quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

BD PORTUGUESA SEM HERÓIS... ESSA AGORA?!

     
Há dias, num ambiente de bedéfilos que, uns mais outros menos, se encontram todos os sábados pela hora do almoço, em Lisboa, o afável anfitrião, ditou uma atoarda escabrosa:
Não há heróis na BD portuguesa!
Ficou todo o mundo pasmado!... Nós, dessa vez estávamos presentes e logo repontámos:
- É falso! Queres uma lista deles?...
E, de memória um tanto apressada, citámos alguns deles. Mas, o bom do anfitrião, que na verdade é óptima pessoa e que peca apenas por largar atoardas tontas como se fosse um deus a decretar, ainda retorquiu:
- Mas "esse" ou "aquele", só tem uma aventura!
Que disparate! Como se os heróis da BD se medissem pelo número de aventuras ou de álbuns!...
"O Ponto", por Fernades Silva
Ora então, citámos, agora aqui com mais alguns acrescidos: "Falcão Negro" por Eduardo Teixeira Coelho (que também desenhou outros heróis, mas noutras fronteiras), "Tomahwak Tom", "Ted Kirk" e "Pirro" por Vítor Péon (que também criou outros heróis quando vivia no Estrangeiro), "O Pontopor Fernandes Silva, "Tónius" por André e Tito, "Porto Bomvento" por José Ruy, "Tufão" e "D.João e Cebolinha" por Artur Correia, "Jim del Mónaco" (com argumento de Tó Zé Simões) e "O Corvopor Luís Louro, "Dakar, o minossauro" por Luís Diferr e José Abrantes, "Morgana", "Tobias" e "Quim" por José Abrantes, "Tom Vitoín" por Luís Pinto-Coelho, "D.Paio e o Principezinho" por Luís Correia, "Zeca" por José Manuel Soares e Raul de Oliveira Cosme, "Manegas" por Pedro Manaças, "O Espião Acácio" por Fernando Relvas, "Quim e Manecas" por Stuart de Carvalhais, "Zé Pacóvio e Grilinho" por António Cardoso Lopes, "Pitanga" por Arlindo Fagundes...
Quim e Manecas, por Stuart Carvalhais
Certamente que há outros mais, cujos nomes não nos ocorrem de momento.
E ainda, se quisermos "forçar a barra" ante a ambiguidade da situação, há também a série "Sherlock Holmes", primorosamente desenhada por Fernando Bento para a revista "Cavaleiro Andante".
O tal nosso anfitrião, também editor de BD, em vez de atirar para o ar ideias muito convencidas, sensacionalistas e sem nenhum sentido, devia medir bem as suas opiniões ao desbarato, antes de as proferir. E, em vez de editar praticamente e apenas, a BD norte-americana (é pago em dólares?!...), bem podia apostar também nesta imensa BD Portuguesa que está por ser recuperada e salvaguardada como parte do nosso património cultural.
Cabe aos bedéfilos portugueses, dos leitores aos editores, pugnarem pelo que é nosso, antes de nos acocorarmos à BD dos outros. Já nos basta a infinidade dos nossos sucessivos "governantes" que são broncos e atávicos!
Isto não implica que a BD estrangeira não deva ser publicada entre nós. Mas deve ter qualidade, sem nunca passar à frente do que é nosso.
A BD portuguesa não tem heróis?! Essa agora?!...
Dixit!


"Ted Kirk", por Vítor Péon

«Aventuras de D. João e Cebolinha», por Artur Correia

"Tónius, o Lusitano", por Tito (argumento) e André (desenho)

"Porto Bomvento", por José Ruy

"Zeca", por José Manuel Soares (desenho) e Raúl de Oliveira Cosme (texto)
"Pitanga", por Arlindo Fagundes

Os "Heróis Portugueses de Banda Desenhada", foram, inclusive, tema
 para a emissão de uma colecção de 8 selos pelos CTT, em 8.10.2004.

sábado, 15 de dezembro de 2012

NOVIDADES EDITORIAIS (22)


L'OMBRE DE SARAPIS - Com nova gente "ao leme", via Casterman, prossegue a bela e clássica série "Alix", criada por Jacques Martin.
"L'Ombre de Sarapis" é o 31.º tomo, com argumento de François Corteggiani e traço de Marco Venanzi e Mathieu Barthélemy.
Alix e o seu inseparável amigo Enaksão enviados por Júlio César, em missão secreta, a Alexandria (Egipto), onde o filho de César e Cleópatra foi raptado. Toda a intriga está bem construída, onde descobrimos que a própria Cleópatra está metida na conjura anti-Roma que fez "desaparecer" o garoto Cesarion!... Mas o pior é que quem puxa os cordelinhos, é o sinistro Nefrerou, sacerdote ambicioso e cruel do templo dedicado ao deus Sarapis.
Nota curiosa: aqui se insinua um caso amoroso, do príncipe Enak com a bela Isadorajovem da corte de Cleópatra...
O grafismo da obra segue de muito perto a linha de mestre Martin.

