sábado, 20 de outubro de 2012

ENTREVISTAS (4) - JOÃO AMARAL E MIGUEL PERES

João Amaral (Jhion) e Miguel Peres
São de gerações diferentes, combinaram, acertaram, fizeram parceria e daí, resultou um belo e bem aconselhável álbum, "Cinzas da Revolta", do qual falaremos em breve de um modo mais específico.
O desenhista é o João Amaral, que agora prefere ser designado por Jhion (?!...). Nasceu em Lisboa a 14 de Novembro de 1966. Tem quatro álbuns publicados, para além de ter participado no colectivo dedicado a Vasco Granja.
O argumentista é Miguel Peres, que nasceu em Setúbal a 17 de Janeiro de 1987. Tem feito argumentos para histórias curtas, mas agora arrojou-se (e bem !) para uma "longa-metragem".
Claro que este facto justificou a entrevista que se segue, ocasionada numa esplanada e num encalorado sábado, num largo bem histórico de Lisboa. 
E o "Jhion" que nos perdoe, mas indicamos as suas respostas com as iniciais da sua "assinatura" mais conhecida...

BDBD - Como surgiu a ideia de trabalharem juntos?
Miguel Peres (MP) - Inicialmente, tinha uma ideia para uma história de ficção científica e andava à procura de desenhistas portugueses... Deparei com os desenhos do João no seu blog... Desafiei-o, mas o João estava com outros trabalhos e a coisa não deu. Mas ficámos sempre em contacto.
João Amaral (JA) - E foi a minha vez de abordar mais directamente o Miguel, que me disse então que tinha uma nova ideia para um enredo que se passava na guerra colonial em Angola... Sendo eu um desenhador que gosta muito de grandes cenários e que há muito pouca coisa na nossa BD sobre a guerra colonial, manifestei-lhe logo o meu entusiasmo.
BDBD - Portanto, o tema de "Cinzas da Revolta", é a guerra colonial em Angola?
MP - Exactamente.
JA - Mas, atenção, é uma história de ficção.
MP - O contexto histórico é real, mas a história em si, é ficção.
JA - Acho que o álbum, fundamentalmente, foca a estupidez que é a guerra. E poderia passar-se em qualquer guerra. Mas focámos a nossa guerra colonial em Angola, porque é muito recente e é uma ferida que nos toca muito, aos portugueses.
MP - A ideia inicial que eu queria explorar era focar como é que alguém funciona quando passa a pensar segundo as teorias do inimigo ou do adversário... Acabou por resultar mais na denúncia da estupidez da guerra, de qualquer guerra.
BDBD - E depois desta primeira experiência, vão continuar com a vossa parceria?
JA - Gostei muito de trabalhar com o Miguel. Mas para já, tenho outros projectos para avançar e, no futuro, espero voltar a trabalhar com o Miguel, talvez mesmo, arriscando-me pela ficção científica, que não é muito o meu género.
MP - Também gostei muito de trabalhar com o João, que é extremamente profissional. Foi óptimo para eu aprender...
JA - E eu aprender também. Aliás, entre guionista e desenhista, deve haver sempre uma química de apoio e de cumplicidade.

"Cinzas da Revolta" teve apresentação pública ontem, dia 19, na Livraria Leya na Buchholz, em Lisboa. Falaremos dele muito em breve.


Prancha 2 


Prancha 17


Prancha 26

10 comentários:

  1. Sempre muito oportuno chamar a atenção para a estupidez que é e guerra, qualquer guerra. E tão atual que é... "pensar segundo as teorias do inimigo ou do adversário" é muitas vezes uma forma de estar que se reflete em pequenas coisas do dia a dia e que chega a estas enormidades. Parabéns!

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  2. E convém sempre chamar também a atenção a idiotice que é escrever com um acordo ortográfico impingido a todos nós portugueses pelos asnos dos nossos governantes – muitos dos quais nem devem saber distinguir a mão esquerda da direita. Claro que haverá sempre muitas Cristinas Ribas neste Portugal prontas a acatarem coisas que não percebem nem dominam. tristeza...

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  3. Haverá alguma razão/justificação que me terá passado despercebida quanto ao facto das entrevistas serem tão curtas? É que se começa e tem-se vontade de mais. Ou será apenas um "aperitivo" para espicaçar a curiosidade do leitor levando-o a pesquisar sobre o/s autor/es? Continuem, por favor. Um forte abraço.

