sábado, 7 de outubro de 2017

ENTREVISTAS (25) - SANTOS COSTA

Santos Costa, em Agosto de 2017
Veterano da nossa Banda Desenhada, Santos Costa (aliás, Fernando Jorge dos Santos Costa), nasceu em Lisboa a 14 de Fevereiro de 1951, residindo há muitos anos em Trancoso.
Bem raros são os nossos desenhistas veteranos que têm as suas energias criativas ao rubro e não pausam algum tempo. Salientamos nesta louvável raridade, José Ruy e Santos Costa e, até certo ponto, José Pires. Alguns, por razões de saúde, foram “forçados” a abdicar. Outros, não produzem por falta de desafios editoriais e outros ainda, por caprichosa preguiça...
Mas hoje, a conversa é com Santos Costa, que tem um currículo invejável e monumental. É tanto e tanto, que sou obrigado a resumir esta apresentação.
Do anterior dia-a-dia, é aposentado da função pública. Safa, que isso já lá vai!... Mas, porém, todavia, contudo... sempre se dedicou intensamente a vertentes culturais: editor, escritor, ilustrador, jornalista, cartunista, sendo sobretudo um apaixonado criador da 9.ª Arte.
Foi marcante a sua colaboração como desenhista, nos periódicos “O Crime” (donde todas estas “estórias” bem mereciam ser compiladas em um ou dois álbuns...) e
“Mundo de Aventuras”.
Prancha de "O Atentado a Salazar", por Santos Costa, publicada no jornal "O Crime"

Capa e prancha de "O Atentado a Salazar", história publicada no jornal "O Crime",
que o autor reeditou em forma de caderno, com ajustes na montagem das vinhetas,
numa tiragem limitada de 100 exemplares só para amigos.

Tem álbuns editados por diversas Câmaras Municipais de regiões beirãs, como Trancoso, Lamego, Aguiar da Beira, Guarda, Meda e por aí adiante.
Capa e prancha de "Batalha de Trancoso - VI Centenário"
Edição Câmara Municipal de Trancoso (1985)

Capa e prancha de "Bandarra, Poeta, Profeta e Sapateiro de Trancoso", por Santos Costa,
Edição da Câmara Municipal de Trancoso (1990)

Também escreveu novelas policiais, editadas pela Bertrand.
Como cartunista, salienta-se a sua colaboração no periódico “O Diabo”.
Em intervenções soltas, notifica-se a sua participação no fanzine “Efeméride” de Geraldes Lino e a sua prestação especial neste nosso blogue (“Serpa Pinto”).
"Príncipe Valente em Trancoso no Século XXI", a participação de Santos Costa
no fanzine "Efeméride" #2, editado por Geraldes Lino, em 2007
Pela Rádio, também funcionou na Rádio Altitude da Guarda, nos programas “Diário Almanaque” e “Roteiro do Turista”.
Tem o seu digno blogue, “Bandarra Bandurra”, que vivamente aconselhamos a visitar com frequência.
De outros álbuns editados, demarcam-se: “Os Piratas do Deserto” (Edição Asa), “As Aventuras do Magriço” (já com dois tomos e com edição do autor), “A Viúva do Enforcado (Ed. Época de Ouro / CM do Fundão), “D. Egas Moniz, o Aio (Ed. Época de Ouro / CM de Lamego), “As Bodas de D. Diniz e Isabel de Aragão em Trancoso” (Ed. CM de Trancoso), “Registos Criminais ( Ed. Época de Ouro) e por aí adiante...
Duas pranchas de "D. Egas Moniz, o Aio", por Santos Costa
Edição da Câmara Municipal de Lamego (2003)

Capa e prancha de "Os Piratas do Deserto", adaptação livre da obra de Emílio Salgari,
por Santos Costa. Edição Asa (2012)

Em 2017, na Gala da Revista Anim’Arte/GICAV, de Viseu, recebeu merecidamente o Troféu Anim’arte 2016, na categoria Banda Desenhada.
Fica muita coisa por acrescentar mas opta-se, desde já, para a devida entrevista. Atentem bem nas suas sábias e conscientes respostas:

BDBD - Como surgiu a tua paixão pela Banda Desenhada?
Santos Costa (SC) - Não é paixão, é vício. Quase todas as paixões são falazes, assim como há vícios que se respeitam mais que as virtudes. Descobri muito cedo, mesmo antes de andar na vertical, que as canetas não serviam só para meter na boca e os livros, mesmo já impressos, nunca estavam acabados. Com três ou quatro anos, garatujava nas margens não impressas dos livros do meu pai.

