sexta-feira, 29 de março de 2013

NOVIDADES EDITORIAIS (29)

L'AUTOMNE 79 - Admirável! Emotivo! Tocante!... 
Com "L'Automne 79" (Éditions NiL), Hugues Barthe conclui a narrativa autobiogáfica iniciada no tomo anterior, "L'Été 79".
Corajoso e frontal, o autor relata as amarguras e inquietações que viveu, sobretudo a partir dos seus 14 anos, ante uma mãe sofredora, um pai violento e viciado no álcool e dois irmãos não tão fraternos como se poderia imaginar... E Hugues, sobrevivendo calado e numa solidão angustiante. Valeu-lhe bem uma sua tia que o protegia e o acarinhava, e também, a sua teimosia pelo desenho, arte que paulatinamente foi elaborando e que, praticamente, lhe salvou a vida.
Este segundo tomo começa com Hugues ainda na sua adolescência e vem a terminar com ele já jovem adulto... 
Mas, o melhor, é conhecer esta obra em dois tomos.
Recordamos que Hugues Barthe estará presente a 27 e 28 de Abril no Salão "Moura BD 2013", onde será homenageado e autografará vários exemplares da sua obra.


ÉVEIL - Com edição Lombard, "Éveil", é o primeiro tomo da breve série "Klaw", com argumento de Antoine Ozanam e grafismo de Joël Jurion.
Aventura que atravessa o fantástico e o esotérico, entusiasma-nos a ideia que por aí se define: o jovem Ange Tomassini tem um pesado segredo; quando é ameaçado, transforma-se num homem-tigre que provoca resultados sangrentos. Ainda por cima, ele cedo vem a saber que seu pai é um dos mais perigosos e violentos mafiosos da cidade...


LE TIGRE DES MERS - É o segundo tomo da série "Surcouf", com argumento de Arnaud Delalande e Erick Surcouf (sobrinho-neto do famoso corsário Robert Surcouf), traço do jovem haitiano Guy Michel e cores de Sébastien Bouet. Tem edição 12 Bis.
Obra de aplauso, prossegue com a vida e as épicas acções do famoso corsário francês que, pelos mares do Oceano Índico, deu água pela barba aos ingleses invejosos e cobiçosos.
No aspecto gráfico, há cenas verdadeiramente espectaculares!


BOLLYWOOD CONNECTION - Com edição Dargaud, "Bollywood Connection", é o sexto tomo das aventuras do detective privado Tony Corso.
Um certo jovem realizador vindo de Bollywood (réplica indiana da norte-americana Hollywood) pretende realizar um filme internacional em França. A situação é turbulenta, pois a Máfia indiana forja as suas violentas e impiedosas acções, existindo também os conflitos retrógados do conservadorismo das caducas e fanáticas, vivas ainda, de certas gerações indianas...
O autor da série, o consagrado Olivier Berlion, consegue aqui um dos mais intensos e agitados tomos de "Tony Corso".


LE LABYRINTHE - Segundo tomo da série "Les Voiles", com edição Casterman, argumento de Renot, traço de Ersel e cores de Aurélie Lecloux.
Em finais do século XIX, a bela e jovem aristocrata francesa Françoise de Noiselles, refugia-se no Egipto, onde são violentas as rivalidades entre tribos árabes e onde se insinuam as cobiças de algumas nações europeias, sobretudo da parte da Inglaterra e da Alemanha.
Obviamente, também acontecem crimes que Françoise não vai aceitar nem perdoar. E promete a si própria que vingará tais gestos...

