quarta-feira, 8 de julho de 2015

NOVIDADES EDITORIAIS (75)

LA PALETTE ET L’ÉPÉE - Edição Glénat. Autor: Milo Manara. “La Palette et l’Épée” é o título do primeiro tomo da série  “Le Caravage”.
Michelangelo Merisi, dito Caravaggio (nome da localidade onde nasceu e que ele adoptou como nome artístico), nasceu a 29 de Setembro de 1571 e faleceu a 16 de Julho de 1610. Há versões que dizem que ele foi assassinado...
Vivendo de um modo febril para a sua Pintura, revolucionou esta arte, para além de ter sido um constante ser dado a diversos amores, paródias boémias e brigas. Mas isso é outra história!
Milo Manara, admirador absoluto da arte deste pintor seu compatriota, entregou-se a sério a fazer a sua biografia através da Banda Desenhada. O primeiro tomo, de dois, já está disponível e encanta-nos completamente. A ler!


LA PRISONNIÈRE DE L’ARCHANGE - Edição Casterman. O desenhista Olivier Pâques e Bernard Drion, prosseguem a série “Loïs”, inaugurada por mestre Jacques Martin, donde este sétimo tomo, “La Prisonnière de l’Archange”.
Marie-Anne de Bourbon, a filha favorita de Louis XIV de França, é raptada por um grupo (o “Arcanjo”) de conspiradores que querem derrubar o monarca e instaurar a república. O destemido Loïs Lorcey é encarregado pelo rei de França de salvar a princesa e pôr tudo nos eixos...


MODESTE ET POMPON, L’INTÉGRALE - Edição Lombard. Autor: André Franquin, com algumas pranchas com argumentos de Greg, Goscinny, etc.
São cerca de cem pranchas de “Modeste e Pompon”, desenhadas por mestre André Franquin, reunidas num álbum integral e bem divertido.
Bem mais tarde, Franquin convidou o seu colega italiano Dino Attanasio (a residir em Bruxelas) para prosseguir esta série. No entanto, as pranchas por Attanasio não fazem parte deste volume.
Este integral de “Modeste e Pompon”, pela arte de Franquin, é um álbum que aconselhamos, sobretudo para se ler paulatinamente e com muitos risos, por este tempo de altos calores.


LA CHUTE DU REICH - Edição Casterman. Seguindo a ideia inicial de Jacques Martin, Olivier Weiberg e Yves Plateau, prosseguem a série “Les Reportages de Lefranc”, donde este quarto tomo.
É um álbum-documento, bem precioso, com textos, fotografias e cuidadas ilustrações, relatando e registando a queda da Alemanha de Hitler, precisamente os momentos decorridos em 1945.
LB

domingo, 5 de julho de 2015

EVOCANDO (16)... JAYME CORTEZ

Jayme Cortez (1926-1987)
É com grata admiração que hoje evocamos o nosso desenhista Jayme Cortez, pois faleceu precisamente a 5 de Julho de 1987, em S. Paulo (Brasil), vítima de paragem cardíaca.
Nasceu no Bairro Alto (Lisboa) a 8 de Setembro de 1926, sendo então Jaime Cortez Martins, de nome.
No início de 1947 estabeleceu-se no Brasil, pais que o tem em alta consideração e no qual veio a naturalizar-se, tendo também casado com uma cidadã brasileira.
Directa ou indirectamente, foi discípulo de Eduardo Teixeira Coelho, vindo depois a criar os seus próprios e variados estilos gráficos e pictóricos. Tive (eu, LB) a glória de ter convivido com ele, se bem que efémeramente, num jantar bedéfilo em Lisboa em 1986 (a última vez que visitou a sua cidade natal).
Jayme Cortez é um caso muito especial na Banda Desenhada Portuguesa, embora, tal como seus colegas Eduardo Teixeira Coelho e Vítor Péon, tenha desandado do nosso País (só Péon tornou para entre nós vir a falecer).
Cortez começou a sua carreira de desenhista e cartunista em Portugal... aos onze anos de idade (!!) no suplemento infantil do matutino lisboeta “O Século”.
Nos inícios dos anos 40 do século passado, estreou-se em “O Mosquito”, com a história “Uma Espantosa Aventura”. Mas é no imenso e consciente Brasil que ele é considerado com respeito e admiração. Aqui desenvolveu toda a sua carreira (BD, Ilustração, Capas, Pintura, etc.), valorizando bastante as H.Q. no país onde foi adoptado.
Foi mestre de consagrados desenhistas brasileiros, como Eugenio Colonnese, Messias de Melo e Rodolfo Zalla. Chegou a colaborar com o português António Lopes Cardoso, aparentemente esquecido em Portugal e estranhamente “perdido” também pelo imenso Brasil...
Com Álvaro de Moya, Miguel Penteado e Syllas Roberg, Jayme Cortez foi um dos co-organizadores da primeira exposição internacional de Banda Desenhada do mundo, inaugurada a 18 de Junho de 1951 em São Paulo.
Colaborou nas edições do famoso Maurício de Sousa.
É autor de vários livros didácticos: “A Técnica do Desenho”, “Mestres da Ilustração”, “Manual Prático da Ilustração”, etc.
Alguns dos livros técnicos de Jayme Cortez

