quarta-feira, 28 de maio de 2014

PATOS & PATOS

Cães, gatos  e cavalos, são frequentíssimos, em diversos aspectos, na Banda Desenhada. E os patos?... Não tão frequentes, mas também têm o seu razoável lugar na 9.ª Arte.
(E não se ponham já a babar a imaginar um tentador e apetitoso "arroz de pato"... Há que ter cuidado, pois a sua carne tem alto teor de gordura e aumenta bem o colesterol de cada um. Mais: que a vossa gula não se excite já com um patê de pato barrado numa apetitosa tosta! Se imaginassem a tortura cruel que este palmípede sofre para que o seu fígado rebente e daí resulte um patê "delicioso"!... Comam antes as tostas com patês de sardinha, atum ou salmão...).
Mas vamos lá então aos patos mais famosos na BD, dois dos quais apareceram primeiro no Cinema de Animação: o Donald e o Daffy.


DONALD - surgiu a 9 de Junho de 1934, no Cinema de Animação pelas Produções Walt Disney, desenhado por Art Babbit. É um pato branco, vestido à marujo, azarado e refilão. Seu nome completo é, Donald Fauntleroy Duck. A sua popularidade subiu em flecha, vindo a ultrapassar a do Rato Mickey. Tem uma extensa família e uma boa lista de amigos. 
16 de Setembro desse mesmo 1934, sob grafismo de Al Taliaferro, estreia-se na Banda Desenhada. Porém, só em 1962, sob o talento de Carl Barks, surge o seu verdadeiro e primeiro grande triunfo nesta Arte.
Traduzido em inúmeros idiomas, teve e tem desenhadores próprios em certos países, como na Itália (Federico Pedrocchi, Mario Pinochi ou Giovan Battista Scarpi) e no Brasil (Bruno Pombo Lemos, Gonçalves Santos ou Vítor Siqueira Gonçalves).



TIO PATINHAS - no original, Uncle Scrooge. 
É um dos parentes de Donald. De origem escocesa, é empresário multimilionário e doentiamente avarento. E irascível também. 
Criado por Carl Barks directamente para a Banda Desenhada e inspirado no sovina Ebenezer Scrooge do "Conto de Natal" de Charles Dickens, surgiu em Dezembro de 1947. 
Keno Don Hugo Rosa, continuador de Barks, vem a anunciar o falecimento de Patinhas com cem anos de idade... Mas, mesmo assim, ele vai aparecendo em episódios posteriores.
Curiosidade: pelos anos 60/70, os países da Escandinávia, mormente a Suécia, proibiram  as vendas de BD com o Tio Patinhas, pois este personagem induzia e influenciava as crianças à ganância e à sovinice!...



DAFFY - este pato negro surgiu em 1937 no Cinema de Animação pelos estúdios da Warner Bros, criado por Tex Avery.
Porky, Bugs Bunny Speedy Gonzalez, são outros personagens com quem ele contracena com frequência, nem sempre com honestidade e lealdade... 
Não tardou que Daffy Duck passasse à 9.ª Arte, mantendo em paralelo, as suas tropelias pelo Cinema de Animação.  No papel, Tony Strobl e Phil De Lara, são os principais responsáveis.
De um modo ou de outro, Daffy, é absolutamente irresistível.


WLADIMYR - é uma ternura encantadora, este patinho filósofo que troca ideias com seus amigos, a rã Elodie e o cão Igor. Criadores do personagem-série, o casal Roque: Carlos Roque (1936-2006), português e desenhista, e sua esposa belga Monique, como argumentista. Apenas em brevíssimas ocasiões, houve argumentos por Raoul Cauvin e por Marck.
Wladimyr estreou-se, com "gags" quase sempre em sequência-tiras (duas por "gag") na revista belga "Spirou" a 3 de Abril de 1969. Muitos anos mais tarde, a extinta revista portuguesa "Selecções BD", publicou alguns episódios, dos muitos que existem com este pato. Não se compreende que, tanto na Bélgica como em Portugal, até hoje, não haja um álbum reunindo todas as graças de Wladimyr!...




