Afinal, quem tem medo (e porquê?) da homossexualidade, quando este factor existe em todas as espécies zoológicas e até na botânica (nesta, através de frequentes exemplos de hemafroditismo)?...
Na Banda Desenhada há heróis e super-heróis definidos como homossexuais. E há autores que investem nesta linha, sendo ou não, também eles, homossexuais.
Walt Disney (imaginem!), numa das suas criações em Cinema de Animação, criou o terno "Ferdinand, o Touro", sendo o drama de um touro homossexual que era muito meigo e adorava cheirar flores...
Dos autores europeus, regista-se o alemão Ralf König, que quase sempre elabora com respeito, humor e ternura, BD's. sobre os "gays".
Uma vez, um jornalista perguntou-lhe se ele também era homossexual. Prontamente respondeu: "Walt Disney fartou-se de desenhar o Pato Donald e, que eu saiba, ele não era um pato". O jornalista entupiu!
Do francês Emmanuel Lepage ("Muchacho", editado em português) ao brasileiro Maurício de Sousa (exacto, o criador da famosa Mónica, nesta série integrou o petiz homo Caio), há plenas abordagens a este aspecto sexual.
Caio, o personagem gay de Maurício de Sousa
Ou em obras mais "atrevidas", como "Bórgia" de Jodorowski e Manara (toda editada pela Asa), "Le Pape Terrible" de Jodorowski e Theo e ainda, "Merídia" por Gloris e Mouclier.
Imaginou-se em ávida e maldizente opinião, as ligações sentimentais entre AlixeEnak... O certo é que Jacques Martin, o criadorde Alix, neste sentido, jamais tal o negou ou tão pouco o confirmou.
Há autores de todos os quadrantes geográficos (incluindo Portugal) que têm criado obras versando este tema, como o argentino Copi (homossexual assumido e genial criador de diversas artes), donde o irresistível álbum pelas Editions Glénat, "Le Monde Fantastique des Gays et de Leurs Mamans", ou o mais que esgotado "L'Avenir Perdu" (Ed. Humanoïdes Associés) por Annie Goetzinger, "Les Folles Nuits de Jonathan" por Jean-Paul Jennequin, "Le Pari" (da série "Tendre Banlieue") pelo espanhol Tito, etc. Não pode ser aqui esquecido esse ícone que é o autor finlandês Touko Laaksonen (1920-1991), mais conhecido com Tom of Finland. A sua obra exige interessante e largo debate, o que não tem aqui cabimento. O seu livro, volumoso e caro, "The Complet Kake Comics" (Ed. Taschen), mal aparece à venda, logo se esgota.
Gravura de Tom of Finland
Aquele adulado justiceiro (tipo cowboy valentão) que é o Rawhide Kid, é um exemplo notável. A série decaiu nas vendas... A editora reabilitou-o com novos responsáveis (argumentistas e desenhistas), mas exigiu que ele fosse "homo" (sem ser afeminado, claro). Resultado: as vendas subiram em flecha!
Rawhide Kid, o "cowboy" gay da Marvel
Dois augumentistas-desenhistas franceses, relativamente jovens, são marca de respeito e de aclamação pelos seus talentos e coragem, uma vez que são também, rigorosamente autobiográficos nos seus álbuns: Fabrice Néaud (que esteve presente no "AmadoraBD 2012") e o extraordinário Hugues Barthe. Fabrice, nos seus "Diários", é muito sério. Hugues, na sua já notável obra, por norma, dá um toque delicioso de humor auto-crítico. Ambos, transparentemente, descrevendo as suas vivências.
Fabrice Néaud e Hugues Barthe - dois autores onde a temática homo é trabalhada sem preconceitos
No plano dos super-heróis, aí então, é um ver se te avias!... Menos frequente o aspecto lésbico, pelo lado masculino, há muitos que se demarcam. Salientamos alguns apenas:
Temos a dupla Batman e Robin, onde em diversas histórias é clara a ligação para além da simples amizade ou companheirismo. E até, por estranha leviandade, se sabe de um "caso" entre "Batman" e "Superman"!... O argumentistadeBatman há mais de vinte anos, o sr. Grant Morrison, confirmou numa entrevista para a famosa "Playboy": "Batman é muito, muito gay. (...) A homossexualidade faz parte de Batman, não no sentido perjorativo, pois é óbvio que enquanto personagem fictício ele é heterossexual, mas a base do conceito é absolutamente gay"...
