sexta-feira, 30 de outubro de 2015

BD E HISTÓRIA DE PORTUGAL (10) - FERNÃO DE MAGALHÃES

Fernão de Magalhães (1480-1521)
Pela magnífica e ímpar epopeia das navegações-descobertas dos portugueses, há valores que, infelizmente, são “olvidados”, talvez porque, pelas circunstâncias, tenham navegado sob o pavilhão de outro país;
e no entanto, sem abdicarem de ser portugueses.
Sob pavilhão castelhano, apontam-se os exemplos de João Rodrigues Cabrilho, Estêvão Gomes, José Álvaro Fagundes, Pedro Fernandes de Queiroz e João Martins; sob pavilhão holandês, David Melgueiro. E acima de todos, Fernão de Magalhães, que teve o apoio do rei de Castela (Carlos I, dito Carlos V) e recusa caprichosa do rei de Portugal (Manuel I), realizando um feito quase impensável: a primeira viagem de circum-navegação. Com este feito, provou-se definitivamente ao mundo que a Terra é redonda!
Nasceu na região do Porto (em Sabrosa) em 1480 e faleceu heroicamente em combate a 27 de Abril de 1521, em Mactan, região de Cebu, na actual República das Filipinas.
O feito foi glória para Castela, mas também o foi para Portugal, pois Magalhães jamais mudou de nacionalidade. Até o nosso grande Camões, em “Os Lusíadas”, o salientou pelo feito mas não por ter servido Castela (a opinião do Poeta é válida pois ele era um fervoroso amante da Pátria)Assim, nas estrofes 138 e 140, se Camões critica Magalhães, não deixa contudo de o elogiar:

“Mas é também razão que, no Ponente
Dum Lusitano um feito inda vejais
Que, de seu rei mostrando-se agravado
Caminho há-de fazer nunca cuidado” 
ou 
O Magalhães, no feito, com verdade
Português, porém não na lealdade”

Pelo Cinema, e até agora, constam: uma produção para a TV húngara, em 1977, sob realização de Ferenc András e com o actor Tibor Szilágyi no papel de Fernão de Magalhães; há ainda dois filmes, com o mesmo título, “Lapu-Lapu”, realizados nas Filipinas em 1955 (por Lamberto Avellano e o actor Oscar Kesse) e em 2002 (por William Mayo e o actor Dante Rivero). O nosso saudoso actor António Vilar (1912-1995), que viveu na tela personagens como Camões, Don Juan, D. Pedro I de Portugal D. Diniz I de Portugal, etc, bem se empenhou em produzir, realizar e interpretar a epopeia de Magalhães, mas o prometido apoio do governo português, mais uma vez mesquinho, não foi cumprido e o nosso actor que para este projecto gastou a sua fortuna pessoal, acabou por morrer desgostoso e quase na miséria!...
Contudo, pela sempre atenta (felizmente!) Banda Desenhada (e Artes afins), a vida e a epopeia do nosso Fernão de Magalhães têm sido salvaguardadas através de desenhistas de diversos países, a saber:

PORTUGAL:
Fernando Bento e Manuel Alfredo...
"O Homem que deu a Volta ao Mundo", por Manuel Alfredo (texto) e Fernando Bento (desenho),
in "Cavaleiro Andante" #190 (1955)

Vítor Péon...
"A Primeira Volta ao Mundo de Fernão de Magalhães", por Vítor Péon, in "Tintin" #18, ano I, (1968)

Baptista Mendes...
"Fernão de Magalhães", por Baptista Mendes, in álbum #1 dos "Grandes Portugueses", revista "Camarada"

Eugénio Silva...
"A Primeira Volta ao Mundo", por Eugénio Silva, in "O Novo Livro de Leitura da 4.ª Classe" (1969)

Artur Correia e Manuel Pinheiro Chagas...
"História Alegre de Portugal", por Manuel Pinheiro Chagas (texto) e Artur Correia (adaptação e desenhos),
Bertrand Editora (2010)


Fernando Jorge Costa...
"Fernão de Magalhães", por Fernando Jorge Costa, in "Mundo de Aventuras" #449 (1982)

