quinta-feira, 25 de novembro de 2021

NOVIDADES EDITORIAIS (229)

ASTÉRIX E O GRIFO - Edição Asa. Autores, segundo Goscinny e Uderzo: Jean-Yves Ferri, Didier Convard e Thierry Mébarki. Tradução de Maria José Pereira e Paula Caetano.
O grifo é um animal mitológico, lendário... às vezes perigoso e assustador, outras benéfico e protector, consoante as crenças dos povos. 
Júlio César toma conhecimento da sua provável existência e deseja-o para a sua colecção de troféus. E lá partem Astérix, Obélix, Panoramix e o Ideiafix, para as distantes e misteriosas zonas geladas do leste europeu e territórios asiáticos vizinhos, na busca do enigmático grifo. Em paralelo, também vai uma convencida força militar romana... 
E começam as mais divertidas trapalhadas, onde também participam as lendárias mulheres-guerreiras, as famosas Amazonas.
Porém, o grande herói acaba por ser o cachorrinho Ideiafix que se trava de animada amizade com os lobos, para grande aflição de Obélix.
Uma narrativa muito cómica e plena de surpresas.


AMOR DE PERDIÇÃO - Edição Levoir/RTP. Autores, segundo Camilo Castelo Branco: argumento de João Miguel Lameiras, arte de Miguel Jorge e cores de Patrícia Búzio e Catarina Quintas. E ainda, um dossiê final por João Paulo Braga, versando o autor do romance.
E nesta curta colecção, Camilo Castelo Branco teve muito mais sorte que o seu confrade Eça de Queiroz em relação a "Os Maias", que ficou desvalorizado na qualidade.
O infeliz Camilo tem imensa e valorosa obra, mas, praticamente, só o romance "Amor de Perdição" tem sido "agarrado" por diversas vezes, pelo Cinema, Televisão e Banda Desenhada. Coisas que acontecem, mas que não se aceitam de ânimo leve!
No nosso post, a 18 de Abril de 2015, aqui no BDBD, focamos a vida e obra de Camilo Castelo Branco. Tentem visitá-lo ou revisitá-lo, para melhor avivarem a memória. Por agora, um pleno aplauso por esta versão em BD com responsáveis portugueses, nossos. Bravo!


NÃO TERÁS OUTRO DEUS... - ​Edição Ala dos Livros. Autores: argumento e traço do francês Joann Sfar e apoio nas cores de Brigitte Findakly.
Com uma crítica acutilante e um corajoso humor, Sfar criou em tempos uma série que logo se tornou muito aplaudida, "O Gato do Rabino". Em Portugal foram editados os cinco primeiros tomos, publicados por outra editora que não a actual. Depois houve um "certo silêncio". Mas eis que agora, via Ala dos Livros, nos surge o sexto e tão esperdo álbum, "Não Terás Outro Deus Além de Mim".
No sarcasmo, na sátira e até mesmo na ternura que Sfar acentua nesta série, o herói central é um gato espantoso e crítico impecável dos humanos. Pois é: ele entende bem os humanos mas os humanos não o entendem devidamente...
É preciso conhecer os gatos e esta delirante série BD!


VOYAGE AU CENTRE DE LA TERRE - ​Edição Glénat. Autores, segundo Jules Verne: argumento de Curd Ridel, traço de Frédéric Garcia, cores de Jacky Robert, capa de Chris Regnault e dossiê final de François Bayle e Agrippine Virgoulon.
O francês Jules Verne e o italiano Emilio Salgari, rivalizaram-se escrevendo uma infinidade de romances de aventuras que, em devido tempo, entusiasmaram uma imensidão de leitores, sobretudo na Europa e outros países "marcadamente europeus" noutros continentes...
Contudo, se, de um modo geral, Salgari seguiu a linha da "aventura pela aventura" (cá por mim, LB, sempre preferi a série "Corsário Negro" à do "Sandokan"), Verne, que até certo ponto vogou na esteira do genial Leonardo Da Vinci, deste marcou nas suas obras aspectos científicos ou profetizantes que foram acontecendo nos futuros que foram chegando...
Cinco títulos, muito em especial, se destacam na vasta obra de Verne: "Vinte Mil Léguas Submarinas", "A Volta ao Mundo em Oitenta Dias", "Miguel Strogoff", "Da Terra à Lua" e "Viagem ao Centro da Terra".
Este último, o mais intrigante, é de quase (senão total) realização. Verne, nas suas apostas visionárias, sabia-o bem mas, mesmo assim, escreveu-o.
Neste romance há um factor que limita (ao que se saiba) qualquer vida: as terríveis e altíssimas temperaturas, onde tudo e todos se derretem ou ficam cinzas para sempre!

