sábado, 30 de setembro de 2017

DE ACTORES A HERÓIS DE PAPEL (16) - JOSÉPHINE BAKER

Joséphine Baker (1906-1975)
Foi, e ainda é, na memória de cada um, uma personagem admirável, tanto na vida real como na sua carreira artística.
Joséphine Baker, nome artístico de Freda Joséphine McDonald, nasceu em Saint Louis (Estados Unidos) a 3 de Junho de 1906 e faleceu em Paris a 12 de Abril de 1975.
Corria nas suas veias sangue de várias raças, incluindo africano e ameríndio apalache.
Nasceu pobre, mas transpirava talento e ousadia. Ainda criança, cantava e dançava na rua. Aos 15 anos, já participava em espectáculos de Saint Louis Chorus e, em 1921 e 1924, participou em espectáculos na Broadway (Nova Iorque).
Em Outubro de 1925, estreou-se de uma maneira retumbante no Théatre des Champs Élysées (Paris), com uma dança erótica e exótica, onde aparecia praticamente nua em cena: a famosa “Dança das Bananas”...
De novo na sua América natal, sofreu as perseguições racistas e a infundada suspeita de que era comunista, segundo o cruel e absurdo “macartismo”...
Estabeleceu-se definitivamente em França e, em 1937, naturalizou-se cidadã francesa.
Mais bailarina e cantora do que actriz, foi sempre uma deslumbrante e sensual cabeça de cartaz.
Durante a 2.ª Grande Guerra, trabalhou com a Resistência, como espia.
Recebeu honrosas condecorações do governo francês.
Pela sua América de origem, lutou contra o racismo e pela emancipação dos negros, apoiando o Movimento dos Direitos Civis de Martin Luther King.
Residia na mansão acastelada de Milandes, nos arredores de Paris.
Com o drama de não poder ter filhos - embora tivesse casado cinco vezes -, sublimou tal situação adoptando doze crianças órfãs de diversas nacionalidades.
Joséphine Baker e Chiquita
Amiga de animais, o seu favorito era a fiel chita Chiquita, com que passeava frequentemente, com uma trela, pelos parisienses Campos Elíseos.
No rol dos seus grandes admiradores contam-se o pintor Pablo Picasso e o arquitecto Le Corbusier. O escritor belga Georges Simenon chegou a ter com ela uma fugaz paixoneta.
Muitos a trataram, com admiração, por “Vénus Negra” ou “Deusa Creoula”, mas devido às imensas despesas que enfrentava, as suas economias começaram a degradar-se. Sabendo disso, a princesa Grace Kelly ofereceu-lhe uma bela moradia no Mónaco.
Aos 68 anos, quando, em Paris, se preparava para festejar os seus 50 anos de palco, teve uma síncope e faleceu pouco depois.
Da sua imensa discografia, o trecho de honra é “A Conga de Blicoti”, várias vezes editada. Na sua curta filmografia, destacam-se os filmes “Fausse Alerte” (1945), “Princesa Tam-Tam” (1936), “Zuzu” (1934, onde contracena com Jean Gabin) e “A Sereia dos Trópicos” (1927).
Em 1986, o realizador britânico Christopher Ralling dirigiu o documentário biográfico, “Chasing a Rainbow: The Life of Josephine Baker”.
Pois também a Banda Desenhada a honra (e muito bem!).

No México, a excelente revista "Mujeres Célebres" publicou, num dos seus números, uma BD com Joséphine Baker (da qual, infelizmente, só conseguimos imagens da capa).
Capa do #67 de "Mujeres Célebres" - Editorial Novaro (México), 01.10.1965
A parceria francófona Yann e Laurent Verron, incluiu-a  em três tomos da hilariante série “Les Exploits de Odilon Verjus” (ed. Lombard), a saber:
“Adolf”
"Adolf", por Yann e Laurent Verron - Ed. Lombard (1999)

“Vade Retro Hollywood
"Vade Retro Holliwood", por Yann e Laurent Verron - Ed. Lombard (2002)

e “Folies Zeppelin”.
"Folies Zeppelin", por Yann e Laurent Verron - Ed. Lombard (2006)

Por sua vez, pela Casterman, foi editado em 2016, o álbum biográfico “Joséphine Baker”, da parceria Catel e Jean-Louis Bocquet.
Capas da primeira e segunda edições de "Joséphine Baker", por Catel e Bouquet,
e duas pranchas desta obra - Edição Casterman (2016) 

Em França, tem uma emotiva estátua em sua honra, país onde a respectiva Filatelia lhe editou um selo em 1994.

