quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

CAPAS (29) - DANY

Daniel Henrotin, que se assina como Dany, nasceu em Marche-en-Famenne (Bélgica) a 28 de Janeiro de 1943.
A sua bibliografia em álbuns engloba uma infinidade de títulos.
Esteve quatro vezes em Portugal, donde três em edições da "Sobreda-BD", em 1992 (quando foi homenageado) e depois, como convidado especial, em 1993 e 1995. Em 2019 foi destacado convidado do "Beja BD".
Da sua obra, destaca-se a encantadora série "Olivier Rameau", com argumentos de Greg, abrangendo doze álbuns e mais quatro na versão "Integral", da qual, "misteriosamente", não há um único tomo em português; e, em duas partes e argumento de Van Hamme: "História Sem Heróis" e "Vinte Anos Depois", já publicados em português.
Para além destas duas notáveis séries, vogou por outros cenários, desde o erotismo ao humor, tendo chegado a desenhar dois álbuns de "Bernard Prince", herói criado pelo seu colega e amigo Hermann.
Alguns títulos para além dos já citados: "Arlequin", "Equator", "Ludovine", "Un Homme Qui Passe", "Jo Nuage et Kay Mac Cloud", "Les Guerrières de Troy", "Sur les Traces de Dracula", "Badrouche", "Nictalope", "Ça Vous Interesse?" e uma biografia de Elvis Presley.
Participou em alguns álbuns colectivos, como "Alice no País das Maravilhas".
Em periódicos portugueses há exemplos da sua obra nas revistas "Tintin", "Selecções BD" e "Mundo de Aventuras".
Fez uma gentil "gracinha" para o "Almada-BD Fanzine" n.º 9, para o qual desenhou a respectiva capa, exemplar este onde constam também duas ilustrações eróticas, e mais uma para o exemplar n.º 11.
É preciso conhecer e apreciar atentamente a obra de Dany, sobretudo, repito, a extraordinária série "Olivier Rameau". Então, ò corajosos editores do nosso "jardim"?...
LB

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

ILUSTRAÇÕES E HISTÓRIAS EM QUADRINHOS por José Ruy (7)

Pois como prometido, aqui estou a mostrar mais um livro que ilustrei, sem ser em «quadrinhos», vulgo «BD».
Estava na altura a trabalhar no Diário de Notícias, quando o Arquiteto Júlio Gil, que conhecia desde as «Edição O Mosquito» quando fazíamos o jornal «Camarada», me convidou para ilustrar um livro editado pelo Ministério da Educação. O Júlio Gil era o chefe da sala de desenho do DN.
A iniciativa era curiosa e pedagógica; publicavam em pequenos livros no formato de bolso, excertos de grandes obras literárias, resumindo-as, permitindo assim que pessoas pouco dadas à leitura, pudessem ficar a conhece-las, embora de uma maneira transversal.
Chamaram à iniciativa «Campanha Nacional de Educação de Adultos». Conheci muitos desses leitores, que não tendo capacidade para ler do princípio ao fim «Os Maias» de Eça de Queirós, por exemplo, ou a «Crónica de Fernão Lopes», ficaram a conhecer o conteúdo dessas «difíceis» obras.

No entanto não guardei alguns dos livros que ilustrei, tal como os desta coleção. Foi por mão amiga que consegui mais tarde este exemplar, curiosamente com carimbo do Clube Rio de Janeiro na página de rosto. Por certo alguém o requisitou, não o devolveu indo parar a um alfarrabista, onde o meu amigo o encontrou para me oferecer.

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Um salto no tempo, até outubro de 1997. Estava a decorrer o 7.º Festival BD da Amadora quando fui abordado, numa das exposições onde me encontrava, por uma Senhora que apelava para que a ajudasse. Era a proprietária da «Alda Editores», Helena Ramos.
Fiquei na espectativa e curioso, como a poderia ajudar, e em quê?
Explicou-me então que tinha um livro para sair no Natal, já em oficina, mas que o autor das ilustrações entrara à última hora em conflito, pois ignorando o contrato assinado, exigia um pagamento extra pela utilização de uma das ilustrações para figurar como capa, o que acordara antes.
Além disso, explicou a Senhora, não gostar dos desenhos, embora se tratasse de um recém-formado das Belas Artes. Mostrou-me os originais que logo identifiquei como sendo xeroxes com o traço a ser formado por toner, o que prejudicaria a reprodução.
O livro estava já com o texto paginado na gráfica, que esperava a todo o momento as gravuras.
A editora rompeu com o ilustrador, e entretanto, alguém lhe havia indicado a minha pessoa como certa para salvar a situação.