quarta-feira, 27 de março de 2013

HERÓIS INESQUECÍVEIS (13) - MANDRAKE

Mandrake, o Mágico é o herói de uma das séries mais lidas em todo o mundo. Foi imaginado, ainda na adolescência, por Lee Falk (1911-1999), mas só seria publicado pela primeira vez a 11 de Junho de 1934, sob os auspícios do King Features Syndicate.
Falk que, entre outras séries, também criou o famoso O Fantasma (do qual falaremos um destes dias), foi também dramaturgo e encenador, tendo dirigido actores como Marlon Brando, Charlton Heston, Chico Marx, Paul Newman, etc. Chegou a desenhar as primeiras tiras de Mandrake, mas como não apreciava o seu próprio grafismo, passou essa responsabilidade para seu amigo Phil Davis (1906-1964). Com o falecimento deste, o grafismo da série prosseguiu segundo a arte de Fred Fredericks, embora sem a elegância a que o grafismo de Phil Davis nos havia habituado e tornando o personagem mais em agente secreto do que em habilidoso mágico.
Lee Falk e Phil Davis
Mandrake é um justiceiro que tem como armas a magia e o hipnotismo, sistema que confunde plenamente os seus adversários. Como seus companheiros, conta com o entroncado africano Lothar e a sua eterna noiva, a bela princesa Narda.
As aventuras de Mandrake, em Portugal, foram sobretudo divulgadas na revista "Mundo de Aventuras" e outras, suas publicações satélites, como "Condor Popular", "Colecção Audácia", "Condor Mensal", "Colecção Tigre", etc. E também se salienta nesta acção, o "Jornal do Cuto".
A nível de álbuns, constam cinco: dois pela Futura, dois pela Portugal Press e mais um pela Agência Portuguesa de Revistas.
Na transposição às outras artes, houve uma série em Cinema de Animação e alguma "coisa" com actores, donde, em 1940, uma série realizada pela cinematografia turca, da qual não temos mais dados. Mas, ainda na Turquia, em 1967, Oksal Pekmezoglu, realizou "Sihirbazlar Krali Mandrake Killing'in Pesinde" com o actor Güven Erte.
Cartaz do filme "Sihirbazlar Krali Mandrake Kiling'in Pesinde" (Turquia)
No entanto, em 1939, Norman Deming e Sam Nelson, realizaram "Mandrake, the Magician" com o actor Warren Hull, uma série de doze episódios para a televisão.
Cartaz da série de televisão "Mandrake, the Magician"
Das outras raras apostas cinematográficas versando este herói-BD, contam-se a realização de Will Jason em 1954, com Coe Norton, e em 1979, o filme de Harry Falk com o actor Anthony Herrera. Cineastas famosos, como o francês Alain Resnais e o italiano Federico Fellini, chegaram a sonhar com a ideia, que em nenhum dos casos teve seguimento. Actores como, Marcello Mastroiani, Dirk Bogarde, Paul Newman e, mais recentemente, o irlandês Jonathan Rhys Meyers (o "Henrique VIII" da série-TV "Os Tudor"), chegaram a ser apontados para vestir o personagem Mandrake, mas tudo se ficou por aí. No entanto, esse sonho cinematográfico mantem-se e, ainda sem dados concretos, fala-se em nova versão para breve, onde o jovem actor canadiano Hayden Chistensen terá a seu cargo o papel de Mandrake... Será desta?
Ao nível da Banda Desenhada, esta série merecia bem entre nós, uma edição digna em álbuns. Por que não?
Um dos episódios da série de televisão "Mandrake, the Magician"

Mandrake no "Mundo de Aventuras", com capas de Carlos Alberto Santos

Mandrake sob o traço de Phil Davis

sábado, 23 de março de 2013

ENTREVISTAS (11): FABRICE NÉAUD

Nascido em La Rochelle a 17 de Dezembro de 1968, Fabrice Néaud, estudou Artes e Filosofia. Ligado à Banda Desenhada (onde consta uma série autobiogáfica) e ao Teatro, é também um empenhado paladino contra a homofobia. Conhecemo-lo em Novembro de 2012 no Festival de BD da Amadora, donde veio a resultar esta entrevista, onde conta de si próprio e das suas ideias.

BDBD - Quem é Fabrice Néaud, autor de BD?
Fabrice Néaud (FN) - Nasci em La Rochelle a 17 de Dezembro de 1968 e estudei durante quatro anos numa escola de Artes. Um ano após o último dos meus estudos, iniciei-me como autor de Banda Desenhada, por volta de 1992.
A minha primeira obra, "Journal 1" (Diário 1), foi publicada em 1996. Até 2002, mais três tomos se seguiram. Em 2012, surgiu "Nu-Men" pelas Éditions Quadrants, obra que estou a prosseguir para o segundo tomo.Também tenho narrativas em "colectivos", dos quais me orgulho de "Alex ou La Vie d'Après", com argumento de Thierry Robberecht, publicada pela associação bruxelense de prevenção Ex Aequo.
Há quatro anos que trabalho também para o Centro Dramático de Orléans, sobre uma "carta branca" renovável em cada temporada teatral, o que me proporciona uma criação transversal.

