sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

FOI BONITA A FESTA, PÁ!

No passado dia 27 de Janeiro, rumámos até à histórica cidade de Viseu para assistir à merecida homenagem que a Câmara Municipal de Viseu e o Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu (Gicav) se propuseram prestar a Luiz Beira, meu prezado amigo há mais de 25 anos e colega de blogue há quase cinco.
Na manhã de 28, sábado, houve oportunidade para visitar o magnífico centro histórico da cidade após o que seguimos para almoço com Luís Filipe Mendes (do Gicav), outro amigo de longa data, e Luiz Beira.
Luis Filipe Mendes, Luiz Beira e Carlos Rico
A sessão teve início às 16:00 horas, na Biblioteca Municipal Dom Miguel da Silva, conforme estava previsto no programa. Aliás, toda a sessão decorreu a um ritmo assinalável, de forma contínua, sem pausas desnecessárias, o que se regista muito positivamente.
Começou com a actuação do viseense Grupo de Teatro Off, que interpretou um pequeno sketch humorístico e que, no final deste, convidou o próprio homenageado a juntar-se-lhe para... cantar as Janeiras.
Uma fase da actuação do Grupo de Teatro Off. À esquerda, Arlindo Fagundes,
Carlos Almeida e Geraldes Lino divertem-se com a cena (foto: CM Viseu/José Alfredo)
Luiz Beira, entre os actores do Grupo de Teatro Off, tentando cantar as janeiras... (foto: CM Viseu/José Alfredo)
Seguiram-se os indispensáveis discursos nestas ocasiões. A Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Viseu, Dr.ª Odete Paiva, e a Presidente da Direcção do Gicav, Dr.ª Filipa Mendes, elogiaram o homenageado e a sua obra e deram natural destaque ao gesto altruísta de Luiz Beira que doou a Viseu uma grande parte do seu acervo pessoal de banda desenhada, originando, dessa forma, o nascimento da Bedeteca Luiz Beira, já lá vão quinze anos.
Vista parcial da sessão de homenagem, com a Vereadora da CM Viseu, Dr.ª Odete Paiva, a discursar. Em primeiro plano, uma enorme vitrina que albergava álbuns que Luiz Beira doou à Bedeteca, autografados por nomes grandes da BD portuguesa e franco-belga
A Presidente do Gicav, Dr.ª Filipa Mendes, tomando a palavra. Ao fundo, a Bedeteca Luiz Beira. 
A propósito da Bedeteca Luiz Beira, abrimos aqui um pequeno parêntesis para informar que, além dos álbuns de banda desenhada (que neste momento são cerca de 6000, mais precisamente 5968), Luiz Beira doou ainda:
Livros vários de teatro e cinema: cerca de 700
- DVD's: 133
- VHS's: 30
- Revistas de BD em colecção: 5 (que perfazem 645 fascículos)
- Publicações periódicas várias (números dispersos): 1875 fascículos
Total de documentos doados: 9351 (!)
Convenhamos que é obra!...
Uma das salas da Bedeteca Luiz Beira
Geraldes Lino na Bedeteca Luiz Beira
Fechado o parêntesis, retomamos a reportagem para dizer que se seguiu, naturalmente, o momento em que Luiz Beira tomou a palavra. Este começou por chamar para junto de si alguns amigos de longa data, do mundo da BD, que estavam presentes.
Da esquerda para a direita: Rafael Sales, Carlos Rico, Dr.ª Filipa Mendes, Arlindo Fagundes, Dr.ª Odete Paiva, Geraldes Lino, Luiz Beira, Artur Correia e Carlos Baptista Mendes
Após o breve discurso, a Dr.ª Odete Paiva ofereceu a Luiz Beira, em nome da Câmara Municipal de Viseu, uma placa comemorativa. Este agradeceu o gesto da autarquia viseense e do Gicav, à maneira moçambicana: Kanimambo!
Momento em que a Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Viseu
oferece a Luiz Beira a placa comemorativa
Seguiu-se uma visita guiada à exposição, que ficou distribuída por dois andares: no primeiro, uma enorme vitrina com álbuns autografados, um painel biográfico e uma galeria de caricaturas e retratos originais que saíram directamente das paredes de casa de Luiz Beira para o átrio da Biblioteca Dom Miguel da Silva.
À entrada, a exposição de caricaturas e retratos originais de Luiz Beira

Algumas das caricaturas e retratos originais que poderão ser vistos nesta exposição.