BDBD - Essa paixão era só pela leitura ou também a vontade de a criar?
SC - Talvez seja uma idolatria absurda, mas adoro ler nos dois sentidos: os textos escritos e os desenhos. Talvez por isso eu leia as páginas de BD com muita lentidão. Só no cinema as imagens correm depressa. Na resposta à pergunta eu diria que é por ambas - ler e criar.
Se insistes em chamar paixão, confirmo que a leitura e a vontade de criar são como Romeu e Julieta - vivem inseparáveis.


BDBD - Tens uma invejável e imensa obra, a ponto de alguns álbuns serem “edições de autor”. É complicado um desenhista editar-se no nosso País?
SC - Complicado não é, basta haver vontade e bolsa, pelo que pesa mais a última na vontade de decidir. A auto-edição é uma liberdade impagável, porventura inelutável, mas com os seus riscos. Embora tenha a maioria dos trabalhos editados por outrem - editoras e municípios - sou muito independente e tímido q.b. para evitar bater à aldraba das portas de quem o possa fazer. Sou grosso de feitio e prefiro mourejar a andar de chapéu na mão - até porque não uso chapéu.
No entanto, no meu caso, parece-me que não é isto que me empana a fama.

BDBD - Onde vês algumas soluções para aliviar este “entupimento”, não só para as tuas obras como também para as de diversos colegas teus?
SC - Se eu vislumbrasse soluções, teria aplicado primeiro a receita antes de a divulgar; todavia, presumo que a solução começa nos primeiros anos da escola e nos sequentes onde, efectivamente, há horários para desenho e pouco entusiasmo sobre o mesmo. Há quem culpe as editoras, as distribuidoras e os livreiros da “amputação” das prateleiras da BD, substituindo-as por livros impressos com patacoadas e mexericos, mas julgo que essa culpa é assumida a jusante e nunca a montante. Encontras algum programa, a sério, sobre BD na televisão? Vês lá caras papudas, muitos “com que ursos”, lavagem de roupa suja, choradinhos e crimes de trazer os cabelos em pé, pontapés na bola e na gramática, horas de tédio que não desejo à terceira idade “obrigada” a gramar aquela sopa nas cadeiras dos lares. Se a televisão é imagem, a BD também o é. Uma devia respeitar a outra.
Vejamos: quem é o livreiro que vai empatar uma carga de euros em álbuns e livros que lhe são devolvidos tarde, a más horas e, por vezes, com resquícios de terem sido atropelados por um tractor agrícola? E quem é o distribuidor que calcorreia de Ceca a Meca com o leva e traz sem levantar um milímetro a ponta do gráfico das vendas? Quem é o livreiro que arrisca ocupar prateleiras com obras que não se enquadram nas patacoadas e mexericos (decerto não seriam mais rentáveis a venda de chouriços e presuntos nas arábias), obras cujos autores mais se assemelham a magarefes por se apresentarem com enredos de faca e alguidar.
Procurem solução nas escolas (digo, nas leis que as regem) e nos canais de televisão que não ligam patavina a um programa adequado à disseminação da BD e de outras artes afins (ao menos, um “reality show” onde os “nus” andassem a fingir ler um álbum de banda desenhada, maxime para taparem as “vergonhas”, mas nem isso).

BDBD - Um álbum teu, “As Bodas de D. Diniz e Isabel de Aragão em Trancoso”, tem também edições em castelhano e em inglês. Como foi esta aposta?
SC - Foi graças à visão da Câmara Municipal e da alargada visão cultural de quem a geria. Se um município pretende divulgar o concelho e os seus valores, não deve pensar só nos autóctones. Quem aposta no turismo tem de perceber isso… ou não percebe nada disso.
Os ingleses e os espanhóis são os que mais visitam o burgo. Se a eles acrescessem os japoneses, seria de arregaçar as mangas, virar da direita para a esquerda e colocar a linguagem indígena nipónica nos balões. A isto se chama realmente aposta. E ganha-se.
Capa e prancha de "As Bodas de D. Dinis e Isabel de Aragão em Trancoso",
(aqui na edição portuguesa), Edição CM de Trancoso (2005)

