terça-feira, 27 de agosto de 2013

HERÓIS INESQUECÍVEIS (17) - BUCK DANNY

Um certo cidadão belga, Georges Troisfontaine, era, por esses recuados tempos, o fundador e dirigente da World Productions / World Press, uma agência de distribuição de bandas desenhadas por diversos periódicos. 
Victor Hubinon e Jean-Michel Charlier
Embora sem se conhecerem, Jean-Michel Charlier e Victor Hubinon trabalhavam para ele. Troisfontaine apresentou-os e propôs-lhes um plano: a criação de uma série para a revista "Spirou". Ele próprio já escrevera as primeiras doze páginas. 
Os três eram apaixonados pela aviação e daqui, Charlier concluiu o argumento desta primeira aventura, enquanto Hubinon se dedicou ao grafismo. 
Consta que, fisica e fisionomicamente, o personagem principal teve como modelo o próprio Troisfontaine...
E é assim que nasce Buck Danny, um piloto da Força Aérea Norte-Americana, com a sua estreia no n.º 455 da "Spirou" a 2 de Janeiro de 1947, com a aventura "Les Japs Attaquent", que viria a originar o primeiro álbum. Hoje, já existem 52 e mais três na versão integral.
É na terceira narrativa, "La Revanche des Fils du Ciel", que aparecem Jerry Tumbler Sonny Tuckson. E desde então, os três, Buck, Jerry Sonny, tornam-se inseparáveis companheiros e amigos. Por sua vez, é o no 16.º álbum, "Menace au Nord", que surge pela primeira vez a "inimiga de estimação", a bela e sinistra Jane Hamilton, mais conhecida como "Lady X".
Victor Hubinon vem a falecer em 1979, tendo desenhado os quarenta primeiros álbuns da série. Francis Bergèse é quem o substitui, desenhando as seguintes doze narrativas.
Entretanto, Charlier faleceu em 1989... É Jacques De Douhet quem escreve o argumento  do 45.º tomo, "Les Secrets de la Mer Noire" e logo a seguir, Bergése torna-se criador absoluto da série, Todavia, já garantiu que "Cobra Noir", o 53.º tomo a aparecer em Setembro deste ano, terá novos autores: o argumentista Frédéric Zumbichl e o desenhista Francis Winis.
Francis Bergése, um dos continuadores da série
As aventuras e heroicidades de Buck Danny, Tumbler Tuckson, são marcos de alta popularidade, pelo menos no panorama bedéfilo francófono. Estranhamente, poucas foram as narrativas editadas em Portugal: apenas treze (todas com o traço impecável de Hubinon) e sem nenhum álbum. Buck Danny estreou-se entre nós no "Cavaleiro Andante" n.º 340 (Julho de 1958) com a aventura "O Tigre da Malásia", que é a 19.ª narrativa. Publicaram-se nove no "Mundo de Aventuras", uma na revista "Zorro" e duas na efémera edição portuguesa de "Spirou". Na verdade, ante a qualidade e a popularidade da série, é uma inexplicável bizarria a ausência de muitos mais episódios nas edições em português!...
LB


A primeira aventura de Buck Danny no "Cavaleiro Andante".
Prancha de "Les japs attaquent", a primeira aventura de Buck Danny



Prancha de "Tonnerre sur la Cordillére", por F. Bergése
1.º tomo de "Buck Danny - L'integrale", pela Dupuis, onde se recupera
a primeira aventura deste herói ("Les japs attaquent")
Capa da 53.ª aventura de Buck Danny, com saída prevista para o próximo mês.

sábado, 24 de agosto de 2013

PELO SALÃO "VISEU-BD / 2013"