Vitrina onde se podem observar álbuns de banda desenhada
autografados por nomes bem conhecidos da BD portuguesa
O casal Maria Belmira e Artur Correia, bem como Baptista Mendes, observando atentamente
algumas das preciosidades expostas na vitrina
Depois, subindo as escadas até ao andar seguinte, aguardavam-nos dezena e meia de painéis, uns com fotos do percurso de vida de Luiz Beira...
...outros com dedicatórias e autógrafos de alguns dos principais desenhadores da BD portuguesa e mundial (Hermann, Horacio Altuna, Dany, Craenhals, Morris, Convard, Jacques Martin, Tito, etc)...
...e, por fim, depoimentos de gente da BD, que não quis deixar de se associar a esta homenagem.
Luiz Beira, atento ao pormenor de um dos painéis fotobiográficos (foto: CM Viseu/José Alfredo)
A exposição de Luiz Beira foi vista com bastante interesse pelo público
A visita guiada decorreu bem, embora o numeroso público que participou acabasse por não nos deixar espaço para tirar algumas fotografias em plano aberto. Por isso regressámos, posteriormente, ao local e fotografámos a série de painéis, de forma a que os nossos leitores pudessem perceber melhor como estavam distribuídos...

De salientar que, durante a sessão, Rafael Sales, Dani e Miguel Rebelo, três caricaturistas/cartunistas locais, animaram o espaço desenhando ao vivo caricaturas de Luiz Beira que depois lhe foram oferecidas.
 Luiz Beira observando atentamente o trabalho dos cartunistas Rafael Sales e Dani (foto: CM Viseu/José Alfredo)
Miguel Rebelo, cartunista da revista "Anim' Arte", desenhando o homenageado
Já depois da fase de "maior sufoco", quando o público começou a dispersar, Luiz Beira pode fazer uma visita mais demorada e atenta pela exposição que lhe era dedicada... 
Luiz Beira observando o primeiro painel da exposição, com texto biográfico (foto: CM Viseu/José Alfredo)
...e teve, enfim, tempo para umas fotos com a competente e abnegada equipa da Biblioteca/Bedeteca Municipal de Viseu.
Luiz Beira e a Dr.ª Teresa Almeida, responsável pela Bedeteca

Luiz Beira ladeado por Luís Teixeira e João Clemente, dois funcionários da Biblioteca
O casal Artur e Maria Belmira Correia e Carlos Baptista Mendes, num breve momento de descanso para retemperar forças
Ainda na Biblioteca, houve espaço para um pequeno beberete, onde foi servido um excelente "Dão de Honra" aos convidados. Foi o prelúdio certo para o jantar que se seguiu, no Restaurante "Os Templários", onde o convívio entre gentes de Lisboa, Braga, Aveiro, Tomar, Moura, Seixal e Viseu se prolongou noite dentro. 
Luiz Beira, durante o jantar, à cabeceira da mesa, ladeado por Carlos Carvalheiro, Carlos Alberto Almeida, Geraldes Lino, Arlindo Fagundes e Ju, a esposa deste.
Carlos Carvalheiro (do Grupo de Teatro "Fatias de Cá") e Carlos Almeida (do Gicav)
Geraldes Lino e Arlindo Fagundes
Carlos Baptista Mendes, um senhor da BD portuguesa
Luís Filipe Mendes (de camisola clara) foi um dos grandes obreiros desta homenagem, apesar de se ter mantido discreto durante praticamente toda a sessão. Vê-mo-lo aqui, durante o jantar, na companhia da filha, Joana, da esposa, Natália, e do colega José Carlos Costa (da Junta de Freguesia de Ranhados).
Depois do jantar, houve quem optasse por assistir, ali bem perto, ao espectáculo "Cantar as Janeiras" (desta vez já sem o Luiz Beira a fazer estragos...); outros preferiram "abanar o capacete" com a excelente banda viseense "Hi-Fi" que comemorava os seus dez anos de existência com um concerto livre; e outros - como foi o nosso caso - optaram por regressar ao Hotel e descansar de um dia extenuante (com muitas horas de viagem pelo meio) mas, também, muito gratificante.

Em resumo, estão de parabéns:
- O Gicav (com destaque para Luís Filipe Mendes e Carlos Alberto Almeida, os dois grandes obreiros desta bela iniciativa).
- A Câmara Municipal de Viseu, pelo forte contributo que, ao longo de tantos anos, tem dado e continua a dar à banda desenhada, caso muito raro no panorama autárquico nacional, como é sabido.
- A Biblioteca Dom Miguel da Silva / Bedeteca Luiz Beira (com uma palavra de apreço para a Dr.ª Teresa Almeida e a sua equipa, incansáveis na articulação com o Gicav na preparação desta homenagem).
- E, last but not least, Luiz Beira, meu amigo de longa data e colega de blogue, que mereceu, sem dúvida, esta bonita homenagem pelo muito que tem feito - e vai continuar a fazer - pelas Artes em geral, pela banda desenhada e por Viseu, em particular.