José Ruy...
"Os Lusíadas", volume III, por José Ruy (adaptação e desenhos), Editorial de Notícias (1984)

...e José Garcês e A. do Carmo Reis, que num dos quatro volumes da "História de Portugal em Banda Desenhada" se referem ao navegador português, de forma breve, numa só vinheta.
"História de Portugal em Banda Desenhada", por A. do Carmo Reis (argumento)
e José Garcês (desenhos) - Edições Asa


ITÁLIA: Franco Caprioli...
"A Primeira Volta ao Mundo", por Franco Caprioli, in "Cavaleiro Andante" #227 (1956)

...Giorgio Trevisan...
"He proved the earth was round", com desenhos de Giorgio Trevisan, in revista "Tell me why" #8 (anos 60)

...e Guido Buzzelli.
"Fernão de Magalhães", por Guido Buzzelli, álbum #9 da colecção "A Descoberta do Mundo",
Publicações Don Quixote (1982) 


BÉLGICA: Albert Weinberg.
"Magellan", por Albert Weinberg, in revista "Tintin" #13, (1954)


FRANÇA: Gal (Georges Langlais)...
"Le Premier Tour du Monde", por Gal (Georges Langlais), in "Spirou" #848 (1954)

 ...e Christian Clot/Thomas Verget /Bastien Orenge.
"Magellan, Justqu'au Bout du Monde", por Clot/Verget/Orenge, Edições Glénat (2012)

Informação à posteriori: este álbum teve uma edição em português, pela Gradiva, lançada em 2018, sob o título "Magalhães Até ao Fim do Mundo". 


MÉXICO: há duas  versões, “Fernando de Magallanes” e “La 1.ª Vuelta al Mundo”, das quais desconhecemos até agora, os nomes dos respectivos desenhistas, ambas as versões pela Editorial Novaro.
“Fernando de Magallanes”, autor desconhecido - Colecção "Aventuras de la Vida Real",  Editorial Novaro (México)

“La 1.ª Vuelta al Mundo”, autor desconhecido - Colecção "Grandes Viajes", Editorial Novaro (México)


ESPANHA: Luis Bermejo (desenho) e Sanchez Abuli (argumento)...
 
"Magallanes y Elcano: El Oceano Sin Fin", Ed. Planeta de Agostinni (1992)

...e Casanovas 
"Fernando de Magallanes", com desenhos de Casanova e capa de J. Chacopino, 
Editorial Ferma (1951)


URUGUAI: Walter Lemos e Eduardo Barreto. Deste, “Magallanes” foi publicado na revista “Choroná” em Outubro de 1973. Infelizmente, não temos imagens desta versão.


E, noutras Artes...
Na PINTURA, destacam-se os quadros pelo nosso Carlos Alberto Santos e pelo inglês Ron Embleton.
Na ESCULTURA: a estátua em Sabrosa e em Lisboa, sendo esta uma réplica da que existe em Punta Arenas (no Chile).
Na FILATELIA: há selos postais em diversos países como Portugal, Espanha, Brasil, Ilhas Cook e na ex-república Ciskei  (hoje território da África do Sul).
Na LITERATURA: para além da famosa biografia pelo austríaco Stefan Zweig, salientam-se “Who Was Ferdinand Magellan?”, que tem uma edição em castellano, com texto de Sydelle Kramer e ilustrações de Elizabeth Wolf (ed. Turtleback School); “Magellan Autour du Monde”, com texto de Hugues Barthe e ilustrações de Christel Espié (ed. Casterman) e “Chamo-me... Fernão de Magalhães” com texto de José Jorge Letria e ilustrações de Leonor Feijó e Marta Belo (ed. Didáctica Editora).
E, sobre este firme e heróico navegador português, se mais devido assunto houver, aqui tal será acrescentado.
LB
Pintura de Carlos Alberto Santos e capa de "Chamo-me... Fernão de Magalhães", com texto de José Jorge Letria e ilustrações de Leonor Feijó e Marta Belo (Didáctica Editora)

terça-feira, 27 de outubro de 2015

NOVIDADES EDITORIAIS (81)

