aqui lhe deixamos um abraço por esta coragem artística.


TU PIGES? - Edição Dupuis. Autor. Hermann.
"Tu Piges?" ("Topas?") é o 38.º tomo de uma das séries de honra do magistral criador belga Hermann, "Jeremiah".
Os inseparáveis amigos Jeremiah e Kurdy, quando se preparavam para apanhar um autocarro, são testemunhas de uma tentativa de rapto de Jenny (que é muito rebelde e usa uma cabeleira toda verde) pelos seus dois irmãos dominadores, que logo aí abatem o seu namorado.
Os dois amigos lá se apostam em proteger Jenny, mas esta não os aceita lá muito bem. Ela é feroz, independente e lutadora... Mais, corre ainda de boca em boca, o boato de uma dose de preciosas esmeraldas que todos querem apanhar... Pois! Onde é que elas param? Quem é que as tem?
Nevoeiros, fumos de pólvora, sexualidades insinuadas, pistoladas e murros, não faltam neste episódio, temperando devidamente a narrativa. Só assim a série bate certo, caso contrário, ela não continuava a ter o magnífico êxito que tem.
Parabéns, Hermann!


ÓMEGA E ALFA - Edição Escorpião Azul. Autor: Miguel Santos. Trata-se do quarto e último tomo da série "Ermal".
Miguel Santos é um desenhista português... mas nada mais sabemos dos seus dados de identidade!... No entanto, tem já uma razoável obra e já recebeu invejáveis prémios.
Com "Ermal", criou uma breve série com fantasia, absurdos, utopias e alguma violência quanto baste.
Claro que não vamos aqui contar esta série, pois quem ficar todo espevitado, que procure os álbuns e os leia. Vai uma aposta?
LB

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

NOVIDADES EDITORIAIS (202)

LE CONQUÉRANT - Edição Casterman. Autores, segundo Jacques Martin: tem argumento de Valérie Mangin, traço de Paul Teng e cores de Céline Labriet. 
É o 18.º tomo da série "Jhen", sendo o terceiro desenhado por Paul Teng.
Jhen Roque (ex- Xan Larc), é um corajoso escultor, arquitecto e, de certo modo, detective à época. Conheceu Jeanne d'Arc e foi pessoal amigo do tenebroso e pedófilo assassino, o condestável Gilles de Rais, ao qual tentou em vão, trazer às boas razões e salvar de ser justiciado...
Neste tomo, ingleses, franceses e normandos (descendentes dos francos e dos viquingues) andam bem ao sopapo, com todo o furor por ambiciosas glórias e poder. Aqui se foca a famosa Batalha de Hastings, a 14 de Outubro de 1066, sendo o fulcro deste enredo a preciosa e famosíssima Tapeçaria de Bayeux, que todos querem possuir. É um ver se te avias com todos a mergulhar nas intrigas e nas hipocrisias. Se uns querem roubar a Tapeçaria, outros vão querer salvá-la. Isto, porque foi Guilherme II da Normandia, dito "o Conquistador", que venceu os danados dos ingleses.
Segundo uma das lendas, a bela Tapeçaria terá sido executada por Matilde de Flandres, esposa do heróico Guilherme... 
Nesta balbúrdia bem construída e belamente desenhada por Paul Teng, o atento e bravo Jhen, acaba por ficar prisioneiro dos ingleses... Que coisa!
Lembramos que a Tapeçaria de Bayeux é considerada, na sua vertente evolutiva, uma digna precursora da Banda Desenhada.
Incrivelmente, a série "Jhen", tão bela e didáctica como controversa, ainda não tem um único álbum em português!...


NEW YORK CANNIBALS - Edição Ala dos Livros. Autores: Jerome Charyn (argumento) e François Boucq (arte).
Já tínhamos saudades de ler em português obras desta terrível parceria : Charyn e Boucq. Ora aqui está agora, uma obra imensa, tão terna como amarga.
Toda uma intensa e intrigante atmosfera envolve, com estranhos e esquisitos mistérios, o deambular de dramáticos encontros e desencontros, situação após situação... Mas, mesmo assim, esta angustiante e sinistra narrativa que terá começado na distante russa Sibéria, acontece agora em Nova Iorque!...
Há muito sufoco e, vamos lá, um final feliz. E daqui, uma leitura correcta e obrigatória!