BDBD - Em publicações periódicas, tens maior prestação em “ O Crime” e “Mundo de Aventuras”. Donde guardas melhor satisfação?
SC - Melhor satisfação foi, sem dúvida, a do “Mundo de Aventuras”, até porque este era então gerido por uma figura incontornável e irrepetível da BD nacional naquele sector, que é o Jorge Magalhães. Ele teve a ideia de abrir as páginas de uma revista conceituada aos mais novos, aos diletantes, aos principiantes, um risco que poucos estariam dispostos a correr. O certo é que correu bem e saíram da iniciativa bons desenhistas e argumentistas. Foi um alfobre.
Quanto a “O Crime”, foi um desafio; e os desafios causam-me gosto. A somar a isto, foi compensador em termos metálicos do porta-moedas.
Prancha de "Os Crimes de Diogo Alves", publicada no semanário "O Crime"
BDBD - Há um estranho aspecto na tua carreira: às vezes, prometedoras apostas, ficam “abandonadas”! São os casos, por exemplo, de “A Volta ao Mundo em Oitenta Dias” e “A Rainha Africana”. Não vais mesmo terminar estes trabalhos?
SC - Tenho em mim um espírito troglodítico, ancestral. Se o terreno não é propício à minha caçada, não é por isso que me dedico à agricultura: vou caçar para outro lado. À margem da metáfora, afirmo que isto nem é por achar que determinado trabalho não tem saída, mas por fastio. O abandono é, assim, temporário. Quando a “saudade” ou a “fome do assunto” apertar, volto lá, mesmo que tenha de refazer tudo, de cabo a rabo.
“A Volta ao Mundo” ficou na viagem por um quarto do seu todo e aguarda o “click” para vir para cima da bancada; “A Rainha Africana” é uma obra que necessita de prateleiras por todo o país e não estou tentado a correr o risco de a receber de volta com os percalços ditos atrás ou a bater às aldrabas das portas com um chapéu emprestado.
Julguei que os blogues - pelo menos o meu - constituíssem uma espécie de barómetro para aquilatar das apetências sobre este ou aquele trabalho. Às vezes, pelo “silêncio”, dá-me a sensação que mais me valera pôr um surdo a ouvir uma partitura de Bach.
Pranchas de "A Volta ao Mundo em Oitenta Dias" e "A Rainha Africana",
projectos inacabados por Santos Costa

BDBD - Nas nossas novas gerações têm surgido, embora com mais joio do que trigo, alguns valores muito bons. O que pensas sobre isto?
SC - Tanto há trigo num campo de joio, como há joio num campo de trigo, o que parece ir dar ao mesmo. Considero que as novas gerações, numa maioria relativa, são mais trigo do que joio. O que falta são bons tratadores, segadores e consumidores, uma grande maioria mais inclinada para misturas transgénicas de má qualidade.
Há valores muito bons, muito bons mesmo. Cito o exemplo daquele jovem de Penalva do Castelo (na periferia como eu), o Rafael Sales. Assim ele não esmoreça com os entraves de que falei antes. Iremos ouvir falar muito dele e, mais ainda, ver obra sua publicada.
De um largo naipe, retiro mais um nome: o de Carlos Pais, um jovem professor de EVT/Educação Visual (actualmente no agrupamento do Sátão), que fez o favor de me mostrar um trabalho seu não editado, e que o merece ser. Uma obra magnífica em termos de traço próprio, que salta aos olhos.
Cito só estes dois exemplos, para não me alongar…

Santos Costa recebendo o
Troféu Anim'Arte 2016
BDBD - Que sentiste ao receberes o “Troféu Anim’Arte 2016”, pelo GICAV, na categoria Banda Desenhada?
SC - Senti o deslumbramento de receber um troféu, principalmente por ser atribuído por um Grupo que tem lutado pela dignificação e divulgação das Artes, de todas elas. Foi uma honra para mim. E senti que, na imensidade de nomes que poderiam ter estado nessa cerimónia, estarão outros que mereciam essa distinção.

