quarta-feira, 28 de outubro de 2020

HERÓIS INESQUECÍVEIS (73): RAGNAR


Este herói escandinavo é uma criação de Jean Olivier, 
nos argumentos, e de Eduardo Teixeira Coelho, na arte gráfica.
Nasceu a 27 de Março de 1955, na revista francesa “Vaillant” até 1968, publicando-se depois, a partir de 1969, na “Pif Gadget”. Tem um sedutor conjunto de álbuns (dezassete?) distribuidos pelas editoras francófonas Glénat, Taupinambour e Éditions du Fromage.
Prancha de "A Harpa de Ouro", in "Vaillant" #515 a #547 (1955)
Pranchas de "Alf le Gros", com texto de Jean Ollivier e desenhos de
Eduardo Teixeira Coelho (ou Martin Sièvre), in "Vaillant" (27/06/1958 a 21/12/1958)

Em Portugal não consta nenhum álbum, mas três aventuras de Ragnar foram publicadas em nossas revistas desses “bons velhos tempos”: “A Fronteira do Inferno” (La Frontière de l’Enfer) n'“O Falcão” (1.ª série), em 1956...

“A Harpa de Oiro (L’Harpe d’Or) no “Cavaleiro Andante”, em 1957...

...reeditada, em 2019, no fanzine "Fandaventuras", coordenado por José Pires.
Capa de "A Harpa de Oiro", por Jean Ollivier (texto) e ETCoelho (desenhos),
in "Fandaventuras" - Ed. Serafim & Malacueco, Inc. (2019)

...e “A Noiva Gigante”(La Fille du Roi Igvar) no “Mundo de Aventuras”, em 1958.
Prancha de "La Fille du Roi Igvar", aqui na versão francesa

A definir Ragnar, como ponto de partida para as suas várias e bravas aventuras, ele logo nos lembra Hamlet de William Shakepeare...
Pois Ragnar é também um jovem belo e loiro, príncipe da Dinamarca. Seu pai foi assassinado e é o seu ambicioso tio, Sigurd, quem agora governa o reino. Até aqui, o shakespereano Hamlet não anda nada longe...
Inconformado e amargurado, sempre na companhia do seu fiel amigo Atli, Ragnar parte para as imensas aventuras por mares e terras, num “drakkar” tripulado pelos valentes e valorosos viquingues.
E assim vai descobrindo a sua coragem e o seu humanismo, encontrando amores e enfrentando os mais incríveis perigos do mundo, chegando mesmo a esbarrar com aspectos do fantástico.
Qual um Cisco Kid nestes ambiente e época, ele é um corajoso paladino em defesa absoluta dos “fracos e oprimidos”. A sua espada, qual pistola do Cisco Kid, não é para provocar sangue e crueldades gratuitas, mas sim para fazer acontecer justiças.
A saga das aventuras de Ragnar é apaixonante, sobretudo pela perícia da arte de Eduardo Teixeira Coelho (que assinava Martin Siévre), uma das maiores glórias da Banda Desenhada Portuguesa. Infelizmente (vai sendo um hábito confirmado), as nossas editoras andam desmemoriadas, pouco ou nada sensíveis aos nossos grandes desenhistas...
Ler Ragnar?... Para além do que citámos em relação a edições em Portugal, há também episódios publicados em italiano, espanhol e em alemão. E em francês, claro, idioma que vos pode deslumbrar na “íntegra”, por toda esta saga.
LB


sábado, 24 de outubro de 2020

NOVIDADES EDITORIAIS (205)