TINTIN, C'EST L'AVENTURE / 5 - Edição Geo / Moulinsart. Publicação trimestral, cujo este n.º 5 corresponde aos meses de Setembro a Novembro.
Belo e rico tomo, centrando-se essencialmente nas relações de Hergé e de Tintin, com a Ásia. E, claro, na amizade plena de Hergé e Tchong-jen Tchang, amizade bem registada nos álbuns "O Lótus Azul" e "Tintin no Tibete".
Neste exemplar há ainda outros temas muito interessantes, como: as entrevistas com Sylvain Tesson e com Jean-Yves
Delitte, a arte gráfica de Jean-François Charles, ou ainda, os artigos em jeito de reportagem, sobre o famoso submarino "Nautilus", as Tribos da Amazónia e a vida quase desconhecida no vale de Wakhan (no Afeganistão).
A ler com pleno entusiasmo!
LB

domingo, 20 de setembro de 2020

HERÓIS INESQUECÍVEIS (72) - PITANGA

Ora aqui está mais um herói da nossa BD: o estranho e sedutor Pitanga!
​É importante termos a segura consciência de ​que se trata de um herói-BD português. Exacto! ​Não há muitos, mas dos que existem, como ​dizia "o outro", já é de si bastante e bem aconchegante.
​Vejamos alguns exemplos soltos: o nosso tão ​"divinizado" Eduardo Teixeira Coelho, criou e prosseguiu com muitos heróis, mas NÃO portugueses (com excepção de Simão Infante, em "O Caminho do Oriente"). Víctor Péon, foi pela mesma linha "estrangeirada"... Já a favor da linha de aqui fronteiras, temos em breves exemplos: ​Fernandes Silva com o seu "O Ponto" de nacionalidade ​indefinida; Artur Correia a divertir-nos com "D. João e ​Cebolinha"; José Manuel Soares com "Zeca"; José ​Antunes criou o seu "Toni Tormenta"; José Ruy apostou ​no "Porto Bomvento" e nos Lusitanos; André, no "Tónius"; Fernando Relvas, no "Espião Acácio"; Luís ​Pinto-Coelho em "Tom Vitoín" e, a parceria Luís​ ​Louro/Tozé Simões apostou em pleno com as séries ​"Jim del Mónaco" e "Roques e Folques"...
E chegamos ao talento "feroz" de Arlindo Fagundes, que muito bem imaginou o espantoso e atrevido Pitanga!
Arlindo Fagundes
Apto barbeiro e "motard", ele, Pitanga, é também um justiceiro por conta própria. Sendo um homem do povo, audacioso e capaz, é autêntico e directo, sem trajos especiais nem máscaras fantasistas de disfarce. Talvez mais temerário do que corajoso, ou quiçá ambas as coisas, não hesita em defender a Natureza em geral, os animais, os desvalidos da vida... Revelou-se ao público no quotidiano "O Diário" a 1 de Fevereiro de 1985.
Foi uma estreia de êxito! Publicou-se depois por diversas "paragens"...
Em narrativas curtas, registam-se: "Pitanga e os Animais"...


Pranchas de "Pitanga e os Animais", por Arlindo Fagundes (texto e desenhos),
in revista "O Mosquito" #11 (2.ª série)

"Parabéns a Você"...
Capa da revista "Quadradinho" #1, que publicou a história "Parabéns a você",
por Arlindo Fagundes (texto e desenho), Ed. Associação de Banda Desenhada do Porto (1997)

"Quem Vem e Atravessa o Rio"...