LB

domingo, 21 de novembro de 2021

CAPAS (27) - FELICÍSIMO CORIA

Espanhol, nasceu em Palencia (região de Castela) a 16 de Janeiro de 1948. 
Muito jovem, foi com os pais viver para o País Basco, mas há vários anos que reside em Santander (região da Cantábria).
Foi assistente do grande mestre belga William Vance (1935-2018). Este casou com a sua irmã Petra Coria, que se tornou colorista de ambos.
Trabalhou algumas vezes com argumentistas, como Yves Duval, Stephen Desberg e Lucien Meys, vindo a tornar-se quase exclusivo desenhista da série "Bob Morane", com argumentos de Henri Verne.
No álbum "Les Meilleurs Récits de Coria/Duval" (edição Loup), registam-se dois temas ligados à História de Portugal: "La Reine Morte" (A Rainha Morta), versão sobre D. Ignez de Castro, segundo a peça homónima de Henry de Montherlant, e "O Príncipe Constante", sobre o Infante Dom Fernando (mártir em Marrocos), segundo a peça de Calderon de la Barca.
Pouco dado a ir a salões-BD, no entanto, teve a gentileza de marcar presença na "Sobreda-BD/2001", edição que tinha como país de honra a Espanha, donde o homenageado Juan Espallardo (de Múrcia), Xabel Areces (das Astúrias), tendo faltado por imperativos profissionais, o galego Miguelanxo Prado.
Da bela e já vasta obra de Coria (lê-se Cória), escolhemos quase ao acaso, algumas das suas belas capas que a seguir reproduzimos.
LB

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

ILUSTRAÇÕES E HISTÓRIAS EM QUADRINHOS por José Ruy (5)



Este livro de Primeiras Letras do Professor Janeiro Acabado, para o qual o meu amigo e colega Vítor Silva me convidou para fazer umas ilustrações que envolviam animais, saiu por volta de 1949, creio, pois não tem data marcada.
A capa é de autoria do Vítor Silva, e as próprias letras do título foram desenhadas. Só as que aparecem em baixo, sobre os editores, são em composição tipográfica, pois o livro foi impresso em tipografia. Portanto foram feitas zincogravuras das três cores, executadas separadamente.
Embora este meu colega (quanto a mim o melhor do nosso grupo formado na escola António Arroio nessa altura) desenhasse tudo muito bem, achou de me convidar para fazer certas ilustrações, por eu estar a praticar o estudo dos animais, do natural. Devo-lhe essa deferência.

À esquerda estão os desenhos do Vítor Silva, para poderem ver a delicadeza do traço. À direita, uma das minhas ilustrações no livro.

As figuras desenhadas serviam de incentivo para ajudar à leitura, nessa fase por que os iniciados passam na aprendizagem, e facilitar assim a compreensão.

Os textos eram adaptados de contos tradicionais, com mais alguns detalhes.

O livro foi igualmente impresso pelo processo tipográfico, por isso as imagens foram reproduzidas em zincogravura (em relevo) com as cores em separado.
A meia-tinta da cor, conseguida por meio de retícula, foi incluída no próprio desenho, para evitar fazerem fotogravura, que encarecia o orçamento. Portanto além do desenho da ilustração, fazíamos através de uma mesa de transparências o desenho da cor a tinta da china, pois a tonalidade era dada na oficina na altura da impressão.


Esta experiência de ilustrações em livros, manteve-se através dos anos, embora a minha atividade principal fosse a das histórias em quadrinhos.



No próximo artigo vou mostrar-vos um livro que ilustrei para a editora Ática, onde ensaiei um estilo diferente.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

NOVIDADES EDITORIAIS (228)