BDBD - Qual o teu grande e próximo projecto?
SC - Suponho que foi Napoleão - se não foi ele, sou eu que agora o afirmo - que disse mais ou menos isto: “o meio mais seguro de manter uma promessa é não a prometer nunca”.
Tenho, nesta altura, a ideia de dar à estampa a BD sobre a “Vida e as Profecias do Bandarra”, que tenho em execução numa mistura, a cores, entre desenho e fotografia.
“Bandarra” vende muito bem, pelo que tenho de pensar como editor. No entanto, como já acabei a primeira parte do Magriço (260 páginas a preto), não sei se anteciparei esta à anterior. Como diz o povo, "é melhor ver de perto para contar de certo".
LB

9 comentários:

  1. Santos Costa tem finalmente a entrevista que há muito merecia! Parabéns ao BDBD, na pessoa do Luiz Beira, por o trazer assim à ribalta, sabendo-se que é um autor que gosta de se refugiar na sua modéstia e que evita todo o tipo de publicidade, a não ser quando a isso é obrigado, como no caso do Troféu Anim’Arte que muito justamente lhe foi atribuído em 2016 pelo GICAV.
    Além disso, Santos Costa é um autor que vive nas periferias, isto é, na província, o que à partida pode constituir uma desvantagem, por causa do seu relativo isolamento, mas lhe confere também o atributo de se transfigurar num Dom Quixote que nunca desiste das suas cruzadas. E a prová-lo está a dimensão da sua obra (quase inacreditável!), tanto a literária como a artística.
    Quanto a mim, Santos Costa, embora não seja um desenhador extraordinário (muito longe disso), é um criador fora de série, com um poder de imaginação e um talento literário que poucos autores populares (e aqui o termo é altamente apreciativo), da mesma geração, lhe poderão disputar. No campo da BD, mesmo que não tivesse tido a sorte de encontrar uma revista como o Mundo de Aventuras (MA), que aceitou publicar os seus primeiros trabalhos, Santos Costa não deixaria nunca fugir o seu "lugar ao sol", como aconteceu a outros promissores estreantes a quem o MA abriu também as suas páginas. Que é feito hoje, por exemplo, de Luís Nunes e Chico Lança, dois nomes que tu bem conheces, Luiz Beira? Nunca mais se ouviu falar deles... o que é pena.
    Santos Costa, pelo contrário, nunca desistiu do seu caminho e da sua afirmação no campo das letras e das artes. Bem sei que o facto de estar escudado por uma profissão estável, como funcionário público, o deve ter libertado de preocupações económicas, permitindo-lhe angariar o pecúlio com que se tornou também editor por conta própria. Mas nunca desistiu, isso é um facto, mesmo sem ter ilusões quanto à bondade dos editores comerciais e às facilidades do mercado, porque é uma pessoa realista, com os pés bem assentes na terra.
    Sempre fui um admirador do seu trabalho e da sua personalidade, e ao abrir-lhe sem reservas as páginas do MA sabia que estava a fazer apenas o que era justo: não cercear, por falta de oportunidades, um talento emergente que demonstrava não só garra e vontade de se aperfeiçoar, como qualidades artísticas intrínsecas que não eram muito comuns. Quer isto dizer que o que me atraía mais nas suas histórias não era o traço propriamente dito, com o qual ele estava em permanente luta, tentando encontrar um estilo que definisse as suas reais potencialidades, mas sim o vigor com que abordava os temas, a facilidade de criar um argumento (mesmo adaptado), a caracterização perfeita das personagens (com as quais o leitor imediatamente se identificava), a harmonia da escrita e, sobretudo, a noção inata de ritmo, movimento, composição e sequência, que são na BD vectores fundamentais. Mesmo com um traço a procurar ainda o seu equilíbrio, por vezes demasiado barroco (numa primeira fase), Santos Costa já dominava por completo as regras elementares da BD, revelando imaginação e habilidade como narrador e desenhista, e avançando rapidamente para uma etapa de confirmação dessas qualidades, como posteriormente viria a acontecer, numa percentagem ainda mais elevada do que no MA.
    (Nota: como a vossa “caixa” não aceita mais de 4096 caracteres, tenho de dividir o meu comentário em duas partes).