Depois, temos o Lanterna Verde (enquanto Alan Scott). A editora DC Comics, em Junho de 2012, anunciou na revista "Earth 2" queo Lanterna Verde é homossexual e, nessa edição, apareceAllan Scott numa cena de amor com um amigo.
O Lanterna Verde assumiu a sua homossexualidade recentemente
A terminar este breves exemplos, temos o Estrela Polar (o Northstar do grupo "X-Men"), pela Marvel Comics. Na publicação "Astonishing X-Men", tudo é revelado: Northstar (aliás,Jean-Paul Beaubier ) pede ao seu namorado, Kyle Jinadu, que case com ele, evento esse que é publicado no n.º 51 desta revista, a 27 de Junho de 2012.
E foram felizes para sempre!...
Northstar pedindo Kyle em casamento
Northstar e Kyle casaram... e foram felizes para sempre! (capa da revista "Astonishing X-Men" nº. 51)
Midnighter e Apollo
"Ferdinand, o Touro", filme de 1938, produzido por Walt Disney
Walt Disney não criou a personagem Ferdinand, o Touro. O filme de animação citado, produzido sim pelos Estúdios Disney (algo bem diferente) e realizado por Dick Rickard, é uma adaptação do conto infantil The Story of Ferdinand escrito e desenhado respectivamente pelos americanos Munro Leaf e Robert Lawson em 1936 e conta a história de um touro que gostava de cheirar flores e se recusava a lutar numa arena espanhola. O livro foi banido da Espanha franquista e queimado na Alemanha nazi devido à sua mensagem pacifista porque não é por nascer touro que Ferdinand tem de se comportar como um e lutar contra quem não conhece. Ver-se aqui contornos homossexuais é típico de heterossexuais que consideram gostar de flores e ser-se meigo uma atitude gay.
Mais: só para tema de humor brejeiro é que se pode julgar homossexual a relação entre Batman e Robin. Séria e analiticamente, que julgo ser o propósito do texto acima, nunca se poderá fazer essa consideração baseada em vinhetas e capas da segunda metade dos anos 40 e 50 da série, época em que as aventuras do Batman não primavam pela qualidade e onde uma certa inocência e atalhos narrativos típicos da época são agora usados para ilustrar considerações que, uma vez mais, só poderão ter lugar em contexto humorístico.
E, já que foi incluída no texto, gostaria de saber o sentido e contexto da frase do Grant Morrison que considera Batman heterossexual mas afirma que “…a base do conceito é absolutamente gay”. Qual conceito?
Caro André Muito grato pelas suas opiniões, o que não significa que eu esteja totalmente de acordo. Quanto ao "Ferdinando, o Touro", na Net, em "Movies Database", lendo "Full Cast and Crew for Ferdinand the Bull", lá está: Directed by Dick Rickard(uncredited). A produção é Walt Disney, pelo que será o responsável máximo. Ora até sabemos que Disney e Hergé eram um tanto ditadores, ocultando nas obras, os nomes dos seus colaboradores... Quanto ao que me conta sobre o que este filme "sofreu" com os franquistas (bem anestesiados pelo catolicismo) e os alemães embriagados pelo paranóico do austriacozito de triste memória... nada disto me espanta. Agora que o "Ferdinand" é um "delicadinho" em cheio, lá isso é. Topa-se muitíssimo bem! E é um aspecto que, por vezes, acontece mesmo na Natureza... Em relação ao "Batman" e sobre o que dele diz o seu argumentista Grant Morrison, sugiro que, no Google, busque " Batman Gay", tanto através dos diversos textos, como no clicar em "Imagens"... Antes e depois de tudo isto, o "Batman" sempre foi um dos raros (senão o único) super-heróis que eu admiro. Saudações bedéfilas Luiz Beira
Caro André: Em relação ao texto, o autor do mesmo, Luiz Beira, já respondeu às suas observações. No que toca ao video de Ferdinand, tive o cuidado de alterar a legenda onde aparecia "realizado por" para "produzido por", o que, de facto, estará mais correcto. Obrigado pelo seu comentério. Saudações bedéfilas Carlos Rico
Curioso que este texto fez-me lembrar o Frodo e o Sam do Senhor dos Anéis, e como alguns de nós, eu incluido, muitas vezes brincamos e dizemos que o Sam e o Frodo eram mais do que amigos. Mas não eram. Eram sim grandes amigos, irmãos mesmo. Tal como alguns dos personagens aqui descritos neste texto (e refiro-me aqui ao Batman e ao Robin mais especificamente), o Sam e o Frodo faziam era parte de uma cultura em que o companheirismo e a irmandade de dois homens adultos, ainda não era vista de forma tão cinica como nos dias que hoje correm. No tempo de Tolkien, em casos extremos de aflição não era de estranhar que o Sam desse a mão ao Frodo e assim caminhassem de mão dada para afastar os seus medos (como acontece pelo menos uma vez no livro, e como tenho a certeza que muitos homens o fizeram nos campos da primeira guerra mundial em alturas terriveis).
