domingo, 10 de novembro de 2013

HERÓIS INESQUECÍVEIS (20) - REDEYE

Hoje abordamos um herói-série que sempre foi apresentado na versão de tira humorística: REDEYE (como é apresentado, e não como Red Eye), que em português foi "Olho Vermelho" e na França/Bélgica, "La Tribu Terrible".
A criação é do norte-americano Gordon Bess (1929-1989). Devido a doença deste, em 1988, a série passou a ter argumentos de Bill Yates e grafismo de Mel Casson (1920-2008) que, a partir de 1999, passou a ser o autor absoluto.
Com o falecimento de Casson, a série não teve continuação e terminou a 13 de Julho de 2008. E perdeu-se, desde então, uma fonte para constantes e bem salutares risotas.
Gordon Bess e Mel Casson

Redeye (Olho Vermelho) é o bizarro e pândego chefe da tribo Chickiepan. Mas que tribo!... Nela, quase ninguém escapa a nível de sensatez. Ora vejamos: Tanglefoot é um guerreiro cobarde e estúpido, apaixonado quanto baste por Tawnee, a bela filha de Redeye e, talvez, o único elemento normal da tribo...
Mawsquaw é a mandona esposa do "herói", que cozinha coisas verdadeiramente intragáveis. E ai de quem diga mal dos seus sabores!...
O Xamã ou feiticeiro ou "médico" só se interessa em jogar golfe e namoriscar a "enfermeira".
Pockey é o reguila irmãozito de Tawnee.
E, para além de diversas outras figuras patuscas e quase sempre estarolas, podemos ainda citar Loco, um cavalo sempre cansado e sempre desejoso de estar tranquilo em casa...
"La Tribu Terrible" (Ed. Lombard)
Esta série, que foi premiada no Festival de Angoulême, em 1976, para além da popularidade nos Estados Unidos cedo conquistou vários países da Europa: Dinamarca, França, Holanda, Bélgica, Finlândia, Alemanha, Itália, Espanha, Suécia, Noruega e Portugal. E também foi famosa no Brasil.
Em Portugal, a série do herói Redeye teve exemplos publicados no "Jornal do Cuto", "Tintin" (edição portuguesa), "Jaguar", "Selecções do Jornal do Cuto" e nos mini-álbuns "Clássicos da Banda Desenhada" (da Europress).
"Redeye" ("Olho Vermelho"), no Jornal do Cuto
Curiosidade: aquelas mentes mais opacas e mais venenosas podem atirar com uma atoarda indicando que é uma série racista e a amesquinhar os pobres dos "pele-vermelhas"... Nada disso! O que podemos agora interpretar (de uma maneira especulativa, é certo) é que essa tão impagável tribo chefiada por Redeye caricatura, com intenção ou não, todas e tamanhas imbecilidades de qualquer nação dos "caras pálidas" (os brancos)...
Será ou não será?... Mas que a série é uma louca e hilariante paródia, lá isso é!
LB


"Redeye" por Mel Casson...

