quarta-feira, 10 de setembro de 2014

NOVIDADES EDITORIAIS (58)

PORTUGUESES NA GRANDE GUERRA - Edição Arcádia. Autor: Baptista Mendes, e um honroso prefácio pelo General Loureiro dos Santos.
"Portugueses na Grande Guerra (1914-1918)" marca o tão esperado regresso de Baptista Mendes aos escaparates, por atento gesto da editora Arcádia (grupo Babel).
Neste álbum, há a compilação de histórias publicada de um certo modo solto no "Jornal do Exército" e também alguns inéditos expressamente elaborados para esta edição. O valoroso na temática é que aqui se registam episódios e personagens reais de Portugal na sua tão sacrificada participação no dramático primeiro grande conflito mundial. Portugal estava neutro, muito embora já combatesse os alemães no norte de Moçambique (na fronteira com o então Tanganica) e no sul de Angola (na fronteira do que hoje é a Namíbia). Por "venenosa" pressão da Inglaterra,
Portugal acaba mesmo por declarar guerra à Alemanha. E foi o que se viu e que se sofreu!...
É importante que, ao menos através destes exemplos pela Banda Desenhada de Baptista Mendes, os portugueses recordem, melhor, fiquem a saber, sobretudo as novas gerações, toda essa sacrificada heroicidade de gente nossa.
Nota: este álbum terá lançamento oficial e será comercializado nos finais deste mês de Setembro.


 
EM NOME DO FILHO - Edição Asa. Autores (segundo os personagens e série criados por Jean Graton): os argumentistas Philippe Graton e Denis Lapiére e, no traço, Marc Bourgne e Benjamin Benéteau.
A série "Michel Vaillant" tem cerca de uma centena de álbuns. Agora, com "Em Nome do Filho", entra numa nova e positiva fase, dita "nova temporada". Pelo argumento, é menos piegas e menos repetitivo e a arte gráfica está mais activa e mais expressiva. E, como fio condutor, o conflito de gerações (já são três) da poderosa família Vaillant, dona da empresa com o mesmo nome, com os extremos no patriarca conservador Henri e com Patrick (neto de Henri e filho de Michel), um adolescente firme que pugna por viver e triunfar sem os apoios da família. Jean Graton, num álbum bem anterior, já integrara Pedro Lamy numa aventura e colocou três em cenário português: "Rali em Portugal", "Encontro em Macau" e "O Homem de Lisboa". Neste recente álbum, é mencionado Tiago Monteiro e, nas suas pranchas, há algumas cenas localizadas em Portimão.


 
HOUSTON? NOUS AVONS UN PROBLÈME... - Edição Les Humanoïdes Associés. Argumento de Jerry Frissen e arte gráfica do português Jorge Miguel. "Houston? Nous Avons Un Problème..." é o primeiro tomo da breve série "Z Comme Zombies".
Aterradoramente hilariante ou hilariantemente aterrador, aqui através de um argumento pleno de divertidos absurdos, encontramos um outro estilo (também de aplauso) de Jorge Miguel, já notável pelos seus álbuns "Camões" e "O Fado Ilustrado".
Agora a confusão na Terra é tremenda, alguns anos lá mais para diante... Os mortos saíram das tumbas e incomodam os vivos, pois querem fundos para conseguirem uma nave que os leve em viagem, só de ida, para o sossego na Lua...
Mas, os vivos e os zombies (incluindo alguns animais pré-históricos) sofrem os seus desaires aqui e ali, até que, enfim, embarcam. Mas há um senão: a meio da viagem os zombies deparam com um "vivo" que não conseguiu a tempo ficar na Terra...
Afinal, tudo isto funcionou ou foi forjado cinematograficamente numa ilha deserta?...


 
LES PORTES DE L'ARCTIC / 2 - Edição Glénat. Com argumento de Christophe Bec e traço de Jean-Jacques Dzialowski, este é o segundo e último tomo deste ciclo da série "Lancaster".
Aventura plena de boa ficção e de bizarros mistérios: algures no Árctico descobrem-se vestígios de uma intrigante civilização desaparecida. Lord Jim Lancaster e a sua pequena equipa "afunda-se" por essas assustadoras entranhas terrestres a fim de desvendar todo esse imenso mistério. Porém, por lá anda também um ex-oficial nazi que, desde há muito, tenta vingar-se de Lancaster...


