quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

ILUSTRAÇÕES E HISTÓRIAS EM QUADRINHOS por José Ruy (7)

Pois como prometido, aqui estou a mostrar mais um livro que ilustrei, sem ser em «quadrinhos», vulgo «BD».
Estava na altura a trabalhar no Diário de Notícias, quando o Arquiteto Júlio Gil, que conhecia desde as «Edição O Mosquito» quando fazíamos o jornal «Camarada», me convidou para ilustrar um livro editado pelo Ministério da Educação. O Júlio Gil era o chefe da sala de desenho do DN.
A iniciativa era curiosa e pedagógica; publicavam em pequenos livros no formato de bolso, excertos de grandes obras literárias, resumindo-as, permitindo assim que pessoas pouco dadas à leitura, pudessem ficar a conhece-las, embora de uma maneira transversal.
Chamaram à iniciativa «Campanha Nacional de Educação de Adultos». Conheci muitos desses leitores, que não tendo capacidade para ler do princípio ao fim «Os Maias» de Eça de Queirós, por exemplo, ou a «Crónica de Fernão Lopes», ficaram a conhecer o conteúdo dessas «difíceis» obras.

No entanto não guardei alguns dos livros que ilustrei, tal como os desta coleção. Foi por mão amiga que consegui mais tarde este exemplar, curiosamente com carimbo do Clube Rio de Janeiro na página de rosto. Por certo alguém o requisitou, não o devolveu indo parar a um alfarrabista, onde o meu amigo o encontrou para me oferecer.

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Um salto no tempo, até outubro de 1997. Estava a decorrer o 7.º Festival BD da Amadora quando fui abordado, numa das exposições onde me encontrava, por uma Senhora que apelava para que a ajudasse. Era a proprietária da «Alda Editores», Helena Ramos.
Fiquei na espectativa e curioso, como a poderia ajudar, e em quê?
Explicou-me então que tinha um livro para sair no Natal, já em oficina, mas que o autor das ilustrações entrara à última hora em conflito, pois ignorando o contrato assinado, exigia um pagamento extra pela utilização de uma das ilustrações para figurar como capa, o que acordara antes.
Além disso, explicou a Senhora, não gostar dos desenhos, embora se tratasse de um recém-formado das Belas Artes. Mostrou-me os originais que logo identifiquei como sendo xeroxes com o traço a ser formado por toner, o que prejudicaria a reprodução.
O livro estava já com o texto paginado na gráfica, que esperava a todo o momento as gravuras.
A editora rompeu com o ilustrador, e entretanto, alguém lhe havia indicado a minha pessoa como certa para salvar a situação.

Verificando com mais atenção os pretensos «originais», notei que haviam sido sobrepostos remendos a emendar algumas partes do desenho e por isso as fotocópias para conseguir uma prova que ele pensava ficar «limpa». Como as emendas teriam sido várias, eram fotocópias sobre fotocópias e o recorte do traço ficou transformado num pontilhado irregular.
Além disso o desenho deixava muito a desejar, principalmente os cavalos e os outros animais.
Ora entre autor e editor existe um código de honra, «nunca deixar pendurada uma obra em fase de impressão», principalmente numa época como a que nos encontrávamos, próxima ao Natal.
Fiz um esforço e executei o melhor que pude as 15 ilustrações no tempo record que se impunha. Naturalmente que as zonas escolhidas no texto do livro para os desenhos não podiam ser alteradas, pois já estava tudo paginado. Por isso tive de desenhar os mesmos temas, procurando faze-lo de maneira totalmente diferente do primeiro ilustrador o que, sem falsa modéstia, não foi difícil.
O primeiro ilustrador, que contava pressionar a editora devido à situação de urgência, ficou perplexo quando viu as novas ilustrações, e processou a Alda Editores dizendo-se ser, por contrato, o autor legal. Uma causa perdida, mas que não deixou de trazer stress, principalmente à editora, pela situação insólita.
Mas o seguimento desta aventura, em paralelo com as de Hércules, contarei no próximo artigo.
Até lá, boa leitura em quadrinhos.

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