sábado, 29 de outubro de 2016

NOVIDADES EDITORIAIS (104)

BOB MORANE, INTÉGRALE – 4 - Edição Lombard. Autores: argumentos de Henri Verne e arte de Gérald Forton.
Alegrem-se os bobmoranófilos, que, por atento gesto das Éditions du Lombard, as apaixonantes narrativas de Bob Morane e de seu companheiro (quase sempre) Bill Ballantine, estão a ser muito bem recuperadas em álbuns na versão integral.
E assim descobrimos também aventuras que se nos escaparam quando das primeiras edições... Agora, neste quarto tomo, todo com a arte de Forton, que parece que reside na Califórnia, constam cinco aventuras, nem todas longas, pois algumas são médias, São elas: “Le Secret des Sept Temples” (com edição em português pela Ibis, em 1970), “La Rivière de Perles”, “La Couronne de Golconde”,
“La Chasse aux Dinosaures” e “La Malédiction de Nosferat”.
Como “prefácio”, um elucidativo dossiê por Jacques Pessis.
Esta série, “Bob Morane, l’Integrale”, que logicamente vai continuar, merece toda a atenção do autêntico bedéfilo.



 
VÉRTIGO - Edição Lombard. Autores: argumento de Nathalie Sergeef e arte de Bufi.
Uma obra de aplauso, mas cruel como cruel é toda a realidade social e de vida no cenário onde se localiza: El Salvador, Guatemala e Venezuela.
Tudo é violento, sob os caprichos dos donos da droga, os ditadores e qualquer tipo de mandante poderoso e  tão sem qualquer pinga de bons sentimentos.
Por esta sufocante obra, ela mesmo nos indica que a morte é a única porta de saída autorizada...



RENASCIMENTO - Edição Asa. Autores: argumento de Philippe Graton / Denis Lapière e grafismo de Marc Bourgne/Benjamin Benéteau. Tradução de Cristina Gonçalves.
Da nova linha da série “Michel Vaillant”, editou-se agora em português o 5.º tomo, “Renascimento”.
No precedente álbum, “Colapso”, a empresa Vaillant ficou à beira da falência total e, por sua vez, nas angustiantes cenas finais, Michel Vaillant, assiste impotente ao suicídio de seu irmão... Um dramalhão!
Mas não é um dramalhão tão folhetinesco como pode parecer à primeira impressão. Afinal, estão todos vivos, porém... Lendo o álbum se ficará a saber como continua esta saga.



LEI. VIVIAN MAIER - Edição Orecchio Acerbo. Autora: Cinzia Ghigliano.
Ao fim de largos anos de “silêncio”, voltamos a ter o prazer de reencontrar a arte de Cinzia Ghigliano, que foi a segunda personalidade-BD que registámos no nosso blogue, na rubrica “Talentos da Nossa Europa”, a 5 de Março do corrente... Lembram-se?!
Pois desta vez, temos o prazer de conhecer esta sua recente obra na língua original, o italiano.
“Lei. Vivian Maier” é um álbum especial e diferente, aliás belíssimo.
Com ele, Cinzia ganhou o Prémio Andersen 2016, como o melhor álbum ilustrado. E por ele, tem andado a percorrer a sua Itália em merecidas sessões de autógrafos.
Vivian Maier é uma apaixonada pela fotografia, com uma máquina fotográfica um tanto antiga, mas muito estimada. Das “suas” fotos a preto-e-branco, Cinzia Ghigliano leva-nos ás respectivas e deslumbrantes ilustrações...
A não perder!
LB

terça-feira, 25 de outubro de 2016

A ILHA DO CORVO QUE VENCEU OS PIRATAS (8)