Nosso reconhecimento a António Lança Guerreiro pelo apoio gentilmente prestado.
LB

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

BREVES (47)

REDISTRIBUIÇÃO DO VOLUME 5 DE VALÉRIAN
No quinto volume da colecção Valérian, editada pela Leya, foi detectado um desacerto na impressão, notório na lombada.
Embora alheia a esta falha, a Leya/Asa, por uma questão de qualidade e respeito para com os seus leitores, distribui, a partir de hoje, uma reimpressão deste álbum.
Os leitores que tenham comprado o volume 5, distribuído no passado dia 23 de Agosto, poderão efectuar a troca do mesmo em banca, mediante devolução do álbum mal impresso.
Eis uma excelente iniciativa, que merece todo o nosso aplauso.


CONVERSA(S) SOBRE BANDA DESENHADA
Prosseguem as "Conversa(s) sobre Banda Desenhada", no próximo dia 14 de Outubro, em Cascais, na Biblioteca Municipal de S. Domingos de Rana / Bedeteca José de Matos-Cruz.
"Entre o fascínio e os fanzines" é o tema desta quarta sessão, a tratar pelo especialista número um no assunto, o militante da BD e dos fanzines Geraldes Lino.
Serão abordados os seguintes tópicos: "O fascínio infantil pelas histórias aos quadradinhos das revistas O Mosquito e Diabrete"; "A descoberta dos heróis de papel - Cuto, Tarzan, Príncipe Valente"; "A admiração pelo talento de Eduardo Teixeira Coelho, Jesús Blasco, Burne Hogarth, Harold R. Foster"; "1972 - Primeiro encontro com os fanzines". 
A conversa será moderada por José de Matos-Cruz e terá início às 16:00 horas.
Mais informações podem ser dadas pelo telefone 214815403.


ORIGINAIS DE WINSOR McCAY VISITÁVEIS ATÉ 1 DE OUTUBRO
 Até domingo, 1 de Outubro, pode ainda ser visitada a exposição "Winsor McCay - de Little Nemo au Lusitania", a decorrer no Museu Thomas Henry, em Cherbourg-en-Contentin (França).
Inserida na VIII Bienal da 9ª. Arte daquela cidade, a exposição conta com seis dezenas de originais, bem como arquivos inéditos do extraordinário desenhador que foi Winsor McCay, um dos mais importantes do século passado.
A mostra é comissariada por outros dois gigantes da BD mundial: François Schuiten e Benoît Peeters.




ANIVERSÁRIOS EM OUTUBRO




Dia 02 - Joe Sacco (maltês)
Dia 08 - Yoann (francês)
Dia 10 - José Pires
Dia 12 - Siro (francês)
Dia 16 - José Carlos Fernandes
Dia 21 - Rui Pimentel
Dia 22 - Yuri Jigunov (russo)
Dia 24 - Ziraldo (brasileiro)
Dia 27 - Mauricio de Sousa (brasileiro)
Dia 31 - Claudio Villa (italiano)

domingo, 24 de setembro de 2017

NOVIDADES EDITORIAIS (128)

LA MONTAGNE DES MORTS - Edição Casterman. Segundo a série original “Alix” de Jacques Martin, este sexto tomo da série “Alix Senator”, tem argumento de Valérie Mangin, traço de Thierry Démarez e cores de Jean-Jacques Chagnaud.
A situação está muito complicada para Alix e o seu protegido Khephren, o filho carnal de Enak. Andam pelo Egipto, onde o rebelde filho de Enak procura encontrar uma mágica estátua de Cibele, para se tornar num segundo Alexandre, o Grande, e também, para se curar (provavelmente) da aparente castração que sofreu (no episódio anterior) às mãos de uma sinistra seita religiosa de eunucos.
Enak, por sua vez, banido politicamente na região, só secretamente se encontra com Alix, seu íntimo amigo de sempre.
Neste ambiente escaldante, o povo Siwi é implacável, pois odeia de morte todos os que ocuparam o território que é deles, sejam egípcios, gregos ou romanos...
Para baralhar esta feroz situação, o clero egípcio de Amon, na mais dissimulada acção, pactua com políticos romanos corruptos...
Tudo se vai agravando e o tomo termina com uma situação bem angustiante: Enak acaba de ser cruelmente enterrado vivo pelos siwis...
A ver vamos se se salva e como... lá para o sétimo tomo.