LE DIEU SANS NOM - Edição Casterman. Autores, segundo o herói-série "Alix" criado por Jacques Martin: argumento do francês David B. (aliás, Pierre-François Beauchard) e arte pelo italiano Georgio Albertini.
O saudoso Jacques Martin jamais proibiu, antes pelo contrário, que as suas séries se finassem após a sua morte. E aqui temos o 39.º tomo da admirável série "Alix".
"Le Dieu Sans No" (O Deus Sem Nome), pelas suas características bem nos faz lembrar o deus Ares (dos Gregos) ou Marte (dos Romanos). É o deus da guerra, da morte, da impiedade e até, aqui, do canibalismo. O povo é outro: misterioso e feroz, os Androfágios, vivem e actuam no leste europeu, pelas zonas das estepes incógnitas... É com esta sanguinária e repugnante gentalha que Alix e Enak, vão tentar resolver um pedido político de César e, ao mesmo tempo, escaparem-se com vida.
Sem deixar de ter o encanto que a série implica, é um dos episódios mais intensos e violentos. E há algo de novo que aqui se regista: os íntimos amigos, Alix e Enak, por vários momentos, estão recalcitrantes um com o outro!... E neste mesmo mundo de sufoco e estranho, há três personagens femininos que marcam posição: Calisto e Personne (já existentes no álbum anterior "Veni, Vidi, Vici") e agora também, uma guerreira do povo Sarmata que parece apaixonada por Alix, o que provoca uma ciumeira mal disfarçada da parte de Enak...


ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS - ​Edição RTP/Levoir. Autores: segundo o famoso romance homónimo de Lewis Carroll, tem argumento de David Chauvel e arte de Xavier Collette. E ainda, um dossiê final de Jean-Luc d'Asciano, e tradução de Pedro Cleto.
Ainda me lembro de ver na Televisão, quando da recente Feira do Livro de Lisboa, uma brevíssima entrevista com o Dr. Gonçalo Reis (um dos dirigentes actuais da RTP), todo entusiasmado a propagandear esta bela colecção, "Cassicos da Literatura na Banda Desenhada". No entanto, tem umas capas abaixo do horroroso, com umas letras garrafais a citar o autor do romance e o título da obra, apagando quase que totalmente, os desenhos das respectivas capas. Isto não se faz!...
Quanto a esta adaptação à Banda Desenhada, não é a primeira, pois há inúmeras versões. Esta, de Xavier Collette, é muito aceitável. Mas, porém, todavia, contudo... a mais bela que até hoje lemos, foi criada pelo nosso genial e saudoso Fernandes Silva, tendo sido publicada em 1952, logo a partir do n.º 1 da revista "Cavaleiro Andante". E no entanto, nenhuma das nossas editoras a publicou em álbum, o que se pode traduzir por bizarra traição.
Quem imaginou e aprovou esta merdelice de capas para uma colecção tão digna?... Repito: que capas tão pavorosas!



CASEMATE #139 - É o exemplar correspondente a Outubro-2020. Como sempre, esta bela revista mensal, publica muitas coisas boas para deleite dos bedéfilos.
A começar, com chamada na capa, de um importante artigo com entrevista a Romain Hugault, versando o piloto aviador e tão enternecedor escritor que foi Antoine de Saint Exupéry, onde se anuncia pelas Editions Paquet, o álbum "St Ex".
Salienta-se também uma reportagem por Raymond Pellicer, como resultado da sua actuação como jornalista a bordo do porta-aviões "Charles De Gaulle". Há também uma entrevista com Jul e das suas razões (e de Achdé) de inventarem um divertido álbum de "Lucky Luke" na Luisiana, em plena época da escravatura... Demarca-se igualmente neste exemplar, o anúncio do próximo salão BD BOUM, ou seja, a 37.ª edição do Festival de Blois, a decorrer de 20 a 22 de Novembro deste ano.
LB

terça-feira, 20 de outubro de 2020

CAPAS (8) - ANNIE GOETZINGER

Annie Goetzinger (1951-2017)
Cidadã francesa, nasceu a 18 de Agosto de 1951, em Paris. Faleceu a 20 de Dezembro de 2017, vítima de cancro. 
Viveu alguns anos em Barcelona e foi homenageada ao vivo no Salão "Sobreda-BD 2006".
Dominava o castelhano, o catalão e entendia o português. Super amável e terna no convívio, adorava gatos e, na sua bela arte, tinha um admirável estilo elegante e bem feminino. 
Foi quase sempre ignorada em edições em português!... Ele há coisas!...
E por aqui registamos algumas das suas belas capas...                                       
LB

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

A INFLUÊNCIA DA CENSURA NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS, EM PORTUGAL (6) - por José Ruy