CANARDO ou "Inspector Canardo" - há uma certa tangência entre este pato "inspector Canardo"  e a série televisiva do "inspector Colombo" magistralmente interpretado pelo actor Peter Falk, sobretudo no uso da gabardina branca (?!) e na constante aparência desleixada. Sob o talento de Benoît Sokal, Canardosurgiu a 2 de Março de 1978.
É um bizarro detective, bem "série negra", inveterado fumador e viciado sem qualquer moderação pelas bebidas alcoólicas. 
Atravès de Canardo, Sokal traça, a seu modo, um retrato sombrio da nossa sociedade actual. 
Pascal Regnaud prossegue a série, seguindo de perto a ideia de Sokal.



KVACK - é uma patinha simpática e personagem secundária, mas notória, da série "Hägar", criada  em 1973 pelo norte-americano Dik Browne e continuada, a partir de 1989, por seu filho Chris Browne.
Kvack é a fiel amiga e confidente de sua dona Helga (aliás, Hildegarde).
O termo, aqui o nome, "kvack" é uma paródia: a patinha é alemã e a sua dona é norueguesa e daí  que a simpática ave grasne com sotaque, pois em vez de "quak", o som será "kvack".




O PATINHO FEIO - é quase uma "missão impossível", distinguirmos quem é o maior: se o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875) se o desenhista português Fernando Bento (1910-1996). Dois génios!
Dois génios que, nas devidas circunstâncias, formaram parceria.
O palmípede "O Patinho Feio", não é um herói-BD, mas a sua "vida" existe em emotiva lição para a vida no texto de Andersen e no admirável traço de Bento.
Esta belíssima adaptação à Banda Desenhada Portuguesa, pertence à série "As Mais Belas Histórias Para Crianças", que foi publicada no saudoso "Diabrete", nos anos 40. Em dez pranchas (capa incluída), "O Patinho Feio" foi editado na citada revista, em 1949, do n.º 635 ao n.º 645. Uma espantosa e comovente maravilha!
LB




domingo, 25 de maio de 2014

HERÓIS INESQUECÍVEIS (27) - JERRY SPRING

Herói-BD na linha "western" (ele há tantos !...), Jerry Spring tem um magnífico e especial carimbo: é um... Jijé! Jijé (1914-1980), que foi um incontestável mestre de tantos desenhistas que, por sua vez, também acabaram por merecer o epíteto de "mestre".
Jerry Spring apareceu pela primeira vez a 4 de Março de 1954, no n.º 829 da revista belga "Spirou", dando origem a uma série que logo conquistou uma multidão de público. 
E por essas cavalgadas excitantes pelas pradarias, lá andava o elegante e valentão Jerry Spring, quase sempre acompanhado pelo mexicano gorduchão e temerário Pancho, onde não falta também, muita poeirada e o fedorento suor de gentes, cavalos e bisontes...
A série comporta vinte e dois álbuns, com os primeiros 21 desenhados pelo seu criador e o 22.º, já desenhado por Franz. 
Surgiram ainda, na versão integral, mais cinco álbuns, com o magnífico traço de Jijé a preto e branco.
Capas dos cinco volumes da colecção "L'intégrale" dedicada a Jerry Spring

Em Portugal, as Edições 70 editaram quatro álbuns (apenas!...). Em revistas afins, algumas narrativas de Spring  foram publicadas no "Cavaleiro Andante" e no "Mundo de Aventuras".
Prancha de "O Segredo da Mina Abandonada" (in "Cavaleiro Andante", n.ºs 210 a 252)

Acrescentemos no entanto: o heróico Jerry Spring, não é apenas esse tremendo herói-BD no plano realista, pois prestou-se também a versões cómicas (argumento e traço), numa deliciosa cumplicidade Jerry Spring-Jijé, cujos episódios estão reeditados, pelas Éditions Dupuis, em "Jerry Spring, l'Intégrale Noir et Blanc / 5"; "Que Barbaridad!" (em seis pranchas, estreadas no suplemento "Le Trombone Ilustré", da revista "Spirou") e, em 1979, no número "Tintin Spécial Western", em três pranchas, "Le Baron Von Rischönstein Chez les Empa-pahutés", marcando esta breve e divertida história, a derradeira aparição de Jerry Spring sob o traço de mestre Jijé.
"Que barbaridad!" (in "Le Trombone Ilustré")

Por agora, ficamo-nos por aqui, pois em breve e se tudo correr bem (apesar da crise), Jerry Spring e os seus "irmãos" (Blodin e Cirage, Jean Valhardi, Tanguy et Laverdure, Barbe Rouge, etc.), aqui tornará, quando pudermos garantir o que, em justa e emotiva homenagem, se festejar: o primeiro centenário do nascimento do grande Jijé!...
LB




