Por: José Ruy
Em 1934, Milton Caniff foi desafiado pelo editor do «New York Daily News» para criar uma tira diária passada no lendário e misterioso Oriente.
E mudou-se com «armas e bagagens» para New York.
Caniff pouco sabia dessa parte do mundo e teve de se documentar com rigor sobre a história da China, dos costumes dos seus habitantes e das tradições de família que transitavam através de gerações. De tal modo, que parecia ter habitado nesse país, pela maneira realista como criava e desenhava os ambientes.
Caniff pouco sabia dessa parte do mundo e teve de se documentar com rigor sobre a história da China, dos costumes dos seus habitantes e das tradições de família que transitavam através de gerações. De tal modo, que parecia ter habitado nesse país, pela maneira realista como criava e desenhava os ambientes.
Eis a primeira tira de apresentação dessa série diária.
Terry Lee era um rapazinho que viajava pela misteriosa China acompanhado por um mentor - Pat Ryan, um aventureiro - e por mais personagens. Apareceu ao público a 22 de outubro de 1934.
Em dezembro desse mesmo ano Caniff passou também a participar nas séries independentes desse jornal, publicadas ao domingo. As aventuras dessas séries funcionando com as mesmas personagens, tinham argumentos diferentes, nada tendo a ver com a história que decorria diariamente nas tiras.
Estas tiras eram publicadas diariamente, menos ao sábado e ao domingo. Ao contrário de outros autores norte-americanos e até ingleses, Caniff não repetia no início da tira do dia seguinte, o fim do que acontecia na anterior. Mantinha uma tal fluência na narrativa, que tornava dispensável a leitura das legendas para se compreender a história.
Outros jornais, mesmo na
Europa, reuniam estas tiras editadas de segunda a sexta-feira e formavam
páginas que publicavam semanalmente. Tanto a sequência do movimento como o
desenrolar da ação não se ressentiam pela intermitência na publicação dia a
dia. Era como se tivesse sido concebida de início como uma página inteira. Em
todas as tiras podemos ver a assinatura do autor, bem como o carimbo da agência
editora.
Uma página com cor das
edições de domingo, ainda no princípio da série...
...e um original desenhado a tinta-da-china, uns anos mais tarde.
Nota-se que o autor trabalhava estas últimas páginas em duas metades que eram unidas na altura da reprodução, pois os originais tinham uma grande dimensão. Uma cópia do título, em papel de jornal, era colada na vinheta inicial apenas para marcar a posição, pois a agência sobrepunha em todas as pranchas a matriz que possuía.
...e um original desenhado a tinta-da-china, uns anos mais tarde.
Nota-se que o autor trabalhava estas últimas páginas em duas metades que eram unidas na altura da reprodução, pois os originais tinham uma grande dimensão. Uma cópia do título, em papel de jornal, era colada na vinheta inicial apenas para marcar a posição, pois a agência sobrepunha em todas as pranchas a matriz que possuía.
Assinala-se aqui uma
notável evolução no desenho.
A personagem Terry Lee foi crescendo, alistou-se na Força Aérea e chegou a combater na Segunda Guerra Mundial. Por essa altura Caniff foi convidado a desenhar uma tira exclusiva para sair nos jornais militares e mais tarde doou esses originais às Forças Armadas.
No decorrer da História de ficção, em 1942, Terry foi expulso pelos japoneses de uma ilha do Pacífico. Isso teve uma tal repercussão junto do público, que o Pentágono pediu ao autor para que o herói reconquistasse a ilha, a bem do ego nacional.
Precisamente nessa data, o
mestre Rodrigues Alves contou-me, bem como aos meus colegas, que numa das
encruzilhadas do argumento que se desenrolava no Oriente, Caniff idealizou uma
situação em que Terry e os seus companheiros que combatiam os piratas chineses,
se encontravam encurralados sem possibilidade aparente de escaparem.
Por coincidência, e sem
que Caniff soubesse, decorria uma situação idêntica com as tropas americanas
que lutavam no Pacífico, mas em que os japoneses eram os encurralados. Como o
herói Terry não poderia sucumbir, e admitindo a hipótese de o inimigo
acompanhar a série, o desfecho que o autor desse ao enredo podia ser utilizado
para que os sitiados conseguissem escapar. Tal era o rigor do argumento.
O Alto comando das Forças
Armadas norte-americanas manteve Caniff isolado no seu ateliê, com guarda à
vista, para ver qual a saída que ele criava para a situação, e verificar
tratar-se de um caso de espionagem lesa pátria, ou simplesmente de uma
coincidência.
Não me recordo como Caniff desfez o «imbróglio», mas contou o Mestre Alves que entretanto os japoneses foram mesmo derrotados, antes da continuação da história nas páginas dos jornais. Um alívio para Milton Caniff que tinha de salvar o seu herói sem que a estratégia pudesse ajudar o inimigo na situação real.
Não me recordo como Caniff desfez o «imbróglio», mas contou o Mestre Alves que entretanto os japoneses foram mesmo derrotados, antes da continuação da história nas páginas dos jornais. Um alívio para Milton Caniff que tinha de salvar o seu herói sem que a estratégia pudesse ajudar o inimigo na situação real.
Esta personagem, embora
criada por Milton Caniff, tinha os direitos cativos pelo «Chicago Tribune-New
York Daily News Syndicate» e apesar da série ter alcançado o maior sucesso,
mesmo internacionalmente, o autor não era dono do título. Desgostoso, Caniff
aceitou a proposta de Marshall Field, editor do «Chicago Sun» para produzir uma
tira própria.
(continua)
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