SURVIVANTS / 2 - "Survivants, Anomalies Quantiques", é uma entusiasmante série paralela às de "Aldebaran", "Bertelgeuse" e "Antares", criações do brasileiro Leo (aliás, Luís Eduardo Oliveira).
Acontece uma anomalia, ou antes, um desastre no espaço, numa viagem entre a Terra e Aldebaran... Sobrevivem alguns "passageiros" dessa viagem, com nacionalidades diversas.
Vão todos parar a um estranho e desconhecido planeta, onde acontecem encontros bem intrigantes e por vezes até, trágicos.
Série publicada pela Dargaud, a ler sem hesitações!

LE MAL DES ESPRITS - Nos inícios do século XIII, um grupo de marinheiros audazes e aventureiros "descobre" a lendária Atlântida no Atlântico norte... Com ninguém vivo, mas cheia de valorosas relíquias em oiro... Um pouco mais tarde, a Europa é assolada por uma estranha doença, "o Mal dos Espíritos", espécie de peste negra mental que mergulha as vítimas em sofrimentos atrozes.
A sociedade, apavorada, ignorante e supersticiosa, toma atitudes erradas, com a Igreja inventando ordens e ideias pouco dignas. É então que o cavaleiro e nobre Alaric de Rhedae, membro-agente dos Missi Dominicicorajosamente
começa a investigar, sobretudo a morte de um brilhante sábio, acusado de ser um herético cátaro...
"Le Mal des Esprits" é o primeiro tomo da série "Démon", editada pela Soleil.
Tem argumento de Richard D. Nolane e o forte traço de Michel Suro.

LA  BOUCHE D'OMBRE - Com edição Dargaud, "La Bouche d'Ombre", é o segundo e último tomo do Ciclo 2 da série "L'Autre Monde", com argumento de Rodolphe e o deslumbrante grafismo de Florence Magnin.
A proposta, através dos personagens centrais da série (Jan, Abler e Blanche), é uma curiosa visita-travessia pelos infernos que foram inventados consoante os tempos, os povos e as respectivas e fantasistas religiões.
Um tema muito interessante servido pela arte gráfica, tão cativante, da francesa Florence Magnin, que, mais uma vez e pelo seu encanto, toma conta da nossa admiração.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

QUASE AO TABEFE...

Não é só nos universos da política, do futebol, das televisões, do cinema e teatro, etc, que acontecem broncas e escandaleiras onde quase só falta (às vezes, até há) andarem todos ao sopapo.
Pela Banda Desenhada, em França, deram-se dois casos muito recentemente:
1 - Albert Uderzo pressionou durante muito tempo o seu amigo e colaborador Frédéric Mébarki, para que o substituisse, no traço, no novo álbum (o 35.º) de "Astérix". E Uderzo até ofereceu a Mébarki uma prancha  original do álbum "A Grande Travessia"... 
Didier Conrad
O novo álbum teria texto de Jean-Yves Ferri, traço de Frédéric Mébarki e as cores seriam pelo irmão deste, Thierry Mébarki...
Mas, num repente, Uderzo abdica de Frédéric e põe Didier Conrad a desenhar "Astérix"!...
Frédéric não gostou nada desta punhalada e, vai daí e bem agastado com a uderzeana traição, entregou à casa Millon & Associés, para venda, a dita cuja prancha original. 
Enfim, como se costuma dizer, "amor com amor se paga".
Jean-Yves Ferri, Albert Uderzo e Frédéric Mébarki quando tudo ainda era um mar de rosas.
2 - O outro desaguisado tem a ver com um diferendo entre o Studio Jacobs e as edições Dargaud-Lombard contra as edições Guy Delcourt. Esta editora publicou "La Marque Jacobs - Une Vie en Bande Dessinée", com textos de Rodolphe e grafismo de Louis Alloing.
O pior, no conceito dos queixosos, é que na capa da obra editada pela Delcourt foram utilizadas, sem autorização, personagens desenhadas pelo próprio Edgar-Pierre Jacobs.

