quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

ILUSTRAÇÕES E HISTÓRIAS EM QUADRINHOS por José Ruy (8)

Pois caros leitores, irei continuar a contar a história deste livro, ou melhor, a história que envolveu as suas ilustrações.

A ALDA Editores planeara que a capa fosse o aproveitamento de uma das ilustrações do interior do livro e esse foi o motivo, como já contei, do conflito com o meu antecessor, pois o contrato era explícito nesse sentido, e à semelhança de casos como este, sendo a ilustração a preto e branco era preciso colori-la para figurar na capa.
À última hora o desenhador exigiu que esse aproveitamento fosse pago aparte.
A conceção do arranjo para a coleção, foi da responsabilidade de uma operadora gráfica, que adaptou o boneco à estrutura já delineada.

Foi um esforço grande fazer as 15 ilustrações em tão curto espaço de tempo, para que o livro pudesse estar pronto em finais de outubro, e muito à justa para a distribuição que precisa ser feita em novembro, porque as livrarias precisam dos livros para o Natal ainda nesse mês ou em princípios de dezembro.
Já mostrei dois desses desenhos no artigo anterior. Seguem agora mais uns.
Estas ilustrações representam Hércules em bebé, ao ser atacado no berço onde estava com seu irmão, por duas serpentes; quando Anfitrião vem em seu socorro, Hércules havia já dado conta dos répteis. Depois, Hércules exibe a sua musculatura, e a terceira imagem mostra a batalha que travou com Ergino, de que saiu vencedor.

Aqui, temos Hércules a libertar Prometeu do seu suplício, em que um abutre lhe devora permanentemente o fígado. A seguir Hércules é possuído pelas fúrias, e na outra ilustração vê-se Anfitrião a libertar Alemena, sua esposa, da sentença de ser queimada viva.


Este desenho mostra Zeus a aniquilar Tifon, o monstro.

Mas esta ilustração de Hércules a chegar à Cidade de Micenas e a atravessar o gigantesco pórtico, também tem uma história.
Em praticamente todas as edições sobre História de Arte, este monumento vem mencionado como «porta das leoas». E no texto do livro também é assim chamada.

O pórtico chegou aos nossos dias amputado, os felídeos foram decapitados e a parte superior desapareceu. Então os especialistas resolveram identificar as feras como leoas.

Nesta foto pode ver-se o pormenor e o aspeto do conjunto da porta, em cima à esquerda. Mas eu estive em Micenas, passei esta porta e estive a observa-la bem, como faço em todas as viagens. Conheço a anatomia dos leões e das leoas e conclui que a escultura representa dois leões, e não as suas fêmeas. Na parte de cima do dorso, ainda visível, há um volume que não tenho dúvida ser a juba, pois as leoas têm outra forma de corpo.
Preveni a autora, Adriana Freire Nogueira que «devia» alterar o texto. Mas aí levantou-se um pequeno problema, ela tinha já consultado o seu antigo professor de História que lhe afirmou «serem leoas». E não se atrevia a contraria-lo. Mas eu ia fazer a reconstituição com leões. Pela minha parte troquei impressões com o Eduardo Teixeira Coelho que confirmou a minha tese. Então, para não haver uma discrepância entre o que vinha no texto em relação ao desenho, a editora resolveu colocar a legenda que podem ler, em que a reconstituição fantasiosa é da minha responsabilidade.
Passados estes anos, se procurarmos na Wikipédia, esta porta vem já batizada como «dos leões». Mais alguém de peso viu o mesmo que eu.

E ficam ainda mais umas ilustrações deste livro para mostrar, e também por contar a situação rocambolesca em que a editora se viu processada em tribunal pelo primeiro ilustrador, cabendo-me ir definir o que estava em causa para se decidir da verdade.
Mas isso fica para o próximo artigo, onde começarei já a mostrar outro livro.
Boa leitura, com saúde.

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