Foi actor em três filmes de José Mojica Martins: “Delírios de um Anormal”, “Mundo, Mercado do Sexo” e “Perversão-Estupro”.
Foi premiado pela sua carreira de desenhista no Festival de Lucca (1986 - Itália), tendo antes, em 1984, recebido o Prémio Ângelo Agostini (Brasil).
E é neste mesmo Brasil que é criado o “Troféu Jayme Cortez” para determinados e honrosos fins.
Salientam-se ainda as admiráveis capas que Jayme Cortez elaborou para os fascículos ou mini-álbuns, publicados no Brasil, versando as séries-BD “Oscarito e Grande Otelo” e “Mazzaropi”...
Capas de "Oscarito e Grande Otelo" e "Mazzaropi"

...e as edições locais dos textos de Eça de Queiroz adaptados por Eduardo Teixeira Coelho.
Capas de "A Torre de D. Ramires" e de "O Tesouro" (in "Aventuras Heróicas", Edições La Selva)

Da sua curta obra criada em Portugal, sobretudo para o público juvenil, salientam-se “Uma Espantosa Aventura”, “O Vale da Morte”, “Os Dois Amigos na Cidade dos Monstros Marinhos” e “Os Espíritos Assassinos” (esta, reeditada nos “Cadernos de Banda Desenhada” #2, em Março de 1987).
Prancha de "Os 2 Amigos na Cidade dos Monstros Marinhos"

No Brasil, da sua extraordinária carreira, demarcam-se as suas duas primeiras histórias, “O Guarani” e “Caça aos Tubarões”.
Depois, Cortez avançou muito no seu estilo e aprofundou-se notavelmente em temas do insólito e do terror, donde obras como “Zodíaco”, “O Retrato do Mal”, etc, até “Saga do Terror”, publicado postumamente pela Editora Martins Fontes.
Primeira prancha de "O Retrato do Mal"
Prancha final de "O Retrato do Mal"
Que o mundo bedéfilo português não esqueça também este grande valor que foi (e é) Jayme Cortez.
LB


Pranchas de "Os Seis Terríveis" (in "O Mosquito")

Capa e pranchas de "Os Espíritos Assassinos", in "Cadernos de Banda Desenhada" (1987)
Capa para "O Defunto" (in "Aventuras Heróicas" #7 , Edições La Selva)
Capa para "A Aia" (in "Aventuras Heróicas" #10 , Edições La Selva)
Capa para a revista "Capitão Radar" 
Capa para "Almanaque de o Terror Negro"
Capa para a revista "Os 3 Patetas" (Edição Seleções Juvenis)

Capa para o álbum "Zodíaco"
Da esquerda para a direita: António Barata, José Abrantes, Jayme Cortez, José Ruy, Luiz Beira e Differ
(na última vez que Jayme Cortez esteve em Portugal, em 1986)

quarta-feira, 1 de julho de 2015

NOVIDADES EDITORIAIS (74)