PEREGRINAÇÃO - Edição Âncora. Autor: José Ruy, segundo os relatos das aventuras “vividas” por Fernão Mendes Pinto (1510-1583).
Trata-se da 4.ª edição desta obra-BD que se encontrava esgotada há alguns anos e que era procurada por muitos bedéfilos. É também uma das criações mais notáveis de mestre José Ruy.
Fernão Mendes Pinto registou, de um modo autobiográfico, a sua agitada e aventurosa vida por terras e mares da Ásia em “Peregrinação”, obra mais do que famosa da nossa Literatura.
Mas, o que ele narra, foi tudo autêntico? Ou há um excesso de fantasias? Ou há uma mistura das duas vertentes? Em qualquer dos pontos de vista, é uma obra para ser lida e admirada por todos nós.
E José Ruy, com o seu entusiasmo, deu-lhe toda a força na adaptação que, com mestria, fez da “Peregrinação” para a Banda Desenhada.
Esta versão em BD foi inicialmente publicada no “Cavaleiro Andante” (1956-1957) do n.º 249 ao 308, contendo 75 pranchas.

BELLE DE NUIT - Edição Delcourt. Autor: Horacio Altuna.
A magnífica ousadia gráfica, sobretudo no aspecto erótico, do argentino Horacio Altuna (que foi homenageado ao vivo no salão Sobreda-BD /1996), volta a brilhar com este álbum, “Belle de Nuit”.
Em Nova Iorque, a bela Jessica Hampton, leva uma vida dupla. De dia, é uma ingénua e acertada menina, filha de uma rica e conservadora família da alta burguesia. À noite... é um ver se te avias, sempre desejosa de sexo.
Ela é insaciável e evita comprometer-se. Apanha o que quer e depois desaparece sem olhar para trás, pela noite negra. Na verdade, ela é irresistível e muito bela... É a bela da noite!

OPTIONS SUR LA GUERRE - Edição Lombard. Autores: o argumentista Stephen Desberg e, no grafismo, Daniel Koller e Bernard Vrancken.
“Options sur la Guerre” é o 16.º tomo da série “I.R.$.“.
O agente do fisco, Larry B. Max, está agora apanhado numa aventura que se escapa da linha normal que tem enfrentado.
Agora, no cenário africano sempre turbulento, ele vai investigar um caso de trafico de armas que, ao fim e o cabo, são dadas como desaparecidas, porém vendidas a ambas as facções da guerrilha por um general... norte-americano

ENFANTS DES ABYSSES - Edição Lombard. Autora: Hélène V. (aliás, Hélène Vandenbussche).
“Enfants des Abysses” é o primeiro tomo da série “La Fille des Cendres” e recebeu em 2014 o “Prix Raymond Leblanc de la Jeune Création”.
O mar foi sempre sedutor, irresistivelmente sedutor... Na sua beleza e na sua maravilha, encerrando também grandes e estranhos mistérios.
Harriet Ashtray, corajosa e enigmática, pertence a uma família ligada ao mar. Melancólica, dentro dela há um estranho poder que a queima e que ela dissimula. E um dia, o mar lança-lhe um apelo...
Interessante registar que o argumento, o traço e as cores, são da autoria de Hélène V., um novo e prometedor valor da Banda Desenhada Francesa.
LB

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

AMADORABD 2015 INAUGURA HOJE!


AMADORABD 2015
É hoje, dia 23, inaugurada a 26.ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, que se manterá até ao próximo 8 de Novembro.
O tema principal é "A Criança na BD", festejando-se em simultâneo o centenário de “Quim e Manecas” de Stuart de Carvalhais.
O núcleo central desta festa da 9.ª Arte localiza-se, como é hábito, no Fórum Luis de Camões, na Brandoa. Mas há polos em diversos pontos da Amadora, de Lisboa e ainda um em Almada.
Programam-se, para além das exposições e da entrega dos Prémios (a 31 de Outubro), a apresentação e/ou lançamento de diversos álbuns (“Jim del Mónaco” de Louro e Simões, “Peregrinação” - 4.ª edição - de José Ruy, “A Batalha” de Pedro Massano, etc.), sessões de autógrafos, entrevistas, exibição de filmes, etc, etc.
Presenças estrangeiras confirmadas: os franceses Jacques Tardi e Mathieu Sapin, o alemão Reinhart Kleist, o grego Yannis Ioaunnou, os angolanos Lindomar Sousa, Olímpio Sousa e Tché Gourgei, os brasileiros Marcelo Quintanilha, André Diniz e Henrique Magalhães e o espanhol Fernando Ruibal Piai.
Para o Fórum Luís de Camões, os horários são: às sextas e sábados, das 10 às 23 horas; de domingos a quintas, das 10 às 20 horas.