Com uma pré-abertura na noite de 9 de Agosto (sexta-feira), a 18.ª edição do Salão Internacional de Banda Desenhada de Viseu, foi oficialmente inaugurada na tarde de sábado, 10 de Agosto, e vai estar patente até ao dia 22 de Setembro.
E diga-se já, em boa verdade, que houve muito público a visitar este certame da 9.ª Arte, donde também, "gente famosa" ligada à BD, como os desenhistas Artur Correia, Baptista Mendes, António Guerreiro, João Amaral, Álvaro, Fernando Santos Costa, Miguel Rebelo, Pedro Emanuel e Daniel Almeida (estes quatro últimos são residentes na região), o italiano Andrea Venturi, os editores Maria José Pereira e Geraldes Lino, os coleccionadores António Amaral, Pedro Bouça, António Isidro e Rui Domingues, para além de José Carlos Francisco (representante em Portugal das edições Bonelli). Faltaram algumas celebridades que tiveram a franqueza de justificar as ausências devido à malfadada crise.
Uma pose histórica: o italiano Andrea Venturi, João Amaral, Geraldes Lino e Luiz Beira
Depois de uma visita guiada conduzida por Carlos Alberto Almeida (coordenador principal do Salão e elemento da direcção do GICAV), sucedeu a cerimónia de abertura.
Falou Luís Filipe Mendes (outro elemento fundador e da direcção do GICAV), depois o Presidente da Expovis, a Vereadora da Cultura da C.M. de Viseu e a seguir, Carlos Almeida conduziu o resto da cerimónia, vindo logo a dar a palavra a António Mata que apresentou Geraldes Lino (que então recebeu o Troféu Anim'arte), Luiz Beira que apresentou João Amaral (que também recebeu o Troféu Anim'arte) e José Carlos Francisco apresentou o artista estrangeiro convidado de honra, o italiano Andrea Venturi.
 
João Amaral e Geraldes Lino recebendo os Troféus "Animarte", respectivamente
das mãos da Dr.ª Ana Paula Santana (Vereadora da Cultura da CM Viseu)
e do Dr. Luís Filipe Mendes (do Gicav)
Por fim, seguiu-se a bem concorrida sessão de autógrafos (que mais animada seria ainda se por lá houvesse uma banca de venda de álbuns de BD...) por João Amaral, Andrea Venturi, Álvaro, Miguel Rebelo, Pedro Emanuel e Fernando Santos Costa.
Andrea Venturi, João Amaral e Álvaro numa animada sessão de autógrafos.
Indica-se que esta edição do "Viseu-BD /2013" foi organizada pelo GICAV com apoio directo da Expovis (entidade que regula a famosa Feira de S. Mateus, onde o certame está inserido), com mais algumas colaborações, donde a Inovinter e a Câmara Municipal de Moura.
Eça de Queiroz...
... e Willy Vandersteen, no salão de Viseu.
Uma das pranchas expostas de João Amaral
Quanto ao Salão em si, havia um imenso espaço, em duas partes, pleno de Banda Desenhada, talvez mesmo com algumas notariedades a mais... com débil justificação para o facto. Aqui, lamentamos mesmo que se tenha olvidado uma brevíssima evocação ao nosso grande artista José Batista (Jobat) português e falecido este ano, que teve em seu lugar a evocação dedicada a um outro grande artista, o belga Didier Comès, também falecido este ano. Aliás, este ano, já faleceram quatro grandes valores da BD: para além de Jobat e de Comès, também o belga Fred Funcken e o francês (de origem grega) Fred.
Mas, parece-nos que, em consciência, primeiro estão os nossos e depois os outros!...
Até 22 de Setembro, há tempo para uma bem merecida visita ao XVIII Salão Internacional de Banda Desenhada de Viseu, pois a próxima edição será só em 2015. Força, GICAV!
LB
Aspecto geral das exposições (com João Amaral ao centro da imagem).


A sessão de homenagens esteve bem composta de público.
De pé: António Guerreiro e José Carlos Francisco (do blogue português do Tex).
Sentados na segunda fila: Pedro Bouça, Rui Domingues e António Isidro.
Na fila da frente: Santos Costa, Maria José Pereira e António Amaral.

Dois desenhistas de Viseu, Pedro Emanuel e Miguel Rebelo, e
Cristina Amaral (esposa do homenageado João Amaral)
Olhem que três! Foto captada no jantar-convívio com os "figurões"
Fernando Santos Costa, Pedro Emanuel e (claro!) Luiz Beira
Baptista Mendes e Artur Correia, dois veteranos da nossa BD, também estiveram presentes em Viseu.