BDBD - Como desenhista, marcaste bem o teu "lugar ao sol" com a série autobiográfica "Journal". Uma obra plena de coragem, não é verdade?
FN - Honestamente, ao princípio, não pensava fazer alguma coisa de extraordinário. Longe disso! Para mim, era simples e evidente fazer e dever fazer esse trabalho. Desde logo, tinha necessidade de contar a minha vida, pelo menos um período da minha vida, ligada a uma história de amor bastante dolorosa e de a ancorar no quotidiano de uma cidade de província que se parecia muito com aquela em que eu então vivia. É sobretudo o terceiro tomo, mais desenvolvido que os outros, que exigiu que eu precisasse as apostas de uma autobiografia desenhada: as já descritas no primeiro tomo (história de amor, cidade de província), mas também as apostas sociais (a precaridade devido ao facto de querer viver como artista na província), a violência homofóbica e, sobretudo, a dificuldade de dever desenhar gentes arriscando-se a se reconhecerem e de tal não gostarem...

BDBD - E daí?...
FN - Na verdade, foi este ponto que me pôs mais problemas, até a privar-me de prosseguir este trabalho, com tanta gente pronta a me censurar o menor traço que poderia acusá-los (pelo menos, segundo eles). Com o tempo, parecia que tudo me agarrava de novo: a violência homofóbica, a malevolência das mentes provincianas que não suportam que se "afixem" a este ponto no seu território... Não é em vão que se possa dizer que esta "obra" está plena de "coragem", com efeito... para não se dizer que se tornou numa empreitada mais do que temerária, quase suicidária.

BDBD - Uma vez narrada a homossexualidade, isso é ainda uma situação amarga em França, mesmo em BD?
FN - Oh, sim! E desafio qualquer um que diga o contrário. Muitas pessoas, com certos jornalistas à cabeça, parecem querer pintar-nos um mundo BD cor-de-rosa e maravilhoso, onde todos os discursos são possíveis... mas é forçoso constatar que as narrativas de Banda Desenhada sobre este assunto, simplesmente não reflectem, de um ponto de vista estatístico, a realidade quotidiana e os factos. Mas aposto que a não-evolução é sobretudo devido à autocensura dos próprios autores e não a uma possível intolerância ou frieza dos editores sobre este tema.
Prancha de "Journal IV"
BDBD - Na tua obra, também tens outros estilos e outras ideias. Por exemplo "Nu-Men", que nos propõe um argumento e um traço numa linha bem oposta à que conhecíamos de ti. O que é que te entusiasmou para esta obra de alerta mundial?
FN - Estou a elaborar o segundo tomo de "Nu-Men", que se intitula "Quanticafrique". Aliás, estou um pouco atrasado neste projecto, devido ao meu empenho na luta local contra a homofobia... Mas sempre desejei fazer ficção científica. Realizo aqui esse velho sonho, de que gosto muito. Permite-me desenvolver mais temas que em "Journal". Pelo menos, de uma maneira mais geral e não unicamente através do filtro de um único narrador. De resto, aqui estou a ser muito (demasiado?) guloso... Há muitos personagens nesta história. Desenvolver tudo isto é verdadeiramente ambicioso. E difícil.
Prancha de "Guerre Hurbaine" (Nu-Men 1)
BDBD - Na tua opinião, "Trois Christs" (uma obra colectiva em que participas), é ou não um desafio controverso  ou polémico?
FN - A minha participação em "Trois Christs" é  muito modesta: seis pranchas a preto-e-branco num conjunto de cerca de oitenta pranchas a cores. Esta modesta participação indica que não participei na elaboração global da obra, se bem que estivesse ao corrente do que aí se ia contar, donde aderi consensualmente. Assim, se houve "controvérsia", não estou informado nem me meto nisso. Confesso que o meu trabalho "Nu-Men", é um desafio muito mais arriscado e audacioso, embora sem um êxito imediato. Por acréscimo, alimentei esta narrativa de preocupações sociais que me inquietam diariamente.
Prancha de "Trois Christs"
BDBD - Que pensas de Portugal e do Festival da Amadora?
FN - Só conheço o Festival pela edição de 2012, logo não posso falar dele. Mas fiquei encantado por ter participado. Achei a exposição sobre a autobiografia muito bela e a cenografia muito interessante. Foi num belo local, vasto, e fiz aí belos encontros. A equipa recebeu-me maravilhosamente. Já uma vez tinha estado em Lisboa, creio que em 1999, no mês de Maio. Estava então um belo tempo. Agora, estando menos belo, Lisboa é uma cidade magnífica, mesmo que eu não tenha tido tempo de a visitar como ela merece. Mas o director do Festival, Nelson Dona, proporcionou-me um dia quase inteiro, antes do meu regresso, para visitar os principais lugares. E fazê-lo em companhia de alguém que conhece a história da sua cidade e do seu país, é uma ocasião apaixonante. Uma recordação muito bela!

