Foi com os livros de Emilio Salgari e os de Júlio Verne que tive o meu primeiro contacto com a literatura juvenil, era eu rapazinho. Por isso, quando a Europa-América resolveu adquirir os direitos de publicação das aventuras de Sandokan, foi para mim um reviver da infância. Desta vez, era o texto integral, pois os livros da «Romano Torres Editor» eram resumos, para tornar a leitura mais acessível à juventude da época.
Empenhei-me nessa coleção e realizei capas que liguei à contracapa passando também pela lombada.
Tinha uma ajudante que se encarregava dos acabamentos de letragem e arranjos gráficos.
Só com uma grande organização e distribuição do tempo era possível dar resposta a esta solicitação, sem horas extraordinárias, que estipulara quando da minha entrada na editora, pois precisava desse tempo para realizar as minhas Histórias em Quadrinhos.
Nunca usei tipos convencionais para os títulos, o que outras editoras utilizavam, para criar uma personalidade nas edições, e por isso era tudo desenhado. O mesmo para o «Sandokan».
Cada volume tinha cerca de 170 páginas, com letra em corpo 9, por isso eram volumes compactos. Para amenizar a leitura, o Lyon de Castro, filho do editor, alvitrou-me fazer algumas ilustrações. Isso ultrapassava o limite disponível de tempo, mas agarrei a ideia e resolvi fazer uns desenhos muito rápidos a lápis, com meias-tintas, e reproduzi-los mesmo assim para poupar tempo de cobrir a tinta.
Esta composição aproveitei-a de um pormenor da contracapa. |
Este é um dos cinco desenhos que fiz a lápis. |
Se fosse reproduzido em Offset, como muitos dos outros livros, resultaria bem. Mas o interior foi composto e impresso numa tipografia do Norte do país e os bonecos foram reproduzidos em fotogravura. O papel era de fraca qualidade, com alguma transparência, e o efeito que idealizara perdeu-se. A trama na fotogravura mantém ponto mesmo nos brancos da imagem, ao inverso do Offset que deixa essa claridade aberta. Isso deu um «fosco» geral nas ilustrações, como podem ver.
Durante o decorrer destas capas e ilustrações, aconteceu um episódio inusitado, que contarei no próximo post do BDBDBlogue...
Nota do BDBD: E pronto... terminam aqui - abruptamente - os artigos de José Ruy, que tivemos a sorte e o privilégio de ir regularmente publicando no blogue ao longo dos últimos oito anos (desde 24.10.2014).
José Ruy, nosso queridíssimo Amigo, partiu para a sua última viagem, deixando-nos (tal como a esta série de artigos) com tanta coisa ainda por contar e por dizer... Mas todos sabemos que é assim a lei da vida.
Apenas nos resta celebrar a sua prolífica e brilhante obra, estarmos gratos pela oportunidade que nos deu de partilhar connosco tanto conhecimento, e recordar os muitos e bons momentos que passámos juntos.
Obrigado por tudo, José Ruy! Até um dia!
E assim, deixando-nos na expectativa do "próximo número" nos deixou o grande José Ruy. Quem se lembra de que começou a escrever sobre os bastidores da BD portuguesa no saudoso "Mundo de Aventuras" com as suas "Recordações de Tertúlia" - neste caso direccionadas ao seu convívio com ETC ?
ResponderEliminarE os que tiveram a sorte de ler as suas memórias, que disponibilizou a vários amigos a título particular, não podem senão ficar ainda mais admiradores do homem e da obra que nos deixou o mês passado. Que não se percam no esquecimento e que fiquem como testemunho da vida de um grande da BD.
É verdade, caro "anónimo" (que pena não assinar o seu testemunho...).
EliminarJosé Ruy, além de desenhar, escrevia também muito bem e deixou-nos inúmeras memórias sobre a sua vida e obra. Terá sido um dos últimos a contar-nos episódios absolutamente desconhecidos que ocorreram em redações de revistas como "O Mosquito" ou o "Cavaleiro Andante". Também nesta área lhe ficaremos a dever muito. Saudações. Carlos Rico