quinta-feira, 7 de novembro de 2019

NOVIDADES EDITORIAIS (183)

ÉDIPO -Edição Gradiva. Autores: segundo a orientação (e ​não só) do historiador Luc Ferry, tem guião de ​Clotilde Bruneau, arte de Diego Oddi, côr de Ruby, ​capa de Fred Vignaux e tradução de Maria de Fátima ​Carmo. É um álbum da preciosíssima série "A Sabedoria ​dos Deuses".
​Fundamentalmente e pela "lenda de Édipo", este tomo ​é baseado nas tragédias de Sófocles, "Édipo-Rei" e "Édipo ​em Colona", famosíssimas e muito representadas no mundo ​e por todos os tempos. Em 1718, o francês Voltaire, estreou-se na dramaturgia escrevendo uma tragédia homónima, e em 1960, ​o nosso saudoso Bernardo Santareno, glosou à sua maneira este ​tema, com "António Marinheiro ou
O Édipo de Alfama", que ​foi alto êxito num palco lisboeta.
​No Cinema, destacam-se dois filmes "Édipo-Rei": em 1967, com ​realização de Pier Paolo Pasolini, com Franco Citti (Édipo), Silvana ​Mangano (Jocasta) e Julian Beck (Tirésias); e em 1968, ​realizado por Philip Saville, com Christopher Plummer ​(Édipo), Lili Palmer (Jocasta) e Orson Welles (Tirésias).
Mas afinal quem é este Édipo, personagem central e ​tão marcante numa sinistra e tremenda crueldade programada pelo Destino?!…
​Pelo Ensino (em vários tipos) conta-se de raspão e resumidamente, que ele "matou o pai, casou com a mãe e teve um fim trágico"!!… Não é bem assim que se devem ​​citar estes bizarros e repulsivos factos… Entra aqui a eterna confusão, sempre discutível, das forças do Destino com o seu fatalismo a cumprir e o ingénuo Livre Arbítrio do homem. No dossiê final deste álbum, há que ter em conta o texto bem pertinente de Luc Ferry, onde tudo isto é posto em causa. Atenção, pois!
​Édipo foi sempre um inocente perseguido e martirizado. A origem da "maldição" recai em seu pai biológico, o rei ​Laio de Tebas, casado com Jocasta.
O Oráculo de Delfos ​dedicado ao deus Apolo, tinha indicado que Tebas seria ​sacrificada e que o filho mataria o pai e casaria com a mãe.
​Mal ele nasce Laio manda que um servidor o abandone no monte Citerião, onde ele morreria ou seria devorado pela feras. Não foi! Um pastor recolhe a criança e entrega-o a uns homens do reino de Corinto, onde os monarcas (Pólibo ​e Mérope), que desejavam e não podiam ter filhos, logo o adoptaram e o criam e educam como príncipe herdeiro.
​Todavia, nunca as situações foram resolvidas pelas certezas humanas, mas sim pelos incompreensíveis caprichos do ​Destino… Édipo, vindo a saber deste amargo Oráculo, ​escapa-se para evitar tais crimes… Dirige-se a Tebas e, ​pelo caminho, trava um duelo com uma pequena comitiva, matando quase todos, entre eles o rei Laio (que ele não ​sabia que era o seu verdadeiro pai). Prossegue e vence e ​extermina a terrível, mortal e enigmática Esfinge.
Aclamado ​herói e rei, cedo acaba por casar com a viúva Jocasta, donde ​resultam quatro filhos: Antígona, Isménia, Esteócles e ​Polínices. Porém, Tebas não tinha chegado ao fim do que ​estava divinamente decidido. O Oráculo é-lhe repetido.
O ​pastor que o recolhera e o rescapado da escaramuça que ​matou Laio, tudo confirmam, mais as palavras sabedoras do adivinho cego, Tirésias: Édipo é o verdadeiro filho de Laio e de Jocasta!... É a hecatombe de todo um horror!
Jocasta enforca-se. Édipo, cega-se e, no seu exílio deambulante e implacável, decretado por seu tio Creonte (irmão de Jocasta), agora rei de Tebas, parte um tanto à deriva, apenas acompanhado e guiado por seu filha Antígona, que jamais o abandona, vindo a morrer em Colona, sob a aquiescência benévola do rei de Atenas, Teseu.
Édipo, sem qualquer culpa, sofreu de um modo bem caro, a maldição fatal que fora proclamada sobre Laio. É aqui que está o início de toda a tragédia, não explicada nem por Sófocles nem por Luc Ferry. Aí vai: Laio, quando jovem nobre e por certas circunstâncias, foi protegido por Pélope (rei de Pisa). Porém, Laio, sem pensar e ultrapassando-se, apaixonou-se perdidamente pelo ​adolescente Crísipo (filho do seu protector), que o repudia. Então, rapta-o e viola-o (o que consta numa certa tragédia de Eurípides). Crísipo suicida-se e Laio foge para Tebas, onde… ​onde a tragédia vai prosseguir…
​Para quem não sabe, pederastia e pedofilia, são coisas bem diferentes, pois a pedofilia era sempre condenável, enquanto ​a pederastia era aquela ligação conveniente e oficialmente ​apoiada, onde o "erastes, o adolescente, TUDO ia aprender com ​o adulto ou "eromenos". Mas sempre com um acordo mútuo.
​Laio não aceitou a recusa de Crísipo... e do que aconteceu, o ​deus Apolo largou

o seu furor.
​Édipo, apanhado neste terrível anátema, acabou por ser um pobre sofredor com horrorosas angústias. Bem procurou fugir ao fatalismo, mas…
Obrigado, Gradiva, por esta obra-BD!
​Creio que pertence à opereta "José do Telhado", mas, não há por aí um bonito fado que canta "ninguém foge ao seu destino"?!... Será?...

LB

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