BDBD - Queres deixar uma mensagem aos teus leitores portugueses?
FN - Vi que havia obras de autores portugueses que eu desconhecia de todo. E excelentes desenhadores. Especialmente o trabalho de Ricardo Cabral, que é magnífico. Apercebo-me, em cada viagem que faço, da vastidão da minha ignorância... Para os leitores portugueses, só posso encorajar a que se enriqueçam como já fazem com tantos autores estrangeiros...
É certo que a tradução das obras é um freio às suas difusões... Fiquei bem admirado ao ser convidado para um país onde não estou traduzido, mas onde mesmo assim, tinha leitores. Também estou sempre espantado por ver que os franceses são menos abertos e menos curiosos ante os outros, quando se trata de se interessar pelo trabalho de autores que não são do seu próprio país! Tenho alguma vergonha, como francês que sou, de eu mesmo sofrer deste vilão defeito. Apenas posso saudar a abertura de espírito dos leitores portugueses.

NOTA FINAL: na bibliografia de Fabrice Néaud, constam "Journal" (4 tomos), "Trois Christs" (colectvo), "Le Monde Diplomatique en Bande Déssinée" (colectivo), "Alex ou La Vie d'Après", "Carabas", "Émile" e "Guerre Urbaine" (primeiro tomo de "Nu-Men").





segunda-feira, 18 de março de 2013

NOVIDADES EDITORIAIS (28)

CORTO MALTESE NO TEATRO - Não é inédito! Heróis-BD atrás de heróis-BD, têm-se sucedido no Cinema (está na moda) e em folhetins radiofónicos e, o que é talvez mais difícil e complicado, no Teatro.
Salientamos agora o caso, ou casos, do popular Corto Maltese... 
Aventuras deste personagem, em Itália, já foram levadas à cena com o devido êxito. 
Em Portugal, no filme "Zéfiro" (1993) realizado por José Álvaro Morais, o actor Paulo Pires fez de "Corto Maltese" numa intervenção muito especial.
Porém, o notável, aconteceu com a maravilhosa encenação de Carlos Carvalheiro (Companhia Fatias de Cá, em Tomar e regiões vizinhas), com a peça, "Corto Maltese - Concerto em O Menor para Harpa e Nitroglicerina" (da fase "As Célticas"). Que doideira maravilhosa, bem aproveitada nos cenários autênticos do espaço Teatro Destilaria da Brogueira, em Torres Novas!
Desta vez, "Corto Maltese" é muitíssimo bem vivido pelo actor Paulo Moura, que nos transmite o encanto fleumático e quiçá cínico, desse personagem-BD. 
No elenco desta peça, entre outros, contam-se: Bruno Guerra (Patrick), Joana Jacob (Banshee), Nuno Seixas (O'Sullivan), Filipe Seixas (Ogan) e Carlos Carvalheiro (Sean).
Pois este espectáculo, que às vezes é reposto pelo "Fatias de Cá", está gravado/editado em DVD. Quem o desejar, deverá contactar para: loja@fatiasdeca.net


A MALDIÇÃO DO AQUÁRIO - Edição Delcourt. Tomo décimo primeiro da bela série "Zodiaque", com os habituais autores do argumento e da capa, tendo agora no grafismo Vulkasin Gajic.
Poderá alguém, por estranho poder, transformar-se e até, ser "devorador" de outras espécies vivas?!... Que assustadora maldição é esta, que toca, força e queima os aquarianos?...