Pegando no que o André disse, eu próprio por não ligar a carros, por não preferir clube de futebol, e por preferir a companhia de raparigas, cheguei a ser questionado (amigavelmente, atenção) se tinha tendencias homosexuais. Nenhuma ofensa daí saiu até porque quem o perguntou era mesmo amigo e estava só curioso. Mas o que o André diz é verdade. Há certos comportamentos que são erradamente associados a homosexuais, mas que na verdade fazem parte de todos os homens. Os homens aprenderam foi a não os mostrar tanto. E quando os mostram, são categorizados como 'esquisitos' :)
Para finalizar, dos casais mostrados no texto, para mim o mais interessante e mais bem construido psicologicamente é o do Midnighter e Apollo. Mesmo o humor dos próprios personagens em relação à sua escolha é genial. Os outros fico sempre na duvida se passam por jogadas comerciais ou não.
Caro Luís Sanches Reconhecido pelos seus pontos de vista, confesso (pecado meu) que não acompanhei devidamente a saga "O Senhor dos Anéis". Creio que só vi um dos filmes. Se eu puder, tentarei vê-los todos. Repare no que respondo ao André Azevedo. De qualquer modo, não há mal ou erro nenhum se o "Ferdinand" e o "Batman" forem "homo". Não é daí que acontecerá o Apocalipse. Um abraço Luiz Beira
Caros,
ResponderEliminarWalt Disney não criou a personagem Ferdinand, o Touro. O filme de animação citado, produzido sim pelos Estúdios Disney (algo bem diferente) e realizado por Dick Rickard, é uma adaptação do conto infantil The Story of Ferdinand escrito e desenhado respectivamente pelos americanos Munro Leaf e Robert Lawson em 1936 e conta a história de um touro que gostava de cheirar flores e se recusava a lutar numa arena espanhola. O livro foi banido da Espanha franquista e queimado na Alemanha nazi devido à sua mensagem pacifista porque não é por nascer touro que Ferdinand tem de se comportar como um e lutar contra quem não conhece. Ver-se aqui contornos homossexuais é típico de heterossexuais que consideram gostar de flores e ser-se meigo uma atitude gay.
Mais: só para tema de humor brejeiro é que se pode julgar homossexual a relação entre Batman e Robin. Séria e analiticamente, que julgo ser o propósito do texto acima, nunca se poderá fazer essa consideração baseada em vinhetas e capas da segunda metade dos anos 40 e 50 da série, época em que as aventuras do Batman não primavam pela qualidade e onde uma certa inocência e atalhos narrativos típicos da época são agora usados para ilustrar considerações que, uma vez mais, só poderão ter lugar em contexto humorístico.
E, já que foi incluída no texto, gostaria de saber o sentido e contexto da frase do Grant Morrison que considera Batman heterossexual mas afirma que “…a base do conceito é absolutamente gay”. Qual conceito?