As personagens desta história nunca publicável, iam tomando vulto em cada almoço entre o Madeira Rodrigues, eu, o Dinis Machado e o Teixeira Abreu. Era nesses repastos que criávamos as figuras e o seu comportamento. Tonou-se num agradável passar do tempo e uma aposta constantemente renovada.
A seguir ao Lusibanco e à Lusidia, o Madeira Rodrigues e eu criámos o «Lusito», o militarão do grupo de «Lusis» que ia nascendo. Mais tarde o seu nome derivou para «Lusido», pelo motivo que contarei mais adiante.
Os detalhes iam sendo estudados. Por exemplo, os Lusitanos usavam as falcatas do lado direito, pois aos destros dava mais jeito para sacar logo da arma sem atravessar o braço para o lado contrário.
Ainda sem argumento, estudava as figuras em variadas atitudes.
O Madeira Rodrigues ia desenvolvendo as características das novas personagens.
Depois foi a vez de dar «alma» ao Lusitanso, o que dava nome à história.
Em princípio pensámos ser careca, aproximando-se de uma personalidade em destaque na altura, década de 1960. Mas descobrimos que para os Lusitanos o cabelo era importante e quem o tinha perdido não era considerado na comunidade. Então acrescentei-lhe uma farta cabeleira, mas mantendo o ar humilde e simplório de «tanso».
Aqui mostro um apontamento de como poderíamos desenvolver as aventuras com estas personagens. Podiam viajar no tempo sem se singirem à época dos Lusitanos.
E por fim, a pérola no ramalhete: a Porca de Murça, figura que abunda em esculturas talhadas em granito pelo Norte do País, e que representa uma divindade a que os Lusitanos prestariam culto. Por isso esta figura veio fechar o grupo destes Lusitansos, e a Lusidia passou a ser a Sacerdotisa da Porca. 
As manchas que marcam o papel envelhecido são vestígios dos fundos das chávenas do café que tomávamos após o almoço.
Pesquisámos e fomos ao pormenor de ver como os porcos são presos por uma perna, e como é feito esse nó, para haver uma veracidade no que fizéssemos.
Completo o grupo de personagens, o Madeira Rodrigues esboçou uma sinopse de uma aventura: os «nossos heróis» desciam dos Montes Hermínios até aos Algarves que, constava, ser uma terra promissora, de cultivos abundantes e águas temperadas.
Divertíamo-nos com esta criação impossível.
O tempo rolou, o Tintin português suspendeu a publicação, o Dinis Machado saiu da Bertrand, o Madeira Rodrigues abandonou a Íbis e foi trabalhar numa fábrica de massas alimentícias de um seu irmão, eu fui para a Europa-América e este «gozo» ficou fechado numa pasta que guardei. E passaram anos.
Foi quando…

No próximo artigo: o reacender da chama.

sábado, 10 de outubro de 2020

NOVIDADES EDITORIAIS (204)

A BATALHA DE TRANCOSO - Edição Município de Trancoso. Autor: Santos Costa. E prefácio de Amílcar José Salvador, Presidente da ​Câmara Municipal de Trancoso.
Pelas refregas de Portugal contra Castela na Guerra da Independência, quatro batalhas foram notáveis para glória da nossa Pátria: Atoleiros (6 de Abril de 1384), Trancoso (29 de Maio de 1385), Aljubarrota (14 de Agosto de 1385) e Valverde (14 de Outubro de 1385), esta já em território castelhano.
A de Trancoso foi a única onde não participou D. Nuno Álvares Pereira. As forças portuguesas eram comandadas por Gonçalo Vasques Coutinho (pai do famoso "O Magriço"), João Fernandes Pacheco e Martim Vasques da Cunha.
Em boa hora, Fernando Santos Costa, que reside nesta urbe, teve o bom senso e o entusiasmo de registar em Banda Desenhada, a história desta refrega. E os tais "nuestros hermanos"(?!...) lá fugiram com "as calças nas mãos", como nas batalhas seguintes. "Hermanos, hermanos", teimam em não nos devolver Olivença!...Querem Gibraltar (com toda justiça) que os ingleses abarbataram, mas, hipocritamente, não devolvem a Portugal o território que nos é devido. Que cinismo!
Adiante!... Fiquemo-nos, por agora, por este álbum tão histórico como didáctico, de Santos Costa. Quem o desejar, deve solicitá-lo para: 
Câmara Municipal de Trancoso - Praça do Município - 6420.107 TRANCOSO,
​ou via e-mail para: geral@cm-trancoso.pt