Mais uma vez - nunca é demais referir -, tudo foi preparado com extremo cuidado e decorreu muito bem. E, para cúmulo, nem faltou um pormenor delicioso no elevador do Hotel onde nos hospedámos... 
Como diria o grande Chico Buarque: "Foi bonita a festa, pá!".
CR
Pormenor do elevador do Hotel. Nem de propósito...
Nota 1: A exposição pode continuar a ser visitada até ao próximo dia 22 de Abril.
Nota 2: Agradecemos a cedência de algumas das fotos que ilustram este post à Câmara Municipal de Viseu/José Alfredo.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

NOVIDADES EDITORIAIS (112)

LA BOUE ET LE SANG - Edição Lombard.  Argumento de Yves H. e arte de Hermann.
Na linha western, “La Boue et le Sang”, é o primeiro tomo da série “Duke”.
Uma obra esmagadora que nos arrasta e envolve quase sem tempo para respirar. A arte plena dos Huppen numa série intensa, cruel e maravilhosamente sem contemplações. Sem as doces fantasias “made in Hollywwod”!...
Com a acção de Duke, aqui se revivem as fúrias, as ganâncias e os sofrimentos das gentes do lendário Oeste Norte-Americano.
O leitor quase se sente cilindrado com tamanha narrativa, mas vale bem a pena, não só pelo argumento de Yves, como também pela gigantesca e impecável arte de Hermann.

 
CAROLINA BEATRIZ ÂNGELO - Edição Âncora. Autor: José Ruy.
Numa obra didáctica, mestre José Ruy revela-nos aqui a apaixonante biografia de Carolina Beatriz Ângelo, que foi a primeira mulher do nosso País a votar e também, a primeira mulher que, sendo médica, foi também a primeira a praticar cirurgias.
Corajosa na luta pelos justos direitos das mulheres, teve como suas principais colaboradoras, Ana de Castro Osório e Adelaide Cabete.
Nascida na Guarda, faleceu jovem, com apenas 33 anos, por falha súbita do seu coração em 1911.
Esta obra é uma notável e justa homenagem de José Ruy a uma das grandes portuguesas da nossa História.

MAORI BLUES - Edição Lombard. Argumento de Benec e traço de Thomas Legrain.
“Manon Blues”, décimo tomo da série “Sisco”, é a  segunda e última parte, concluindo o episódio (“Gold Black”) iniciado no tomo anterior.
Pela região da Nova Zelândia, vários países e diversos agentes secretos, andam envolvidos, sem qualquer escrúpulo, pela causa do danado do petróleo.
Sisco, agente secreto francês, e que se havia retirado, é-lhe imposto que torne ao activo, dê lá por onde der... E para o forçarem à acção, ele tem de se portar muito bem para salvaguardar a sua querida Manon, que está mais ou menos “cativa” no Uganda...
Sisco , por sua vez, está preso entre dois fogos: o dos franceses que lhe impõem o regresso e o dos agentes norte-americanos da famigerada CIA que o têm como muito incómodo...

 
LENDAS DO DISTRITO DA GUARDA - Fernando Santos Costa é o autor e editor, tendo tido neste aspecto, o apoio das Câmaras Municipais de Aguiar da Beira, Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Manteigas e Trancoso.
Este maravilhoso álbum, não sendo propriamente uma obra de Banda Desenhada, tem porém, por cada lenda, uma ilustração alusiva, por Santos Costa.
Para além das terras já citadas, há também lendas de Fornos de Algodres, Gouveia Mêda, Pinhel, Sabugal, Seia e Vila Nova de Foz Côa.
Curioso: numa das lendas de Figueira de Castelo Rodrigo, há também uma bela moira Salúquia, mas esta com um final bem mais feliz que a sua homónima da Cidade de Moura (que, pelos Romanos se chamou Arucci e/ou Civitas Aruccitana, e pelos Árabes, era Al-Manijah).
Os interessados em ter este precioso álbum, deverão contactar com um dos sete Municípios acima citados. Ate lá, parabéns Santos Costa!
LB

