Artur Correia (1932-2018) |
Há muito a sofrer com problemas de saúde que, aos poucos, o foram debilitando, Artur Correia deixou-nos ontem de manhã, aos oitenta e cinco anos.
Soubemo-lo através de um telefonema da esposa, Maria Belmira, que nos deu conta da triste ocorrência.
Numa altura em que lhe preparávamos uma grande exposição-homenagem, a inaugurar em Moura no próximo mês de Abril, o Artur deixou-nos antes de lhe podermos agradecer publicamente tudo aquilo que, ao longo duma notável carreira, fez pela Banda Desenhada e pelo Cinema de Animação.
Ainda na segunda-feira estivéramos juntos, em sua casa, a escolher material para a exposição. O Artur, muito dorido (tinha fracturado um braço no passado domingo, enquanto passeava no jardim), arranjava sempre forças para uma piada ou um aparte engraçado, no meio da conversa.
Mostrou-nos pastas e pastas cheias de originais, de projectos com os quais se entretinha, até há bem pouco. Uns terminados, mas que nunca mereceram o olhar atento de uma editora; outros inacabados, por força da perda gradual de faculdades e da inevitável falta de tempo com que todos nos debatemos.
Escolhemos umas quantas dessas pastas, e folheámos dezenas de pranchas, ilustrações e esboços, enquanto o Artur, com uma memória invejável, nos dizia a que álbum ou projecto pertenciam.
Num ápice passaram-se duas horas. Não tínhamos pressa, mas decidimos deixar o Artur descansar. O material que recolhêramos era mais que suficiente para produzir uma exposição e uma homenagem condignas.
Despedimo-nos, como sempre, com um caloroso abraço, mas, desta vez, também com a voz embargada. Inconscientemente, talvez pressentíssemos que aquela seria a última vez que nos víamos.
Enquanto desci as escadas do prédio, carregado com sacos cheios de pastas de desenhos, o Artur ainda atirou, como sempre fazia: "Dá cumprimentos aos teus pais!"
"Obrigado, Artur! Até qualquer dia!" - respondi já a meio do segundo andar.
E não houve tempo para mais.
Até qualquer dia, Artur!...
CR
"A Bela Infanta", projecto inacabado de Artur Correia.
Adaptação de um poema de Almeida Garret.
Informação: o velório é hoje, a partir das 21:00 horas, na Igreja de São Jorge de Arroios, em Lisboa. Amanhã, dia 3, será celebrada missa a partir das 15:30, com saída às 16:00 para o cemitério dos Olivais, onde o corpo de Artur Correia será cremado, conforme era seu desejo.
pena.Mais um artista que se vai.
ResponderEliminarSô novo nisto da BD, mas sempre tive a presença de vir a ter um dia nem que fosse um só autografo deste artista.
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