Verificando com mais atenção os pretensos «originais», notei que haviam sido sobrepostos remendos a emendar algumas partes do desenho e por isso as fotocópias para conseguir uma prova que ele pensava ficar «limpa». Como as emendas teriam sido várias, eram fotocópias sobre fotocópias e o recorte do traço ficou transformado num pontilhado irregular.
Além disso o desenho deixava muito a desejar, principalmente os cavalos e os outros animais.
Ora entre autor e editor existe um código de honra, «nunca deixar pendurada uma obra em fase de impressão», principalmente numa época como a que nos encontrávamos, próxima ao Natal.
Fiz um esforço e executei o melhor que pude as 15 ilustrações no tempo record que se impunha. Naturalmente que as zonas escolhidas no texto do livro para os desenhos não podiam ser alteradas, pois já estava tudo paginado. Por isso tive de desenhar os mesmos temas, procurando faze-lo de maneira totalmente diferente do primeiro ilustrador o que, sem falsa modéstia, não foi difícil.
O primeiro ilustrador, que contava pressionar a editora devido à situação de urgência, ficou perplexo quando viu as novas ilustrações, e processou a Alda Editores dizendo-se ser, por contrato, o autor legal. Uma causa perdida, mas que não deixou de trazer stress, principalmente à editora, pela situação insólita.
Mas o seguimento desta aventura, em paralelo com as de Hércules, contarei no próximo artigo.
Até lá, boa leitura em quadrinhos.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

AS HISTÓRIAS QUE RESIDEM NA GAVETA (21) por José Ruy

Recordo aos leitores deste Blogue uma série de artigos que escrevi sobre histórias em HQ que «residiam» na minha gaveta dos «encalhados».
E digo RESIDIAM, porque algumas vão deixando o limbo onde se encontravam.
Precisamente, tinha nessas condições uma história sobre os Templários.

Um professor meu amigo, André Chico, aquando de uma sessão em que mostrei o meu método de trabalho, numa escola onde ele era docente em 2012, sugeriu que me debruçasse nesse tema que é do seu agrado, porque é natural de Tomar, onde vive.
Como o tema há muito me fascinava, entusiasmei-me a criar uma história em Quadrinhos, mas que na altura não teve oportunidade de edição.
Pois bem, 9 anos depois do «purgatório» desta história, um corajoso editor propôs-se presentemente publicar esse original. Trata-se do Rui Brito, que dirige a editora POLVO há muitos anos.
Eu tinha o argumento completo e toda a história já esquiçada a lápis e estruturada para 30 pranchas de desenho, o que daria um livro com 32 páginas.
Este esquema surgiu-me nos anos 1980 quando trabalhava na editora ASA e o seu responsável, Américo Augusto Areal, me pediu uma opinião técnica sobre uma situação crítica: a matéria prima subira em flecha e ele seria forçado a aumentar o preço de capa dos livros de Quadrinhos. Mas achava que as venda se iriam ressentir, pois a crise na altura afetava todos.
Foi quando lhe sugeri reduzir os custos da edição para poder manter os preços de capa, sem prejuízo do conteúdo.
Usávamos o esquema franco-belga, 48 páginas de papel, 44 de desenho e assim alargávamo-nos fazendo grandes desenhos a contar a história. Ora se condensássemos a narrativa em 30 páginas, contaríamos o mesmo, mas em desenhos mais reduzidos e poupava-se no papel, nos fotólitos das seleções fotográficas, que ainda se usavam na altura, e na impressão.
O caso é que o esquema resultou e pegou; os meus colegas na ASA passaram a usa-lo, e eu continuei a mante-lo até hoje.
Mas o editor Rui Brito achou agora que esta história dos Templários merecia ser contada em 44 páginas.


Portanto, mantendo o argumento, alterei o guião para o reajustar para esse número de páginas, o que permitiu dar mais ênfase a certas cenas e desenvolver alguns pormenores dando-lhe até mais visibilidade.
Foi como sair de um espartilho.
Neste momento a história está toda desenhada em definitivo, a tinta da china, e estou na fase da cor, que faço agora pelo Photoshop.

A edição está prevista para o corrente ano de 2022, em capa dura.
Apresento uma visão diferente sobre o destino dos misteriosos tesouros dos Templários, e do que constavam. É uma história com uma grande base histórica «temperada» com ficção quanto baste.

