9) A ARTE GRÁFICA E AS ILUSTRAÇÕES
Embora o processo que apresentei no artigo anterior, de usar
papel «Fabriano» e lápis litográfico para fazer a cor sobre os desenhos, de
modo que resultasse com o aspeto de meias-tintas, mesmo em zincogravura, pensei
arranjar um outro mais prático e que pudesse também ser utilizado facilmente
pelos colegas. Pedi para que na União Gráfica fizessem uma zincogravura de uma
trama, como se pode ver na imagem, e tirassem provas de prelo em papel
acetinado mas fino. As provas tinham o formato das tiras dos nossos originais que
executávamos em tamanho grande. O ponto desta trama reduziria conjuntamente com
o desenho dando então uma tonalidade cerca de 30% da intensidade da cor forte.
Sobre
os originais a traço depois de desenhados a tinta-da-china sobrepunha essas
tiras, e à transparência,
tapava com guacho branco as zonas que queria ficassem brancas, sem trama, e com
tinta-da-china pintava o que desejava ficasse em cor forte. Veja-se o exemplo
em baixo, os desenhos do traço e da cor, prontos a serem reproduzidos em zincogravura.
Quando os desenhos eram reduzidos para o tamanho em que iam ser impressos na revista, a trama apertava, apresentando à vista o aspeto de meio-tom como se pode observar em baixo, à esquerda.
Esta personagem
«Ventoinha» representava um jovem jornalista que sofria toda a espécie de azares.
Por exemplo, quando ia ver o resultado das fotografias tiradas, verificava que
se tinha esquecido de meter o rolo na máquina, e coisas assim.
Quando os desenhos eram reduzidos para o tamanho em que iam ser impressos na revista, a trama apertava, apresentando à vista o aspeto de meio-tom como se pode observar em baixo, à esquerda.
Mas foi apenas o Vítor Silva quem também utilizou este
meu processo, pois sendo igualmente um profissional gráfico reconheceu a
vantagem da inovação. A arte gráfica tem em tudo o que fazemos para reproduzir,
uma notória importância no efeito que pretendemos conseguir no final do
trabalho, ao ser impresso.
Esta nova redação d’O Papagaio/Flama passou a ter outra
vida, com mais movimento, com a presença de outros colaboradores da revista
mãe, e entre eles destaco o Neves de Sousa, um jovem a formar-se em jornalismo,
muito magro (sublinho isto porque depois deitou muito corpo) e que estava
sempre com pressa, a correr de um lado para o outro. Simpaticamente o Carlos
Cascais alcunhou-o de «Ventoinha». Ele sabia mas não se importava e até achava
graça. Criei então uma personagem com esse nome, que entrou em algumas
histórias publicadas n’O Papagaio.
Nessa altura publiquei uma série de pequenas histórias em
que o cenário escolhido foi o território português.
Continuávamos, os colaboradores, sem ter qualquer
imposição de temas nem alteração ao que apresentávamos. O clima era saudável e
gostavam do nosso trabalho pois íamos evoluindo. O Carlos Cascais, poeta e
escritor, colaborava com poemas e contos que ilustrávamos.
A última história dessa série que publiquei foi um pouco
mais longa do que as outras, e viria a ser mesmo a derradeira neste suplemento.
Foi com o semblante fechado que o Carlos Cascais, num dia triste, nos transmitiu uma notícia que recebera da administração: tinham decidido
acabar com o suplemento infantil. Achavam que não se justificava mantê-lo pois não tinham
qualquer indício de interesse vindo do público.
Era natural, uma vez que não havia uma secção de correio
dos leitores dando-lhes a possibilidade de colocarem questões, justificando
respostas e estabelecendo o diálogo.
Estávamos no início da década de 50 do século XX quando «O
Papagaio» deixou de «palrar». Dizia-nos o Frei Diogo depois dessa decisão que não
tinham recebido uma única carta a perguntar o motivo de terem acabado com o
suplemento, nem a demonstrar terem sentido a sua falta. O Vítor Silva ainda
se manteve algum tempo a ilustrar contos e novelas para a "Flama".
(Continua)
No próximo artigo: A REDAÇÃO DE "O CAVALEIRO ANDANTE"
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