Pranchas de "Quem Vem e Atravessa o Rio", por Arlindo Fagundes (texto) e Pedro Sousa Dias (desenhos), in fanzine Pedra Pomes #1 (Julho de 1991)

...e "Pitanga e o Paradoxo do Barbeiro".
"Pitanga e o Paradoxo do Barbeiro", por Arlindo Fagundes (adaptação e desenhos) e José Pedro Costa (cor),
in "Mundo Universitário" (2007)

Mas, na bela senda três (só?!…) álbuns: "La Chavalita", em 1985...


Capa e prancha de "La Chavalita", por Arlindo Fagundes (texto e desenhos),
Editorial Caminho (1985)

...e, em 2003, ​"A Rapariga do Poço da Morte", ambos considerados ​esgotados, sob edição Caminho.
 
Capa e prancha de "A Rapariga do Poço da Morte", por Arlindo Fagundes (texto e desenho),
Editorial Caminho (2003)

Finalmente, em 2019, e ​agora a cores (seriam mesmo necessárias?!...), o tão ​ansiado grande terceiro tomo: "O Colega de Sevilha", ​sob edição Arcádia.

Capa e prancha de "O Colega de Sevilha", por Arlindo Fagundes (texto e desenhos) e José Pedro Costa (cor),
Ed. Arcádia (2019)

Olá, Arlindo: os bedéfilos portugueses exigem com ​todo o lógico "furor", mais e mais "Pitangas"... Ça va?!...
Em nota final: registe-se que os nossos CTT editaram, há alguns anos, uma curtíssima série de selos, que engloba apenas(?!) oito heróis da nossa gloriosa Banda Desenhada: "Quim e Manecas" (de Stuart Carvalhais), "Simão Infante" (de ETCoelho/Raúl Correia), "A Pior Banda do Mundo" (de José Carlos Fernandes), "Guarda Abília" (de Júlio Pinto/Nuno Saraiva), "O Espião Acácio" (de Fernando Relvas), "Jim Del Mónaco" (de Luís Louro/Tozé Simões), "Tomahawak Tom" (de Vítor Péon) e... "Pitanga" (de Arlindo Fagundes).
Bravo sim, mas exige-se, com plena lógica, mais... e mais algum outro consciente mais… Vai uma atenta aposta?
LB
Selos postais com Pitanga entre os heróis BD portugueses.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

NOVIDADES EDITORIAIS (201)

O MALHADINHAS - ​Edição Gicav/Município de Viseu/Viseu Marca. Autores: Aquilino Ribeiro (texto) e Santos Costa (arte gráfica). É um arrojado álbum de 170 páginas, que só merece o nosso carinho e o nosso aplauso.
​O romancista (e não só) Aquilino Ribeiro tem obra vastíssima, abrangendo biografias, contos, romances, memórias, História, literatura infantil e traduções. Nasceu em Tabosa do Carregal, no distrito de Viseu, a 13 de Setembro de 1885 e faleceu em Lisboa a 27 de Maio de 1963, onde foi sepultado no Cemitério dos Prazeres, mas em 2007, os seus restos mortais foram transladados para o Panteão Nacional.
Da sua Prosa, constam títulos, para além de "O Malhadinhas" (agora adaptado à BD por Santos Costa), "Romance da Raposa" (adaptado à BD e ao Cinema de Animação, por Artur Correia e Ricardo Neto), "O Homem Que Matou o Diabo" (adaptado ao Cinema/Televisão em 1979), "Quando os Lobos Uivam" (adaptado ao Cinema em 2008), "Andam Faunos Pelo Bosque", "Príncipes de Portugal, Suas Grandezas e Misérias", "Terras do Demo", "As Três Mulheres de Sansão", "A Casa Grande de Romarigães", etc. 
Tem uma Casa Museu /Biblioteca em Soutosa (Moimenta da Beira).
Há que conhecer melhor a sua biografia e a sua obra...
No entanto, bem ainda na sua juventude, esteve ligado aos anarquistas/carbonária do nosso País, que programavam assassinar El-Rei D. Carlos I (e família), mas cedo se afastou por não concordar com tão horrendo crime, o que é relatado no filme "O Dia do Regicídio" (2008) com realização de Fernando Vendrell e o actor Pedro Carmo como Aquilino Ribeiro.