ROBINSON CRUSOÉ - ​Edição Levoir/RTP. Autores, segundo Daniel Defoe (1660- 1731): argumento de Christophe Lemoine e arte de Jean-Christophe Vergne. E um dossiê final por Nicole Gabet. Tradução de Júlio Cleto
Estabeleceu-se mundialmente que "Robinson Crusoé" foi o primeiro "náufrago" (pelo menos europeu) numa ilha deserta. Isto deriva do personagem fictício que Defoe criou, inspirando-se na aventura real do marinheiro escocês Alexander Selkirk que, voluntariamente, viveu de 1704 a 1709 no arquipélago das ilhas Juan Fernandez... 
O arquipélago situa-se a cerca de 600 quilómetros da costa chilena e tem a sua economia baseada na pesca da lagosta.
Teve tanto de fenomenal a história do personagem inventado por Defoe, que tal deu origem a que uma das ilhas recebesse o nome de Robinson Crusoé!... Mas é absolutamente falso que Selkirk (figura real) e Crusoé (figura de romance) tenham sido, qualquer deles, o primeiro solitário numa ilha deserta, neste caso, no Oceano Pacífico, pois cerca de dois séculos antes, houve mesmo um militar português que viveu tais agruras na ilha de Santa Helena, no Oceano Atlântico. Foi Fernão Lopes, homónimo do nosso famoso cronista. Aqui viveu cerca de 30 anos e pode ser, pois, considerado como o primeiro "Robinson Crusoé".
Teve durante muito tempo como único companheiro um galo preto que, ainda frango, caiu ao oceano e, espanejando-se, foi dar à costa da ilha. Fernão Lopes recolheu-o, tratou-o, tornando-se num fiel galo que o seguia como um cão amigo, a tal ponto que ambos figuram num selo da filatelia de Santa Helena. Na obra de Dafoe, em vez de um galo há um cão, também negro...
A ilha de Santa Helena foi descoberta em 1502 pelo navegador João da Nova. Era (e é!) território português, situação definida pelo Tratado de Tordesilhas a 4 de Junho de 1494, que estipulava que todas a ilhas descobertas ou a descobrir no Atlântico sul, seriam terras de Portugal. Ocupada até certo ponto pela Coroa Portuguesa, em 1673, num gesto hipócrita e sem vergonha, a Inglaterra invadiu o território e ainda hoje o ocupa como seu!... E Portugal, servilmente, acocora-se!...
Recentemente (a estrear em breve), a RTP produziu uma breve série com o actor Diogo Morgado no papel central, relatando a história deste nosso e autêntico "Robinson Crusoé". O que irá sair daqui?...
Esta versão em álbum-BD, é um tanto aceitável.


ENTÃO, TUDO CAI - ​Edição Ala dos Livros. Autores: argumento de Juan Diaz Canales e arte de Juanjo Guarnido. É a primeira parte de "Então, Tudo Cai", marcando o tão esperado regresso editorial versando as pesquisas do famoso "Blacksad".
Nesta situação de "bichos" em forma de gente, temos pelo menos dois heróis bem populares, mas em caminhos paralelos: o pato "Inspector Canardo", que surgiu em 1978 com autoria do belga Benoît Sokal, numa bem achada caricatura a personagens que foram interpretadas por Humphrey Bogart e por Peter Falk; e depois, o gato "Blacksad" (2000) pelo traço do espanhol Juanjo Guarnido.
"Blacksad" andava um tanto afastado, mas ei-lo que surge a entusiasmar-nos, em "Então, Tudo Cai", primeira parte de um díptico.
Aplausos plenos por esta bela ressurreição!

LB

sábado, 6 de novembro de 2021

DE ACTORES A HERÓIS DE PAPEL (22) - ALAIN DELON

​Invejável actor e empresário francês, como Alain Fabien Maurice Marcel Delon, nasceu em Sceaux (região da Borgonha) a 8 de Novembro de 1935.
Pois este nosso europeu, o francês Alain Delon, foi e é um verdadeiro estoiro como actor e de aspecto físico. Hèlás!...
Teve uma subida na vida bem complicada desde a infância e das suas atormentadas adolescência e juventude, donde até a recorrer e a aceitar o ser apetecido fisicamente. Mesmo assim, não foi um alucinado e desbragado, como o foram os seus colegas norte-americanos James Dean e Marlon Brando.
​No entanto, Alain sempre teve umas certas linhas positivas de conduta. Casou duas vezes (Nathalie Delon e depois, Rosalie Van Bremer), donde três filhos e alguns netos. Por esses caminhos, viveu longas e apaixonadas ligações com Romi Schneider, a cantora Dalida e Mireiile Darc. 
Era e é estimado por grandes talentos seus colegas, uns vivos outros já falecidos, como por exemplo: Jean-Paul Belmondo, Brigitte Bardot, Lino Ventura, Jean-Claude Brialy, Simone Signoret, Charles Bronson e por aí adiante. 
Conviveu com os presidentes de França, François Miterrand, Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy.
Fala fluentemente, para além do seu francês, inglês e italiano.
Recebeu gloriosos Prémios em França e na Alemanha.
Em 2012, sofreu um AVC, mas felizmente recuperado, já voltou a filmar.
A carreira cinematográfica (também fez Teatro) de Alain está bem recheada de filmes e interpretações de honra: "À Luz do Sol" (Plein Soleil) lançou-o em absoluto para a sua longa carreira; e, de entre outros exemplos, contam-se: "Rocco e os Seus Irmãos", "A Tulipa Negra", "O Leopardo", "Paris Já Está a Arder?", "O Ofício de Matar", "A Piscina", "Adeus Amigo", "Borsalino", "A Viúva Coudec", "Zorro", etc, etc.
Cartazes de alguns filmes onde Delon foi protagonista