Prancha de "L'Or de Personne", por Jijé
Prancha de "Colére Apache", por Franz


quarta-feira, 21 de maio de 2014

A BD A PRETO E BRANCO (14) - As escolhas de Carlos Rico (4)

TOMÁS MARCO NADAL (1929-2000)
Artista espanhol de eleição, começou bem cedo a sua carreira: aos 21 anos já desenhava "El Vengador" para Editorial Marco, estreando-se, assim, no mundo da BD.
Para a Editorial Bruguera entintou trabalhos de outros autores, em personagens célebres como "El Capitán Trueno".
Trabalhou muito para o mercado estrangeiro, em especial o francês, onde desenhou "SOS Titan" e "Kalar", a série que o consagrou como um dos grandes desenhadores da figura animal. Vários episódios de "Kalar" foram publicados, com grande sucesso, em Portugal na revista "O Falcão". 


Duas pranchas/vinhetas de "Kalar"



FRANK BELLAMY (1917-1976)
Nascido em Northamptonshire (Inglaterra), Frank Bellamy foi um notável desenhador. Colaborou com várias revistas britânicas (a mais importante das quais a famosa Eagle) com trabalhos como Commando Gibbs, Swiss Family Robinson, Heros the Spartan ou Robin Hood.
Em 1960 passa a desenhar Dan Dare e, mais tarde, assume a série Thunderbirds.
O seu último trabalho foi a série Garth que, durante cinco anos, publicou, sob a forma de tiras, no The Daily Mirror.

O Robin Hood de Bellamy...
...e cinco tiras de Garth, uma série que Bellamy revigorou com a sua classe.




TONY DE ZUÑIGA (1932-2012)
Nascido em Manila, este desenhador teve uma carreira notável na DC Comics e na Marvel, sendo mesmo o primeiro ilustrador filipino que trabalhou para o mercado norte-americano, abrindo, assim, caminho a outros compatriotas seus como Nestor Redondo ou Alex Niño.
Foi co-autor das séries Jonah Hex e Black Orchid.
Desenhou heróis famosos como Batman, Homem-de-Ferro, X-Men, Homem-Aranha ou Conan, o Bárbaro. 
Faleceu em 2012, vítima de um acidente vascular cerebral.

Prancha de "Medalyang Pilak"
Prancha de "Jonah Hex"

Nota: A rubrica "A BD a Preto e Branco" será subdividida entre as escolhas pessoais de Luiz Beira (10 posts e 30 autores) e de Carlos Rico (idem), num total de 60 autores! As duas imagens que ilustram a obra de cada autor foram criteriosamente escolhidas por Luiz Beira e Carlos Rico e por esta ordem serão sempre apresentadas.



sexta-feira, 16 de maio de 2014

ENTREVISTAS (15) - PEDRO MASSANO

Pedro Massano
Pedro Massano, de seu nome completo Manuel Pedro Dias Massano Santos, nasceu em Lisboa a 15 de Agosto de 1948, residindo habitualmente na região de Tomar, à beira do Rio Zêzere.
Viveu vários anos da sua juventude na ilha de S. Miguel (Açores). 
Sem completar o curso, estudou Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (ESBAL).
Colaborou para variadíssimos periódicos e fanzines e foi durante alguns anos, director do quinzenário "Eco Regional". 
Foi, também, um dos autores pertencentes à equipa da "Visão" (revista que revolucionou o panorama bedéfilo nacional e onde chegou a assinar trabalhos simplesmente como "Pedro").
Foi homenageado nos Salões BD de Sobreda, Moura e Viseu.
"Dick Tetiv" (2001), Ed. C.M. Moura
A sua 9.ª Arte é variada, indo das narrativas realistas às humorísticas. Editou o livro "Como Fazer Banda Desenhada" e criou um álbum de cromos, "As Aventuras do Capitão Igloo". Em tempos de "descanso", dedica-se também à Pintura e à Música (toca guitarra, piano e bateria). Em mini-álbuns, publicaram-se exemplos das suas séries "Os Passarinhos", "O Abutre" e "Dick Tetiv" (este, editado pela Câmara Municipal de Moura).
Os seus iniciais grandes triunfos foram os primeiros tomos das séries "Mataram-no Duas Vezes" ("A Lei do Trabuco e do Punhal") e "A Minhoca Tropicalda" ("Missão H...Órrível"), sob edição Europress.