VIRIATUS / 1 - ​Eis um novo e corajoso fanzine com produção GICAV e coordenação de Carlos Almeida. Foi lançado a 22 de Agosto e teve bem positivas opiniões de muito boa gente. Ainda bem!
A capa é de Dani Almeida, talvez um tanto confusa... Com dezasseis páginas, neste primeiro número, colaboram: Agostinho Pereira, José Pires, João Manuel Mimoso, Rafael Sales, João Amaral, o Clube Tex, Luiz Beira, Carlos Ferreira, Carlos Santos e, a finalizar, a reprodução da BD em quatro pranchas, de "A Morte do Lidador", pelo já saudoso mestre José Garcês, segundo um texto do historiador Alexandre
Herculano.
"Viriatus" é um fanzine que glorifica a sua natal Viseu e que tem pernas para andar, pelo que fazemos votos plenos que seja de mais constante publicação.
Parabéns Viseu, parabéns GICAV, parabéns Carlos Almeida!

Nota: os pedidos para se obter "O Malhadinhas" e "Viriatus", devem se endereçados para: GICAV - Rua João Mendes, n.º 51 - 3500.142 Viseu


​​BOB MORANE, INTÉGRALE 14 - ​Edição Lombard. Autores: o incansável Henri Vernes nos argumentos, e arte gráfica do espanhol Felicisimo Coria e ainda, um dossiê prévio por Jacques Pessis.
As Editions du Lombard (Bélgica), prosseguindo com a reedição em versão integral da série "Bob Morane", neste tomo 14, inserem-se cinco narrativas escaldantes, a saber: "Alias M.D.O.", "L'Anneau de Salomon", "La Vallée des Brontosaures", "La Revanche de l'Ombre Jaune" e "Le Châtiment de l'Ombre Jaune". Será que este patifório, inimigo de Bob e de Bill desta vez, morreu mesmo?!...
Como é grato e maravilhoso saber-se que na prática, pelo menos as editoras bedistas de França e da Bélgica, não atiram para o lixo e o esquecimento, as grandes séries clássicas, sempre a recordar e sempre a descobrir...
LB

sábado, 12 de setembro de 2020

A INFLUÊNCIA DA CENSURA NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS, EM PORTUGAL (5) - por José Ruy

Era o avolumar de uma utopia, o que acontecia todos os dias quando nos encontrávamos na hora do almoço, o Madeira Rodrigues, o Teixeira Abreu, o Dinis Machado e eu, durante esses meses de 1960.
As personagens iam sendo criadas entre mim e o João Paulo Madeira Rodrigues, com detalhes cuidadosos. Como foi ele a criar o «Lusibanco», retratei-o e recolhi atitudes e poses, que achei coadunarem-se com o perfil do boneco.
Os nossos companheiros deliravam com cada piada, e picavam-nos quando tardávamos a adiantar mais pormenores.

Continuemos com o Lusibanco. As suas características tinham a ver com o Ministro das Finanças da altura. Creio que dá para lerem as notas que acompanham os esquiços. O Madeira Rodrigues sempre gostou mais de ditar do que escrever e eu ia registando tudo no bloco.
«LUSIBANCO
Espertalhão, duma vivacidade insinuante como bicho-em-costura. Para obter o que pretende roja-se como a cobra, e uma vez alcançado o seu fim é sobranceiro e rude.
Pilar de instituições e temente dos deuses numa forma pessoal, intolerante para todas as fraquezas. Dominador até à violência, só respeita o que não lhe fica abaixo. Grandes qualidades de trabalho. Negociante e político por excelência. Gosta de empregar expressões como: É UMA RESPONSABILIDADE! Usa e abusa do NÃO que entende ser a fórmula do NÃO-COMPROMISSO e da NÃO- RESPONSABILIDADE, e esclarece: É MAIS FÁCIL DIZER NÃO DO QUE EXPLICAR SEJA O QUE FOR.
É avaro, contudo desde que lhe toquem na corda sensível-à-lisonja é capaz de larguezas.»

