domingo, 4 de dezembro de 2022

NO ESVAZIAMENTO DA GRANDE GERAÇÃO...


No passado dia 23 de Novembro, mestre José Ruy deixou-nos fisicamente aumentando assim, e para nossa mágoa, a lista do esvaziamento da geração de oiro dos desenhistas portugueses.
José Ruy Matias Pinto, nascido e falecido na Amadora, tinha 92 anos e era o decano dos nossos tão admiráveis desenhistas. E um grande amigo também!
Incansável e sempre extraordinariamente activo, é já neste 2022 que um súbito problema oncológico o arrastou para a viagem sem regresso que deixou uma grande tristeza em todos os que, ao longo do tempo, com ele privaram.
Nunca gostei dos números pares, e muito menos do número 2. E neste ano par e terminado em 2, já antes, a 15 de Julho, outro grande desenhista, José Pires, também nos deixou. Cruel e abominável senda esta do destino de cada um!... 
Há já  mais de uma dezena de altos valores desta geração de desenhistas portugueses inscritos neste ignóbil esvaziamento, como: Fernando Bento, Vítor Péon, Eduardo Teixeira Coelho, Fernandes Silva, Artur Correia, Bixa, Jobat, José Antunes, José Garcês, José Manuel Soares, André, Carlos Alberto, Manuela Torres, etc., ao qual, neste ano, se juntaram José Pires e José Ruy.
Pela casa dos oitenta estão agora (pelo menos) e por ordem de idades: Eugénio Silva (que ascende a decano), Carlos Baptista Mendes, Augusto Trigo, Victor Mesquita e Vassalo de Miranda.
José Ruy foi homenageado, ao menos, em salões-BD da Sobreda, Moura, Amadora, Beja e Viseu.
Muita obra de José Ruy ficou por se editar (mas irão saindo...), como "Lendas Japonesas" (em versão integral e segundo Wenceslau de Moraes), "Os Templários" (inédito) e ainda, inédito e incompleto, "David Melgueiro" (o último navegador português). Salienta-se na sua imensa e valorosa obra, as que ele adaptou, com talento e coragem, com textos de Gil Vicente, Luiz de Camões, Fernão Mendes Pinto, Alexandre Herculano e Alves Redol.
Os Artistas de todos os ramos, os Escritores e os Filósofos, jamais deveriam morrer. São os autênticos e únicos heróis da nossa Cultura, pois sem ela somos país perdido!
Paz à sua alma, estimado José Ruy!
LB
Eu e José Ruy em Viseu (2016)

3 comentários:

  1. Desculpem-me os mencionados vivos, mas o Mestre José Ruy é o último a entrar no Panteão da Era Dourada da BD Portuguesa (anos 50,60). Incansável do seu trabalho, duma arte própria e reconhecível, sempre me pareceu uma pessoa comunicativa de fácil trato e com uma enorme paixão pela(s) sua(s) arte(s). Desejo que Amadora (Cidade e Cidadãos) fique zeladora da sua herança e prestem uma merecida Honra a um dos seus. Anseio pela merecida publicação do "Lendas Japonesas" e parabéns à Âncora pela nova reedição dos "Lusíadas".

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  2. Já de si em decadência, a BD Portuguesa vai perdendo os seus melhores autores. José Ruy é um deles. Incansável, persistente, verdadeiro artífice do desenho e da pintura, possui uma obra notável, a qual nem toda se encontra publicada, isto devido à fraca apetência dos leitores do género (a que os ministérios da Educação não são alheios), ao legítimo receio dos editores no risco das edições e do desprezo total dos meios de comunicação (maxime os televisivos) pela divulgação da arte mais antiga da Humanidade - basta lembrarmos que o desenho precede a escrita e há "bibliotecas" de banda desenhada nas cavernas pré-históricas, designadamente em Lascaux( França), Altamira (Espanha), Foz Côa (Portugal), entre outras.
    José Ruy fez o seu trabalho, preencheu este importante espaço na arte de comunicar em Portugal (e em português), a lei da vida recolheu-o e retira-nos um dos melhores autores da actualidade.
    Obrigado para sempre, José Ruy. Que este seja o teu descanso eterno e que nunca sejas esquecido, porque a tua obra perdura para além da morte. O teu exemplo de Homem, de Dignidade, de Autenticidade e de Bonomia, ninguém que privou contigo o irá esquecer.

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  3. Infelizmente, hoje, as pessoas têm as mãos ocupadas com telemóveis. Gastar tinta em paredes é fácil; agora pensar e ter arte para passar para BD dá muito trabalho.
    E para interpretá-la e admirá-la também é preciso pensar.

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