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    1. Caro Carlos Rocha
      Como já tenho respondido a outros gratos visitantes do BDBD, o tamanho das entrevistas depende muito de várias circunstâncias, por isso, umas são maiores e outras não. O que se publica, é o essencial da razão porque se fez essa pequena conversa...
      Um abraço
      Luiz Beira

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  4. Bom, eu tomei contacto com o àlbum na "FNAC" do Chiado, por mera casualidade, já que por lá passei para dar uma vista de olhos às novidades... Não posso dizer que fiquei radiante com o que vi; pergunto-me é como é que alguém consegue conceber um álbum de Banda Desenhada tão profundamente imperfeito?!... Na realidade levar por diante um projecto destes não é "pera doce", já que é preciso muito trabalho, dedicação e acima de tudo um profundo conhecimento de Desenho, Perspectiva, Enquadramento, algumas noções de Estética e Bom gosto e, acima de tudo, uma dose suplementar de Espírito Criativo... E onde é que estão todas estas necessárias qualidades gráficas?... E não houve ninguém que por acaso dissesse ao Autor: "Olhe, tenha atenção à perspectiva - há por aí muitos erros; olhe, tenha atenção à proporcionalidade das figuras - há por aí demasiados erros; Olhe, tenha atenção... ao que faz, porque com este nível gráfico, ou muito me engano, ou ainda vai ter muito trabalhinho pela frente - isto se quiser ter algum sucesso em B.D.!... E quanto ao Argumento?... Bom, com um grafismo/desenhos destes... não consegui chegar lá! E então a Editora (I)Responsável, foi de férias, ou optou pela frase " Em tempo de crise... vale tudo!" Lamento, mas quem não sabe ou não quer ser lobo é melhor não lhe vestir a pele...

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    1. Caro “Anónimo”:
      A sua opinião é tão válida como qualquer outra. Em todo o caso, é de lamentar que se escude no anonimato para criticar o trabalho do João Amaral. Sugiro que assuma a sua identidade e faça os seus comentários directamente no blogue do João. É muito mais correcto e assim o autor terá oportunidade de se defender e, eventualmente, contra-argumentar as suas opiniões.
      Saudações bedéfilas
      Carlos Rico

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  5. Todos temos sempre o direito à nossa opinião, à nossa forma de pensar e a diferença pode enriquecer-nos, desinstalar-nos, e fazer-nos ir mais além; mas usar o anonimato para denegrir os outros e para fazer críticas destrutivas, não me parece muito correto. O João Amaral tem vindo a fazer um percurso enquanto autodidata, que considero muito válido. Irá decerto continuar a fazê-lo e nesta linha aceitará com certeza sugestões e críticas, como qualquer bom profissional, como qualquer pessoa que não se contenta com o que já tem; e é exatamente por isso que as críticas destrutivas, sem que, ainda por cima se tenha a coragem de dar a cara, são dispensáveis...

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    1. Cara Cristina Ribas:
      Estou perfeitamente de acordo com o seu comentário.
      Já agora, aproveito para dizer que este trabalho do João está a ser alvo de alguma chacota no facebook (incluindo de alguns “colegas” de profissão), o que considero absolutamente lamentável. Por muito mau que o trabalho de um autor seja, julga-lo e achincalha-lo na praça pública é das coisas mais baixas que se podem fazer. O João Amaral e o Miguel Peres são dois jovens autores que (como qualquer autor) dispensam, certamente, a crítica destrutiva. De bom grado acolherão uma crítica leal e construtiva, que originará, concerteza, melhores frutos em trabalhos futuros.
      Saudações bedéfilas.
      Carlos Rico

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  6. Caro Carlos Rico,
    obrigada pelo comentário.
    Não fui ao lançamento do livro porque não consegui mas já o tenho e já o li e gostei bastante. Tanto o João como o Miguel estão de Parabéns. Um livro muito atual no seu tema, utilizando a História de Portugal, mas parece que a sua mensagem principal - a de que toda a guerra é estúpida, não foi captada por algumas pessoas já que, afinal, este tipo de atitude é, em meu entender, uma forma de fazer guerra. Não sabia da chacota e lamento imenso.

    Para uma pessoa ou um profissional se distinguir, não precisa denegrir os outros, muito pelo contrário, as pessoas grandes fazem sempre questão de encontrar e realçar as qualidades e aspetos positivos dos outros e estimulá-los. E fazem-no naturalmente, não de forma fingida, fazem-no porque são grandes, e mesmo que haja alguma coisa a dizer que possa ser um reparo ou crítica, ou seja o que for, fazem de forma construtiva e, em alguns casos, até em privado.

    Espero que o João, que sabe o que quer e que é determinado, que tem valores muito consistentes e bem alicerçados, não se deixe abater por isso e continue o seu percurso.
    Agradeço e retribuo as saudações bedéfilas
    Cristina Ribas

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