Edgar Pierre Jacobs e Louis Alloing 
Questão de birrinha, já que o álbum em questão é uma biografia-homenagem ao grande mestre? Pois sim, pois não... e o tribunal deu razão às edições Delcourt.
De vez em quando sabemos destas "quentes e boas". Ou será tudo uma mera jogada publicitária muito bem cozinhada?... Não, destas duas questões acima citadas, parece que não.
Nas aventuras de Astérix, os tabefes são uma constante...

Francis Blake e Philip Mortimer na filatelia

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

ENTREVISTAS (9) - MARIA JOSÉ PEREIRA


 
TEM A PALAVRA O EDITOR-BD: MARIA JOSÉ PEREIRA
 
Não é a primeira vez que um dos coordenadores do BDBD (Luiz Beira) aborda esta vertente: entrevistar responsáveis das editoras de Banda Desenhada. Tal aconteceu, em tempos, no semanário de Beja "Alentejo Popular", na respectiva página "Através da Banda Desenhada", onde foram entrevistados José Manuel Vilela (Bonecos Rebeldes), Dr. Baptista Lopes (Âncora Editora) e Dr. José Luís Fonseca (Difusão Verbo). Hoje e aqui, é a vez da Drª. Maria José Pereira, das edições Asa (grupo Leya).
Enquanto o jornalista está na situação ingrata de se colocar "a meio da ponte", é necessária, de qualquer modo, a ligação entre as duas "margens", com o público numa e as editoras na outra. O leitor bedéfilo também deve ser esclarecido de aspectos que ignora... Aí vamos:
 
BDBD - Sabemos que não é a "dona" da Asa, mas é quem dá a cara e a voz, no que toca à Banda Desenhada... Assim pois, quem é mesmo que escolhe as obras BD que a Asa edita?
Maria José Pereira (MJP) - No seio do grupo Leya, as obras são apresentadas pelos respectivos editores a um Comité Editorial composto por vários elementos, nos quais se incluem o Director Comercial, o Director de Marketing, o Director Editorial (entre outros), que as analisa e aprova (ou não). É esse o método que é seguido, também no que respeita à BD.
 
BDBD - Daí, há glórias e há fiascos... Como se justifica a Asa por estes altos e baixos? Há algum critério para as escolhas?
MJP - Eu defendo que o emprego de adjectvos como "glórias" e "fiascos" deve ser contextualizado; estamos a referir-nos a quê? A uma análise da obra em si? A uma análise de exposição e de vendas? Se nos estamos a referir a obras em si, devemos ter em atenção "os olhos que analisam" ou seja, se os critérios seguidos são mais ou menos subjectivos. Feita esta separação, convenhamos que numa actividade comercial, que é uma actividade de risco, é normal que, em termos de vendas, hajam "glórias" e "fiascos". Na verdade, ninguém detém o segredo da poção mágica, e o que é uma excelente obra para uns pode não o ser para a maioria do público leitor.

BDBD - A nível da BD estrangeira, há apostas de alta qualidade que ainda não entraram nas escolhas da Asa. Alguma razão para este passar ao lado?
MJP - Penso que estamos novamente a falar de conceitos, no abstracto (risos). Mas sim, não podemos editar tudo...e editamos muito com uma qualidade da qual me orgulho.
 
BDBD - O álbum "Portugal" pelo Cyril Pedrosa, tal como as séries "Murena", "Blueberry" e as do Enrico Marini, são boas glórias, como exemplos soltos. Mas há muita insistência ou repetição, com Astérix, Lucky Luke, etc, com reedições ou publicações não propriamente como BD. Porquê?
MJP - Um editor não é um crítico, e a tarefa mais difícil é, quiçá, a de pôr de lado os seus gostos pessoais para se colocar no papel do público leitor. Eu não duvido que, se a Asa deixasse de editar Lucky Luke ou Astérix, muitos editores portugueses estariam em corrida para publicar estas colecções. Quanto às outras, talvez sim, talvez não. A pergunta é simples: para quem publicamos? O que quer o público leitor de BD?
 
