quarta-feira, 4 de junho de 2014

FIBDB 2014

Teve início a 31 de Maio e encerra a 15 de Junho, a 10.ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, o FIBDB 2014. 
Os coordenadores do BDBD estiveram lá no dia da inauguração. Foi tudo bem animado e com vasto público. 
De salientar, desde já, nos visitantes, três grandes veteranos da Banda Desenhada Portuguesa: Artur Correia, José Ruy e Baptista Mendes. Três honrosas presenças, infelizmente não anunciadas ao público presente...
De entre os numerosos artistas, estes não só visitantes mas também participantes, indicamos alguns: João Mascarenhas, Álvaro, João Amaral, Pedro Leitão, Hugo Teixeira, José Smith Vargas, Pedro Cruz, André Silva, Quico Nogueira, João Raz e António Valjean e, por sua vez, pela parte dos críticos-divulgadores-editores, as notáveis presenças de Machado Dias, Geraldes Lino, Pedro Mota, Rui Brito e João Lameiras.
O Festival é bem vasto e está espalhado por diversos pólos (Casa da Cultura, Castelo, Casa das Artes, vários Museus, etc.) e, para além dos criadores nacionais, contou com a presença de representantes do Brasil, França, Itália, México, Finlândia, etc.
Houve também a apresentação e lançamento oficial de várias publicações.
Um pequeno senão, a corrigir em edições futuras: a ausência de nomes sonantes, ao que poderíamos chamar "de pompa e circunstância", tanto pelo lado nacional como pelo lado estrangeiro. Mesmo a  presença do já conhecido francês Étienne Davodeau, não teve a força imaginada.
Há nomes a sugerir, como os portugueses José Garcês, Pedro Massano, Eugénio Silva, Vassalo de Miranda e/ou o belga Dany, o polaco Rosinski, o suíço Cosey, o espanhol Miguelanxo Prado, o italiano Enrico Marini... por exemplo.
De qualquer modo, está de parabéns o Paulo Monteiro pela sua absoluta e exaustiva luta pela Banda Desenhada e pelo Festival-BD de Beja. E também, pelo seu incansável cuidado de a todos bem receber num tocante anfitrionismo.
LB

Panorâmica das exposições no pólo central da Casa da Cultura
Uma jovem visitante atenta à "A Quadrinhofilia de José Aguiar"... 
...e dois quadros com pranchas da mesma exposição.

Baptista Mendes, Carlos Rico e José Ruy em amena cavaqueira no exterior da Casa da Cultura.
Autores brasileiros numa das várias apresentações de projectos e álbuns que ocorreram na Bedeteca

Cinco históricos da BD portuguesa: Artur Correia, João Mascarenhas, Baptista Mendes, José Ruy e Luíz Beira

Laerte, um dos nomes sonantes (a par de Étienne Davodeau) neste FIBDB 2014
Laerte, cartunista de excelência, autografando um álbum a João Sequeira
Aspecto da exposição de Laerte
Paulo Monteiro (ao centro, de costas) foi, mais uma vez, o grande anfitrião do Festival de Beja
Paulo Monteiro, o director do FIBDB, com André Silva

segunda-feira, 2 de junho de 2014

ENTREVISTAS (16) - JOSÉ RUY

JOSÉ RUY Matias Pinto nasceu na Amadora, onde reside, a 9 de Maio de 1930. Tirou o curso de desenhador litógrafo na Escola António Arroio (Lisboa). É aos catorze anos que começa a publicar banda desenhada em "O Papagaio". E nunca mais parou, a ponto de ser o nosso honroso desenhista que tem quase toda a sua obra editada em álbum. Dizemos quase, precisamente porque ainda não se recuperaram para a versão álbum, as suas primeiras criações, pormenor que teria e terá muito interesse para os coleccionadores e estudiosos da sua carreira. Citam-se, como exemplos soltos, as histórias "Os Cavaleiros do Vale Negro", "Homens do Mar", "A Bravura de Chico", "Nico e Cartucho em Raptores", "Piratas do Ar", etc.