Deixamos aqui um agradecimento muito especial a Cristina Amaral e a Carlos Almeida pela cedência de algumas fotos incluídas neste post.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

PELA BD DOS OUTROS (8) - A BD DA ISLÂNDIA

República insular no Atlântico norte, a Islândia tem uma longa História recheada de aventuras, alegrias e angústias e ainda alguns aspectos lendários que se confundem com a sua própria realidade através dos tempos.
Não há muitos anos, os islandeses eram considerados o povo mais feliz do mundo até que, de repente, tropeçou e quase "bateu no fundo". Mas fez justiça, julgando os culpados responsáveis por este assustador desaire: o governo e os banqueiros. E já está quase no seu tradicional feliz nível de vida. A Islândia é candidata ao ingresso na União Europeia e à adopção do euro como moeda (por enquanto, vigora a coroa islandesa). Com a capital em Reiqueiavique, tornou-se definitivamente independente (da Dinamarca) a 14 de Junho de 1944.
Neste país, constam nomes-valores, como o pintor Jóhannes Kjarval, o escritor Halldór Laxness (Prémio Nobel da Literatura/1955) e a cantora Björk. Com alta actividade vulcânica, o "Eyjafjallajokull", ainda em tempos recentes, quase parou o mundo... Tem uma muito baixa taxa de criminalidade.
A Banda Desenhada tem uma longa tradição neste país. Durante muito tempo com titubeantes apostas como as do actor e ilustrador Muggur (pelos anos 20 do século passado) e das leituras desta Arte que importava dos Estados Unidos (em especial das Produções Walt Disney), da Dinamarca e da Suécia. E surgem então as criações de Sigurdur Örn Brynjólfasson (dito, Söb), que é considerado como o pioneiro da banda desenhada islandesa contemporânea.
E logo o secundam Ragnar Lar, Kjartan Arnórsson, Gisli J. Astpeurs, Freydis Kristjansdóttir e Sigmund Astborgson.
 
Pranchas de Kjartan Arnórsson e Freydis Kristjansdóttir

O francês Jean Antoine Posocco (nascido em Besançon em 1961), radicou-se na Islândia, onde labora e ensina BD, passando a ser o desenhista "islandês" Jan Pozok, coordenando também o seu fanzine "Blek".
Arte de Jan Pozok
E logo surge um belo naipe, o histórico grupo da revista "(gisp!)", donde se destacam Thorri Hrinksson, Halldór Baldursson, Ólafur J. Engilbertsson, Bjarni Hinriksson e Jóhann Torfasson. Fazem-se representar em diversos Salões BD, mormente em França, Dinamarca e Finlândia. E, pela primeira vez em Portugal, exemplos das criações destes cinco desenhistas, estiveram patentes no salão "Sobreda BD/1992", aspecto que foi registado na revista "(gisp!)" n.º 3.

Pétur Bjarnason é um dos famosos veteranos, muito apostado em tiras humorísticas...
Tira cómica de Pétur Bjarnason
...e na mais "recente" geração, destaca-se Hugleikur Dagsson (vulgo, Hulli), diplomado pela Academia Islandesa das Artes.
A História da Islândia, contada de forma humorística por Hugleikur Gagsson (Hulli)
Três autores com obra importante na Islândia:
Kjartan Arnorsson, Jan Pozok e Thorri Hringsson
Prancha de Ólafur J. Engilbertsson 
Arte de Jóhann Torfasson
Prancha de Thorry Hringsson
Prancha de Halldór Bardusson

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

EVOCANDO (9)... GIANNI DE LUCA

Gianni De Luca (1927-1991) - autoretrato
Era uma vez... um grande senhor da Banda Desenhada Italiana: GIANNI DE LUCA.
Nasceu em Gagliato a 27 de Janeiro de 1927 e faleceu em Roma a 6 de Junho de 1991, para onde se mudara aos seis anos de idade. 
Pintor, ilustrador, gravador e banda desenhista, iniciou a sua carreira no semanário "Il Vittorioso" e, em finais dos anos 50, passou para "Il Giornalino", onde se manteve por muitos e largos anos, como "mágico" da 9.ª Arte.
Da sua vasta obra, reconhecida internacionalmente, em Portugal consta, pelo "Cavaleiro Andante", "David, Pastor da Judeia" (do n.º 112 ao 136)...
 