Na BD, ilustração, cartune e caricatura - e até no cinema de animação! - não lhe faltam imensas apostas... Ora pois!
Vinheta de "Max, o rebelde", por Isa e Fioretto, in revista Fluide # 468
Vinheta de "La Bande à Renaud" por Pascal Rabaté
 
Alain Delon pelos caricaturistas Diego Puglisi e Manuel Lapert (Man)
Caricatura de B. Petry
Ilustração para capa da revista francesa "Schnock"

"Ograblenie po...", filme de animação soviético (1978) de Yefin Gamburg
onde Alain Delon e outros actores franceses são caricaturados


Alguns exemplos, agora na 9.ª Arte.
Uma pequena biografia de Alain Delon, de uma prancha apenas, foi publicada na rubrica "Bio-comics" da revista espanhola "Lecturas". Infelizmente, não temos dados que nos permitam identificar o autor.
"La Vida y la Obra del Guapisimo Alain Delon", por autor não identificado.
In revista "Lecturas" (Editorial Hymsa, Espanha).

Na Itália, Alain Velon (assim mesmo, com "V") foi o protagonista de uma série erótico-policial, denominada "Playcolt", publicada entre os anos setenta e noventa. A série teve também edições em espanhol (onde lhe chamaram "Chacal"), inglês, francês, holandês e português (Brasil).

Capas de "Playcolt", com aventuras de Alain Velon, personagem criado por Renzo Barbieri, Tristano Torelli e Alessandro Chiarolla. In colecção "Sciacallo" (anos 70)


Capas de edições brasileira e inglesa de "Playcolt"

Pranchas de "Playcolt" em francês

Na Argentina, Dante Quinterno (1909-2003), criador do personagem índio "Patoruzú", incluiu num dos episódios desta série "Alan Pelón", um promotor de boxe inspirado em... Alain Delon.
Capa e pranchas de "Promotor Diabolico", por Dante Quinterno (texto e desenhos)
Revista "Andanzas de Patoruzú" #250 (Editorial Dante Quinterno, Argentina - Maio de 1974)  

Ainda na Argentina, as Ediciones Columba publicaram na revista "Intervalo" (suplemento da revista cinéfila "Cinecolor") uma série de, pelo menos, vinte e nove adaptações em banda desenhada de filmes onde Alain Delon foi protagonista. Deixamos aqui apenas alguns exemplos...

"Alain Delon, la vida solitaria", por Pedro M. Mazzino (texto) e Falugi (desenhos)
in revista "Intervalo" (suplemento de "Cinecolor" #52) - Editorial Columba, Argentina (1986)


Pranchas de "Borsalino", adaptação de Martin Ablescayne (Alfredo Julio Grassy)
e desenhos de Ricardo Villagrán, in revista "Intervalo" (Editorial Columba - Argentina)

Na série Lola Bogota, dos franceses Chanoinat e Reinés, um dos personagens tem como referência física a figura de Alain Delon.

Capa e prancha de "Lola Bogota" #2, por Phillippe Chanoinat (texto) e Mathieu Reinés (desenhos), onde um dos personagens está inspirado em Delon (Ed. Bamboo - 2006).

O espanhol Carlos Giménez, na sua obra "Pepe" também evocou Alain Delon, em algumas vinhetas...
Vinhetas de "Pepe" #1, por Carlos Giménez (Ed. Panini Comics, 2013)

Mas acima de todas as paródias, o exemplo de honra, é o do desenhista italiano Milo Manara que, confessadamente, usou a fisionomia de Alain Delon como modelo para o personagem "Giuseppe Bergman" na respectva série.
LB


Nota: alguns dos exemplos aqui apresentados foram retirados do excelente blogue de Adriana Fernández Reiris (ver aqui), onde pode consultar mais informação sobre este tema.