QUAL ERA O LINGUAJAR CORVINO
USADO NA ALTURA DESTA HISTÓRIA

É muito curioso sabermos os termos linguísticos usados nesta Ilha nos séculos anteriores.
O meu amigo linguista João Saramago, um dos coordenadores científicos da história que estou a fazer, tem uma importante obra sobre os termos dialetais no Corvo e enviou-me uma súmula para eu poder inserir no decorrer dos diálogos.
Naturalmente que não podia pôr as personagens a falarem entre si numa linguagem que os leitores do livro não entendessem, e possivelmente até muitas das atuais corvinas e corvinos, pois muitos entraram em desuso.
Então combinámos que usávamos alguns termos com a respetiva «tradução» dentro das vinhetas onde estes aparecessem.
Temos por exemplo «guindo» que significa susto e que apliquei neste quadrinho.
Procurou-se salpicar o texto com esta curiosa forma de falar, sem dar à narrativa um ar intelectual que não se coadunava com este tipo de leitura. No entanto acho que enriquece o argumento, pois o leitor ficará assim com alguma informação a que achará graça, e que sem dar por isso acabará por ficar a conhecer algo mais. «Aprender distraindo-se». 
Outra expressão usada é «axe», que quer dizer que bom.
A vinheta onde entra a palavra «cramilhano» fica estranha, e é com surpresa que descobrimos tratar-se do nome dado ao diabo na Ilha do Corvo nos séculos transatos.
Quando as personagens Francisco e Inês se refugiam na Furna Negra, falam em «desfundar», «tobiada» e «enrilhada».
Pois traduzindo, «desfundar» é descobrir, «tobiada» é o mesmo que confusa e «enrilhada» significa estar com frio.
Nada o faria supor, não é verdade? Mas há mais.
Agora não se trata do linguajar na Ilha do Corvo, mas dos intrusos piratas turcos que vêm ao ataque. Eles gritam «bezzaf», «koull hadd», «koull bezzaf min t’eurf» e «âouad».
O leitor desprevenido pode pensar que esta linguagem posta na boca dos turcos é inventada, por ser tão estranha.

Certa vez na Feira do Livro de Lisboa, há muitos anos estava eu a publicar a série «Porto Bomvento», um jovem que me pediu um autógrafo no livro, perguntou se os trajos que eu desenhava nas personagens eram inventados por mim. Quando o informei de que correspondiam rigorosamente aos usado na época, e que fazia essa pesquisa em gravuras, pinturas, baixos relevos e estátuas, e também com a ajuda de livros documentais de bons autores, como «Liliane e Fred Funcken» ou do portentoso «Rothotten» ficou admirado e confessou que não pensava que a BD desse tanto trabalho.

Pois voltando à língua Árabe, estas frases correspondem ao que apresento em tradução, pois possuo dicionários de francês árabe, como também de chinês.
Abro ao acaso duas páginas deste dicionário que apresenta o som da voz quando a palavra é pronunciada, e a escrita em rasgos que se leem da direita para a esquerda.
É um grosso volume que me foi útil quando de uma estada no norte de África, em Casablanca e em Rabat.
Vão longos estes artigos, e a história vai caminhando em direção ao final. Faltam-me desenhar em definitivo pouquíssimas páginas, e agora a parte mais interessante será vermos as corvinas e os corvinos com o livro já impresso nas mãos, onde descrevo uma das histórias da sua Ilha, a que conta como os seus antepassados conseguiram sem armas vencer os piratas, apenas com pedras. É o registo de um acto heroico que as novas gerações precisam de saber e memorizar.

Voltamos ao contacto quando isso acontecer, que presumo seja no início do próximo ano de 2017.
Não deixarei de vos informar quando houver algo importante para assinalar.
Prometo.
Entretanto podem ficar a conjeturar como será o fim desta aventura.
Um pouco mais de paciência.
José Ruy
Setembro de 2016