A sua vasta obra foi publicada através de uma imensidão de periódicos.
Tem exposto a sua BD pelos mais diversos pontos de Portugal, mas também, no Brasil, Japão, Roménia, Alemanha, China, França e Cabo Verde.
Foi homenageado na Sobreda, Amadora, Moura, Beja, Lisboa, Porto, Setúbal, Bulgária e na cidade de Belém (Brasil). Na sua Amadora natal, uma avenida e uma escola básica, têm o seu nome.
Adaptou para a 9.ª Arte, diversos exemplos literários de Alexandre Herculano, Fernão Mendes Pinto, Wenceslau de Moraes, Gil Vicente, Luiz de Camões, Alves Redol e do brasileiro José de Alencar.
Prancha de "O Bobo" - adaptação da obra de Alexandre Herculano
(in "Cavaleiro Andante" n.º 266)
Prancha de "Peregrinação", segundo a obra de Fernão Mendes Pinto,publicada no "Cavaleiro Andante"

Capa de "Ubirajara", adaptação da obra de José de Alencar.
História reeditada no n.º 1 da colecção "Antologia da BD Portuguesa" - Editorial Futura (1982)

Focou algumas vezes o humor e elaborou algumas histórias de mera ficção e várias biografias, a saber: o Infante Dom Henrique, Nicolau Coelho, Pêro da Covilhã, Wenceslau de Moraes, Gutenberg, Almeida Garrett, Charles Chaplin, Columbano Bordallo Pinheiro, Humberto Delgado, Alves dos Reis, Jorge Dimitrov, Aristides de Sousa Mendes, Martins Sarmento, Leonardo Coimbra e João de Deus.
Prancha de "Gutenberg", publicada no "Mundo de Aventuras Especial" n.º 13 (Dezembro de 1976)

Elaborou uma sinopse de "História da Cruz Vermelha", traduzida em onze idiomas e distribuída em mais de 150 países. 
Alguns álbuns têm versões traduzidas: "A História de Macau" (em cantonês), "Aristides de Sousa Mendes" (em hebraico, francês e inglês) e, no nosso dialecto mirandês, "O Mirandês", "Os Lusíadas" e "João de Deus".
Estranhamos que uma das suas obras de honra, "A Peregrinação", que tem tido várias reedições, não tenha captado a atenção de editores estrangeiros, ao que José Ruy nos esclareceu: "Recebi de um pais de outro continente (América do Sul), o pedido para fazer um contrato de edição, que está em curso, e de tradução para a respectiva língua, da "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto".
A título de curiosidade, indicam-se alguns títulos-álbuns fundamentais da bibliografia de mestre José Ruy: "O Bobo", "Os Lusíadas" (três tomos), "Levem-me Nesse Sonho", "A Ilha do Futuro", "As Aventuras de 4 Lusitanos e 1 Porca", "Ubirajara", "Amarante", a série "Porto Bomvento", "Humberto Delgado", "Peter Café Sport e o Vulcão do Faial" (edição elaborada nos Açores), o álbum colectivo "Salúquia", "Autos das Barcas", "Farsa de Inês Pereira", "Auto da Índia", etc, etc.
 

E agora se segue a nossa "conversa":
BDBD - O José Ruy é um dos veteranos na nossa BD que está sempre e incansavelmente a produzir. Donde lhe vem essa energia?
José Ruy (JR) - Essa energia vem de metas, projectos... para se concretizar uma ideia ou um plano que nos é muito querido. Ou seja, quando estamos a fazer um trabalho pelo qual estamos apaixonados, esquecemo-nos de que não temos energia.

BDBD - A par deste mérito, tem conseguido sempre imediatos editores, enquanto outros colegas seus, com obras completas, se lamentam de não conseguirem quem os edite. Como vê esta situação?
JR - Aí devo confessar que serei um privilegiado. Como opinião pessoal para com as obras que tenho feito e segundo as tiragens obtidas, isso significa que tenho um público que acompanha e adquire o que vou criando, incluindo as tiragens específicas para bibliotecas. Isto representa para um editor uma garantia positiva de vendas.


BDBD - Edições de obras suas noutros idiomas também é outra glória que o honra. Satisfeito?
JR - Claro que me sinto satisfeito, no entanto, sem nunca ter forçado essa situação. Não me sinto privilegiado, mas são essas propostas que vêm ao meu encontro.

BDBD - É verdade que o saudoso mestre Eduardo Teixeira Coelho foi, de certo modo, o seu... digamos, guru nesta Arte?
JR - Foi, é e será sempre, enquanto ele estiver vivo na minha memória.