...e por Gordon Bess

"Redeye" no Jornal do Cuto

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

AMADORA BD 2013

Teve início no passado 25 de Outubro e encerra no próximo dia 10, a 24.ª edição do já famoso Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora. Quem ainda lá não foi, está a bom tempo de o visitar.
Muitos espaços a convidar a atenção dos visitantes, mas mantém-se a variedade dos locais das exposições, o que, a nosso ver, dificulta a curiosidade dos visitantes, sobretudo para aqueles que não residem na Amadora e mais ainda, àqueles que não têm transporte próprio... Compreendemos que se queira com este sistema valorizar e mostrar a cidade, mas, porém, todavia, contudo...
De resto, o quase total afluxo dos visitantes reduz-se praticamente ao Fórum Luiz de Camões (na Brandoa), onde converge o panorama  das bancas de vendas, o sítio dos sempre tão procurados autógrafos e onde melhor se marca a ocasião de encontros e convívio. E depois, há ainda o velho teatro Recreios da Amadora, onde se realiza a sempre concorrida sessão da entrega de prémios diversos.
Amadora Cartoon, nos Recreios da Amadora
Como habitualmentee, numa sala no primeiro andar, está patente a muito interessante exposição "Amadora Cartoon" (comissariada por Osvaldo de Sousa) com exemplos de três cartunistas de nomeada, ou seja, os portugueses Henrique Monteiro e Carlos Rico e o italiano Alessandro Gatti, que receberam os devidos troféus de homenagem.
Do que estava exposto no Fórum, destacamos os espaços dedicados aos 75 anos dos heróis-BD, "Superman" e "Spirou", e ainda, os que eram dedicados a Fernando Relvas e Ricardo Cabral. Uma nota, também, para Geraldes Lino que tem uma merecida exposição na Galeria Municipal Artur Bual.
Exposição de Ricardo Cabral
Muitos desenhistas nacionais circulavam pelo Festival. Quanto às presenças estrangeiras, salientamos a norte-americana Shaenon Garrity e os seus compatriotas Jon Bogdanove e Andrew Farago, o japonês Yoshiyasu Tamura, os brasileiros André Diniz, Pedro Franz e Gustavo Duarte, os argentinos Juan Cavia e Santiago Villa e o já citado italiano Alessandro Gatti.
Quanto aos premiados, destacamos "O Baile", com argumento de Nuno Duarte e grafismo de Joana Afonso, que recebeu dois prémios: Melhor Álbum Português e Melhor Argumento, e "Roleta Nipónica" com argumento de Mário Freitas e grafismo de Osvaldo Medina, pelo Melhor Desenho (Grafismo). Ambos os álbuns têm edição da Kingpin Books.
Porém, o grande aplauso vai para o vencedor do Troféu de Honra, que este ano coube muito merecidamente a Carlos Gonçalves, há longos anos entusiasta coleccionador de BD, articulista, crítico e ensaísta da 9.ª Arte e frequente apoiante de diversos Salões de Banda Desenhada no nosso país. Parabéns, Carlos Gonçalves!
Fica a reportagem fotográfica possível do evento. As fotos foram tiradas, na sua maioria, durante a manhã (e daí, talvez, o pouco público presente). À tarde o público afluiu em maior número mas, dado que as pilhas da nossa máquina fotográfica deixaram de funcionar, não nos foi possível fazer um registo mais completo quer sobre as restantes exposições quer sobre a entrega de Troféus. Remetemo-vos, pois, para a página oficial do Festival no facebook.
LB













sexta-feira, 1 de novembro de 2013

NOVIDADES EDITORIAIS (42)

LE POISON D'ÉBÈNE - Edição Dargaud. Argumento de  Pierre Boisserie e Philippe Guillaume, e traço de Erik Juszezak. Depois de uma primeira temporada (com seis álbuns), com "Le Poison d'Ébène" se inicia uma continuação da série "Dantès", que já nada tem a ver com a adaptação aos momentos actuais do clássico "O Conde de Monte-Cristo".
Desta vez, o combate à corrupção torna-se mais intenso, a par de uma corajosa defesa de aspectos ecológicos num país africano fictício, o Costa de Ébano, que nos faz imaginar que pode ser uma indirecta à Costa do Marfim ou algum país vizinho da região...

 
BRUNO BRAZIL, INTÉGRALE 1 - Edição Lombard. Argumentos de Greg e arte de William Vance. Precedido de um precioso dossiê realizado por Jacques Pessis, este tão esperado primeiro integral de Bruno Brazil, engloba as narrativas "O Tubarão Que Morreu Duas Vezes" (Le Requin Qui Mourut Deux Fois), "Brigada Caimão" (Commando Caïman), "Os Olhos Sem Rosto" (Les Yeux Sans Visage) e
"A Cidade Petrificada" (La Cité Pétrifiée). A coleccionar, estes extraordinários integrais, que deverão comportar um total de três tomos!...
Em simultâneo com a edição francófona, surgiu também uma edição em italiano pela Nona Arte Bédé.

PETIT TOUR AVEC MALCOLM - Edição Lombard. Argumento de Iuri Jigounov e arte gráfica do mesmo artista russo Jigounov e Chris Lamquet. "Petit Tour Avec Malcolm" é o 12.º tomo da tão apreciada série "Alpha".
Acusado de traição pela CIA, Alpha está em fuga. Como provar a sua inocência quando é perseguido por todos os agentes secretos do mundo? E, sobretudo, será que Alpha está tão inocente como ele quer fazer crer? A ver vamos!...