 
BDBD - Como vê o aspecto de ser a Asa a quase única editora-BD em Portugal, a publicar com uma certa constância? Uma provável concorrência não seria salutar?
MJP - Trabalho na BD há cerca de 25 anos e sempre houve mais do que uma editora a publicar BD em Portugal. Quando eu estava na Meribérica, tínhamos a Asa, a D. Quixote com a "Mafalda", a Futura, a Verbo... e há a Devir, a BDMania, a Vitamina BD, a Tinta da China, a Bertrand, a Plátano... Aliás, assistimos este ano à entrada no mercado de novas editoras: Contraponto (do grupo Bertrand/Porto Editora), Levoir...
(e após uma brevíssima pausa)
Mas há ainda uma outra questão subjacente à edição e que se prende com a comercialização. Eu penso que a questão crucial é a comercialização e nesse aspecto, o que espero sinceramente, é que, unida, a "concorrência" consiga uma maior visibilidade à BD. Se isso não acontecer, temo sinceramente que a médio prazo, as editoras acabem por desistir de publicar BD e só existam no mercado livros importados. Pessoalmente, tenho a consciência de que me tenho preocupado não só em publicar, mas também em dar essa tal visibilidade que penso que é necessária.

BDBD - Louvamos que a Asa já esteja a apostar também na BD portuguesa. É ideia para continuar? Não esquecer os nossos valores veteranos...
MJP - Vai depender de muitos factores, incluindo a disponibilidade, para tal, dos autores portugueses. Reconheço que as tiragens são pequenas e que as vendas expectáveis não pagam o tempo (às vezes anos...) que os autores despendem na criação da obra. Penso que, também na BD, é urgente alargar mercados além-mar. E isso é um trabalho "monumental", pois a maior parte dos mercados é - e foi sempre - economicamente fechado à produção do exterior.

BDBD - Congéneres francófonas, em paralelo às suas normais edições, têm jogado bem com reedições de belos clássicos. A Asa fará esse mesmo e tão aplaudível gesto? Referimo-nos, por exemplo, aos esgotados, "Camões" por Carlos Alberto, "A Casa da Azenha" por Vítor Péon ou a "Inês de Castro" por Eugénio Silva... E há a lembrar ainda, belas obras que jamais apareceram em álbum, do Fernando Bento, do E.T. Coelho, do Fernandes Silva, etc. Certamente não seriam edições fiasco...
MJP - Eu creio que a reedição dos clássicos no estrangeiro é muitas vezes outra forma de rentabilizar as obras que já estavam pagas (fazem-se álbuns duplos, triplos, por ciclos...), dando nova "roupagem" a obras já publicadas. Das obras de autores portugueses que refere, não há nenhuma que se possa comparar ao que se verifica lá fora, pois não temos em "stock" o material, a legendagem, o contrato... Teríamos de encarar com os custos adjacentes a uma obra nova e não com a rentabilização de algo que já temos. Mas também concordo que há obras de autores portugueses que são incontornáveis.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

NOVIDADES EDITORIAIS (21)

PUÉRIL EN LA DEMEURE... - Estamos sempre à espera de um novo álbum com os desaires e as tontas filosofias do impagável e delirante Nabuchodinosaure, ou, para os amigos, simplesmente Nab.
Pela Dargaud Éditeur chegou-nos agora o 14.º álbum da série, "Puéril en la Demeure...", com o tão divertido grafismo de Roger Widenlocher (que já veio duas vezes a Salões-BD em Portugal, uma vez à Sobreda e outra a Viseu) e textos de Patrick Goulesque.
Nab, de pele verde, é um personagem indefinido, existindo antes da Prehistória, que cedo nos cativa em pleno com a loucura das suas peripécias e juízos desastrosos.
Uma série a não perder!


ACTE 1 - Sob edição 12 Bis, "Acte 1", é o primeiro tomo da série "Zigeuner" (Cigano, em alemão). Tem argumento de Nathaniel Legendre, traço do andorrano Jordi Planellas (cuja breve entrevista aqui publicámos a 23 de Setembro) e cores de Florence Fantini.
Por aqui se relata a vida real de um campeão de boxe da Alemanha, Johann Trollman, cigano alemão, quando o nazismo e as paranóias de Adolf Hitler começavam a tomar conta de tudo e todos, iniciando também, a cruel e desumana perseguição a judeus, ciganos, etc.
Uma obra a acompanhar com muita atenção.


ET TOUT CE QUI RAMPE - Com edição Lombard, "Et Tout Ce Qui Rampe", é o segundo tomo da série "Noé", com argumento de Darren Aronofsky e Ari Handel e grafismo de Niko Henrichon.
Com base na narrativa bíblica focando Noé, a sua famosa Arca e o tremendo Dilúvio já próximo, os autores acrescentaram-lhe um pouco mais de fantasia, desde a guerra entre os que vão ser salvos e os que não poderão embarcar na Arca e a actuação de estranhos e monstruosos
humanóides...
De notar, certas pranchas com momentos espectaculares.


