Cidadão francês, Hugues Barthe, nasceu em Montbéliard a 16 de Julho de 1965, residindo actualmente em Rouen. Estudou Belas Artes, tendo-se diplomado em Angoulême. Com um grafismo peculiar, os seus álbuns são sempre e corajosamente autobiogáficos. Considera a Banda Desenhada como o "meio ideal de expressão". Já escreveu livros para crianças, onde se inclui um volume dedicado ao navegador português Fernão de Magalhães. Não se preocupa em ser editado pelas "grandes editoras", pois a sua obra vai crescendo e sendo muito aplaudida e, por vezes até, premiada.
Em Março próximo, estará editado o seu sétimo álbum, "L'Automne 79". Os seis anteriores, foram: "Jean-François Fait de la Résistance" (2004), "Miss Come Back" (2006, em colaboração com Caro), "Le Petit Lulu" (2006), o premiado "Dans la Peau d'un Jeune Homo" (2007), "Bienvenue dans le Marais" (2008) e "L'Été 79" (2011).
Pois... já podemos anunciar: Hugues Barthe estará presente, por Abril, no Salão MouraBD 2013, com um panorama da sua obra-BD, pelo que em merecida homenagem, receberá o "Troféu Balanito de Honra" para a categoria de desenhista estrangeiro.
Assim sendo, aqui se justifica para já, a entrevista que se segue, com algumas questões e respostas repescadas da entrevista que concedeu ao semanário "Alentejo Popular" a 22 de Dezembro de 2011.
BDBD - És o desenhista de honra estrangeiro a ser homenageado no Salão Internacional MouraBD 2013. Que pensas deste convite?
Hugues Barthe (HB) - Tal gesto dá-me um grande prazer. Espero que tal venha a incitar algum editor português a traduzir e publicar as minhas bandas desenhadas.
BDBD - E no entanto, tu já conheces Portugal, não é verdade?
HB - Sim, há alguns anos, visitei Portugal em férias. Conheço Lisboa, que muito apreciei.
BDBD - No teu sexto álbum, "L'Été 79" (O Verão de 79), confundes os teus leitores pois, embora te mantenhas autobiogáfico, a obra é ferozmente dramática. Porquê este registo?
HB - Quis agarrar um tom e tema diferentes. Quis fazer um livro que não fosse baseado na homossexualiade, para mostrar que podia oferecer outra coisa e para evitar ser demasiado catalogado e sujeito a repetir-me... Se este livro, "L'Été 79", é ferozmente dramático, é porque o tema assim o impõe. Não era possível fazer humor sobre a história de uma mulher sofrida, tanto mais quando se tratava da minha mãe. Nesta linha, "Le Petit Lulu", era já muito dramático, mesmo contendo algum humor.
BDBD - Em Março próximo, aparecerá o teu sétimo álbum, "L'Automne 79", continuação de "L'Été 79". Esta narrativa acaba aqui ou vai continuar com mais alguns tomos?
HB - "L'Automne 79" é o segundo e último tomo desta história autobiogáfica. Já trabalho em dois outros livros que serão muito diferentes.
BDBD - Nos teus primeiros cinco álbuns, misturas os teus dramas, as tuas angústias, os teus momentos cómicos e a tua frontalidade sexual. Hoje, és um auto-divertido ou apenas um sofredor?
HB - Em todos os meus projectos, há histórias dramáticas e divertidas, com ou sem personagens "homo". Continuarei a fazer coisas muito variadas.
BDBD - A homossexualidade, tão corajosamente revelada na tua obra, na tua França, ainda é um "clima" aflitivo? As dominadoras religiões serão responsáveis por esta caprichosa situação?
HB - A minha vocação é, sobretudo, contar histórias. Para mim, é o melhor meio de tentar fazer evoluir a sociedade. Não me preocupo muito com a religião. Mas, com efeito, a Igreja não evoluiu em nada em questão de costumes. É pena! E até conheço padres em França que são homossexuais, que são obrigados a esconder-se e a mentir para eles próprios. Estes casos não são nada raros!...
BDBD - E a tua obra editada em português, gostarias? Tu falas de ti próprio, mas também tens a força digna de obrigar as pessoas a encontrarem-se e a se compreenderem...
Prancha de "Dans la Peau d'un Jeune Homo" |
HB - Gostaria imenso de ser traduzido e publicado em português e em várias outras línguas. Mas isso não depende de mim. E confesso que gostei muito das tuas palavras quando me dizes que "forço" as pessoas a encontrarem-se e a se compreenderem... É isso, exactamente, que quero fazer.... Até breve Portugal, até breve Moura!
O primeiro álbum de Hugues Barthe |
Prancha de "Le Petit Lulu" |
Prancha de "Bienvenue dans le Marais" |