FANDAVENTURAS ESPECIAL / 4 e 5 - A saga de "O Gavião dos Mares" (Orphans of the Sea), famosa série de aventuras dos anos 30, ilustrada pelo grande desenhador inglês Walther Booth e publicada entre nós na revista "O Mosquito" na década seguinte, continua a ser reeditada por José Pires no fanzine "Fandaventuras".
Pires, também ele um dos nossos desenhadores de nomeada (chegou a trabalhar para o "Tintin" belga), para além de coordenador do fanzine é o autor do restauro das pranchas, um trabalho minucioso e delicado cujo resultado final é digno de aplausos. Como se isto não bastasse, esta reedição apresenta-nos a totalidade da obra de Booth (a publicação n' "O Mosquito" ficou privada de muitas pranchas), o que enaltece ainda mais este trabalho.
De uma assentada, Pires oferece-nos, nos volumes 4 e 5 do seu fanzine, o longo e apaixonante episódio "Pelo Rei!", nem mais nem menos do que a segunda parte da novela "O Gavião dos Mares". 
Para adquirir esta peça de colecção (ou outras como "Rob the Rover" ou "Captain Moonlight") podem contactar directamente o editor: gussy.pires@sapo.pt

sábado, 6 de setembro de 2014

BREVES (4)

João Amaral
NOVO ÁLBUM DE JOÃO AMARAL
Foi elaborado exaustivamente e quase em rigoroso segredo. Comporta pouco mais de cem pranchas e será lançado e posto no mercado após o programado Festival da Amadora, ou seja, nos fins de Novembro ou primeiros dias de Dezembro.
Trata-se de "A Viagem do Elefante", adaptação do romance homónimo de José Saramago.
O álbum tem a chancela da Porto Editora. E cá se fica à espera desta novidade...


ÁLBUM DE JOSÉ RUY NAS LIVRARIAS EM SETEMBRO

José Ruy, outro autor português em grande actividade, vai ver reeditada, 18 anos depois, a obra "O Juiz de Soajo", conforme nos dá conta esta nota de imprensa:

"A propósito da comemoração dos 500 anos do Foral de Soajo, assinalados no passado dia 16 de Agosto, a Âncora Editora reedita a obra de banda desenhada O Juiz de Soajo, de José Ruy, em que o autor de BD com mais álbuns publicados retrata a história, os costumes e as tradições da vila de Soajo, em Arcos de Valdevez.
Editada pela primeira vez em 1996, pela antiga Editorial Notícias, a obra regressa às livrarias durante o mês de Setembro, preservando o registo do rico património cultural, paisagístico e patrimonial desta aldeia singular, outrora sede de concelho."


BATMAN EM VISEU
O GICAV (Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu) que este ano está a festejar o seu 25.º aniversário, se para este 2014 não programou o seu Salão-BD, por outro lado, nas suas acções pela Banda Desenhada arregaçou as mangas e "atirou-se" a três exposições comemorativas. Ah, valentes!
Assim:
- De 9 de Agosto e até 14 de Setembro, comemora Mafalda, pelos seus 50 anos.
- A 4 de Outubro (devendo abranger todo este mês), acontece a exposição comemorativa do 1.º centenário do nascimento do grande mestre belga Jijé (Joseph Gillain). Esta expo, que já esteve patente em Moura (de 24 de Junho a 21 de Julho), é uma co-produção do GICAV e da Câmara Municipal de Moura.
- Pois ainda no decorrer deste 2014, uma terceira exposição, com datas concretas a indicar, se anuncia já. Será sobre os 75 anos do tão popular super-herói Batman (Homem-Morcego). Voltaremos a falar deste assunto.
Para já, parabéns GICAV! Força, GICAV!

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A BD A PRETO E BRANCO (17) - As escolhas de Carlos Rico (7)

FRANK ROBBINS (1917-1994)
Nascido em Boston (EUA), é conhecido por ser o criador de Johnny Hazard, que desenhou durante trinta e dois anos (!), entre 1944 e 1977. 
Trabalhou também para a DC Comics onde escreveu argumentos para personagens como Batman, Superman, Superboy, Flash, entre outros. Enquanto desenhador da DC, trabalhou várias séries: House of Mystery, House of Secrets, The Shadow, Weird War Tales, etc.  
Mudou-se depois para a rival Marvel e, aí, desenhou séries como Capitão América, Demolidor, Motoqueiro Fantasma, Mosca Humana, The Invanders, A Tumba de Drácula...  
Prancha de "The Invaders"
Tiras de "Johnny Hazard"


MIGUEL ANGEL REPETTO (1929)
Argentino, nascido em Lujan (Buenos Aires), Repetto iniciou a sua carreira colaborando com revistas como "Intervalo", "El Tony", "Fantasia", "D'Artagnan" ou "Hora Cero" (nesta última ilustrando roteiros de Oesterheld). Criou séries "western" como "El Cobra", "Diego", "Mapache", "Conrack" ou "Dan Flynn". Desenhou para os mercados americano, inglês e italiano (onde se tornou no mais velho autor a desenhar Tex). 
O "Tex" de Repetto
Tiras de "Agente Corrigan"


