segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A BD A PRETO E BRANCO (6) - As escolhas de Luiz Beira (6)

ISABEL LOBINHO (1947). 
Nascida no Ribatejo, reside há muitos anos no seu monte, no Distrito de Beja. Foi homenageada em Moura e na Sobreda. Por razões de saúde, abandonou a BD e a Pintura. Na sua 9.ª Arte, marcam-se bem as vertentes pelo erotismo ou temas de terror. Embora com vasta obra espalhada por diversas publicações, tem apenas um álbum, "Mário e Isabel" (Ed. Forja), com texto de Mário-Henrique Leiria, mais tarde reeditado num dos "Cadernos Moura BD".
Prancha 1 de "Casamento" (do álbum "Mário e Isabel")
Prancha 4 de "Teobaldo, o meu amigo" (do álbum "Mário e Isabel")



JACQUES TARDI (1946). 
De nacionalidade francesa, tem obra enorme, com algumas a cores, donde salientamos "Ici Même", as séries "Adèle Blanc-Sec" e "Nestor Burma", "Le Tueur de Cafards", etc. Algumas obras suas foram já adaptadas ao Cinema e à Televisão. É um respeitável talento da BD francófona.
Prancha de "Brouillard au Pont de Tolbiac"
Prancha de Adèle Blanc-Sec - "Le Démon de la Tour Eiffel"


JEAN-CLAUDE FOREST (1930-1998).
Francês de fino e arrojado traço, é mais conhecido pela sua célebre série "Barbarella". No entanto, tem mais obra de muita força gráfica como por exemplo o álbum "La Jonque Fantôme Vue de l'Orchestre", do qual aqui se mostra um breve exemplo.
Prancha de "La Jonque Fantôme Vue de L'Orchestre"
Prancha de "Barbarella"

Nota: A rubrica "A BD a Preto e Branco" é subdividida entre as escolhas pessoais de Luiz Beira (10 posts e 30 autores) e de Carlos Rico (idem), num total de 60 autores! As duas imagens que ilustram a obra de cada autor foram criteriosamente escolhidas por Luiz Beira e Carlos Rico e por esta ordem serão sempre apresentadas.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

NOVIDADES EDITORIAIS (47)

LE SILENCE DE LOUNÈS - Edição Casterman. Argumento de Baru (aliás, Hervé Barulea) e arte gráfica de Pierre Place.
Trata-se  de uma bela e dramática narrativa que nos transporta para a Guerra da Argélia, durante e depois. Sobetudo ao conflito de certezas e de hesitações entre os próprios argelinos. E também dos silêncios que calaram muitas atitudes e angústias.

 
LES PORTES DE L'ARCTIQUE - Edição Glénat. Argumento de Christophe Bec e grafismo de Jeran-Jacques Dzialowski.
É o primeiro tomo da série "Lancaster". Acção, aventura e mistério, encontram-se bem nesta série. O herói, Jim Lancaster, um destemido nobre inglês que se destacara na Segunda Grande Guerra, é enviado à base polar de Hiperbórea, onde um notável cientista terá descoberto vestígios de uma antiga e desaparecida civilização... Porém, a situação complica-se, pois "outras gentes" estão também muito interessadas nestas descobertas...


 
REVISTA ROMENA - Divulgando novos valores da BD Romena, apareceu recentemente a revista "Terapíe de Basm", cujo exemplar n.º 1 publica os primeiros episódios de "Dacâ n-ar Fí", com argumento de Andrei Cherâscu, traço de Andrei Puicâ e cores de Evelyne Krall. E contém ainda, uma brevíssima reportagem com fotos e desenhos, sobre Andrei Puicâ no seu trabalho.
O romeno, idioma substancialmente latino, não é difícil de se entender (e um bom dicionário pode também ajudar...).
Os interessados poderão consultar: www.terapiedebasm.ro

 
SUGAR, MA VIE DE CHAT - Edição Dargaud. Autor: Serge Baeken.
O gato é um personagem de infindáveis intervenções na Banda Desenhada, desde os que são figuras centrais até aos que, como apagados figurantes, aparecem numa simples vinheta.
"Sugar, ma Vie de Chat" é uma criação do flamengo Serge Baeken, onde ele regista com todo o realismo num belo grafismo a preto e branco, a biografia do seu (e de sua família) gato "Sugar", que o acompanhou durante dezoito anos. É uma obra muito emotiva, com alguns momentos divertidos.
Todos os que gostam de gatos ficarão certamente encantados ao lerem este álbum.