Caro André
EliminarMuito grato pelas suas opiniões, o que não significa que eu esteja totalmente de acordo. Quanto ao "Ferdinando, o Touro", na Net, em "Movies Database", lendo "Full Cast and Crew for Ferdinand the Bull", lá está: Directed by Dick Rickard(uncredited).
A produção é Walt Disney, pelo que será o responsável máximo. Ora
até sabemos que Disney e Hergé eram um tanto ditadores, ocultando
nas obras, os nomes dos seus colaboradores... Quanto ao que me
conta sobre o que este filme "sofreu" com os franquistas (bem anestesiados pelo catolicismo) e os alemães embriagados pelo paranóico do austriacozito de triste memória... nada disto me espanta. Agora que o "Ferdinand" é um "delicadinho" em cheio, lá isso é. Topa-se muitíssimo bem! E é um aspecto que, por vezes, acontece mesmo na Natureza...
Em relação ao "Batman" e sobre o que dele diz o seu argumentista Grant Morrison, sugiro que, no Google, busque " Batman Gay", tanto através dos diversos textos, como no clicar em "Imagens"...
Antes e depois de tudo isto, o "Batman" sempre foi um dos raros (senão o único) super-heróis que eu admiro.
Saudações bedéfilas
Luiz Beira
Caro André:
EliminarEm relação ao texto, o autor do mesmo, Luiz Beira, já respondeu às suas observações.
No que toca ao video de Ferdinand, tive o cuidado de alterar a legenda onde aparecia "realizado por" para "produzido por", o que, de facto, estará mais correcto.
Obrigado pelo seu comentério.
Saudações bedéfilas
Carlos Rico
Curioso que este texto fez-me lembrar o Frodo e o Sam do Senhor dos Anéis, e como alguns de nós, eu incluido, muitas vezes brincamos e dizemos que o Sam e o Frodo eram mais do que amigos. Mas não eram. Eram sim grandes amigos, irmãos mesmo. Tal como alguns dos personagens aqui descritos neste texto (e refiro-me aqui ao Batman e ao Robin mais especificamente), o Sam e o Frodo faziam era parte de uma cultura em que o companheirismo e a irmandade de dois homens adultos, ainda não era vista de forma tão cinica como nos dias que hoje correm. No tempo de Tolkien, em casos extremos de aflição não era de estranhar que o Sam desse a mão ao Frodo e assim caminhassem de mão dada para afastar os seus medos (como acontece pelo menos uma vez no livro, e como tenho a certeza que muitos homens o fizeram nos campos da primeira guerra mundial em alturas terriveis).
ResponderEliminarPegando no que o André disse, eu próprio por não ligar a carros, por não preferir clube de futebol, e por preferir a companhia de raparigas, cheguei a ser questionado (amigavelmente, atenção) se tinha tendencias homosexuais. Nenhuma ofensa daí saiu até porque quem o perguntou era mesmo amigo e estava só curioso. Mas o que o André diz é verdade. Há certos comportamentos que são erradamente associados a homosexuais, mas que na verdade fazem parte de todos os homens. Os homens aprenderam foi a não os mostrar tanto. E quando os mostram, são categorizados como 'esquisitos' :)
Para finalizar, dos casais mostrados no texto, para mim o mais interessante e mais bem construido psicologicamente é o do Midnighter e Apollo. Mesmo o humor dos próprios personagens em relação à sua escolha é genial. Os outros fico sempre na duvida se passam por jogadas comerciais ou não.
Caro Luís Sanches
EliminarReconhecido pelos seus pontos de vista, confesso (pecado meu) que não acompanhei devidamente a saga "O Senhor dos Anéis". Creio que só vi um dos filmes. Se eu puder, tentarei vê-los todos. Repare no que respondo ao André Azevedo. De qualquer modo, não há mal ou erro nenhum se o "Ferdinand" e o "Batman" forem "homo". Não é daí que acontecerá o Apocalipse.
Um abraço
Luiz Beira
Também há o casal dos Young Avengers.
ResponderEliminarMas Batman e Robin até agora tem sido muito fumo sem fogo.
Obrigado pela sua opinião. De qualquer modo, no post em questão, indico que só focaria alguns exemplos...
EliminarSaudações bedéfilas
Luiz Beira