..."A Esfinge Negra" (do n.º 171 ao 190)...
 

...e "O Império do Sol" (do n.º 327 ao 338)...
 

...e ainda, um belíssimo e precioso álbum, publicado em 1977 pelas Edições Celbrasil, versando a transposição à BD de três peças de William Shakespeare: "Hamlet", "Romeu e Julieta" e "A Tempestade". Aqui, este integral "shakespeareano" é um verdadeiro luxo nos anais da Banda Desenhada.

 
Capa e pranchas de "Hamlet", "Romeu e Julieta" e "A Tempestade", respectivamente. 

Gianni de Luca tinha o condão de transformar (melhor, de adaptar) a sua arte gráfica consoante os argumentos e épocas. 
Em 1947 chegou a matricular-se na Faculdade de Arquitectura que, um ou dois anos depois, abandonou para se dedicar completamente à Banda Desenhada.
Por esta vertente artística, ter-se-á iniciado em 1946 com "Anac, il Distruttore", se bem que um ano antes tenha ilustrado, para a Editrice Libraria Siciliana, o romance de Ector Malot "Sem Família". Depois, desenha "L'Oasi di Kamarasi".
Em 1947, para "Il Vittorioso", estreia-se autenticamente com "Il Mago Da Vinci".
Depois, entre outras histórias, desenha "Il Fiore della Morte" e "Il Re della Montagna". Nos anos 1948 /49, marcam posição criações suas como "I Naufraghi del McPerson", "O Império do Sol", "A Esfinge Negra", "Il Tempio delle Genti", etc. Em 1951, com "Gli Ultimi della Terra", aborda o ambiente futurista. Em 1958, desenha "Ragazzi di Ungheria", com argumento de Lino Monchieri. 
Entretanto, de 1955 a 1959, com publicação irregular, desenha episódios da "Bíblia" (donde, pressupomos, pertence "David, Pastor da Judeia") na obra que tem por título geral "La Più Grande Storia Mai Raccontata".
Gianni De Luca sentia uma certa necessidade de ir mais além, de apostar também para uma BD para adultos. É em 1967, após um breve afastamento desta Arte e com "L'Ultima Atlantide" marcando o seu regresso, que é desafiado a "segurar" a série "Il Comissario Spada", uma das glórias da sua carreira, com argumentos de Gian Luigi Gonano, num clima policial localizado em Milão e com diversos aspectos bem actuais.
E prossegue somando êxitos, como o western "Bob Jason" (1969), "Gian Burrasca" (1983), as biografias de Totó e de Marilyn Monroe (1985), a estranhíssima e bela narrativa "Paulus" (1986) e em 1988, a publicação de "La Freccia Nera" (adaptação do romance histórico de Robert Louis Stevenson, com guião de Paola Ferrarini) e o início  de uma obra ambiciosa, "I Giorni dell'Impero", que ficou incompleta dado ao seu falecimento, mas que foi publicada, incluindo os esboços e apontamentos que já havia elaborado. 

Biografia de Totó (1985) e "Paulus" (1986)
No entanto, "a cereja no topo do bolo" é a sua magnífica trilogia shakespeareana, versando as peças "Hamlet", "Romeu e Julieta" e "A Tempestade", uma autêntica revolução ante as variantes do seu grafismo e da Banda Desenhada em geral. Aqui, duas Artes - o Teatro e a Banda Desenhada - pelo talento de Gianni De Luca, resultam numa simbiose admirável e marcante pelo seu deslumbre. 
Gianni De Luca recebeu o Troféu Yellow Kid, em 1971, e o Troféu Nettuno, em 1976.
Muito e muito ficou por se contar nesta evocação, mas o registo (sumário) feito, já conta muito. E o verdadeiro bedéfilo... (a bom entendedor...).
LB




Revista "Il Vitorioso" (n.º 26) de 29 de Junho de 1963 - capa de Gianni de Luca
O Fantasma segundo Gianni de Luca ("Avventure Americane", n.º 210, de 11-12-1966)