domingo, 5 de fevereiro de 2017

GUTENBERG: BIOGRAFIA EM VÁRIOS ESTILOS

Gutenberg (1398-1468)
Desta vez, não se trata de uma obra literária em si, mas de vários estilos da BD que abordaram a biografia de Johannes Gutenberg (1398-1468).
Nasceu em Mongúcia (Alemanha), onde faleceu a 3 de Fevereiro de 1468, tendo vivido alguns anos em Estrasburgo.
Seu nome completo: Johannes Gensfleisch Zur Laden Zum Gutenberg.
Desde muito jovem que se interessou pela leitura, lendo todas as obras que existiam em casa de seus pais. Cedo também se começou a familiarizar com o estudo da fundição de metais, dos tipos de papel e do uso das cores.
Erradamente, diz-se que foi o inventor da Imprensa (ou das impressoras). Não, não foi! Foi sim, um genial inovador para as impressões de textos e gravuras... pois, já nos distantes tempos da Suméria, havia aí um sistema muito rudimentar para se imprimirem certos textos.
Todavia, o grande salto para o futuro desta técnica, surgiu com o chinês Bi Sheng (990-1051), que inventou a imprensa de tipos móveis por volta de 1041 a 1048, que fabricou com base na porcelana chinesa. Depois, cerca do ano 1234, no Reino de Koryo (na actual Coreia), este povo experimentou o sistema chinês, passando da porcelana para a madeira e o ferro, que entretanto Sheng foi apostando para metais mais resistentes e duráveis.
Só séculos depois, pelos anos de 1400, é que Gutenberg entra em acção com a sua inovação e reinvenção da Imprensa, apesar de desconhecer os antigos (e já vigentes) sistemas asiáticos.
Até à época de Gutenberg, todos os textos, gravuras, etc, na Europa, eram copiados à mão por monges, alunos e escribas, o que tornava tudo muito mais moroso, dispendioso e com frequentes erros, quiçá, indeléveis. Com Gutenberg, há uma verdadeira invenção para a modernidade, resultado de experiências na base do chumbo fundido para os famosos tipos móveis e reutilizáveis. Só bons séculos volvidos, apareceram outras máquinas e outros processos que, se bem que eficazes, jamais apagarão a força em papel, de livros, documentos, jornais e revistas.
Merecidamente, a vida de Gutenberg não tem ficado olvidada, com destaque para a Banda Desenhada.
Por esta vertente artística, salienta-se a versão criada pelo nosso José Ruy, em 13 pranchas (12+1), que foi publicada no “Número Especial do Outono de 1954”, da revista “Cavaleiro Andante”.
"Gutenberg", por José Ruy, in "Cavaleiro Andante" Número Especial de Outono (1954)

O segundo destaque vai para a versão em 4 pranchas, por Dino Attanasio, sob argumento de Jean Graton, publicada na revista “Spirou” n.º 739 (1952) depois, entre nós, no “Álbum do Cavaleiro Andante” n.º 54 (1958).
"Gutemberg", por Dino Attanasio (desenho) e Jean Graton (texto), in "Álbum do Cavaleiro Andante" #54 (1958)

Algumas outras versões: “Strasbourg clé de l'Europe” com texto de Charly Damm e traço de François Abel, sob "Éditions du Signe" (Agosto/2016)...
"Strasbourg, clé de lÉurope" por Charly Damm (texto) e François Abel (desenho)
"Éditions du Signe" (2016)

...“L’Étrange Machine à Livres” da série Geronimo Stilton, com texto de Elizabetta Dami, sob edição Glénat...
 
“L’Étrange Machine à Livres” por Elizabetta Dami, Edição "Glénat" (2013)

...“Le Mystère Gutenberg”, com texto de Roland Oberle e Georges Foessel e ilustrações de Yves Lenoble, sob edição Serengeti...
“Le Mystère Gutenberg”, por Roland Oberle e Georges Foessel (texto) e
Yves Lenoble (ilustrações), "Serengeti Editions" (1994)

De autor(es) que não conseguimos descortinar, temos uma versão em duas pranchas publicada no #48 da revista "J2".
"Un Homme de Caractere", sem autor identificado, in revista "J2" #48 (Nov. 1967)

As Produções Walt Disney, obviamente, não deixaram de trabalhar este tema, colocando Goofy (conhecido por Pateta em Portugal e no Brasil) na pele de Gutenberg...
Duas capas com Goofy no papel de Gutenberg (Produções Disney)

Finalmente, e para terminar esta pequena série de exemplos, um dos números na colecção "Chamo-me...", da "Didactica Edições", é dedicado a Johannes Gutenberg, com texto de Lluis Borrás e ilustrações de Francesca Carabelli.
"Chamo-me.. Johannes Gutenberg", por Lluis Borrás (texto) e Francesca Carabelli (ilustrações), "Didactica Edições"

Johannes Gutenberg tem, pelo menos, uma estátua em homenagem eterna, na cidade de Estrasburgo.

Os cartunistas também não se têm esquecido do notável Gutenberg. Por isso, “em fim de festa”, aqui reproduzimos (com a devida vénia) um exemplo de Len Hawkins.

Agradecimento: a Luís Valadas pelo apoio prestado.
LB