domingo, 28 de agosto de 2022

CAPAS (31) - JOSÉ RUY

José Ruy
Actualmente, é o decano dos desenhistas portugueses, com uma carreira invejável e imparável.
José Ruy Matias Pinto, ou simplesmente José Ruy, nasceu na Amadora, onde reside, a 9 de Maio de 1930. Cursou em Lisboa na famosa Escola António Arroio.
Aos catorze anos, começou a publicar a sua BD em "O Papagaio", com "Os Cavaleiros do Vale Negro", "Homens do Mar", "A Bravura de Chico", Piratas do Ar", etc.
Não parou mais, seguindo-se uma marcante aposta em álbuns. Destes, alguns estão traduzidos em mirandês, cantonês, francês e inglês, sem esquecer a sua sinopse sobre "A História da Cruz Vermelha" em onze idiomas. Merecidamente, na sua Amadora natal, há uma escola e uma avenida com o seu nome.
​Tem exposto a sua BD, para além de Portugal, no Brasil, Roménia, Alemanha, França, China, Japão e Cabo Verde.
Foi homenageado em festas-BD em Lisboa, Sobreda, Amadora, Beja, Porto, Setubal, Moura, Viseu e ainda no Brasil e na Bulgária.
Está registado em algumas enciclopédias-BD, tanto nacionais como estrangeiras.
Abaixo se registam algumas (apenas algumas, pois elas são tantas!) das suas capas mais significativas.
LB

domingo, 21 de agosto de 2022

SÉRIES DE TIRAS BD (16) - RIBANHO

"RIbanho" nasceu a partir de um convite feito por António José Brito (então director do Diário do Alentejo) a Luís Afonso e a Carlos Rico para desenvolverem uma tira para a última página do jornal. Surgiu assim o pseudónimo LUCA, com as duas primeiras letras dos primeiros nomes dos autores.
Depois de terem criado as personagens em conjunto, dividiram tarefas: Luís escreveu semanalmente os textos, Carlos fez os desenhos e a tradução para alentejano (ainda que se exprima facilmente no alentejano falado, Luís Afonso tem alguma dificuldade em escrevê-lo).
A série tinha como cenário a planície alentejana onde um pastor, o seu cão Farrusco e o seu rebanho de ovelhas, contracenavam com outros personagens (o compadre, o taberneiro e os clientes da taberna, os guardas republicanos, o padre, os turistas, jornalistas...). 
As tiras foram publicadas, ininterruptamente, entre 7 de Fevereiro de 2003 e 28 de Setembro de 2012, dando mesmo origem a um álbum (sob edição Primebooks) com uma selecção das melhores tiras mas, passados quase dez anos, a série terminou abruptamente, por decisão do jornal.
Para evitar o fim definitivo deste projecto, os autores decidiram criar o Blogue do RIbanho, onde, durante cerca de cinco anos, ainda publicaram (por ordem cronológica) algumas tiras e muito material extra e inédito. Mas, com o tempo, acabaram por desistir, também, e fecharam o blogue...
Voltará, algum dia, a publicar-se o "RIbanho"?...
CR

terça-feira, 16 de agosto de 2022

ILUSTRAÇÕES E HISTÓRIAS EM QUADRINHOS por José Ruy (15)


E vamos ao desfecho da aventura de «Fabrício, o Espadachim» de Peter Tenerife, aliás José Padiña, que foi publicada no jornal «O Mosquito», mas sem ilustrações. Continuemos com as palavras de Padiña, embora resumidas:

Vamos entretanto saber o que acontecera a Daniel e a Miguel na manhã daquele dia, na mesma hora em que Fabrício travara a sua «batalha» na casa do Governador e andava nas suas aventuras na praia.
Vodagui era uma terra muito pequena e de gente pobre. Índios das castas mais baixas, alguns muçulmanos famintos, e uns pobres imigrantes chineses. A casa dos Padres da Missão tornara-se o centro da aldeia, onde todos iam buscar comida e onde se reuniam para ouvir os Padres ou para conversarem. Daniel e Miguel tinham lá aparecido na véspera, ao anoitecer. Conseguiram arranjar um homem que partisse em procura de notícias do que sucedera a Fabrício. Quando voltou contou uma história muito confusa. Na sua versão, Fabrício tentara fugir, mas os soldados tinham-no levado para uma masmorra mais o Padre Superior. Daniel estava ainda muito enfraquecido, mas depois de escutar a narrativa do homenzinho, transformou-se, ganhou forças novas, e declarou:
— Tenho que ir para junto de Fabrício!
Daniel partiu mal acabou o sol de nascer e Miguel, evidentemente, partiu com ele. Entraram na cidade à mesma hora em que Fabrício procurava o pai de Miguel e pararam à porta do Forte quando Florinda os traia denunciando-os a Balsemão Geraldes.
O Governador, colérico, passeava no salão de sua casa, avistou-os pela janela e gritou aos soldados:
— Prendam esses cavaleiros!
Daniel e Miguel é que não deixaram sequer que lhes tocassem. Desembainharam as espadas, abriram caminho até à porta da casa do Governador, subiram as escadas e entraram no salão, fechando a porta no fecho.
Ficaram frente a frente, e a sós com o inimigo.