 
LAST MAN / 3 - Edição Casterman. 
Elaboração colectiva de Balak, Sanlaville e Vivès.
O jovem Adrian e sua mãe Marianne, na busca e perseguição do misterioso campeão Richard Aldana, entram num outro mundo, bem mais real e caótico.
Com momentos rocambolescos, a narrativa encanta e entusiasma quanto baste.

domingo, 19 de janeiro de 2014

ENTREVISTAS (13) - LEO

LEO
Formou o seu nome artístico, Leo, com as iniciais do seu nome real: Luís Eduardo Oliveira. Nasceu no Rio de Janeiro a 13 de Dezembro de 1944. Residindo em Paris desde 1981 e casado com uma portuguesa (Isabel) da ilha da Madeira, aqui passa largo tempo do ano, sobretudo para se escapar às agruras do Inverno da continental Europa. Hoje muito conceituado no panorama bedéfilo, sobretudo entre os francófonos, dedica-se muito (quase  que exclusivamente) ao tema da ficção-científica. E tanto funciona só enquanto desenhista, como, outras vezes, como argumentista e, outras ainda, como autor total.
Foi homenageado ao vivo no Salão Internacional "Sobreda-BD / 2000", tendo então recebido o Troféu Sobredão.
Porém, se hoje está tranquilo a narrar aventuras através da 9.ª Arte, foi antes uma aventura de si próprio que viveu e sofreu. Sempre inclinado para o desenho, após terminar o seu curso de engenheiro mecânico enveredou um tanto pela militância política. Em 1971, para escapar à ditadura militar brasileira, fugiu para o Chile. Daqui torna a fugir, desta vez para a Argentina, quando o general Pinochet tomou o poder. Em 1974, regressa clandestinamente ao seu Brasil, onde se dedica ao desenho publicitário em S.Paulo.
"Gandhi", o primeiro álbum de Leo
Em 1981, abalou-se à aventura para a Europa, estabelecendo-se em Paris, sonhando com a carreira pela Banda Desenhada. Foi uma época de angústias pois a 9.ª Arte franco-belga atravessava então uma das suas piores crises.
Mesmo assim, publica alguma coisa nas revistas "L'Echo des Savanes" (1982) e "Pilote" (1985). Com o apoio de Jean-Claude Forest, em 1986 publica algumas histórias realistas na "Okapi" e, em 1989, é editado o seu primeiro álbum, "Gandhi, le Pélerin de la Paix", com argumento de Benoît Marchon. No entanto, algum tempo depois enceta uma parceria com o argumentista Rodolphe, com as séries "Trent" (um western em oito tomos), "Kenya" (em cinco tomos) e "Namibia" (a decorrer), mas agora como co-argumentista, sendo o grafismo de Marchal.
"Trent" e "Kenya", com argumento de Rodolphe e traço de Leo

Para além de ter participado em álbuns colectivos, Leo foi argumentista das séries "Dexter London" (grafismo de Sergio Garcia), "Terres Lointaines "(grafismo de Icar) e "Mermaid Project" (grafismo de Fred Simon).
"Dexter London" e "Mermaid Project" - duas séries com argumento de Leo

Todavia, pelo seu encantador talento, o que podemos considerar como a sua notável criação (até agora) é a série "Les Mondes de Aldébaran", repartida em quatro "ciclos": "Aldébaran", "Betelgeuse", "Antares" e "Survivants", estando estes dois últimos ainda em curso.
"Betelgeuse" e "Antares", criações completas de Leo