LUIS BERMEJO (1931)
Madrileno, Bermejo é um dos autores espanhóis de maior renome. Desenhou "Aventuras do FBI", "Apache", "Marco Polo", Capitan Trueno"...
Trabalhou para o mercado britânico, nos anos 60, em histórias de todos os géneros ("Dick Daring", "War", "Johnny Future", "Heros the Spartan", "John Steel", etc.)
Nos anos 70, desenhou histórias de terror nas famosas revistas "Creepy", "Eerie" e "Vampirela". A série de ficção científica "Orka", com guião de Antonio Segura, foi outro êxito na carreira de Bermejo.
Tiras de "Apache"
"The Imp of the Perverse", um conto de Edgar Alan Poe desenhado exemplarmente por Bermejo

Nota: A rubrica "A BD a Preto e Branco" será subdividida entre as escolhas pessoais de Luiz Beira (10 posts e 30 autores) e de Carlos Rico (idem), num total de 60 autores! As duas imagens que ilustram a obra de cada autor foram criteriosamente escolhidas por Luiz Beira e Carlos Rico e por esta ordem serão sempre apresentadas.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

HERÓIS INESQUECÍVEIS (30) - O FANTASMA


Surgido a 17 de Fevereiro de 1936, o Fantasma - The Phantom, no original - é considerado o primeiro herói da banda desenhada a usar máscara e uniforme (o Super-Homem só apareceria dois anos depois, em 1938).
É uma criação do argumentista Lee Falk (que também inventou Mandrake, outro personagem famoso) e do desenhador Ray Moore.
Lee Falk e Ray Moore
Ao longo do tempo, o Fantasma foi continuado por um grande leque de autores sendo o mais famoso de todos o desenhador Sy Barry.
O enredo começa quando o filho de um rico fidalgo, Kit Walker, assiste ao assassinato de seu pai por um bando de piratas que abalroam o navio onde viajam. Meio afogado, consegue dar à costa e é salvo por um nativo. Perante a caveira do pai, Kit Walker jura combater a pirataria e a ladroagem transformando-se, assim, no primeiro Fantasma. Para além dos seus inseparáveis companheiros Herói (o cavalo) e Diabo (um cão-lobo), conta como aliados na luta contra o crime com uma tribo de pigmeus, os Bandar, e a Patrulha da Selva (da qual é o Comandante Secreto).
A origem do Fantasma, por Lee Falk e Ray Moore
Por vezes o Fantasma veste uma gabardina, uns óculos pretos e um chapéu para combater o crime na cidade. É habitual, também, usar dois anéis: o da marca do bem (que o Fantasma utiliza para sinalizar as pessoas que quer proteger) e o da caveira (para marcar os maus). 
Duas páginas do "Mundo de Aventuras" (#846) onde se pode observar o Fantasma de gabardina e óculos,
bem como o anel da caveira com que castiga os malfeitores. 
As aventuras do Fantasma passam-se na Ilha de Bengala - uma ilha fictícia, com uma mescla de características africanas e indianas - onde vive na chamada Caverna da Caveira.
A Ilha de Bengala, com características africanas e indianas, como se comprova por esta imagem
onde tigres e leões aparecem lado a lado.
O Fantasma tornou-se um mito para os nativos de Bengala já que supostamente é imortal. Por essa razão, os Bandar tratam-no por Duende-que-Caminha. A realidade, no entanto, é mais simples: vinte gerações de Fantasmas precederam o Fantasma actual, sendo que apenas Guran, o chefe dos Bandar, tem conhecimento disso. 
Quando Lee Falk inventou o personagem imaginou-o com um fato verde (talvez para uma melhor camuflagem nas sombras da selva) mas o certo é que, por problemas gráficos com a impressão da primeira aventura, o uniforme saiu roxo! Lee Falk decidiu manter o roxo (inventou, até, uma história onde justificava a escolha desta cor para o uniforme do Fantasma) apesar de, em alguns países onde a série foi publicada, novas alterações terem dado origem a uniformes vermelhos, azuis ou castanhos! Em Portugal, o Fantasma aparece de uniforme roxo ou vermelho.
Capas n.ºs 1 das revistas "Mundo de Aventuras" (V série) e
"Especial Mundo de Aventuras", que comprovam a popularidade deste herói no nosso país

O Fantasma foi alvo de uma adaptação ao cinema, em 1996, com realização de Simon Wincer e com Billy Zane, Kristy Swanson e Catherine Zeta Jones nos principais papéis.
Já antes, nos anos 40, uma série televisiva popularizava o personagem.