NAPOLÉON - Edição Lombard. Autores: Liliane e Fred Funcken.
A 18 de Junho de 1815 (fez agora 200 anos), o imperador francês Napoléon Bonaparte foi derrotado na sangrenta e heróica (para ambos os lados) Batalha de Waterloo (zona que hoje pertence à Bélgca).
Contra uma coligação de ingleses (sob o comando do Duque de Wellington), prussianos (sob o comando do general Blücher) e mais pequenas forças de outros países, Napoleão  tinha a secundá-lo generais de nomeada como Michel Ney, Pierre Cambronne e Emmanuel de Grouchy. E, se não fosse um erro estratégico de Ney e a não chegada a tempo das forças sob o comando de Grouchy, muito provavelmente, Bonaparte teria ganho a batalha...
Registando este bicentenário, as Éditions du Lombard (Bélgica) editaram um belíssimo (diríamos, magnífico) álbum integral sob o admirável talento do casal Funcken, de narrativas localizadas no período napoleónico.
Precedido antes das bd's de um extraordinário dossiê, seguem-se duas histórias de 44 pranchas (“Waterloo” e “Le Sultan de Feu”) e mais catorze curtas de quatro pranchas, finalizando com “Quand Leroy Habillait l’Empire”. Destas, onze têm argumento de Yves Duval e uma de Michel Deverchin.
Álbum de luxo e de forte registo histórico, dele se exige uma atenta e apaixonada leitura por todos os bedéfilos.


LE ROI DES CORSAIRES - Edição Glénat. Argumento de Arnaud Delalande e Erick Surcouf e grafismo de Guy Michel, assistido por Steven Cabrol.
Brilhantemente, trata-se do terceiro e penúltimo tomo da série “Surcouf”, narrando a vida e as proezas heróicas do corsário francês Robert Surcouf. E aqui também já entra em cena Napoléon Bonaparte que, ouvindo falar das heroicidades do corsário, fica seriamente interessado em conhecê-lo...
Para além de todo o empolgante enredo com História e alguma ficção, tem momentos gráficos espectaculares.


BALADÁ  EROICÁ - Edição Dodo Nitá. Argumento de Octav Pancu-Iasi e grafismo de Puiu Manu.
Um mini-álbum (por enquanto só em romeno) com um terno e misterioso enredo com a força do elegante traço a preto-e-branco de Puiu Manu, o decano dos desenhistas romenos. O seu belo traço, de certo modo, faz-nos lembrar o do nosso saudoso Fernando Bento.
Pode ser que esta obra apareça em português...


DEIXA-ME ENTRAR - Edição Polvo. Autora: Joana Afonso.
Tem a notória marca gráfica de um dos talentos femininos da nova geração da BD Portuguesa. E... muito bem!
A narrativa é, aparentemente, seca e monótona, mas isso é só aparentemente.
Toda a história é bela e, ante o “aparentemente” atrás focado, há um ponto central que raras vezes é abordado na Banda Desenhada: a solidão humana. E a sensibilidade de Joana Afonso segurou muito bem este tema.
LB

domingo, 28 de junho de 2015

BREVES (10)

Os fundadores do Clube Português de Banda Desenhada (da esquerda para a direita): António Dias de Deus, José Sobral, Vasco Rivotti, Vítor Péon, Carlos Gonçalves, Jorge Magalhães e António Amaral. O último, à direita, é o jornalista Diamantino Bravo, que na altura os entrevistava (imagem retirada, com a devida vénia, do blogue do nosso amigo Jorge Magalhães, que podem consultar clicando em O Gato Alfarrabista).
O Clube Português de Banda Desenhada (CPBD) prepara-se para comemorar o seu trigésimo-nono aniversário com o habitual almoço de confraternização. As inscrições terminam na próxima sexta-feira, pelo que quem quiser comparecer neste convívio bedéfilo terá de "dar cordas aos sapatos"...

CIRCULAR DO CLUBE PORTUGUÊS DE BANDA DESENHADA
ALMOÇO DE CONFRATERNIZAÇÃO

Lisboa, 22 de Junho de 2015   

Caro/a Consórcio/a:

Ao longo dos anos o Clube Português de Banda Desenhada, apesar de não ter tido grande atividade no campo da Banda Desenhada e de se ter mantido modesto nas suas diligências, conseguiu no entanto, mercê de um conjunto de meia – dúzia de sócios, que suportaram a renda da sua Sede de modo a que este tenha funcionado até hoje, devido a uma quotização mensal entre todos. Tal permitiu que o CPBD se tenha mantido atual em três situações, que nunca foram abdicadas por estes sócios. Manter a edição da revista oficial do Clube, haver reuniões quinzenais para troca de impressões e celebrar todos os anos o aniversário deste, através de um almoço de confraternização. É pois deste que iremos falar a seguir. No dia 28 deste mês, completam-se 39 anos que o CPBD, mal ou bem, tem subsistido e, como tal, há que festejar e preparar o futuro desta Associação, que será aquilo que os sócios assim o desejarem, pois ela não funcionará em pleno se não houver esforço e dedicação por parte de todos, não só através da angariação de novos sócios, como colaborando em futuras ações de desenvolvimento das suas atividades. Será pois, no dia 4 (sábado) de Julho próximo, no Restaurante Moisés, sito na Av. Duque d’Ávila, nº. 123, em Lisboa, pelas 12H30/13H00, que será celebrado o seu aniversário. Agradecemos a sua comparência e a respetiva confirmação para os telemóveis: 962645028 (Carlos Gonçalves) e 919008172 (Paulo Duarte) ou para os e-mails: davisgoncalves@sapo.pt pmsduarte@iol.pt