LA NUIT MANGE LE JOUR - Edição Glénat. Maravilhosamente a preto-e-branco, tem argumento de Hubert Boulard e arte gráfica de Paul Burckel.
Obra espantosamente difícil, ferozmente chocante e admirável, que no livro logo indica: “Para pessoas advertidas”... Topam? É pois numa implacável e infernal atmosfera que tudo se desenrola... sem quaisquer contemplações.
No mundo da noite ou das sombras quotidianas das sociedades, na frontal linha homoerótica, desenrola-se todo um ambiente pesado e de quase total sufoco, entre três personagens: o jovem adulto Thomas, o quarentão (provável) de musculado físico Fred e o “fantasma” do belo e pervertido jovem Alex...
Cenas de sexo explícito são constantes, como também as de ternura, bem como eventuais momentos de sadomasoquismo e, até, de intrigantes suspeitas de crimes de morte que ficam apenas no imaginário dos leitores...
Lemos, a propósito deste obra-BD, “La Nuit Mange le Jour” (A Noite Devora - ou Come - o Dia), o seguinte: “Uma exploração sem precedentes nas vertentes obscuras das maneiras de ser da homossexualidade masculina. Um mergulho cativante em toda a sua tensão ao interior dos personagens e dos seus desejos”.
E agora, há que ler esta obra com calma, inteligência e sem preconceitos suspeitos...


KURDY MALLOY ET MAMA OLGA - Edição Dupuis. Autor: Hermann.
Este 35.º álbum da série de culto “Jeremiah”, concebida pelo extraordinário Hermann, traz-nos uma surpresa muito interessante: Jeremiah nunca aparece e toda a história está focada na juventude, ou melhor, no fim da adolescência, de Kurdy Malloy, bem antes de conhecer e de vir a ser amigo inseparável do dito Jeremiah.
Desta vez, Hermann, leva-nos, no seu estilo belo e implacável, a conhecer os primeiros tempos de notabilidade do desbragado e simpático Kurdy. E a imensa Olga, de físico, idade e astúcia, vai ajudar Kurdy a tentar salvar o seu amigo Chorizo, que está internado (ou prisioneiro?) num bizarro, intragável e desumano “campo de reabilitação”...
Mas o melhor, ò bedéfilos, é ler e apreciar este belo álbum.
LB

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS - ARTE COM MUITA OFICINA (5)

Por: José Ruy

Continuando na análise da estrutura das páginas, imposta pelas agências norte-americanas, vejamos como também outros autores se sujeitaram a esta norma.

Don Moore que continuou a série «Flash Gordon» criada por Alex Raymond, foi um deles. O esquema da estrutura das vinhetas para permitir uma diferente arrumação das páginas dos diversos jornais mantém-se, como vimos nos exemplos mostrados nos posts anteriores.

A série «Litle Iodine» de autoria de Jimmy Hatló, também obedecia à regra, embora com outro esquema. A distribuição das vinhetas permitia assim duas arrumações em jornais diferentes.

No caso da Série «Perry Mason», mesmo com diferença na quantidade de vinhetas utilizadas pelo autor, a distribuição destas é idêntica. Era levada em linha de conta a possível arrumação com que alguns jornais de outras Cidades as quisessem publicar. O tamanho dos jornais era idêntico, o modo como paginavam as histórias nas suas páginas é que variava.

«Snuffy Smith», desenhado por Fred Lasswel com texto de Barney Google, era uma série muito popular, também obedecendo ao estipulado quanto à estrutura das vinhetas.

Estas histórias viviam das muitas publicações nos diversos jornais, pois os direitos por cada inserção eram baixos. Explicou-me o Mestre Rodrigues Alves que a tabela de direitos era igual para todos os autores. Os que se tornavam mais requisitados ganhavam mais devido a essa maior quantidade de publicações.

Nota: O próximo post é dedicado ao autor Harold Foster, que se isolou das regras que temos estado a apresentar, e por isso viu o seu trabalho penalizado em algumas publicações.