 
LES ENFANTS DU DOGE - Edição Dargaud. Argumento de Zidrou (aliás, Benoit Drousie) e grafismo do italiano Matteo (aliás, Matteo Alemmano). "Les Enfants du Doge" é o primeiro tomo da série "Marina".
Por volta de 1342, Marina Dandolo, filha do Doge de Veneza, deve ser trocada pelo filho mais novo do Sultão turco, para assim se selar a amizade entre o Império Turco e a Sereníssima Veneza. Mas uma traiçoeira acção de ferozes piratas, transtornam cruelmente toda esta ambicionada troca.
Em momentos intercalados desta narrativa e nos dias de hoje, o investigador Prof. Federico Boccanegra, tenta decifrar este terrível enigma...

 
CELLE QUI FUT - Edição Lombard. Autor: o suíço Cosey (aliás, Bernard Cosandey). "Celle Qui Fut" é o décimo sexto tomo de "Jonathan", considerada já, uma "série de culto". Desta vez, a acção localiza-se na Índia e, na vez da filosofia budista, deparamos com certos aspectos do hinduísmo, sobretudo no que se refere a Kali, a deusa do tempo e da morte.
O regresso de Jonathan merece bons aplausos.


ASTÉRIX ENTRE OS PICTOS - Edição Asa. Este é o 35.º álbum da tão delirante e popular série "Astérix", criada pelo saudoso René Goscinny e Albert Uderzo, que tem agora dois novos autores, os sucessores dos originais: Jean-Yves Ferry (argumento) e Didier Conrad (traço), com Thierry Mébarki, Murielle Leroi e Raphaël Delerue como responsáveis pela côr.
Saíram-se bem, Ferry e Conrad, para esta estreia de alta responsabilidade. O argumento volta a ser muito divertido, atendendo a situações equívocas e a caprichadas alusões ao futuro, enquanto o traço de Conrad em nada trai o de
Uderzo.
Uma nota especial ao impagável momento das eleições para o novo rei dos Pictos, da prancha 35 à 41.
Um grande aplauso aos continuadores da série e à editora Asa, que publicou este álbum em simultâneo com a congénere francesa.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

PELA BD DOS OUTROS (9) - A BD DA CROÁCIA

Localização da Croácia na Europa
A Croácia é o 28.º país da União Europeia, onde se integrou oficialmente a 1 de Julho de 2013. República situada na região mais conflituosa da Europa, os Balcãs, tem por capital Zagreb. 
Desejando aderir ao Euro, mantém por enquanto como moeda, o kuna. O idioma oficial é o croata e a principal fonte de receita o turismo, para além de outras indústrias. Com uma História rica, cheia de altos e baixos, o actual estado tornou-se independente (mais uma vez) a 8 de Outubro de 1991, após o desmembramento da Federação da Jugoslávia.
Nação  com alta força cultural em diversas vertentes, também aqui consta a sua notável Banda Desenhada. Os seus principais valores são:

ANDRIJA MAUROVIC (1901-1981), considerado o "pai da Banda Desenhada Croata". Viveu alguns anos juvenis na Polónia. Ilustrador e caricaturista, criou a sua primeira banda desenhada em 1935, que foi publicada num jornal de Zagreb. Adaptou obras literárias de Jack London, Leon Tolstoi, H.G.Wells, etc. 
Várias criações suas foram publicadas noutros países.
Arte de Andrija Maurovic

ZARKO BEKER, nascido em 1936. 
Deixou incompleto o seu curso de Arquitectura para se dedicar à Banda Desenhada. Abandonou esta Arte em 1956 para se dedicar ao Cinema de Animação, mas alguns anos depois, regressou à BD.
Arte de Zarko Beker

DAMIR ZITKO. Não temos algum dado biográfico sobre este desenhista, excepto que elaborou primorosamente para a francesa Éditions Delcourt, quatro álbuns da série "A Bíblia".
"A Bíblia", por Damir Zitko

DANIJEL  ZEZELJ, nascido em 1966. Foi editado em diversos países dos estados da ex-Jugoslávia, em Inglaterra, Suíça, França, Itália, Bulgária, Holanda e Estados Unidos. Viveu alguns anos em Londres, depois em Itália e por fim, em 1995, foi residir para os Estados Unidos, onde mantém assídua colaboração para a DC Comics.
Arte a preto e branco de Danijel Zezelj


DARKO MACAN, nascido em 1966. Estudou História e Arqueologia. Cedo começou a sua intensa actividade como desenhista e, algumas vezes até, como argumentista.  
Sob o pseudónimo de Cecile Quintal, escreveu ensaios sobre a Banda Desenhada. 
Nos Estados Unidos, há colaboração sua para a Disney e para a Marvel.
Arte de Darko Macan