domingo, 11 de outubro de 2015

A VIDA INTERIOR DAS REDAÇÕES DOS JORNAIS INFANTO-JUVENIS na memória de José Ruy (12)


12) O «TINTIN» PORTUGUÊS

Em 1968 por iniciativa de Jaime Mas, o catalão filho de Francisco Mas da Editorial Íbis, iniciou-se a publicação em Portugal de uma revista congénere da «Tintin» belga. A editorial Íbis e a editora Livraria Bertrand eram sócias e nessa altura eu trabalhava nesta última fazendo capas de livros e publicidade às edições, incluindo cartazes para decorar as montras das várias lojas que possuíam, espalhadas pelo país.
Capa do primeiro número da revista "Tintin"
O material incluído na revista era de origem belga e francesa, reunindo o melhor que então se fazia de Histórias em Quadrinhos nesses países. Tinha como diretor o Jaime Mas e como chefe de redação o Dinis Machado, que foi ocupar na Íbis o lugar do Roussado Pinto que fora abrir uma editora própria.
Esta revista impôs-se pela qualidade gráfica e pela criteriosa escolha das histórias, num cuidadoso equilíbrio dos temas, o que levou a ser considerada pelos editores belgas a melhor de entre as muitas com o nome «Tintin» editadas na Europa e mesmo em outros continentes.
Na distribuição da colaboração, deixaram 20% do espaço nas páginas da revista para ser preenchido com histórias feitas em Portugal, e foi convidado o Vítor Péon para preencher esse espaço, que logo no número 1 e em página dupla publicou «A 1.ª Travessia Aérea do Atlântico Sul». Estamos a falar, claro, da proeza de Sacadura Cabral e Gago Coutinho num voo sobre o Oceano até ao Brasil.
O Dinis Machado na nota de apresentação disse mesmo que a revista teria também «acontecimentos e figuras da História de Portugal».
Página dupla de Péon na sua melhor fase. Como foi scanerizado de um volume encadernado, nota-se o
ressalto do medianiz devido à dobra, "comendo" um pouco de desenho e letras.
Uma página e parte de outra onde Péon começou a preencher a rubrica com a nossa ligação
com África, primeiro no tempo dos Descobrimentos e depois nas campanhas militares do Séc. XIX 
Essa rubrica foi sendo preenchida com episódios dos lusitanos, Cristóvão Colombo, Pedro Álvares Cabral, até que, no n.º 19, O Péon destacou o Infante Don Henrique. E depois as campanhas em África no século XIX. Aí os belgas não gostaram pois estavam a acontecer grandes alterações nesse continente relativamente a independências e lutas contra o colonialismo. A Bélgica perdera o seu chamado «Congo Belga» e Portugal encontrava-se em plena guerra em África. Alarmados com a reclamação vinda da Bélgica os administrativos do jornal em Portugal entraram em pânico e para apaziguar os seus «maiores» resolveram o problema desta maneira: «Matando o bicho morre a peçonha». Acabaram com o espaço destinado à presença portuguesa preenchendo-o com mais material estrangeiro.
Assim o Tintin transformou-se numa revista totalmente franco-belga traduzida para a nossa língua.
As legendas eram todas desenhadas, como se havia convencionado internacionalmente (mas nem sempre cumprido) que os textos da banda desenhada precisavam de ser igualmente desenhados. Como eram muitas páginas a publicar semanalmente e o Mário Correia, nessa altura já grande profissional de «rotulação» e funcionário da casa, não podia sozinho dar vasão, foi necessário criar uma equipa.
Compunha-a o Mário Correia, o Teixeira Abreu orientador gráfico da Íbis, o Luís Nazaré funcionário da Bertrand e sobrinho do Aníbal Nazaré, que era autor de textos para revistas teatrais, o Strompa, nessa altura montador de Offset nas oficinas da Editora Bertrand e eu. Eu era dos mais fracos a legendar.