VOID 01 - A série, com álbuns autónomos, chama-se "La Grande Évasion". Este tomo, "Void 01", é o terceiro. Tem edição Delcourt, com argumento de Herik Hanna e grafismo de Sean Phillips.
Algures, no distante futuro e no espaço imenso, numa sinistra nave penitenciária, algo de brutal e vitalmente tenebroso acontece... Quem assassina quem? Quem procura, com loucura total ou estranha "consciência", sobreviver e livrar-se numa "grande evasão"?


WHALIGOË 1 - Com edição Casterman, "Whaligoë", é uma narrativa para dois tomos. Tem argumento de Yann e grafismo de Virginie Augustin.
Mistérios atrás de mistérios, localizados na sedutora e não menos misteriosa Escócia, sobretudo quando tudo se passa no "romântico" século XIX... Uma atmosfera no espaço e no tempo que jamais cansa os autores da Literatura, do Cinema, da Banda Desenhada.
Neste clima estranho em que um bizarro casal de Londres se refugia na aldeia que dá pelo nome de Whaligoë, nem mesmo falta a aparição do fantasma de uma bela jovem...
Neste ambiente pesado (a obra começa com um combate de galos), bem marcado pelas lendas e superstições dos celtas, Yann assume-se como um argumentista que sabe bem da poda e Virginie Augustin agrada-nos com o seu traço simples e bem expressivo.
Aqui estão alguns dos positivos ingredientes a seduzir qualquer amante da Banda Desenhada a uma atenta leitura.


QUADRINHOS INDEPENDENTES 119 - O brasileiro Edgard Guimarães edita, desde há muitos anos, o fanzine "QI" (Quadrinhos Independentes). De periodicidade bimestral, o "QI" destaca-se pelo conteúdo (banda desenhada, ilustração, artigos vários, divulgação de fanzines, cartas dos leitores, anúncios, etc) e pelo cuidado grafismo.  Este fanzine foi distinguido 13 vezes(!) com o prestigiado Prémio Angelo Agostini (entre 1995 e 2010) mas Edgard Guimarães (que também é autor das capas e de alguma banda desenhada inserida no "QI") não "abranda o ritmo" e continua a surpreender-nos a cada número que edita. 
O "QI" merece, sem dúvida, uma atenta leitura.

sexta-feira, 15 de março de 2013

PELA BD DOS OUTROS (4): A BD DA IRLANDA

O Eire ou República da Irlanda, é um estado europeu soberano, com uma marcante História e uma Cultura muito rica e variada. Mas também tem sido um país sofredor dado às investidas e à cobiça de outros povos, sobretudo pelos ambiciosos e prepotentes ingleses que ainda ocupam a norte, a região do Ulster. Com raizes profundamente celtas (tal como a Escócia e o País de Gales), tem a cidade de Dublin como capital e o euro como moeda. A harpa e o trevo são seus símbolos.
No panorama cultural, destacam-se, entre outros, os escritores Jonathan Swift, Oscar Wilde, George Bernard Shaw, William Butler Yeats, Samuel Beckett, James Joyce, Sean O'Casey e Bram Stoker; pelo Teatro/Cinema, os actores Maureen O'Hara, Masureen O' Sullivan, Richard Harris, Peter O' Toole, Pierce Brosnan, Colin Farrell, Cillian Murphy, Liam Neelson, Jonathan Rhys Meyers e Gabriel Byrne; e, pela Música, os U2, Bob Geldof, Chris de Burgh, Sinéad O' Connor, Enya, para além do extraordinário grupo de Dança, o Riverdance.
E chegamos à Banda Desenhada, sector onde descobrimos autores de nível, sendo os mais firmemente notáveis: René Bull (1872-1942), Gerry Hunt, Nick Roche, Michael Hubbard, David Norman, Will Simpson, Elizabeth Shaw e Paddy Brennan.
Vejamos, com algum destaque, pormenores de alguns destes citados:


MIKE HUBBARD, aliás, Ernest Alfred Hubbard, nasceu em Dublin a 2 de Abril de 1902 e faleceu a 25 de Junho de 1976. Tem obra vastíssima e de alta qualidade, donde destacamos a adaptação do sempre belo clássico da Literatura, "As Minas do Rei Salomão" de H. Rider Haggard, onde tem como seus admiráveis parceiros e "concorrentes", o português Fernando Bento e o argentino José Luís Salinas.
Arte de Mike Hubbard


ELIZABETH SHAW, nasceu em Belfast (na Irlanda ocupada pelos ingleses). Em 1944, casou com o arquitecto alemão René Graetz e, dois anos depois, foram viver para Berlim. Faleceu em Junho de 1992. Deixou obra doce e elegante e chegou a ilustrar textos do genial teatrólogo Bertolt Brecht.