BDBD - Tem belíssimas obras de ficção, donde também, adaptações de clássicos da Literatura. Mas, de repente, deixou estas vertentes e tem-se limitado a biografias, que não deixam de ser louváveis. Mas será que abandonou mesmo as belas aventuras através da BD?
JR - Tenho  de lhe responder desta maneira: se observar minuciosamente todos estes meus trabalhos biográficos, eles também estão cheios de ficção, envolvendo a parte histórica e documental.

BDBD - "Os Lusíadas" e "Peregrinação" são as suas obras sempre tão bem lembradas. Também são as suas criações favoritas? Qualquer autor tem sempre exemplos preferidos do que cria, não acha?
JR - São duas das minhas três favoritas.

BDBD - E qual é a terceira?
JR - A terceira é a série "Aventuras de Porto Bomvento".
As três criações favoritas de José Ruy: "Peregrinação", "Os Lusíadas" e "Porto Bomvento"

BDBD - Das poucas vezes que abordou o humor, tem "Os Quatro Lusitanos e Uma Porca", tão acutilante como divertido. Voltaria a este género?
JR - Tenho um plano elaborado há dois anos, com o mesmo guionista do álbum citado, que pus de parte quando o José Pires criou uma obra do género, mas que ainda não foi publicada.

BDBD - Que sonho antigo gostaria ainda de adaptar à BD?
JR - Gostaria de voltar a abordar um tema que me é muito caro: os bombeiros. Em 1973, fiz uma pequena história com este tema para a revista "Pisca-Pisca", que desapareceu antes de ser publicada. Tenho alguns novos argumentos já feitos sobre o assunto. Esse é o meu sonho, que de certo modo, é uma história de ficção...

BDBD - E o seu próximo (imediato) projecto, já o pode divulgar?
JR - O meu próximo projecto  é "Carolina Beatriz Ângelo", que além de médica, foi a primeira mulher a votar em Portugal... em 1911. Mas já em 1907, tinha sido a nossa primeira cirurgiã a operar.

Muito e muito se pode escrever e/ou perguntar a José Ruy, um extraordinário e amável conversador, mas por óbvias razões, aqui fica registado o essencial.
LB


"Natal", trabalho de estreia de José Ruy, com 14 anos ("O Papagaio", 1944).







Capa para o n.º 13 dos "Cadernos Sobreda BD" (1998)
Capa de "José Ruy: Riscos do Natural", de Leonardo De Sá e António Dias de Deus
(Colecção NonArte, Âncora Editores - 2001)


Capa de "Leonardo Coimbra e os Livros Infinitos" - Âncora Editora (2012)

quarta-feira, 28 de maio de 2014

PATOS & PATOS

Cães, gatos  e cavalos, são frequentíssimos, em diversos aspectos, na Banda Desenhada. E os patos?... Não tão frequentes, mas também têm o seu razoável lugar na 9.ª Arte.
(E não se ponham já a babar a imaginar um tentador e apetitoso "arroz de pato"... Há que ter cuidado, pois a sua carne tem alto teor de gordura e aumenta bem o colesterol de cada um. Mais: que a vossa gula não se excite já com um patê de pato barrado numa apetitosa tosta! Se imaginassem a tortura cruel que este palmípede sofre para que o seu fígado rebente e daí resulte um patê "delicioso"!... Comam antes as tostas com patês de sardinha, atum ou salmão...).
Mas vamos lá então aos patos mais famosos na BD, dois dos quais apareceram primeiro no Cinema de Animação: o Donald e o Daffy.


DONALD - surgiu a 9 de Junho de 1934, no Cinema de Animação pelas Produções Walt Disney, desenhado por Art Babbit. É um pato branco, vestido à marujo, azarado e refilão. Seu nome completo é, Donald Fauntleroy Duck. A sua popularidade subiu em flecha, vindo a ultrapassar a do Rato Mickey. Tem uma extensa família e uma boa lista de amigos. 
16 de Setembro desse mesmo 1934, sob grafismo de Al Taliaferro, estreia-se na Banda Desenhada. Porém, só em 1962, sob o talento de Carl Barks, surge o seu verdadeiro e primeiro grande triunfo nesta Arte.
Traduzido em inúmeros idiomas, teve e tem desenhadores próprios em certos países, como na Itália (Federico Pedrocchi, Mario Pinochi ou Giovan Battista Scarpi) e no Brasil (Bruno Pombo Lemos, Gonçalves Santos ou Vítor Siqueira Gonçalves).