Trailer do filme "O Fantasma", de 1996

Em 1986 foi produzida uma série de desenhos animados chamada "Defensores da Terra", onde apareciam Mandrake, Lotário, Flash Gordon e o Fantasma, entre outros personagens. A série foi também adaptada a banda desenhada em revista lançada pela Marvel.
Capa de um número de "Defenders of the Earth" ("Defensores da Terra").
Foram realizados, também, nos anos 90, trinta e cinco episódios de outra série de animação ("The Phantom 2040"), vagamente parecida com o Fantasma original, numa co-produção franco-americana.
O genérico da série "Phantom 2040"

Entre nós, foram publicados inúmeros episódios do Fantasma em revistas como "O Pirilau" (onde o personagem se estreou), "Mundo de Aventuras", "Selecções do MA", "Audácia", "Ciclone", "Jornal do Cuto", entre outras. Teve, também, direito, nos anos 80, a um álbum pela Editorial Futura e mais recentemente a um número da colecção "Os Clássicos da Banda Desenhada", lançada pelo "Correio da Manhã" em colaboração com a Panini e com coordenação da Devir.
É dos personagens norte-americanos de maior sucesso em todo o mundo, continuando ainda a ser publicado diariamente.
CR

Tom Tyler no papel de Fantasma (série televisiva dos anos 40)
Uma raridade para qualquer coleccionador: as aventuras de Mandrake e Fantasma (criações de Lee Falk)
gravadas num velho disco em vinil
Uma bela capa do "Mundo de Aventuras", da autoria de Carlos Alberto Santos.
O Fantasma foi um dos sete heróis incluídos no número especial do
"Mundo de Aventuras" (#1000)
Prancha dupla de "A Bruxa da Selva"
Prancha dupla de "A Teia Gigante"
"Almanaque do Mundo de Aventuras" com capa de Augusto Trigo

A colecção "Heróis Inesquecíveis" (à qual fomos, com a devida vénia,
retirar o nome desta rubrica do BDBD) obviamente não esqueceu o Fantasma.

Os dois heróis de Lee Falk foram recordados num mesmo número da colecção
"Os Clássicos da Banda Desenhada"

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

DE ACTORES A HERÓIS DE PAPEL (2) - OSCARITO E GRANDE OTELO

Nas décadas dos anos 40 e 50 do século passado, a cinematografia brasileira apostou em força nas comédias e fitas musicais. Havia um grande naipe de actores talhado para estes géneros de filmes.
Oscarito e Grande Otelo
Daqui, bem acima de todos, marcavam alta popularidade Oscarito (1906-1970, que nascera na cidade espanhola de Málaga) e Grande Otelo (1915-1993, que faleceu em Paris, onde ia para ser homenageado, ao sair do avião).
Participaram juntos nos mais diversos espectáculos, donde se salientam os treze filmes que fizeram em parceria: "Céu Azul", "Fantasma Por Acaso", "Este Mundo É Um Pandeiro", "...E o Mundo Se Diverte", "O Caçula do Barulho", "Carnaval no Fogo", "Aviso aos Navegantes", "Três Vagabundos", "Carnaval Atlântida", "Barnabé Tu És Meu", "A Dupla do Barulho", "Matar ou Correr" e "Nem Sansão Nem Dalila".
Claro que, isoladamente, também participaram em muitos outros filmes: "Está Tudo Aí", "Aí Vem o Barão", "O Homem do Sputnik", etc (Oscarito) e "Futebol em Família", "Assalto ao Trém Pagador", "Macunaíma", etc (Grande Otelo).
A Banda Desenhada no Brasil tinha também então uma grande produção. E à Editora La Selva não escapou a alta popularidade de Oscarito e Grande Otelo e decidiu transpô-los para as "histórias aos quadrinhos", gesto que foi um pleno êxito local.
Os principais argumentistas foram Flávio de Souza, Cláudio de Souza e Alberto Maduar. O desenhista mais constante e famoso foi Messias de Mello. Mas outros mais também ilustraram pela Banda Desenhada as peripécias de Oscarito e Grande Otelo, como João Batista Queiroz, Juarez Odilon e Ailton Thomás.

Digno de reparo - honroso reparo, diga-se de passagem - foram as muitas capas elaboradas pelo nosso Jayme Cortez, então já emigrado no Brasil.



Quatro excelentes capas de "Oscarito e Grande Otelo", por Jayme Cortez

Muito embora alguns filmes com a parceria Oscarito-Grande Otelo tenham sido exibidos em Portugal, é triste constatar-se que quanto às revistas-BD em questão, parece que (não garantimos) elas jamais se venderam no nosso País. Paciência!...
LB