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  2. (Aqui vai a 2ª parte)
    Entre todos os colaboradores revelados pela rubrica “Novos da BD Portuguesa”, que em boa hora criei — quando ainda tinha liberdade para o fazer, isto é, bastante antes da fatídica crise que atingiu a Agência Portuguesa de Revistas, em meados dos anos 1980 —, Santos Costa foi, sem dúvida, o mais assíduo, o mais entusiasta, o mais persistente. E mereceu, por isso, a “recompensa” de ter ocupado um número inteiro do MA (32 páginas), com a adaptação de um romance de Emílio Salgari: “A Formosa Judia”. Infelizmente, já muito perto do fim...
    Recordações de uma época feliz, apesar de todos os dissabores (nessa parte final), em que tive o apanágio de coordenar, durante 13 anos, uma revista de grande tiragem e popularidade (embora modesta no aspecto gráfico), e de conviver com muitos artistas, da nova e da velha guarda, de fazer boas amizades, de descobrir e incentivar alguns novos valores... como foi o caso de Santos Costa.
    É claro que ele nada nos deve, a mim e ao MA. Foram simplesmente o seu talento, a sua força de vontade, a sua dedicação à BD e à cultura, a confiança em si próprio, o seu espírito criativo, que o guindaram ao patamar que tão digna e justamente alcançou... mas que alguns, lamentavelmente, ainda ignoram.
    Esta entrevista veio, por isso, preencher uma lacuna. Parabéns, mais uma vez, Luiz Beira, e um grande abraço (pedindo-te desde já licença, se não vires inconveniente, para a reproduzir, em próxima oportunidade, num dos meus blogues). E outro grande abraço para o Santos Costa, cuja “incorrigível” modéstia dispensa louvores, desejando-lhe a continuação de uma carreira exemplar pautada pelo entusiasmo, pela perseverança, pela valência e multiplicidade das escolhas, em termos criativos, e pelo ditame de fazer sempre mais e melhor (mas os louvores aqui ficam!).
    A propósito, seria óptimo que ele se decidisse a terminar alguns dos seus projectos interrompidos, por falta de tempo ou de motivação, como “A Rainha Africana”, por exemplo. Bem gostaria de ver o Humphrey Bogart e a Kate Hepburn a transitarem de um filme memorável para um livro de BD... e estou convencido de que ninguém o poderá fazer melhor do que o nosso amigo Santos Costa!
    Jorge Magalhães

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    1. Caríssimo Jorge Magalhães
      Muito obrigado pelo teu extenso e emotivo comentário...em duas partes. Elogios a mim, se bem que amigos, não eram necessários. Quem os merece de facto, é o Santos Costa. Tomara eu que o nosso amigo Augusto Trigo não fosse tão “arisco”, pois há muito que lhe propus uma entrevista, mas...
      Tens total luz verde para transcreveres o que propões para o teu belo blogue. Quanto ao Luís Nunes, Chico Lança e mais alguns, infelizmente, podem-se considerar “desaparecidos em combate”...
      Um abração do
      Luiz Beira

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  3. Caríssimo Jorge Magalhães

    Depois do que li, com sinceridade poderia dizer que não tenho palavras para agradecer todos os elogios expressos no seu comentário. O certo é que ando sempre acompanhado por um saco de palavras - não para as distribuir em conversas de café, à mão tente, como semeador, mas para aplicar em tempo e oportunidade - pelo que, sim, agradeço mesmo com sentido reconhecimento.
    Posto isto, tenho de confessar o que não escorreu na entrevista, mormente quanto à pergunta, à guisa de comparação, sobre se guardava mais satisfação na colaboração com o “Mundo de Aventuras” ou “O Crime”. Seria necessário repetir-me ao dizer que foi com o “Mundo”? Faço-o para reforçar este agrado, porque foi através da porta que o Jorge abriu que me foi permitido entrar neste mundo da BD. Se ela não se abrisse quando toquei ao ferrolho, hoje estaria a enveredar por textos escritos, a escrever para a gaveta ou a publicar livros de culinária (de que não percebo nada). Estaria a desenhar, é evidente, por estar na “massa do sangue”, mas não teria o impulso daquela alavanca.
    O “Mundo de Aventuras” foi das primeiras publicações que comecei a ver, depois a ler. A revista já andava quando eu vim ao mundo (teria ela mais dois anos do que eu, se ainda se publicasse), e sempre se apresentou prazenteira para as minhas leituras preferidas, pois através das suas páginas viajei pelo tempo e pelo planeta, acompanhado por toda a sorte de heróis e poltrões, fazendo justiça ao nome do semanário.
    É certo que a fase do Jorge Magalhães foi a mais fecunda, aquela em que os autores portugueses passaram a fazer parte desse mundo criativo.
    Se me permite a metáfora, o Jorge é um garimpeiro da BD. Sob bom tempo ou inclemência, não largou o garimpo e crivou, escolheu, não cristalizou nas escolhas. E nesse garimpo saíram algumas pepitas (perdoem, mas não sou uma delas), algumas das quais se não continuam a brilhar é porque elas não obtiveram, de um meio tacanho como este, o lugar de exposição fulgente.
    (Segue na caixa seguinte, conforme os cânones da blogspot)

