domingo, 19 de março de 2017

ENTREVISTAS (24) - RAFAEL SALES

Rafael Sales
Nasceu e reside em Penalva do Castelo (Distrito de Viseu) a 6 de Dezembro de 1993.
Licenciou-se em Artes Plásticas e Multimédia na Escola Superior de Educação de Viseu.
Gosta de animais, preferencialmente, o gato.
Rafael Sales, como freelancer, trabalha em Ilustração, Banda Desenhada, Design Gráfico e Caricatura.
Tem quatro títulos editados, três histórias muito curtas e um álbum, a saber:

ARCADE JOB - foi o seu projecto final no curso. Narra a história de Mary Flowers, uma recém licenciada em artes com dificuldades em arranjar emprego.

UMA CARTA PARA MARIA - focando um tema familiar, este trabalho foi premiado há algum tempo num concurso-BD em Odemira.

RED RIDING HOOD - é uma peculiar paródia ao clássico infantil “O Capuchinho Vermelho” que, em 2016, foi incluída na antologia de Banda Desenhada “H-Alt” #4.

DETECTIVE RATON - é o seu verdadeiro primeiro álbum, com edição Escorpião Azul, da responsabilidade de Jorge Deodato. É uma divertida narrativa num “clima policial”, algures numa aldeia do interior de Portugal.

Aparentemente tímido, Rafael Sales, tem um positivo humor e um apurado sentido crítico. Eis a nossa “conversa”.

BDBD - Ao que se sabe, a tua sedução pelo desenho começou na infância. Houve algo que te despertou então para esta arte?
Rafael Sales (RS) - Quando eu era miúdo, o desenho era só mais uma forma de ocupar o meu tempo livre, mas nessa altura não sabia ao certo porque é que gostava de desenhar. Simplesmente, gostava. No entanto, aos meus 11 anos, comecei a dedicar mais tempo ao desenho e começaram a ser-me dados os primeiros elogios e apoio pela família e amigos, o que me motivou a desenhar mais.

BDBD - Depois, nunca mais paraste (e ainda bem!). Achas que é uma carreira difícil, sobretudo porque vives no interior e longe de Lisboa ou do Porto?
RS - Infelizmente, nos dias que correm, qualquer carreira ligada às artes, e não só, é difícil seja em que local for, mas eu diria que talvez nas grandes cidades, o facto de haver maior oferta cultural e artística, facilita a interacção entre novos artistas e profissionais da área, o que pode ajudar em termos profissionais. Mas hoje em dia a Internet permite aos artistas freelancer trabalharem de qualquer parte do mundo
sem necessidade de deslocação, e esse acaba por ser também o maior meio de promoção do meu trabalho. Para além disso, viver no interior é também uma grande inspiração para as minhas ilustrações e histórias de BD.

BDBD - Onde tens exposto os teus trabalhos, para além de Odemira, Amadora e Viseu?
RS - Tento participar em eventos que estejam associados à Banda Desenhada com uma banca para promover e vender alguns trabalhos da minha autoria.
O mais recente evento foi o Central Comics 2016, em Gaia, onde espero poder participar novamente este ano.

BDBD - Tens um estllo muito próprio, abordando bastas vezes, com uma peculiar linha humorística. O humor é mesmo a vertente que melhor sentes ou também apostarias na linha realista?
RS - Apesar de também esboçar traços realistas (principalmente edifícios), o meu estilo de desenho resulta das tentativas de tornar as minhas personagens e cenários mais expressivos e simples. No meu caso, essa simplificação do traço acabou por aproximar o meu estilo de desenho aos clássicos da BD franco-belga, nomeadamente o traço “cómico” de Uderzo ou Hergé, que sempre foram referências artísticas para mim. Considero que o desenvolvimento de um estilo próprio de desenho por um artista só traz vantagens, nomeadamente a facilidade com o traço que acaba de sair, ou o facto do artista não ter de seguir convenções ou regras, o que lhe dá mais liberdade artística. Para além disso, esse estilo acaba por se tornar uma espécie de “imagem de marca” do artista.