Portanto esta personagem não gostava de mudanças. Mantinha-se sentado num tronco de árvore e não queria mudar de lugar. De resto tinha os membros inferiores atrofiados. Assim, quando o quiseram transportar, tiveram de cortar o tronco e leva-lo aos ombros com o assento e tudo.
Aqui entram já duas figuras de que falarei mais tarde
«É muito susceptível. Teimoso; e por teimosia é capaz de se pôr contra tudo e todos. Possui um tipo de idealismo «sui géneris» conhecido por temperamento lusíado. Mas a teimosia, ou melhor, o levar a sua vontade até ao fim, permite-lhe absurdamente alcançar resultados de soluções positivas, mas passageiras.
Tem outra expressão que codifica todo o seu comportamento: PROTELAR É RESOLVER O PRAZO. Gosta de fazer evocações ambíguas a um passado de quem se julga herdeiro. FOI O INVENTOR DO ESCUDO-PADRÃO como moeda de troca.»


Passemos agora à Lusidia.
Esta personagem, inspirada como vos mostrei, nas esculturas encontradas nas escavações nos castros, foi estudada em todas as atitudes que precisava entrar na narrativa gráfica. Embora obesa era bastante ágil. Junto ao desenho a descrição das suas características. 
«LUSIDIA
Muito matronal, muito doméstica (tão doméstica como os animais caseiros) feroz defensora dos direitos do homem. Ardilosa e matreira usa uma linguagem que oscila entre o rude e o autoritário. Caracterizante sexo fraco apesar do seu aspecto grandioso, muito temente dos deuses. Fica de olho aceso, mas baixo, perante galanteios. Acha que todas as mulheres são umas desavergonhadas (?) muito suscetível. Possui um apurado sentido de propriedade. Admite-se que tem um fraco por Lusito, e uma adoração por Lusitanso que vê como um homem de confiança.»

Todas as personagens eram acompanhadas de um currículo e testadas no que se iria exigir delas. O Madeira Rodrigues foi genial na criação desses detalhes, de um requinte muito inteligente.
Durante esse período de tempo, os almoços eram praticamente engolidos para dedicarmos todo o resto do tempo ao nascer desta história que poderia desafiar a censura, mas que nunca sairia à estampa.
Era um gozo em circuito fechado.

No próximo episódio: «Outras personagens.»

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

CAPAS (6) - JOSÉ GARCÊS

José Garcês (1928-2020)
​José Garcês nasceu em Lisboa, a 23 de Julho de 1928.
Em 15 de Julho do corrente, a poucos dias de comemorar o seu 92.º aniversário, mestre José Garcês, um dos magníficos da BD Portuguesa, deixou-nos. Se bem que, devido à sua idade e à sua muito frágil saúde, já era previsível este desfecho, sempre muito triste quando alguém que se estima embarca para a tal viagem sem regresso... Que esteja bem na paz eterna!
Legou-nos obra imensa e variada, não só pela 9.ª Arte, e foi homenageado ao vivo na Sobreda, Amadora, Moura, Viseu, Lisboa, Porto… 
Constam vários álbuns editados em Portugal, sendo que alguns deles conheceram edições em francês e em inglês.
​Mas para se aconchegarem melhor sobre este autor e a sua obra, aconselhamos a leitura (ou re-leitura) da devida entrevista no BDBD a 14 de Abril de 2014, a indicação específica no sítio "Bedeteca Portugal" e o álbum biográfico "José Garcês, as Fases Diversas" de António Dias de Deus e de Leonardo de Sá.
José Garcês colaborou para: "Camarada", "Fagulha", "O Falcão", "Joaninha" (suplemento da revista "Modas e Bordados"), "Cavaleiro Andante", "Pisca-Pisca", "Tintin" (edição portuguesa), "Notícias Magazine", "Cadernos Sobreda BD", "Almada BD Fanzine", "Cadernos de Banda Desenhada", etc, etc.
Vamos lá agora admirar, algumas das suas mais belas capas.
LB