O CLUBE PORTUGUÊS DE BANDA DESENHADA








VALÉRIAN NO CINEMA

O realizador francês Luc Besson está a preparar uma longa metragem versando o álbum da série “Valérian”, “O Império dos Mil Planetas”, a estrear em 2017.
Os actores principais são a inglesa Cara Delevigne e o norte-americano Dane De Haan.




ANIVERSÁRIOS EM JULHO

Dia 03 : Arlindo Fagundes
Dia 10 : Juan Espallardo (espanhol)
Dia 11 : João Mascarenhas
Dia 16 : Hugues Barthe (francês)
Dia 17 : Hermann (belga)

quinta-feira, 25 de junho de 2015

A VIDA INTERIOR DAS REDAÇÕES DOS JORNAIS INFANTO-JUVENIS na memória de José Ruy (8)


8) A NOVA REDAÇÃO E A TRANSFORMAÇÃO DO JORNAL

Tive oportunidade, no artigo anterior, de descrever as peripécias e modificações na redação d’O Papagaio, e a importância da arte gráfica no resultado do trabalho de desenho iniciado no estirador.

Em 1949 foi-nos anunciado, aos colaboradores do jornal "O Papagaio", de que ia haver uma fusão de publicações no Grupo Editorial «Renascença Gráfica» e que este jornal seria integrado como suplemento na revista "Flama", que existia já.
A redação passou a funcionar na instalação da União Gráfica, Rua de Santa Marta, n.º 48, primeiro andar, em Lisboa.
"O Papagaio" perdeu a sua independência e passou a ser um destacável da revista e impresso só a preto e uma cor.
Imagens destacadas de recentes anúncios de venda na Internet, de exemplares (já raros).
A revista "Flama" ficou com 24 páginas, sendo 12 impressas pelo processo «Rotogravura» que melhor se aproxima do aspeto da fotografia, com uma sobrecarga a vermelho, em tipografia, na capa e contracapa. O resto do interior era em tipografia, com algumas páginas a duas cores, onde foi incluído "O Papagaio" que passou a ser então uma «Secção Infantil» ou um «Suplemento».
Primeiro começou por ocupar três páginas da revista e mais tarde passou a duas , uma folha para dobrar ao meio fazendo quatro páginas mais pequenas, mas a pesar de tudo com melhor arrumação para o conteúdo. Havia contos nas páginas fora do suplemento que continuaram a ser ilustrados por nós.
O diretor da revista era o jovem desportista Mário Simas, e o chefe de redação o Frei Diogo, pessoa espetacular, conhecedor do que fazia e de um valor humano invulgar.
O Carlos Cascais manteve-se como responsável pelo suplemento e também por outras secções. Desta vez tínhamos um diretor presente e a relação entre nós, os colaboradores e os dirigentes era ótima.
Tínhamos menos espaço disponível na revista, por isso o aproveitamento passou a ser mais rigoroso e equilibrado. As Histórias em Quadrinhos ficaram praticamente entregues ao Vitor Silva e a mim.
Foi nesta fase que iniciei uma série a que chamei de «Lendas Japonesas», baseada em traduções de Wenceslau de Moraes, dando largas à minha apetência pelas culturas orientais.
Como o processo gráfico se tinha alterado tivemos de nos adaptar, o que me levou a criar soluções técnicas para tirar um melhor partido do efeito, mas tendo em conta não encarecer o orçamento oficinal da revista.
A cor que se sobrepunha aos originais a traço era agora desenhada separadamente por nós e reproduzida em zincogravura para o processo tipográfico.
Eis o primeiro modelo, com a página no formato da revista e, ao lado, depois da transformação em 4 páginas, metade do tamanho.  A cor sobre o preto variava entre o vermelho, o azul, o verde ou um tom-de-mel.
A ilustração de Natal é do meu amigo Vítor Silva.
Nas cores não tínhamos possibilidade de fazer meias-tintas, pois a zincogravura era só a traço, preto e branco; para o conseguirmos precisaríamos de utilizar a «fotogravura» que era bem mais cara e que não estava previsto no orçamento da revista.