Pois aí vai a entrevista com Leo:
BDBD -  Foi dura a tua caminhada pela Banda Desenhada, sobretudo na América do Sul, mas hoje tens um justo estatuto de autor-BD confirmado. Porquê a França como tua opção?
LEO - No Brasil eu fiz umas tentativas de trabalhar em BD, mas não deu certo. Não há mercado para BD's adultas. Foi o que me levou a vir para a França. No Chile e na Argentina, eu não trabalhei com a BD e, na época, eu não pensava nisso. Eu era um refugiado político, fugindo à ditadura brasileira, e me dedicava à acção política.
BDBD - E voltares a viver no teu Brasil, está fora de questão?
LEO - Sim, foi tão difícil conseguir estabelecer-me em França, onde passei vários anos como imigrante clandestino, que não tenho nenhuma vontade de sair daqui. Ainda mais porque profissionalmente é aqui que eu construí toda a minha carreira na BD.
BDBD - Curiosamente, tens ligações a um outro país do nosso idioma, precisamente Portugal. Para além de teres sido homenageado no salão "Sobreda-BD /2000", és casado com uma portuguesa (da Madeira)... Portugal será um dia o território para residires em definitivo?
LEO - Não creio, pelos mesmos motivos que exponho acima. Mas pretendo passar longos períodos na Madeira, principalmente no Inverno. Acho a Madeira um lugar fantástico!
BDBD - Estranhamente, da tua vasta obra nada está editado em Portugal!... É um facto pouco simpático e desatento em relação à tua obra, não achas?
LEO - Alguns dos meus álbuns foram editados em Portugal alguns anos atrás, mas, infelizmente, a eterna questão do mercado pequeno para a BD adulta não permitiu que a coisa se renovasse. A mesma coisa aconteceu no Brasil, onde o facto de eu ser brasileiro não ajudou em nada as vendas. É uma pena!...
BDBD - Para além de desenhares, também tens sido, às vezes, argumentista. O que preferes: desenhar ou escrever argumentos?
LEO - Não dá para escolher uma ou outra, pois são coisas bem diferentes e ficaria muito  frustrado se tivesse que abandonar uma dessas actividades. É claro que, quando eu desenho - e actualmente eu só o faço quando eu mesmo escrevi o guião e, com isso, o resultado é bem pessoal - é mais forte. Como guionista, escrevendo sozinho ou em parceria com outros, eu posso expressar a minha imaginação de outra maneira e é uma actividade fascinante.
BDBD - "Gandhi, o Peregrino da Paz" foi um interessante trabalho teu enveredado pela biografia. O que sentes por Gandhi para teres pegado neste projecto? Pensas repetir a experiência versando biografias?
LEO - Devo confessar que esse trabalho foi feito numa época em que eu aceitava qualquer coisa que surgisse para que a minha conta bancária saísse do negativo! Felizmente, o Gandhi foi um personagem interessante mas fazer BD's históricas não é o meu terreno, pois sempre preferi a ficção-científica.
"Kenya", com traço de Leo
e argumento de Rodolphe
BDBD - Ora aqui está!... Excluindo a bela série "Trent", o teu tema favorito é a ficção científica, cheia de hipóteses no futuro e de maravilhosos aspectos insólitos. É mesmo o tema que mais te entusiasma?
LEO - É o meu universo preferido. Desde sempre. Ele permite toda a liberdade criativa, onde tudo se pode inventar. Todos os guiões que escrevi até hoje são de ficção-científica, o que é bem sintomático...
BDBD - Acreditas nos distantes aspectos futuristas que propões nas tuas séries?
LEO - Infelizmente, não. É o meu lado engenheiro bem racional...
BDBD - O Salão da Sobreda, onde foste homenageado em 2000, parece que se finou de vez. Mas, em Portugal, existem dois anuais (Amadora e Beja) e mais dois bienais (Moura e Viseu). Estarias disposto em participar em algum deles?
LEO - Nos últimos tempos tenho trabalhado tanto que evito os festivais. Especialmente quando incluem viagens. Mas eu gosto muito de Portugal, então, quem sabe?...
BDBD - A terminar, deixa aqui uma breve mensagem aos bedéfilos portugueses, em especial aos que te admiram... Desde já, muito obrigado, Leo.
LEO - Evidentemente eu fico muito orgulhoso e contente de saber que portugueses conhecem as  minhas histórias, apesar delas não serem actualmente traduzidas na minha língua materna. Portugal possui uma cultura de BD's adultas que, infelizmente, meu país ignora. E, meu caro Luiz Beira, sou eu que agradeço!

Nota: já após as resposta de Leo, ficámos a saber que terá havido apenas um álbum, da série "Aldebaran", editado entre nós pela Booktree...


Capa e prancha de "Le Group" (Aldebaran / 4)
Prancha de "La Vallee de la Peur" (Trent / 4)

Prancha de "La Planete" (Betelgeuse / 1)
Capa de "Survivants"
Prancha de "Rencontres" (Kenya / 2)