— Venho pedir-vos noticias de D. Fabrício Cecílio e exigir-vos que cessem as vossas violências, os vossos cobardes abusos! — dizia Daniel, avançando direito ao Governador. Este olhava esgazeado o bico de espada que Daniel lhe apontava, mas não desenfiava a sua da bainha. E foi recuando tentando aproximar-se duma janela. E assim que lá chegou, gritou para que o fossem salvar.Daniel avançou mais uns passos e encostou a espada ao peito do Governador e elevando a voz para que todos o ouvissem, falou assim:
— Que ninguém se aproxime! Logo que o primeiro homem entrar nesta sala, carrego na minha espada e furo o Governador lado a lado! Tragam o Sr. D. Fabrício e o Padre Superior aí para o pátio. Enquanto eles não aparecerem o Governador fica sob ameaça!
Toda a soldadesca se imobilizou. Lá do pátio viam a cara pálida do Governador, quase morrendo de medo, e viam as espadas de Daniel e Miguel, reluzentes, prontas a se enterrarem.
Fabrício não precisou de ir até Vodagui saber notícias. Encontrou Balsemão Geraldes e a sua escolta a meio do caminho, já de regresso. Reconheceram-no, e isso bastava para os intimidar. Fabrício galopou direito a eles, e ordenou:
— Parai e escutai! Em nome D’el-rei, por Deus e pela Justiça!...

Balsemão Geraldes e os seus amiguinhos, escapuliram-se para detrás dos soldados. Fabrício verificou logo que que não traziam nem Daniel nem Miguel como prisioneiros.
«Esconderam-se a tempo!», pensou. Mas não pôde deixar de exclamar para os soldados:
— Vós não tendes vergonha de vos sujeitardes a uns chefes tão cobardes?!
Olhai como eles se esconderam! Então, D. Balsemão, hoje não gritais “S. Sebastian y amor»?!
Alguns soldados riram à socapa.
Fabrício continuou:
— Soldados, vós sabeis que o vosso Governador não está servindo os interesses D’el-Rei, mas sim os interesses de Bonifácio Geraldes. Mandei recado ao Vice-Rei da Índia. Antes dum mês virão barcos com tropas. E todos aqueles que estiverem do lado do Governador, serão julgados e condenados como cúmplices dele. Vinde comigo ao Forte!
Os soldados hesitaram apenas uns momentos. Um deles, mais decidido, deu o sinal. Tirou o chapéu, e gritou:
— Tendes razão, senhor Don Fabrício! Viva El-Rei! Viva o Sr. Don Fabrício!

— Viva! Vivaaaa!
Balsemão experimentou arrastar os amigos com o seu apelo de guerra. A resposta foi uma gargalhada geral.
Balsemão olhava meio aparvalhado e fugiu. Os «amiguinhos» aproveitaram-se e trotaram atrás de Balsemão.
Depois os soldados contaram a Fabrício as notícias de Vodagui, a partida de Daniel e Miguel para o Forte, a fim de libertarem Fabrício e o Padre Superior, que eles julgavam prisioneiros.
— Para o Forte! A galope!
Contudo, apesar do galope, os cavalos não lograram manter-se a par do de Fabrício e o nosso herói chegou ao Forte sozinho, com o avanço de mais de meia milha.
O aparecimento de Fabrício teve o efeito duma bomba quando se ouviu uma voz anunciar:
— É o D. Fabrício, o Espadachim! Fujam!