TIO PATINHAS - no original, Uncle Scrooge. 
É um dos parentes de Donald. De origem escocesa, é empresário multimilionário e doentiamente avarento. E irascível também. 
Criado por Carl Barks directamente para a Banda Desenhada e inspirado no sovina Ebenezer Scrooge do "Conto de Natal" de Charles Dickens, surgiu em Dezembro de 1947. 
Keno Don Hugo Rosa, continuador de Barks, vem a anunciar o falecimento de Patinhas com cem anos de idade... Mas, mesmo assim, ele vai aparecendo em episódios posteriores.
Curiosidade: pelos anos 60/70, os países da Escandinávia, mormente a Suécia, proibiram  as vendas de BD com o Tio Patinhas, pois este personagem induzia e influenciava as crianças à ganância e à sovinice!...



DAFFY - este pato negro surgiu em 1937 no Cinema de Animação pelos estúdios da Warner Bros, criado por Tex Avery.
Porky, Bugs Bunny Speedy Gonzalez, são outros personagens com quem ele contracena com frequência, nem sempre com honestidade e lealdade... 
Não tardou que Daffy Duck passasse à 9.ª Arte, mantendo em paralelo, as suas tropelias pelo Cinema de Animação.  No papel, Tony Strobl e Phil De Lara, são os principais responsáveis.
De um modo ou de outro, Daffy, é absolutamente irresistível.


WLADIMYR - é uma ternura encantadora, este patinho filósofo que troca ideias com seus amigos, a rã Elodie e o cão Igor. Criadores do personagem-série, o casal Roque: Carlos Roque (1936-2006), português e desenhista, e sua esposa belga Monique, como argumentista. Apenas em brevíssimas ocasiões, houve argumentos por Raoul Cauvin e por Marck.
Wladimyr estreou-se, com "gags" quase sempre em sequência-tiras (duas por "gag") na revista belga "Spirou" a 3 de Abril de 1969. Muitos anos mais tarde, a extinta revista portuguesa "Selecções BD", publicou alguns episódios, dos muitos que existem com este pato. Não se compreende que, tanto na Bélgica como em Portugal, até hoje, não haja um álbum reunindo todas as graças de Wladimyr!...




CANARDO ou "Inspector Canardo" - há uma certa tangência entre este pato "inspector Canardo"  e a série televisiva do "inspector Colombo" magistralmente interpretado pelo actor Peter Falk, sobretudo no uso da gabardina branca (?!) e na constante aparência desleixada. Sob o talento de Benoît Sokal, Canardosurgiu a 2 de Março de 1978.
É um bizarro detective, bem "série negra", inveterado fumador e viciado sem qualquer moderação pelas bebidas alcoólicas. 
Atravès de Canardo, Sokal traça, a seu modo, um retrato sombrio da nossa sociedade actual. 
Pascal Regnaud prossegue a série, seguindo de perto a ideia de Sokal.



KVACK - é uma patinha simpática e personagem secundária, mas notória, da série "Hägar", criada  em 1973 pelo norte-americano Dik Browne e continuada, a partir de 1989, por seu filho Chris Browne.
Kvack é a fiel amiga e confidente de sua dona Helga (aliás, Hildegarde).
O termo, aqui o nome, "kvack" é uma paródia: a patinha é alemã e a sua dona é norueguesa e daí  que a simpática ave grasne com sotaque, pois em vez de "quak", o som será "kvack".




O PATINHO FEIO - é quase uma "missão impossível", distinguirmos quem é o maior: se o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875) se o desenhista português Fernando Bento (1910-1996). Dois génios!
Dois génios que, nas devidas circunstâncias, formaram parceria.
O palmípede "O Patinho Feio", não é um herói-BD, mas a sua "vida" existe em emotiva lição para a vida no texto de Andersen e no admirável traço de Bento.
Esta belíssima adaptação à Banda Desenhada Portuguesa, pertence à série "As Mais Belas Histórias Para Crianças", que foi publicada no saudoso "Diabrete", nos anos 40. Em dez pranchas (capa incluída), "O Patinho Feio" foi editado na citada revista, em 1949, do n.º 635 ao n.º 645. Uma espantosa e comovente maravilha!
LB