Existia, desde 1982, o Salão-BD da Sobreda (concelho de Almada), que se iniciou humildemente, mas com todo o entusiasmo. O seu carola fundador, cedo fez nascer o GBS-Grupo Bedéfilo Sobredense, e tudo foi evoluindo (mas este assunto é provável tema para um futuro próximo...). Em Maio de 2006, data da última edição até agora acontecida, três artistas franceses foram convidados: Annie Goetzinger (a homenageada) e, como "convidados de honra", os luso-descendentes Cyril Pedrosa e David Cerqueira (este, numa atitude bem incorrecta, falhou). Cyril, tal como Annie, chegaram a 26 de Maio e "partiram" a 29...
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Cyril Pedrosa |
E como, agora e aqui, é de Cyril Pedrosa que se trata, ele logo cativou em absoluto todos os elementos da Organização (GBS e Junta de Freguesia de Sobreda), tendo deixado inapagáveis saudades.
Depois, esteve no Festival da Amadora, cremos que em 2009. E tornou em pleno e em glória ao "AmadoraBD 2012".
Já começa a dizer bem "algumas coisas" no nosso idioma. É neto de portugueses (da região da Figueira da Foz), nasceu em Poitiers a 22 de Novembro de 1972, residindo actualmente em Nantes.
A sua vinda ao Festival da Amadora deste ano, deve-se a um facto raro: dois álbuns seus foram aqui lançados em simultâneo e em edição portuguesa: "Portugal" pela Asa e "Três Sombras" pelas edições Polvo.
Na sua bibliografia contam-se diversos outros títulos, como: "Les Coeurs Solitaires", "Auto-Bio" (em dois tomos), "Ring Circus" (com 4 tomos, dos quais só o primeiro foi editado em português), "Shaolin Moussaka" (3 tomos) e a participação em colectivos como, "La Fontaine aux Fables", o erótico "Premières Fois", "Paroles de Poilus" e "Francis Cabrel". Em conclusão, ainda este ano, "Chasseurs-Cueilleurs".
E ocasionou-se a entrevista que se segue:
BDBD - Dois álbuns teus apresentados em simultâneo na mesma festa-BD. Isto não é lá muito normal, pois não?
Cyril Pedrosa (CP) - Não, não é nada normal. Foi uma sorte. Aconteceu! E deu-me muito prazer, pois até tenho muitos familiares que não falam francês e queriam conhecer/ler as minhas obras... Em especial, "Portugal", por óbvias razões.
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Prancha de "Portugal" |
BDBD - As tuas presenças nas festas-BD em Portugal começaram no Salão Internacional "Sobreda-BD/2006". O que guardas em ti dessa ocasião?
CP - Para mim, foi um momento muito importante na minha vida. Senti-me tal como descrevo no meu álbum "Portugal. Gostei imenso, tocou-me imenso e logo decidi que iria fazer um álbum versando a minha "descoberta", o meu verdadeiro e consciente encontro com Portugal.
BDBD - Mas a Sobreda era um pequeno Salão... Gostas destas festas pequenas ou preferes as grandes como Angoulême, Barcelona, Amadora?...
CP - Na verdade e em geral, não gosto de ir aos salões-BD. Só vou quando há algo que me entusiasma para tal. Não se trata de saber se o salão é pequeno ou grande... Eles são todos, por norma, repetitivos, e quase sempre, pouco há de novo a entusiasmar-me...
BDBD - "Três Sombras" esteve indicado para ser levado ao Cinema com actores de carne e osso, pelos norte-americanos. Esse projecto foi cancelado?
CP - Não, de princípio, não era pelos americanos, mas pelos franceses. Esse projecto foi, de facto, anulado. Surgiu depois uma produtora norte-americana que estava interessada, caso os franceses não fossem adiante... Entraram em contacto com a Delcourt, a minha editora desse álbum... Aguardo notícias, embora saiba que é sempre muito complicado adaptar a BD ao Cinema.
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Prancha de "Três Sombras" |
BDBD - A tua tão divertida série "Auto-Bio", vai continuar?
CP - Não...Parei. Não pensava sequer em fazer estas pranchas em álbum... Foram para a revista "Fluide Glacial"... Nessa ideia e nessa continuidade, não iria inventar nada de novo e, para não me repetir, parei.
BDBD - O teu próximo álbum, "Chasseurs-Cueilleurs", versa a solidão de alguns, mesmo quando cercados de uma multidão humana. Sentes também essa solidão?
CP - Sim, creio que como toda a gente. Não é bem o caso de pessoas que vivem sós... Não é propriamente a solidão física, mas a solidão como que de nós próprios... Por exemplo: haver qualquer coisa de belo ou não, mesmo pequena, mas que não conseguimos partilhar com os outros... Este álbum não fala só disto, mas é o ponto de partida.
BDBD - Voltarás a Portugal?
CP - Sim, sem dúvida! Não sei, assim de repente, quando... mas lá para diante veremos. Penso que virei mesmo muitas vezes. E digo-te: até gostaria de ficar por cá a viver algum tempo e então, aproveitar para conhecer mais e melhor Portugal.
Até breve então, Cyril!