Daniel e Miguel logo deixaram o Governador em paz, e largaram pela escada abaixo. Fabrício esperava-os. Mas pouco tempo tiveram para se regozijarem com o encontro.
Bonifácio Geraldes recebera o pedido de socorro, e ali vinha com mais de cem homens a cavalo, ainda melhor armados e equipados que os soldados D’el-rei.
Fabrício pulou imediatamente para a sela da sua montada, desfechou uma cutilada sobre o adversário que primeiro se aproximou e atirou-o por terra, gritando:
— Já tens cavalo para ti, Daniel! Monta depressa!
Depois derrubou um segundo inimigo para arranjar cavalo para Miguel.
Os três desviavam a chuva de lâminas, e, incansáveis, golpeavam impiedosamente os inimigos.

Entretanto o Governador desceu do salão, mas aconteceu uma coisa inesperada: a chegada dos soldados da escolta de Balsemão, que Fabrício conquistara para o seu partido.
Os soldados atacaram, e então aquilo deixou de ser um combate para se transformar no mais confuso e desencontrado baralhar de gente que ainda houve.
Por fim os adversários ficaram reduzidos a um número tão diminuto, que Fabrício não lhe deu mais atenção, e pôs-se em busca do Governador. Levantou-o em peso e deitou-o atravessado sobre o cavalo:
— Por hoje acabaram-se as lutas, amigos! Vamo-nos embora! Já aqui temos o nosso prémio!
E apontava para o Governador. Dirigiram-se para casa de D. Domingos.

Fabrício sabia que a vitória não seria completa senão depois da chegada do auxílio que ele pedira ao Vice-Rei. Avisou que Geraldes havia de atacar a casa para libertar o Governador. Esse ataque deu-se no dia seguinte. Geraldes pôs cerco a casa, desta vez com perto de quinhentos homens. A chefia da defesa foi entregue a Fabrício. Não eram nem sequer duzentos os homens com que este contava, entre fidalgos, soldados e criados.
Contudo, como não podia deixar de ser, ganhou o combate, e ganhou-o utilizando as suas armas de sempre: a coragem e a audácia.

Acompanhado por vinte homens rompeu o cerco, e foi atacar os visitantes pelas costas, escolhendo o sítio onde estavam Balsemão e os seus amiguinhos. Concentrou todas as forças sobre ele e fê-lo prisioneiro.
O resto foi uma brincadeira de crianças. Os sitiantes não tardaram a debandar, ficando Bonifácio e o Governador prisioneiros.
Ao chegar a nau que o Vice-Rei mandou com um regimento, o Governador foi demitido e regressou, com Geraldes e toda a camarilha, a Portugal onde prestaram contas das suas faltas e erros.
Fabrício ainda se demorou mais algum tempo naquelas terras. Mas por fim todos os restos de conflitos se apagaram
e a vida tornou-se monótona e cansativa para o seu temperamento aguerrido.
Ofereceram-lhe uma festa de despedida, e a certa altura Fabrício teve ocasião de se encontrar a sós
com Florinda. A mocinha mudara muito. Quebrara-se o seu noivado com Daniel, e ela entristecera, e ganhara tanto mais encanto quanto mais modesta e discreta se mostrava. Fabrício perguntou-lhe:
— É verdade que não deixareis de fazer as pazes comigo antes de partir?
— Sim, eu tenho pensado muito naqueles dias das nossas questões... E agora desejo fazer as pazes convosco e com
muitas pessoas para quem fui injusta...
Fabrício compreendeu.
— É a Daniel que quereis referir-vos? Descansai, pois ele tem visto como vós estais modificada e já me disse que pensava procurar-vos... e reatar o noivado.
E assim foi, e Fabrício partiu para a China, para novas venturas.

FIM


No próximo artigo mostrarei mais uma série de ilustrações, também inéditas, que fiz com todo o gosto para uns escritos do meu saudoso amigo José Antunes, e que igualmente esperam editor para serem publicados.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

​NOVIDADES EDITORIAIS (240)

DOUTOR MENGEL - Edição Asa. Autor: Jean-Yves Delitte. Tradução de Pedro Vidal e coordenação de Carlos Pessoa. "Doutor Mengel" é o primeiro tomo (de quatro) da intrigante e bem inquietante série "U-Boot".
A narrativa saltita por épocas diferentes: 1945, 1951, 2059... Um submarino alemão (da Alemanha nazi) navega pelo Oceano Atlântico rumo às zonas antilhanas. Transporta uma enigmática "encomenda" que é apenas do conhecimento do respectivo comandante. Uma violenta tempestade força o submarino a entrar no rio Amazonas, com a tripulação em pânico pois, entretanto, um jovem marinheiro é encontrado morto e dilacerado: acidente, assassinato ou sabe-se lá o quê?!... Porém, no futuro, em 2059, a italiana Veneza está quase que completamente seca!...
Que pavorosos e misteriosos factos envolvem sem piedade toda esta narrativa?