(continua)

sábado, 16 de setembro de 2017

OBRAS RARAS (10)

Leo (1944)
GANDHI - Com edição Astrapi e autoria de Leo (aliás, Luís Eduardo Oliveira), este álbum, “Gandhi, le Pélerin de la Paix”, foi editado em França em 1989. Tem argumento de Benoît Marchon.
Da parte dos autores, é uma bela homenagem a uma das mais gratas figuras do século XX: o advogado, político e filósofo pacifista, o indiano Mohandas Karamchand Gandhi (1869-1914), mais conhecido por Mahatma Gandhi.
Estudou em Inglaterra e viveu vários anos, bem conturbados, na que é hoje a Republica da África do Sul, onde foi preso diversas vezes. Enquanto encarcerado, travou correspondência com o escritor russo Leon Tolstoi, que muito admirava.
As suas ideias galvanizaram os povos indo-paquistaneses que eram “amaldiçoados” pelos colonialistas ingleses.
Por cinco vezes, foi candidato ao Prémio Nobel da Paz, que nunca recebeu.
Foi assassinado a tiro, em Nova Deli, a 13 de Janeiro de 1948, por Nathuram Godse, um fanático um tanto tresloucado.
Em 1982, Richard Attenborough realizou o belíssimo filme “Gandhi” com Sir Ben Kingsley a interpretar magnificamente o personagem principal.
Uma famosa frase de Gandhi: “Olho por olho, e o mundo acabará cego”.


Tom of Finland
(1920-1991)
KAKE - Com edição Taschen, em 2008 foi editado este respeitável volume que reúne o fundamental da principal obra - a série “Kake” - do finlandês Touko Valio Laaaksonen (1920-1991), mais célebre pelo seu pseudónimo, Tom of Finland: 
“The Complete Kake Comics”. 
Tom, homossexual assumidíssimo, na sua obra, choca e chocará as mentes falsas e/ou mal formadas. Mas é isso mesmo que Tom quis: denunciar as hipocrisias, sobretudo as sexuais. Escabroso?... De modo algum! Exagerado, isso talvez...
Não se esqueça que através da sua arrojada obra, há sempre a linha do seu aguçado sarcasmo.
Tinha um estranho fascínio contraditório: tanto adorava as fardas, como elas lhe causavam uma bizarra repulsa!... Isto percebe-se bem em “Kake”.
Em 1979, Tom fundou a Sociedade Tom of Finland, para juntar e comercializar a sua obra. Esta sociedade continua e evoluiu para uma fundação sem fins lucrativos, orientada para a conservação e exposição de obras de arte homoeróticas.
Em 2017, o cineasta finlandês Dome Karukoski, realizou a longa-metragem “Tom of Finland”, supostamente biográfica, com o actor Pekka Strang no principal papel. No entanto, o filme terá desiludido a Crítica, que o considerou demasiado “conservador” e “inofensivo”...



Jijé (1914-1980)
DON  BOSCO - Belíssima criação de mestre Jijé, esta obra teve a sua primeira edição em 1950, pelas belgas Éditions Dupuis. Em 2015 ou 2016, as Editions du Triomphe reeditaram esta obra.
Italiano, Giovanni Melchior Bosco, dito Don Bosco e santo pela Igreja Católica desde Abril de 1934, nasceu em Castelnuovo d’Asti a 16 de Agosto de 1815 e faleceu em Turim, a 31 de Janeiro de 1888. É o padroeiro dos  editores, dos aprendizes e dos prestiditadores.
Dedicou a sua vida à educação de jovens desfavorecidos e fundou em 1850 a Sociedade de S.Francisco de Sales, mais conhecida como a Ordem dos Salesianos.
Sempre sofredor pelas misérias materiais e espirituais, foi um educador exemplar.
O seu nome, através do mundo, foi dado a ruas, escolas e igrejas, sendo também um dos padroeiros de Brasília, a capital do Brasil.
O Cinema já efectuou três filmes sobre a sua vida e obra: em 1988, com realização de Leandro Castellani e o actor Ben Gazzara; em 2004, a mini-série dirigida por Ludovico Gasparini, com o actor Flavio Insinna; e, em 2012, com realização de Jean-Michel Irsch, no Cinema de Animação.
LB