BOB MORANE, INTÉGRALE 15 - Edição Lombard. Autores: textos de Henri Vernes e arte de Felicisimo Coria. Neste "Integral", constam as seguintes cinco narrativas: "Yang-Yin", "Le Pharaon de Venise", "L'Oeil de l'Iguanodon", "Les Deserts de l'Amazonie" e "La Panthère des Hauts Plateaux". 
Ambos os autores merecem o nosso pleno aplauso!
As aventuras mágicas que nos aliviam do cinzento quotidiano não acontecem apenas na Literatura e no Cinema. Também se afirmam na Banda Desenhada. 
Pela Banda Desenhada, Bob Morane e o seu quase inseparável Bill Ballantine, são pilares de uma série de luxo, menos em Portugal, onde a série é pavorosamente ignorada!...
Neste 15.º integral, curiosamente, o heróico e sarcástico Bill Ballantine está ausente em quatro das cinco narrativas acima citadas, só figurando em "Les Deserts de l'Amazonie", aliás, um bem actual e inquietante tema.
Um álbum a ler com todo o bom gosto pelas belas aventuras.


HAVERÁ UM AMANHÃ?! - Edição Escorpião Azul. Autor: Véte, pseudónimo de Silvestre Augusto da Rosa Francisco, nascido e residente em Beja. 
É um dos já notáveis valores de uma nova geração de desenhistas portugueses. Sendo também um dos elementos fundadores do famoso Grupo Toupeira, tem exposto em diversas localidades, incluindo no estrangeiro. 
Colaborou para diversos fanzines de Portugal, Espanha, México e Estados Unidos.
Com este álbum, "Haverá um Amanhã ?", somos agradavelmente levados para um enredo insólito e inquietante, com a arte vigorosa e ao mesmo tempo elegante, de Véte. Obra a ler com entusiasmo, e os nossos aplausos plenos ao autor e à editora.


OS RAPAZES ZOMBIES - Edição Asa. Autores: argumento de Greg Pak, traço de Valeria Favoccia, cores de Dan Jackson e tradução de Luís Santos.
Numa ficção especulativa pelo mundo do susto e do terror, a narrativa é medíocre, roçando pelo pseudo-humor e pela ingenuidade. Desta vez, não é possível sermos benevolentes e não podemos felicitar a editora que já tem publicado tão boas obras-BD. Temos pena...
E se a Asa/Leya aplicasse, do seu orçamento, verbas para séries de prestígio (Luc Orient, Jhen, Bob Morane, Valhardi, Jeremiah, Chevalier Blanc, Chevalier Ardent, etc) e/ou a recuperar com a devida dignidade, obras de grandes e inolvidáveis talentos portugueses, como Fernando Bento, Vítor Péon, Fernandes Silva, José Antunes, Baptista Mendes, José Pires, etc?... 
Fica-nos a positiva e sensata sugestão, valeu?


HOMEM-GRILO - Edição FA. Autores: Cadú Simões (texto) e Ricardo Marcelino e Alex Rodrigues (ilustrações). 
Carlos Parducci era um jovem como outro qualquer até ser mordido por um grilo radioativo (se é que os grilos mordem) e receber habilidades proporcionais às desse inseto, além do sensacional sentido de grilo (que ele não sabe para que serve, mas tudo bem). Carlos, então, resolveu fazer bom uso dos seus novos poderes e, assumindo o nome de Homem-Grilo, começou a combater o crime e a proteger os fracos e indefesos em Osasco City. Mas para ele, mais do que uma grande responsabilidade, ser o Homem-Grilo é uma grande diversão, principalmente quando se tem a oportunidade de chutar no rabo vilões megalomaníacos que querem dominar o mundo (e está cheio deles por aí, mas... onde é que eu já ouvi isto tudo antes?!).
Criação do argumentista Cadu Simões, o Homem-Grilo, a princípio, estava destinada a ser um super-herói sério com aventuras on-line. No entanto, o bom-senso venceu e o herói com aspeto cómico prevaleceu. O Homem-Grilo fez a sua estreia em 2000, assinalando este ano os 20 anos da sua criação, estando esta publicação disponível em www.fabd.pt e em várias plataformas on-line.
LB/CR