Lembrei-me então de experimentar fazer o desenho da cor sobre papel Fabriano e empregar lápis litográfico (bem negro) tirando partido do grão do papel para criar esbatidos por meio do granitado.
Mostro aqui uma das vinhetas das «Lendas», que eram desenhadas ao dobro para beneficiarem da redução. A cor era feita sobre o papel «Fabriano» sobreposto ao original e trabalhada à transparência com tinta-da-china e lápis litográfico. Depois de feita a zincogravura a impressão final ficava com o aspeto da terceira imagem, dando realmente a ilusão de esbatidos. A cor era dada na máquina na altura da impressão.
Entretanto o Mesquita dos Santos dono da «UPI», União Portuguesa de Imprensa, frequentador das tertúlias n’O Mosquito, abordou-me por causa destas «Lendas Japonesas» que estava a publicar na "Flama". Sabendo que eram feitas zincogravuras para a impressão, e que estas depois da publicação ficavam postas de parte, pois a revista não iria repetir as histórias, avançou com uma proposta singular.
Eu passaria a fazer os desenhos para a agência que me pagava o mesmo que a "Flama", e a «UPI» encarregava-se de fazer as gravuras e cedê-las à revista por um preço simbólico, um quarto do seu custo, mais o preço dos desenhos. Depois da impressão as gravuras seriam devolvidas à agência.
A partir dessas gravuras a «UPI» faria «Flans» ou moldes num material especial, uma fibra muito leve parecida com o cartão. Derretendo chumbo sobre esse molde conseguia-se o equivalente à gravura original. Essa operação era chamada de «estereotipia».
Os «Flans», devido à sua leveza, podiam ser enviados pelo correio com portes acessíveis, para jornais de África, por exemplo, destinados a novas publicações.
No destino, depois de feita a estereotipia, podiam inserir as ilustrações nas revistas e livros. Nos anos 40 a tipografia era o processo mais usado nessas paragens. Eu receberia 50% do que cada jornal pagasse. Era uma novidade, pois pela primeira vez este tipo de operação se fazia em Portugal relativamente a Histórias em Quadrinhos nacionais.
Quando o Mesquita dos Santos apresentou a proposta à "Flama" a administração mostrou-se desconfiada. Onde estaria o lucro da agência, se lhe cediam as gravuras por um preço muito abaixo do custo? Embora o Mesquita lhes explicasse o plano, custou a convencerem-se, mas venceu o facto de pouparem dinheiro. Por isso a partir de certa altura no cabeçalho das «Lendas» surgiu o nome da «UPI».
O Mesquita dos Santos enviou as propostas para jornais de África…

(Continua)



No próximo artigo: A ARTE GRÁFICA E AS ILUSTRAÇÕES

segunda-feira, 22 de junho de 2015

NOVIDADES EDITORIAIS (73)

VOLTA - Edição Polvo. Argumento de André Oliveira e arte de André Caetano.
Num belíssimo preto-e-branco, “Volta: O Segredo do Vale das Sombras”, conta-nos a história de um ciclista que perdeu a memória e o rumo e vai dar a uma estranha aldeia, afastada do mundo e vivendo temores, hábitos e superstições do passado.
Uma muito estranha e muito entusiasmante narrativa.

PSICOPATOS - Edição Arcádia. Autor: Miguel Montenegro.
Foi uma grata surpresa lermos este divertido álbum de Miguel Montenegro, autor que havia “desaparecido” dos meus contactos, sabendo apenas  que se editava em
publicações da norte-americana Marvel... E tão pouco o conhecíamos na linha humorística.
Este álbum, “Psicopatos - Entre Loucos, Quem Tem Juízo É Pato”, é uma maravilhoso delírio de análise e críticas, com aspectos sarcásticos, algum non sense e tudo o mais que nos alerta e diverte.
Aconselhamos vivamente a leitura desta obra.