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  4. Tive a felicidade de ir trabalhar para Lisboa, acomodado e beneficiado por um período em que recebia, para além do vencimento, as ajudas de custo de deslocação, o que me permitiu conhecer pessoalmente o Jorge Magalhães. Então verifiquei que, para além de um grande editor e argumentista, o Jorge é uma pessoa extraordinária de afabilidade e cultura. Nessa altura acamaradávamos em sessões de trabalho e tertúlia na Gina do Parque Mayer, onde eu e o Jorge jantávamos, sempre na companhia de verdadeiros amantes da Banda Desenhada (editores, divulgadores, desenhistas, argumentistas e mais “fauna” artística). Recordo ainda que, no final do convívio, por vezes acompanhava o Jorge até à estação do Rossio, parando ambos nas “estações” antes de chegar à estação do comboio. Essas estações, como bordadura da avenida, eram amostras nómadas, salpicando de cores o chão ao longo do passeio, com venda de livros, quinquilharias e muita banda desenhada; e era sobre esta – revistas e álbuns abandonados pelos seus donos, como cães em canil, (favor recebido, favor esquecido) – que nos identificávamos como verdadeiros amantes da arte. O Jorge conhecia aqueles títulos todos, já possuía a maior parte, ele que possuía e possui sobre a BD um conhecimento largo e inesgotável, geralmente tecia comentários judiciosos e pertinentes sob o que estava exposto.
    Abertura de parêntesis: era esse tempo em que a principal artéria de Lisboa fervilhava mais e malandrava menos; o silêncio a uma certa hora da noite, direi – e passe a metáfora desbocada de beirão – era de tal forma que se ouviam os traques de um lado ao outro da grande alameda. Pode-se fechar com parêntesis este devaneio.
    Alonguei-me e não disse tudo. É do meu feitio palavroso, se calha haver interlocutor ou audiência, nanja do género de cão que ladra à lua. E quem paga, é o espaço do comentário, para o Luiz Beira e o Carlos Rico arrepelarem os cabelos, o mais certo ter de se dividir em fracções, pois a “blogspot” não se ajusta a aturar senão poucos milhares de caracteres.
    Fique certo que sobre o Jorge, por muito que se diga, se peca por defeito, uma vez que fica por pouco o muito que ele fez pela BD. Nele, e neste particular, se pode aplicar o aforismo que diz: saber de tudo e usar do melhor. E ainda sobre o Jorge, é bom que se vá homenageando e distinguindo, não só para evidenciar o quanto fez por nós e pela indústria da BD no geral, mas porque lhe devemos isso; até porque, tomando as palavras de Machado de Assis, a ingratidão é um direito de que se não deve fazer uso.

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  5. Com a divisão partilhada deste meu comentário, ficou de fora o cumprimento de amizade, o que seria anátema para o arrazoado e contra a minha sensibilidade.

    Ao Jorge Magalhães um grande abraço de Amizade
    e ao
    Luiz Beira e ao Carlos Rico outros tantos abraços de Amizade

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  6. Preocupado com a "pelintrice" de vocábulos da caixa de comentários, ficaram de fora as saudações aos ora intervenientes, o que constituía anátema do arrazoado e fora da minha sensibilidade se não voltasse aqui para remediar o lapso. Essa falta, nem o controle de robot's do blog deveria deixar passar...