Arte de Elizabeth Shaw


GERRY HUNT, nasceu em Dublin em 1936.
Tem larga obra editada no seu país, no Reino Unido, nos Estados Unidos, etc, onde se registam exemplos pela libertação e independência totais do seu país, como "In Dublin City", "Streets of Dublin" ou "Blood Upon the Rose - Easter 1916". Bravos registos!




Arte de Gerry Hunt
Na geração mais recente, destaca-se o valor de NICK  ROCHE, nascido em Country Wexford, mas residindo habitualmente em Dublin, onde elabora os seus trabalhos para a Irlanda e para o Reino Unido. A "loucura" das suas criações apostam-se nas fogosas modernidades das novas tendências "revolucionárias" da 9ª Arte...
Arte de Nick Roche

domingo, 10 de março de 2013

EVOCANDO (5)... DIDIER COMÈS

LUTO NA BANDA DESENHADA: FALECEU DIDIER COMÉS

No passado dia 7 de Março, a Banda Desenhada perdeu um dos seus mais notáveis criadores: DIDIER COMÈS. De seu nome completo Didier (ou Dieter) Herman Comès, nasceu em Sourbrodt (na Bélgica germanófona) a 11 de Dezembro de 1942, falecendo no último 7 de Março, vítima de uma pneumonia. A mãe era oriunda da Valónia (região francófona da Bélgica) e o pai era germanófono (da pequena região belga onde predomina o alemão), donde ele se definir como filho de duas culturas...
Argumentista e desenhista, dedicou-se também à Música, mais especificamente ao jazzConviveu com outros colegas famosos, como Hausman, Deliège e Macherot. Fez também desenho industrial e histórias curtas, sendo algumas destas de cariz humorístico.
A sua primeira grande obra, a série "Ergün, l'Errant", surge em 1973, com o tomo "Le Dieu Vivant " (O Deus Vivo), ao qual se seguiu, em 1980, "Le Maître des Ténèbres " (O Senhor das Trevas). Depois, desligou-se desta série.
Em 1976, surge "L'Ombre du Corbeau " (A Sombra do Corvo) e, em 1979, "Silence" (Silêncio), onde ele se decide definitivamente pelo preto-e-branco e onde se filia em absoluto na linha dos seus inspiradores, Milton Caniff e Hugo Pratt. Aliás, "Silêncio", que é considerada a sua obra por excelência, projectou-o universalmente. A crítica e o público aplaudiram-no em pleno. Este álbum valeu-lhe o Prémio Alfred no Festival de Angoulême de 1981.
Seguiram-se: "La Belette" (A Doninha) em 1981/1982; "Eva" em 1985; "L'Arbre-Coeur" (A Árvore-Coração) em 1988; "Íris" em 1991; "La Maison Où Rêvent les Arbres" (A Casa Onde Sonham as Árvores) em 1994; "Les Larmes du Tigre" (As Lágrimas do Tigre) em 2000 e, por fim, "Dix de Der " em 2006.

Em 1983, recebeu o Prémio Saint-Michel para a melhor BD, pelo seu álbum "La Belette".
Em 2012, uma exposição de 250 pranchas originais, esteve patente no Museu das Belas-Artes de Liège e, já neste 2013, uma exposição de 50 pranchas originais foi apresentada ao público no Festival de Angoulême.
Com o virtuosismo no preto-e-branco, a obra de Didier Comès foi quase toda editada em Portugal.
Que descanse em paz!
Prancha da série "Ergüm l'Errant"
"L'Ombre du Corbeau", uma das primeiras obras de Comès


Prancha de "Dix de Der" onde Comès demonstra grande domínio no uso do preto e branco