NE PAS CRAINDRE LA MORT - Edição Lombard. Argumento de Patrick Weber, traço de Christophe Simon e cores de Alexandre Carpentier. Aparentemente, com este terceiro tomo, termina a série “Sparte”.
Christophe Simon, que foi discípulo de mestre Jacques Martin, está cada vez mais firme no seu talento e saber de bem desenhar. O enredo de Weber, para além dos
aspectos de ficção, leva-nos a rever o que se aprendeu no liceu sobre os usos, costumes e leis da clássica Esparta.

AS BARBAS DO IMPERADOR - Edição Schwarcz. Argumento de Lilia Moritz Schwarcz e arte gráfica de Spacca (aliás, João Spacca de Oliveira).
Já há alguns anos havíamos aplaudido uma outra obra desta parceria, “D. João Carioca”. Agora, neste precioso álbum, relatam-nos a vida do segundo e último imperador do Brasil, D. Pedro II. Mas não só! Narra-nos toda uma rica e agitada História do Brasil desses tempos e a admirável personalidade do monarca, inteligente, culto e patriota.
É mais uma obra-BD cuja leitura vivamente aconselhamos... se a encontrarem à venda em Portugal. Foi apresentada ao público bedéfilo no XI Festival Internacional de BD de Beja.
LB

sexta-feira, 19 de junho de 2015

UMA OBRA... VÁRIOS ESTILOS (3) - BEAU GESTE


A Legião Estrangeira, a francesa (porque houve e talvez ainda exista a espanhola... bem mais violenta), sempre foi um fascínio e/ou um fantasma romântico da Literatura e do Cinema. Só isso, para fazer pulsar paixões de todo o género, mas sem força de qualquer verdade na crueza plena do seu autêntico realismo. É que a Legião Estrangeira é só para homens de acentuada virilidade e de coragem absoluta, pois senão...que a tal ninguém se arrisque.
Muito e muito, quase mais que as areias do deserto, se tem escrito e descrito sobre a valente Legião Estrangeira. Valente, briosa e honrosa!
Pois é por esta força de Honra e do seu conotado romantismo, que aqui nos focamos agora.
O tema de “Beau Geste” tem apaixonado assolapadamente, sobretudo escritores e cineastas, não se escapando também a outras vertentes artísticas. E pela Banda Desenhada, para além de inúmeras outras apostas, citamos apenas dois exemplos, talvez os mais conseguidos:
HENRY C. KIEFER , que desenhou para a publicação “Classics Illustrated”, depois com esta sua versão editada em português, no Brasil, na “Edição Maravilhosa” #47, em 1952.
"Beau Geste", por Henry C. Kiefer (in "Edição Maravilhosa", #47, 1952)
Capa de Antonio Euzébio 

FERNANDO BENTO, exímio artista da BD Portuguesa, nesta sua adaptação aprimorou-se com uma das suas criações de honra que até foi, em devido tempo, editada na Bélgica, pelo menos em edição flamenga. Em Portugal, a versão foi editada semanalmente no “Cavaleiro Andante” do #1 ao #52. Posteriormente, em 1982, surgiu em álbum, hoje esgotado, pelas extintas edições Futura. É urgente
ler ou reler esta versão-BD!
"Beau Geste", por Fernando Bento (in "Cavaleiro Andante", #1 a #52)

Rodapé:
1)  A este tema, a Legião Estrangeira e extra-Beau Geste, pela Banda Desenhada, outras duas obras importantes: “Sob Duas Bandeiras” de Ouida e grafismo de Maurice Del Buorgo (em “Obras-Primas Ilustradas” #5), e “Palo Quiri” por José Garcês, que foi publicada em “Titã” (1955), “Mundo de Aventuras” (1980) e “Jornal de Almada” (1994).
2)  Dos inúmeros livros-crónicas, salientamos duas obras de peso: “Doze Anos na Legião Estrangeira” de Sidney Tremayne e tradução de Frederico Carvalho, sob edição Livraria Clássica Editora-1936, esgotado; e “Chegar É Já em Si Bastante” de José da Câmara Leme, sob edição Bertrand-1966.
3)  Pelo Cinema e afins, pois há por aí muita fantasia para fazer facilmente sonhar, suspirar e... algumas  versões até, para fazer rir. Para ver e esquecer!

Nosso habitual agradecimento aos apoios prestados por Carlos Gonçalves e a José Manuel Vilela.
LB