E aqui está, em traços largos, como precisamos de ter paciência e esperar por uma ocasião que mais tarde ou mais cedo sempre chega. Mesmo que se tenha de esperar 9 anos.
A minha filosofia baseia-se em que se tivermos tudo pronto, ao surgir uma oportunidade rapidamente pode fazer-se a edição.
Desejo-vos boa leitura.
José Ruy

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

HERÓIS INESQUECÍVEIS (76) - BLAKE & MORTIMER

A 26 de Setembro de 1946, na edição belga da revista "Tintin", estreou-se a série "Blake & Mortimer", imaginada pelo ilustre Edgar-Pierre Jacobs (1904-1987).
Edgard-Pierre Jacobs
(1904-1987)
Foi logo um êxito espectacular! Um êxito, registe-se, imparável, pois tais aventuras continuam ao gosto e saber de diversos continuadores, tanto argumentistas como desenhistas. Um pequeno senão, de qualquer modo aceitável: há demasiado texto na maioria das vinhetas.
Jacobs foi um leal amigo e colaborador de Hergé para a série "Tintin" e fez, por ele próprio, outras obras pela 9.ª Arte, mas é com a série da dupla "professor Philip Mortimer e capitão Francis Blake" que se registou para sempre o grande triunfo da sua carreira. 
Com personagens quase constantes, aqui existem ainda: o fiel serviçal asiático "Nasir", o diabólico e demente "Prof. Septimus" e o frequente e estranho "coronel Olrik".
A primeira aventura de "Blake e Mortimer" surgiu, como já dissemos, no número inaugural da revista "Tintin". Tendo como título "O Segredo do Espadão", foi
 posteriormente publicada em álbum
Capa de "O Segredo do Espadão" - Editorial Íbis (1970)

E logo se segue, em dois tomos entusiasmantes, "O Mistério da Grande Pirâmide", que agarrou seriamente os leitores de diversos países, incluindo Portugal. 
Prancha de "O Mistério da Grande Pirâmide", in "Cavaleiro Andante" (1950)


Capas de "O Mistério da Grande Pirâmide" e de "A Câmara de Hórus",
Editorial Verbo (1970)

Porém, a doideira maior, talvez nunca ultrapassada, foi com "A Marca Amarela".
Esta narrativa galvanizou de tal maneira a juventude portuguesa que a estudantada desenhava, com giz amarelo, a "marca amarela" por tudo quanto era possível!... Uma loucura!
Capa e prancha de "A Marca Amarela", in "Cavaleiro Andante" #157 a #219 (1953)


Capa e prancha de "A Marca Amarela", Editorial Verbo (1970)

​Em 1957, surge o álbum "O Enigma da Atlântida", que tem o toque específico de se iniciar na nossa ilha açoriana de S. Miguel.
Prancha de "O Enigma da Atlântida", in "Cavaleiro Andante" #228 a #291 (1956)

Capa de "O Enigma da Atlântida" - Ed. Livraria Bertrand (1980)

Depois, vieram: "S.O.S. Meteoros"...
Capa e prancha de "S.O.S. Meteoros!", in "Cavaleiro Andante" #340 a #398 (1958)

Capa de "S.O.S. Meteoros" - Ed. Livraria Bertrand (1980)

..."A Armadilha Diabólica"...

Capa e prancha de "A Armadilha Diabólica", in "Cavaleiro Andante" #504 a #534 (1961)

...e "O Caso do Colar".
Capa de "O Caso do Colar" - Ed. Meribérica/Liber (1987)

Seguiu-se "As Três Formulas do Professor Sato", em duas partes, cujo segundo tomo já teve acção gráfica em colaboração com Bob de Moor.
Capa dos dois tomos de "As 3 Fórmulas do Professor Sato",
Ed. Meribérica/Liber (1987 e 1991)

Capa de "Les 3 Formules du Professeur Sato" - álbum integral
Edição "Black et Mortimer" (2015)

Prosseguindo, veio uma legião de continuadores. Salientam-se nos argumentistas: Yves Sente, Jean Van Hamme e Jean Dufaux; na arte: Ted Benoît, André Juillard, Antoine Aubin, Peter Van Dongen e François Schuiten, entre outros.
Yves Sente, Jean Dufaux e Jean Van Hamme, argumentistas da série

Com o álbum, para dois tomos, "A Maldição dos Trinta Denários", a narrativa estava a ser desenhada por René Sterne, que faleceu por um repentino ataque cardíaco. A obra foi concluída pela viúva deste, Chantal de Spiegeleer, que merece bons aplausos pelo seu tão correcto gesto. Quanto ao segundo tomo, foi desenhado por Antoine Aubin e entintado por Éttienne Schréder. Ambos os tomos têm argumento de Jean Van Hamme.
Outros álbuns, entretanto, se têm ido publicando...
Em bom e devido gesto de leitura, saibamos honrar a arte de Jacobs e os seus heróis por excelência, pois tais narrativas estão editadas em Portugal.
LB
A Marca Amarela, verdadeiro ícone da BD europeia, continua a figurar nas
empenas dos prédios de Bruxelas