Foi necessário que acertássemos o desenho da letra de modo a que não se notasse diferença de umas páginas para outras. Todos tínhamos de trabalhar na mesma dimensão, o mesmo recorte e a mesma espessura da letra.
Fomos obrigados a um treino intenso e tomando por padrão o tipo de letra usado pelos franco-belgas.
Entretanto a editora decidiu também publicar álbuns com as histórias completas em paralelo com a revista, e as respetivas rotulações tinham de ser executadas num curto espaço de tempo. Levávamos para casa um desses álbuns com 44 páginas à sexta-feira para entregarmos tudo pronto após o fim-de-semana. Dividíamos então as páginas pelos cinco e não poderia haver diferença significativa na escrita.
Caneta Rotring que funcionava com uma tinta própria, mais diluída para poder escoar-se nos seus tubos finíssimos que funcionavam como aparos. Porém, para conseguirmos uma maior opacidade no traço,
carregáva-mo-las com tinta-da-china, o que entupia os tubos, obrigando a frequentes
lavagens e perda de tempo. Mas tinha de ser assim... 
As legendas eram executadas sobre papel vegetal, com canetas «Rotring» carregadas a tinta-da-china para ficar mais preta, sobre as páginas originais francesas ou belgas e tinham de caber nos espaços de origem, pois não havia hipótese de se mexer nos balões ou nos desenhos.
Esses vegetais eram montados sobre os fotólitos do desenho a preto cedidos pelas editoras estrangeiras e gravados nas chapas Offset, para a edição em português.
Se a tinta não ficasse bem negra, falhava na passagem à chapa. Também não se admitiam rasuras, e se nos enganávamos tínhamos de reiniciar tudo nessa página, pois qualquer raspagem, corte e colagem ficaria marcado sobre o desenho original. Era verdadeiramente um trabalho sem rede que exigia ficar pronto à primeira.
O facto é que criámos uma homogeneidade tal, que por vezes não sabíamos definir quais as páginas que tinham sido legendadas por nós próprios.
A revista tinha publicidade, alguma de página inteira, para desespero do Dinis Machado que achava estar a retirar ao leitor a possibilidade de ler mais uma aventura. Foi quando entrou em cena a «Agência 2000», de um francês radicado em Portugal.
Começou a mentalizar a administração e principalmente a redação em criar uma publicidade em forma de Quadrinhos, contando uma história. Para ser a agência a encarregar-se desse trabalho, ficaria mais caro do que recebiam do anúncio, por isso lembraram-se de mim, pois fazia parte dos quadros da editora com um ordenado fixo. Até me dava prazer e assim criei e desenhei uma série de pequenas historiazinhas, algumas para produtos da Thibaud, agência publicitária da «Fima Lever» dirigida pelo Telmo Protásio. Foi o primeiro contacto que tive com o que viria a ser, 6 anos mais tarde, o criador e proprietário da Meribérica/Liber.
Saíram várias historiazinhas destas onde a publicidade era bem aceite
pois continha ela própria uma aventura. 
Mas o Dinis Machado lutava para conseguir na revista umas páginas extra onde pudesse anunciar aos leitores as histórias seguintes.
Tanto insistiu com a administração que acordaram incluir 4 páginas, como se fosse um suplemento, em papel inferior ao do resto da revista e impressas só a preto. Chamou-lhe «Tintin por Tintin» e reuniu aí a secção de respostas às cartas dos leitores «Tu Escreves Tintin Responde», artigos sobre os autores franco belgas que o Vasco Granja traduzia do francês. Deu-me carta-branca para elaborar composições a anunciar as novas aventuras a publicar quando as anteriores iam terminando.
 (Continua)

No próximo artigo: A REDAÇÃO DO TINTIN, REALIDADE OU FICÇÃO?