    Um grande abraço de Amizade para o Jorge Magalhães
    Outros grandes abraços de amizade para o Luiz Beira e Carlos Rico

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  7. Caríssimo Santos Costa,

    Não há dúvida que os "famigerados" limites da caixa de comentários não permitem extravasar, por vezes, todos os sentimentos e todas as memórias que nos brotam em catadupa do espírito. Mas também é verdade que podemos facilmente contorná-los. Só o tempo é que não se deixa ultrapassar, nem ludibriar por ninguém. Infelizmente, diria eu, se não receasse ser injusto com uma dimensão que, na verdade,não conhecemos... ou que conhecemos ainda muito mal.
    Ao Santos Costa quero manifestar também o meu reconhecimento pelos seus calorosos elogios — fruto de uma generosa amizade, talvez por isso excessivos, mas que deixaram a transbordar a taça da modéstia que também cultivo como norma de vida. É verdade, porém, que talvez tenha sido, nesses tempos heróicos, o equivalente a um “garimpeiro” da BD, por ter escavado à procura de pepitas escondidas, que mereciam brilhar à luz do dia. E por as ter partilhado com um numeroso público, como o “Mundo de Aventuras” fizera em tempos idos (ainda na sua primeira fase), ao realizar um concurso para jovens desenhadores, que deu frutos e alguns prémios.
    Fico, por isso, com o contentamento de ter feito alguma coisa útil numa profissão que me caiu no colo por mero acaso, quando já me preparava para regressar a Angola, se não tivesse acontecido o 25 de Abril. Dediquei-me ao "Mundo de Aventuras" durante 13 anos, sem nunca o meu ânimo ter desfalecido e acreditando até ao último instante que o seu reaparecimento seria possível, mesmo depois de terem passado muitos meses sobre o derradeiro número, publicado em Janeiro de 1987. Afinal, a aventura tinha mesmo chegado ao fim!
    Permaneceram, felizmente, até hoje, algumas sólidas amizades, como a do Santos Costa, e a certeza do dever cumprido, mesmo em circunstâncias adversas... sobretudo por nunca ter abandonado o “barco” e pelo apoio que tentei dar a muitos profissionais e amadores da BD portuguesa. E digo-lhe com toda a sinceridade, amigo Santos Costa, que essa é a melhor recordação que guardo de toda a "odisseia" iniciada em Maio de 1974, depois de ter resolvido a minha vida profissional, assentando arraiais na APR, embora sem largar definitivamente as amarras com a função pública.
    Valeu a pena ter aberto "escotilhas" que até aí tinham estado hermeticamente fechadas, dando a primeira oportunidade a jovens cheios de talento, cujos trabalhos já eram, nalguns casos, mais do que tímidas promessas. Muitos ficaram pelo caminho ou escolheram outras opções artísticas... mas a culpa não foi deles, foi de um incipiente mercado de BD que não lhes proporcionou as mesmas aberturas. O seu caso é uma das poucas e relevantes excepções.
    E por isso digo e repito, amigo Santos Costa, que valeu a pena ter escancarado as páginas do MA aos novos, só porque houve alguns deles que não desistiram e que têm hoje uma obra que legitimamente os orgulha e nos orgulha também a todos que defendemos o primado da BD portuguesa. Três exemplos: o seu, o do Augusto Trigo e o do Luís Louro. Três “pepitas” que vieram desse garimpo e que felizmente ainda hoje brilham com fulgor!
    Mas houve mais, tanto na rubrica dos “Novos da BD” como no "Mistério Policiário", outra popular rubrica do MA, coordenada pelo "Sete de Espadas".
    Bem haja, caro amigo, por ser, repito, uma dessas pepitas! E um renovado abraço de muita estima, pessoal e profissional, e de muita saudade pelos momentos bem passados nessa época pioneira em que éramos uma espécie de astronautas, sonhando com um futuro de esperança... que para o MA, afinal, foi mais curto do que julgávamos!


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  8. Caríssimos
    Jorge Magalhães
    Luiz Beira
    Carlos Rico

    Regresso a esta caixa de comentários para me mostrar sensibilizado com o vosso interesse na continuidade do meu trabalho (não concluído) de "A Rainha Africana". Este vosso interesse demonstra não só a amizade e o companheirismo de quem coabita neste pélago da BD, como também o sentimento de nostalgia e agrado por uma obra cinematográfica que nos toca por várias razões: os intervenientes; o enredo; e, sobretudo, África.
    Para não "enfardar" a caixa dos vossos blogs (BDBD e o Gato Alfarrabista) decidi referir o vosso interesse e o de outros amigos, sem nomear, numa postagem que hoje fiz no meu blog.
    Aí coloquei as minhas dúvidas, as contingências e a demarcação entre o desejado e o permitido, dois ingredientes que nem sempre andam de mãos dadas.

    Com um grande abraço para os três, autênticos Mosqueteiros da BD

    Santos Costa

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