LITTLE TULIP - ​Edição Ala dos Livros. Autores: J. Charyn (argumento) e François Boucq (arte).
O pesadelo arrastado de um jovem no clima, em todos os sentidos, num "gulag" soviético. É um constante e dramático sufoco pela sobrevivência... e o jovem Pavel virá a ser um implacável lutador...
Há aqui, também, a admirável arte do famoso Boucq.
Uma leitura desafiadora a bedéfilos com os nervos seguros.


ESCUTA, FORMOSA MÁRCIA - ​Edição Polvo. Autor: Marcello Quintanilha.
Numa zona pouco recomendável do Rio de Janeiro, vive a lutadora Márcia, enfermeira e mãe solteira, que, com todos os sacrifícios, tenta educar exemplarmente a sua filha Jaqueline.
Esta, é rebelde e caprichosa e só faz o que bem lhe apetece, o que vai complicar a existência, pois envolve-se com o crime organizado.
E, então, Márcia, arroja-se destemidamente a tudo fazer para salvar a filha da embrulhada em que se atolou...
Marcello Quintanilha é um notável jovem autor brasileiro que reside em Barcelona. Tem sido editado em Portugal, que já visitou várias vezes.


A CICATRIZ - ​Edição Escorpião Azul. Autores: Renato Chiocca e Andrea Ferraris. Tradução de Jorge Deodato.
Um dramático relato (reportagem?), seco e sombrio, localizado na fronteira do México e dos Estados Unidos da América do Norte.
Muita amargura e terríveis consequências, mas onde também se encontram espaços de luz e de ocasional humanismo.
Vale bem a pena apostar na leitura deste álbum.


NESTE BAIRRO, LATINO NÃO ENTRA - ​Edição Asa. Autores: vários, consoante as três narrativas que compõem o álbum, com tradução de Helena Guimarães.
São as seguintes: "A Bola da Borrasca" (texto de Yves Coulon e arte de Philippe Fenech), "Fluctuat N-Hic! Margitur!" (texto de Mathieu Choquet e arte de Jean Bastide) e "Labieno, Não Passarás!" (texto de Jerome Erbin e arte de Philippe Fenech).
Rebuscada na popular série "Astérix" de Goscinny e Uderzo, desta vez e a divertir-nos bem, o herói central é o ousado cachorrinho de Obélix, o Ideiafix.
Os gauleses mal aparecem, mas os romanos bem desejam livrar-se das diabruras de Ideiafix e seus aliados e amigos: a elegante cadela Turbina, o possante buldogue Glutonix, a doce gatinha Ladina, o mocho espertalhão Noturnix e o passarito traquina Bronquitix.
Em boa hora, nesta dose de Novidades Editoriais, um álbum sem violências sanguinárias nem pesadelos sufocantes, mas sim, com muita diversão e salutar humor.
LB

sábado, 6 de agosto de 2022

​TALENTOS DA NOSSA EUROPA (51) - JOANN SFAR (França)

Pois bem: este "jovem" francês, o Joann Sfar, é um dos mais admiráveis valores da actual Banda Desenhada do país dos "irredutíveis gauleses".
Nasceu em Nice a 28 de Agosto de 1971. Talentoso, atrevido e satírico na arte diversa que executa e nos argumentos que corajosamente escreve, está sempre capaz nas ideias em que muito bem aposta.
Estreou-se em 1994 com "Les Aventures d'Orsour Hvrsidoux". Foi apenas uma mera estreia, pois logo aconteceu uma imparável e invejável carreira, que o arrastou pela BD e pelo Cinema.
Na sua obra BD, firmam-se apelativos títulos, como "Aspirine", "Tokyo", "Papier", "Troil", "Les Doissiers du Professeur Bell", "Les Olivers Noirs", "Chagall en Russie", etc. Há que registar também, as séries "Donjon", "Sardines de l'Espace", "Le Grand Vampire", "Le Minuscule Mousquetaire" e, como seu grande triunfo, a notável e impagável série "Le Chat du Rabbin" (O Gato do Rabino).
Infelizmente e até agora, quase nada da obra de Sfar foi publicado no nosso Portugal!... Mas temos editores conscientes e certamente vão reparar como deve ser na diversa e bela obra do incontornável Joann Sfar.
Oxala!...
LB