H.S.E, / 1 - Um tema de pavoroso alerta para a Humanidade actual (que, o futuro, não tarda, é já o presente), com edição Dargaud: o H.S.E. (Human Stock Exchange) é uma poderosa e sinistra accionista das bolsas de valores, onde as quotas são...os humanos!...
Por todo o lado, há crises financeiras, motins, falências... A catástrofe domina os países industrializados. As economias afundam-se. Os capitais (a moeda vigente é o eurodólar) faltam. A miséria ganha terreno onde quer que seja. Os
futebolistas, os actores, os Prémio Nobel, já há bom tempo que estão cotados (ou quotados?)...
Todas as Bolsas estão em baixa. Todas, menos uma que não pára de subir: a do H.S.E.! Ou seja, funciona em "como investir o seu dinheiro no... ser humano"!
Este alerta "futurista" é bem real. Livremo-nos do quotidiano cómodo e apenas resmungão do "deixa andar" e... e tomemos uma atenção lúcida ao panorama socio-político-económico que está a envolver-nos...


PESSOA & CIA - Publicado pela Asa, este álbum revela-nos um certo empenho da catalã Laura Pérez Vernetti na entidade e obra do nosso poeta Fernando Pessoa e alguns dos seus heterónimos. Pois...
Quando o "génio" (ou "génios"?) de Fernando Pessoa passou a ser moda avassaladora, outros grandes e também eternos valores da nossa Literatura foram, dir-se-ia, apagados: Camões, Bocage, José Régio, Florbela Espanca,
Miguel Torga, Alda Lara, Reinaldo Ferreira (Filho), Mário de Sá-Carneiro, etc. E, pela prosa, António Vieira, Eça de Queiroz e Camilo Castelo Branco, por exemplo, são ofuscados pelo Saramago e o Rodrigues dos Santos... Cáspite!
Mas, pronto, na diversa escolha, Laura Vernetti "apaixonou-se" por Pessoa. Tudo bem!...
A primeira parte do álbum é a preto-e-branco e revela aspectos biográficos do poeta; a segunda parte, a cores, adapta alguns poemas dos heterónimos Bernardo Soares, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos. E, até aqui, nada a contestar...
Um aplauso para o entusiasmo de Laura Pérez Vernetti, mas o seu grafismo é horrível e deixa muito a desejar.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

ERA UMA VEZ... AS REVISTAS DE BD

No século passado, pelos anos 30 e até aos inícios dos anos 80, vibrou o fulgor das mais diversas revistas de Banda Desenhada por todo o mundo, onde Portugal também foi bem marcante. Hoje, tudo desse tempo de oiro reside na nossa nostalgia e nas colecções privadas de ávidos coleccionadores. Por vezes, encontram-se algumas em alfarrabistas, mas com um preço cruel.

Revista Spirou (edição belga)
Mas tudo isso acabou?... Não é bem assim! Todas as quartas-feiras, na Bélgica e sob edição Dupuis, a famosa revista "Spirou" continua a vir para as bancas, para aquisição de um incontável número de leitores. Surgiu a 21 de Abril de 1938 e hoje, já vai perto do n.º 4000! Chegou a ter uma efémera edição em português.
Entretanto, as suas congéneres "Tintin", "Pif Gadget", "Pilote", "Vaillant", etc, finaram-se. Apareceram as mensais "Circus" e "(A Suivre)", que também se foram. E mais tarde, também, a "Bodoï " e a "Métal Hurlant"...
Em Portugal, tantas desapareceram, como "Diabrete", "Cavaleiro Andante", "O Mosquito", "Camarada", "Mundo de Aventuras", "Visão", "Flecha", "Pisca-Pisca", "Falcão","Titã", "Zorro", etc, tal como os suplementos "Pim-Pam-Pum" (de "O Século"), "Nau Catrineta" (do "Diário de NotÍcias") e "Notícias Infantil" (do "Notícias" de Lourenço Marques). Em novo sistema, ainda se publicaram "Selecçõs BD" e "O Mosquito", que acabaram... Resta-nos com periodicidade incerta, a "BD Jornal" e a "Zona". Ça ira?...
Em Espanha, as notáveis "Cimoc", "El Víbora" e "Cairo", também não resistiram ao colapso. E na Grécia, a ilustre "Babel" também terá acabado...
Haverá ainda a "(Gisp)" na Islândia?!...
E no entanto...no entanto, pelo mundo francófono, há revistas que insistem (e bem!) pelo seu pugnar pela Banda Desenhada: "Casemate", "dBD", "Fluide Glacial", "L'Écho des Savanes", "Lanfeust Mag" e, mais recentemente, a "L'Immanquable".