BDBD - Sentes-te influenciado, mesmo indirectamente, por alguns desenhistas profissionais e de renome?
RS - Sim. Quando me “apaixonei” pela BD, foi através da mangá japonesa, nomeadamente com artistas como Akira Toryiama e Masahi Kishimoto. À medida que ia explorando o mundo da BD, encontrava ilustradores e cartunistas com um estilo de desenho diferente que iriam influenciar o meu traço, tais como Bill Watterson, Chris Uminga, Jim Borgman e os irmãos Gabriel Bá e Fábio Moon. Mais tarde, ao explorar o mundo dos “comics americanos”, encontrei artistas como Jack Kirby, Mike Mignola, Frank Miller e John Romita Jr.
Pelo nosso Portugal, estão na minha lista de favoritos Filipe Andrade, Jorge Coelho e Joana Afonso, entre outros.


BDBD - Na tua maneira de ver e de sentir, o que é para ti a Banda Desenhada? 
RS - Vou tentar não dar a resposta do dicionário de língua portuguesa! Para mim, a BD é uma forma de contar histórias, extremamente desvalorizada e que caiu no estereótipo de ser “bonecos para crianças” (sim, hoje em dia ainda há quem ache isto). Obviamente, não concordo com esta última parte, pois considero a Banda Desenhada uma forma de arte válida e que envolve um processo criativo extensivo, trabalhoso, mas que dá um gozo enorme de fazer. Em apresentações ou tentativas de explicar às pessoas porque é que a BD merece mais respeito, costumo dizer o seguinte: o processo de criação de uma BD pode, seguindo algumas convenções mais comuns, incluir o uso de diversas formas de arte, ou seja, um artista de BD é escritor, pois tem uma ideia e escreve o guião da sua história; é realizador, pois transforma o guião em imagens apelativas; é arquitecto para desenhar os cenários; é designer da moda na concepção de personagens; deve ter noções de composição; e, em alguns casos, é ainda pintor para dar côr aos seus desenhos. Se todo este processo não é o suficiente para convencer as pessoas de que a Banda Desenhada não deve ser tratada como uma coisa descartável e desprovida de criatividade, então não sei o que as poderá convencer. Talvez aconselhando-as a ler algumas BD’s e fazê-las perceber de uma forma mais prática.


Cartune realizado ao vivo por Rafael Sales em Viseu,
em Janeiro último, durante a homenagem a Luiz Beira.
BDBD - É certo que és jovem e que tudo te destina para uma bela e longa carreira através das vertentes da tua arte. Neste campo, acalentas algum sonho muito especial?
RS - Embora não goste muito da palavra sonho, diria que um dos meus objectivos é viver exclusivamente das minhas histórias de BD e ilustrações. Outra coisa que espero poder fazer a longo prazo, é desenvolver projectos livres de Cinema e Música.

BDBD - Gostas de ser o autor do texto nas tuas criações ou aceitarias também, ocasionalmente, trabalhar em parceria com algum outro argumentista?
RS - Nunca aconteceu trabalhar com um escritor, e penso que se deve ao facto de não ser muito bom a trabalhar em equipa. No entanto, gostaria de experimentar fazê-lo um dia. Até lá, ideias para histórias não me faltam.

BDBD - Que caminho preferes: a côr, o preto-e-branco ou ambas as versões?
RS - Não sou muito bom colorista. Tendo a usar cores sólidas e esquemas cromáticos o mais simples possíveis para não se notar muito a minha fraqueza nesse aspecto. Por essa razão, e apesar de considerar que a côr ajuda a contar a história, ultimamente tenho trabalhado a preto e branco por uma questão de rapidez. Respondendo à pergunta: ambas as versões.

BDBD - Qual o teu próximo trabalho a ser editado?
RS - Neste momento estou a trabalhar numa BD chamada “Beirão”, que será lançada ainda em 2017.

BDBD - Muito obrigado, Rafael Sales, pela tua gentileza em responder a esta entrevista. Até breve!
LB

2 comentários:

  1. Um muito obrigado ao Luiz e ao Carlos pela entrevista! Continuação de um bom trabalho neste blog! Um abraço! :)

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    1. Nada tens a agradecer, Rafael. O nosso blogue também foi criado para isto: dar visibilidade aos novos valores, sempre que possível.
      Grande abraço

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