Nem sempre é preciso esperar-se pela efémera e fugaz comemoração de um centenário para se recordar (deve ser sempre recordado) um grande valor, neste caso da BD, que já "partiu".
Hoje, aqui lembramos o cidadão belga François Craenhals que, para além da sua Arte e das suas constantes afabilidade e humildade, era um apaixonado por Portugal... pelo menos, pelo pouco que teve ocasião de conhecer das quatro vezes que cá veio.
François Craenhals nasceu em Ixelles a 15 de Novembro de 1926 e, não recuperando de uma operação ao coração, faleceu em Montpellier (França) a 2 de Agosto de 2004.
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Capa do Almada BD Fanzine (n.º 1)
com auto-retrato de Craenhals |
Em 1986, aquando da 5.ª edição das Jornadas Internacionais de BD da Sobreda, foi o primeiro artista estrangeiro a estar presente e a ser homenageado ao vivo.
Como convidado especial, tornou aos Salões-BD da Sobreda (no concelho de Almada) em 1990 e em 1992 e, em 1998, ao Salão-BD de Viseu.
Desde a primeira vinda que ele se deliciava, à mesa, com o nosso pescado, pois sempre afirmava que "o peixe português é considerado o melhor e o mais saboroso". Desde então, provou também, o famoso "vinho verde", do qual ficou adepto. Programava-se para voltar ao "seu" Portugal para rever amigos (sobretudo), mas o coração traiu-o.
A obra de Craenhals, casado em segundas núpcias (quando enviuvou) com a sua colorista Martine Boutin, é muito vasta, mas só parcialmente foi publicada em Portugal.
A sua carreira começou em 1950 com Karan, um herói inspirado em Tarzan. É nesse ano que ingressa na equipa da revista "Tintin". Cinco anos mais tarde, aí inicia uma das suas mais famosas e conseguidas séries, "Pom et Teddy", localizada no maravilhoso mundo do Circo.
É em 1960 que cria o herói Delta, cuja série não prosseguiu, ficando-se por um único tomo, "Aventura em Sarajevo", publicada, entre nós, no Número Especial do Cavaleiro Andante pelo Natal de 1961.
Criou as curtas séries "Rémy et Ghislaine", "Primus et Musette" e "Fantômette" (que ele não gostava nada, mas que, por razões profissionais, tinha de desenhar) e, também, histórias curtas donde, em algumas, adaptou directamente famosos filmes da época como "O Prisioneiro de Zenda", "A Fuga de Forte Bravo" e "Scaramouche". Nunca completou, com mágoa, a narrativa non-sense "P'tit Dab" e a sua versão de "Thyl Ullenspiegel", jamais foi publicada...
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"Forte Bravo" - Craenhals adaptou a BD o filme da Metro Goldwin Mayer. |
Uma série mais longa e que também não lhe era muito grata para seu gosto, foi "Os 4 Ases", com argumento de Chaulet (como de "Fantômette"), onde teve a dedicada colaboração do seu assistente Jacques Debruyne, cujos heróis eram os jovens Bouffi, Doct, Lastic, Dina e o cachorrito Óscar.
Mas a sua coroa de glória assenta na esmerada e vigorosa saga medieval "Chevalier Ardent", que aparece pela primeira vez na edição belga de "Tintin", em Janeiro de 1966. Deste herói, resultaram vinte álbuns de histórias longas e cerca de meia dúzia de narrativas curtas. Chevalier Ardent regista-se também, pelo menos na Bélgica, na Filatelia.
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"Chevalier Ardent" |
Desta bela série, apenas(!!!) foram editados cinco álbuns em Portugal: um pela Bertrand e os quatro seguintes pela Difusão Verbo (graças à atenção devida de José Luís Fonseca). Em periódicos, saíram algumas aventuras no "Tintin" (edição portuguesa) e no "Mundo de Aventuras". Uma tristeza este "tão pouco"!
Por sua vez, da série "Pom et Teddy" não há algum álbum em português, mas apenas publicações (saudosas) no "Cavaleiro Andante", "Zorro", "Selecções Tintin" e " Mundo de Aventuras". Que "flop" português e que atentado contra o talento de Craenhals!...
Dos quatro álbuns de Fantômette, só os dois primeiros (o quarto já nem foi desenhado por Craenhals) foram publicados pela Edinter. Melhor sorte teve a série infantil "Os 4 Ases" (cerca de quatro dezenas de álbuns) que conseguiu ter entre nós, dezasseis álbuns pela Difusão Verbo.
Entretanto, pelas bandas editoriais francófonas, já há bons registos de reedições (até na versão "integral") de "Chevalier Ardent" e de "Pom et Teddy"...
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