GORAN SUDZUKA, nascido a 1 de Janeiro de 1969. Em 1989 começou a trabalhar para o estúdio de animação Zagreb-Film e iniciou a publicação das suas primeiras bandas desenhadas. Para além da sua Croácia, também
tem trabalhos seus editados na Alemanha, França e Estados Unidos, onde chegou a receber o Prémio Russ Manning pela série "Outlaw Nation", em parceria com Jamie Delan.
Arte de Goran Sudzuka


E temos por fim, IGOR KORDEY, que é talvez o mais célebre e mais internacional dos desenhistas croatas. Após uma carreira marcante no seu país e já com trabalhos seus editados em França ("Diosamante", etc), resolveu ir correr mundo e encontrar (e praticar) novas experiências... Começou pelo Canadá e a seguir integra-se com trabalhos de vulto nos Estados Unidos (sobretudo para a Marvel). Por volta de 2006, tornou ao mundo franco-belga da BD, onde mantém assídua actividade criativa em especial para as Éditions Delcourt ("Empire", "L'Histoire Secrète", etc).
Prancha de Igor Kordey ("Les Miserables") 
 

Muitos outros valores existem na Banda Desenhada da Croácia, mas aqui, focamos apenas os seus "sete magníficos"...

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

NOVIDADES EDITORIAIS (41)

SIN PIEDAD - Edição Lombard. Autor: Joachim Diaz. "Sin Piedad" é o primeiro tomo da série "Harden". Sufocante, avassalador e belo, quanto baste.
Ismael alistou-se no exército norte-americano para fugir à violência dos gangs  de Los Angeles. De regresso ao seu país, ele procura fugir. Fugir da vida do gueto. Fugir das suas suas recordações no Iraque. E fugir do monstro que parece roer a sua consciência, desde Bagdad. É um monstro que lhe confere uma força sobre-humana, alimentada apenas pela sua raiva...

 
ARDÍNIA E D. TEDON - Edição Quartzo. Este é o segundo álbum da autoria do jovem Pedro Emanuel, residente na cidade de Viseu. Com notória melhoria da sua arte gráfica em relação ao primeiro álbum ("O Magriço"), o argumento baseia-se numa lenda medieval da região do Tabuaço, contando uma história de amor, quase impossível, da bela moira Ardínia e do cavaleiro cristão D. Tedon.
Continua, Pedro Emanuel!

 
ORPHELIN D'ANTARCIE - Edição Les Humanoïdes Associés. Argumento de Alain Paris, arte gráfica de Val (aliás, Valérian Taramon) e capa de Christian Hojgaard.
"Orphelin d'Antarcie" é o primeiro tomo da série "Jaemon", que irá até ao quarto álbum. O grafismo de Val é muito interessante, mas o argumento de Alain Paris, quase macbetheano, é mais sedutor: "Doze mil anos antes da nossa Era... Sobre o continente antárctico, livre dos gelos, dilatava-se uma grande civilização sob um clima propício... E então, chegou Jaemon, bastardo do rei de Antarcie, que trazia com ele a marca dos antigos Atlantes...".

LES SACRIFIÉS - Edição Lombard. Autores: Jean Dufaux (argumento) e Yacine Elghorri (arte gráfica). Primeiro tomo da trilogia "Medina".
Uma narrativa trepidante, com beleza e elegância gráfica. O tema? Este localiza-se num futuro da Terra, com políticas e situações completamente mudadas, pois o Apocalipse já terá talvez acontecido... A cidade de Medina tornou-se no derradeiro bastião da Humanidade em luta contra os Drax, aterradoras e infecciosas criaturas de pesadelo. Conseguirão os humanos controlar e vencer essa pavorosa espécie?

L'ENFANT STALINE - Edição Casterman. Segundo a série "Lefranc" criada por Jacques Martin, Thierry Robberecht e Régrig, apresentam-nos agora o 24.º tomo, "L'Enfant Staline".
Na então União Soviética, algumas poderosas figuras tentam clonar o ditador José Estaline numa criança devidamente escolhida. Assim, quando o ditador morresse, este acabaria por continuar através do seu clone. Ideia um tanto absurda, numa rocambolesca narrativa em que Guy Lefranc se vai ver envolvido e tentar salvar o jovem que está a ser manipulado com "avançadas tecnologias".
O argumento, embora débil, suporta-se. O grafismo trai bastante o traço de mestre Martin.