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

2014: O CENTENÁRIO DE JIJÉ

Jijé (1914-1980)
Admirável, genial, humilde e mestre, ele foi o grande Jijé, ou seja, Joseph Gillain. Nasceu a 13 de Janeiro de 1914 e morreu a 20 de Junho de 1980, com a cidadania belga, mas a sua arte é tão diversa e imensa e incontestavelmente admirada para além das fronteiras do seu pequeno (geograficamente) país, que ele é hoje um pilar indestrutível da Banda Desenhada mundial e, mais especificamente, da Europa.
Pois a 13 de Janeiro deste novel ano em que estamos, marcou-se oficialmente o primeiro centenário do seu nascimento, efeméride que indica bem que o 2014 será o "ano Jijé". Todos, mas mesmo todos os bedéfilos (argumentistas, desenhistas, editores e leitores em geral, não importa de que geração) lhe devem uma comemoração ao longo do ano, com a devida e sincera admiração e agradecimento pelo seu talento e obra. Só uma "sabichonice canastrona" poderá pensar o contrário!...
Jijé não foi, mas é está, pois a sua indestrutível obra tal o afirma e confirma. E, como alguém citou, "não há presente nem futuro, mas sim e sempre, um passado que continua".
Jijé foi mestre e amigo de colegas seus que se tornaram também famosos e grandes na BD, como Morris, Eddy Paape e André Franquin, abençoados "aprendizes" que bem souberam entender as fraternas e sábias indicações do mestre.
A obra de Jijé foi parcialmente publicada em Portugal em revistas como o "Cavaleiro Andante", "Mundo de Aventuras", "Tintin", entre outras. 
Em algumas incursões pelo humor, marcou-se divertidamente com a série "Blondin et Cirage" e em paródias breves que fez da sua série "Jerry Spring".
Elaborou alguns álbuns das séries "Tanguy et Laverdure", "Jean Valhardi" e "Barbe-Rouge". 
 

Adaptou à BD as biografias de Don Bosco, Baden-Powell, Jesus Cristo (Emmanuel), Charles de Foucauld, Bernardette Soubirous e Cristóvão Colombo. 


Ilustrou uma versão do clássico da Literatura, "O Conde de Monte-Cristo". 
Na versão "álbum único", salienta-se "El Senserico" e "Blanc Casque".

Porém, a sua grande e mais famosa glória, a "cereja no topo do bolo", recai na série "Jerry Spring", com 22 álbuns. Mas este último, já teve argumento de Festin e grafismo de Franz.
Nos 21 álbuns precedentes, sempre com o seu deslumbrante traço, Jijë foi algumas vezes argumentista de si próprio, mas também ilustrou argumentos de Maurice Rosy, René Goscinny, Jean Acquaviva, Daniel Dubois, Jacques Lob e de seu filho, Philip Gillain.
As Éditions Dupuis, mais ou menos recentemente, editaram cinco tomos integrais de "Jerry Spring", notavelmente a preto-e-branco. Uma preciosidade para os bedéfilos coleccionadores!...
É de toda a justiça (cultural, pelo menos) que, também em Portugal, se comemore devidamente o primeiro centenário do nascimento de Jijé. 


"Tanguy e Laverdure" com desenho de Jijé
"Jerry Spring" no n.º 212 da revista "Cavaleiro Andante"
"Baden Powell" no "Cavaleiro Andante" n.º 280
Série "Vallardi", no "Cavaleiro Andante" n.º 516
Prancha de "La Fille du Canyon"
"Charles de Foucauld" por Jijé

sábado, 11 de janeiro de 2014

A BD A PRETO E BRANCO (5) - As escolhas de Luiz Beira (5)

GRZEGORZ ROSINSKI (1941). 
Nascido na Polónia, aqui iniciou a sua carreira, com um grafismo cada vez mais apurado. Sua famosa série "Thorgal" (a cores), é uma obra de referência, muito embora muitos considerem que a sua obra-prima é "O Grande Poder do Chninkel", que posteriormente foi reeditada a cores. Mas a glória está na primeira versão a preto e branco. Rosinski reside na Bélgica.

Pranchas de "Le Grand Pouvoir du Chinkel"



HAROLD FOSTER (1892-1982).
Considerado de nacionalidade norte-americana, é porém, canadiano por nascimento. Com o seu admirável talento para o grafismo, chegou a desenhar para a série "Tarzan, mas depois criou e singrou em absoluto com a monumental série "Príncipe Valente". E por aqui, o preto e branco ganha totalmente. Um deslumbre!
Vinheta de "Prince Valiant"
Prancha 71 de "Prince Valiant"


HUGO PRATT (1927-1995). 
É mais um italiano de pleno talento que influenciou bastantes outros desenhistas de Itália e não só. Também argumentista de altas capacidades, é inegável ícone da sua obra a série "Corto Maltese". Chegou a fazer parceria com o seu colega Milo Manara, funcionando então como autor dos enredos.
"Corto Maltese", por Hugo Pratt
Prancha de Ernie Pike (com argumento de Oesterheld)
Nota: A rubrica "A BD a Preto e Branco" é subdividida entre as escolhas pessoais de Luiz Beira (10 posts e 30 autores) e de Carlos Rico (idem), num total de 60 autores! As duas imagens que ilustram a obra de cada autor foram criteriosamente escolhidas por Luiz Beira e Carlos Rico e por esta ordem serão sempre apresentadas.