Depois, vieram os dois primeiros tomos de "A Conquista de Lisboa", que em breve conhecerá a terceira e última parte.

Para a francesa Glénat e com argumento de Patrick Lizé, elaborou os dois primeiros tomos de uma prevista trilogia, "Le Deuil Impossible", versando, de certo modo, a vida de D. Sebastião I de Portugal. 
Capas de "Le Deuil Impossible" (tomos 1 e 2), Ed. Glénat

Colaborou nos colectivos "Uma Revolução Desenhada: o 25 de Abril e a BD" e "Salúquia" (este também editado pela Câmara Municipal de Moura). 
Recentemente, sob edição Gradiva, o belo álbum "A Batalha", narrando a épica Batalha de Aljubarrota. E é com este assunto que iniciamos a entrevista.

BDBD - "A Batalha", finalmente em álbum! Estás satisfeito?
Pedro Massano (PM) - Acho que toda a gente cumpriu bem e penso que o resultado final não podia ser melhor.

BDBD - No entanto, numa história sem enredo ou "novela", apenas relatando os preparativos, a batalha em si e o final do combate, mesmo assim, resultou em pleno. Foi difícil?
PM - Foi a minha principal preocupação desde o início da preparação do álbum. Estava fora de questão fazer uma história, posto que toda a gente já conhecia o assunto e o seu desfecho. Daí, ter tido o especial cuidado em "decifrar" o Fernão Lopes, o Froissart, o Ayalla e outros, para tentar enriquecer a narrativa de um modo mais viável e torná-la tão linear quanto possível.

BDBD - Pensas retomar alguma das tuas séries?
PM - Tenho tido pedidos de amigos para retomar a série "O Abutre"... Estou já a preparar tal ideia, mas será talvez para a Internet e não para livro.

BDBD - Portanto, a série de tiras como "Os Passarinhos" e "Dick Tetiv"...
PM - No campo do humor, tenho mais duas: "Tialgarf" e "O Merlo".

BDBD - Em França, publicaste dois álbuns da série "Le Deuil Impossible" que "parou" de repente. Porquê?
PM - Projectava-se um terceiro e último que chegou  a ser começado, mas houve divergências de opinião de ver essa história, por mim e pelo argumentista Patrick Lizé... Por outro lado, aos franceses pouco ou nada dizia esse tema... E ficou-se por aí.

PM - Mas, segundo uma ideia antiga tua, vais continuar com o João Brandão ("Mataram-no Duas Vezes") e com a Minhoca Tropicalda?
PM - Sim, há a ideia de continuar com uma e outra dessas séries. Já há coisas escritas e desenhadas... Mas não faço BD por compulsão. Será talvez por "dever cívico".

BDBD - Outras séries tuas foram, também subitamente, interrompidas como "Contacto em Lisboa" e a do super-herói "Skate Roller". Que tens a dizer sobre isto?
PM - "Contacto em Lisboa" era um propósito para ocupar o espaço onde se publicava no "Eco Regional", mas o jornal acabou... Era em tiras. De qualquer modo, para mim, a tira não faz sentido se não for humorística, o que não era o caso. É um modelo ou uma tradição que funciona mais para os norte-americanos. Quanto ao projectado super-herói Skate Roller, foi apenas o esboço de um delírio que se ficou por aí.
Tiras de "Contacto em LIsboa"
BDBD - E quanto a projectos bem mais próximos?
PM - Se é que podemos ter projectos com esta idade... Olha, estou a elaborar o terceiro e último álbum de "A Conquista de Lisboa" e... e tenho de facto projectos no ar, mas preciso de estímulos para tal. A ver vamos!...
LB


"Cianato" (in revista "Visão", n.º 2)
(in revista "Visão", n.º 3)

Pranchas de "Angola 1971" (in revista "Visão", n.º 7)

Tiras da série "Os Passarinhos"

Prancha de "Mataram-no Duas Vezes" (Ed. Europress)
Tiras do álbum "Dick Tetiv" (Edição da C.M.Moura, 2001)


"Manuel", primeiro episódio de "O Comboio do Ouro" (in revista "Selecções BD")
Prancha da série de super-heróis "Skate Roller", que não prosseguiu
Capa de "O Abutre 1" (Ed. Europress)


Prancha de "A Conquista de Lisboa"
Capa de "A Batalha"
Prancha de "A Batalha"