 

Mais ou menos similares nos respectivos conteúdos, sempre de tão apetecível leitura, se bem que em saudável concorrência, não se cilindram umas às outras.
E têm, ainda por cima, plena qualidade.
Em gesto paladino, pugnam corajosamente por uma das Artes mais antigas que a humanidade criou. Passam ao lado ou por cima da tão badalada e choramingada crise mundial. Um exemplo notável este, que na Europa culturalmente consciente, não baixa os braço e sabe lutar pelos seus ideiais culturais, neste caso, os bedéfilos.

Nota importante: todas estas seis revistas mensais, atrás citadas, vendem-se em Portugal. Certamente existirão outras dignas publicações do género, mas citamos apenas as mais fundamentais para os que têm o bom gosto e o bom senso de gostar de Banda Desenhada.
 
 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

HERÓIS INESQUECÍVEIS (7) - BERNARD PRINCE

Sob a autoria de Hermann, Bernard Prince, apareceu pela primeira vez a 4 de Janeiro de 1966, na edição belga da revista "Tintin". Foram sete histórias curtas, as cinco primeiras com quatro pranchas e sob total autoria do próprio Hermann; a sexta, "Uma Lanterna para um Pequeno Polegar", é de seis pranchas e tem guião de Chaderic e a sétima, "A Fuga do Cormoran", também em seis pranchas, já tem argumento de Greg.
Greg e Hermann
É este argumentista (bem saudoso) que passa a assinar os guiões de todas as aventuras de Bernard Prince e desenhadas por Hermann, no total de vinte, entre longas, médias e curtas.
Dany
Greg assina também as três aventuras desenhadas por Dany ("A Cilada dos 100.000 Dardos", "Nictalope" e "Tempestade Sobre o Cormoran") e as duas desenhadas por Edouard Aidans ("La Dynamitera" e "Le Poison Vert").
  
Édouard Aidans
Em 2010, Hermann retoma (para continuar?...) com este seu herói-ícone em "Ménace Sur le Fleuve", mas desta vez, com argumento de seu filho, Yves H. (aliás, Yves Huppen).
Bernard Prince filia-se naquele maravilhoso grupo de heróis-BD que tanto entusiasmaram e entusiasmam os leitores, como Bruno Brazil e Bob Morane.
A sua aparência física vai-se modificando com a evolução dos tempos e do talento consciente de Hermann. Nas suas primeiras (curtas) sete aventuras e na longa "Os Piratas de Lokanga", nota-se  bem o traço "primitivo"... diríamos melhor, "em rodagem", que dá sinais de mudança em "O General Satã".
Depois, funciona um traço constante até à última, "O Porto dos Loucos".
 

Na aventura mais recente, o salto é bem notável, pois Bernard Prince e o seu gordo e pândego companheiro Barney Jordan estão envelhecidos e  o garoto indiano adoptado por Prince, o traquina Djinn, está agora um mocetão atlético.
Utilizando os personagens desta série, Jacques Acar escreveu em tempos um romance (inédito em Portugal), "Mabuhay, Mister Prince!...".
Algumas aventuras de Bernard Prince foram editadas por cá em álbum, pela Bertrand, Editorial Ibis, Distri, Meribérica-Líber e Vitamina BD.
Entretanto, diversas histórias deste tão aplaudido herói, foram publicadas nas revistas "Tintin" (edição portuguesa), "Mundo de Aventuras" e "Selecções BD".
Por sua vez, todas as aventuras (excepto a última) de Bernard Prince, desenhadas por Hermann, foram reeditadas na versão "integral" (três volumes) pelas Éditions du Lombard. Uma reedição obrigatória de leitura por todos os "princeófilos", dado aos dossiês históricos e elucidativos que se inserem em cada volume. A bom entendedor...
Prancha de Bernard Prince por Édouard Aidans
O mais recente álbum de Bernard Prince, assinado por Hermann e Yves H.
Bernard Prince - Intégrale (tomo 1)