sábado, 22 de outubro de 2016

GRANDE ENCONTRO BD NO CPBD

(texto de Luiz Beira e fotos de António Martinó )
Como foi atempadamente anunciado, na tarde de 15 de Outubro deu-se um grande encontro de gente-BD no Clube Português de Banda Desenhada (na Amadora), durante a inauguração de três exposições em simultâneo: “Originais de Fernando Bento”, o “ABCzinho” e “Star Wars”.
Vamos por partes: para além de elementos da “gerência” do CPBD (Carlos Gonçalves, Pedro Mota, Geraldes Lino, José Ruy, Paulo Duarte e Carlos Moreno) e de entre muita gente entusiasmada, contavam-se João Mimoso, José Menezes, Fernando Cardoso, António Amaral, José Coelho, João Paiva Boléo, António Martinó, a editora Maria José Pereira, o argumentista Jorge Magalhães e os desenhistas José Pires, Catherine Labey, Gastão Travado e António Lança Guerreiro.
Os dois pontos altos que ficaram na nossa memória:
1 - A presença grata e emotiva da Srª. D.ª Arlete Bento, viúva de mestre Fernando Bento. Uma maravilhosa presença!
2 - O colóquio bem elucidativo, com momentos de saborosas ironias, do Dr. António Mega Ferreira,  que nos encantou com o relatar da sua relação pessoal com a Banda Desenhada. Em momentos de breve diálogo, tiveram interveniências, Geraldes Lino, Luiz Beira, António Martinó, José Coelho e José Ruy.
O BDBD esteve lá, representado pelo autor deste texto.
Um agradecimento muito especial a António Martinó que gentilmente nos cedeu a reportagem fotográfica deste evento.
Nota final curiosa: vimos aí um exemplar que não é raro é raríssimo, da primeira edição em álbum de “As Mil e Uma Noites” por Fernando Bento, pela Colecção Imagem (1948).
Edifício-sede do Clube Português de Banda Desenhada
Últimos preparativos, antes da abertura de portas.
Panorâmica da exposição de homenagem a Fernando Bento
Duas magníficas capas de F. Bento para o "Cavaleiro Andante"...
...e outras duas para o "Diabrete".
Algumas edições em álbum com trabalhos de Bento...
...sendo esta a mais rara ("As Mil e Uma Noites" - Colecção Imagem - 1948).
Ao centro da imagem, Arlete Bento conversa com João Paiva Boléo e Geraldes Lino,
enquanto Carlos Gonçalves (à direita) tenta ultimar um último pormenor, e
José Coelho e Luiz Beira (à esquerda) trocam informações para um futuro post do BDBD
No balcão, à entrada da sede do CPBD, destacavam-se os "Cadernos de Banda Desenhada",
com uma reedição (1988) de "As Mil e Uma Noites" de F. Bento e Simões Müller.
José Ruy, Geraldes Lino e Luiz Beira, à conversa.
Arlete Bento e Paiva Boléo foram os primeiros a ocupar lugar para o colóquio, enquanto,
em segundo plano na imagem, Gastão Travado e António Amaral conversavam sobre... BD.
Geraldes Lino e o Dr. Mega Ferreira durante a palestra "Eu e a BD".
Panorâmica do público, rendido às intervenções do convidado da tarde.
Uma das alas da exposição de capas e páginas do "ABCzinho"
Capa do #18 do "ABCzinho" (1926), preenchida com uma BD, como era usual na época...
Capa do #302 do "ABCzinho" (1931) com um desenho alusivo às "Aventuras de Três Maráus"...
Anúncio da oferta da construção de armar (publicado na revista "ABCzinho") do hidroavião "Lusitânia",
desenhada nos anos 20 por Filipe Rei, e uma maquete do mesmo já montada.
Carlos Gonçalves e Carlos Moreno
Pedro Mota e Carlos Gonçalves
Carlos Gonçalves, António Martinó e Geraldes Lino
Um recanto da exposição "Star Wars".
Uma vitrina com revistas, cromos e cartas desta série.
Bonecos em pvc e outros objectos relacionados com a "Star Wars".
Cadernetas de cromos da série.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

NOVIDADES EDITORIAIS (103)

CAÏN - Edição Glénat. Autores: o argumentista chileno Alejandro Jodorovski e arte do mexicano José Ladröinn.
“Caïn” é o primeiro tomo da série “Les Fils d’El Topo”.
O “terrível” Alejandro Jodorovski (chileno de origem judaico-ucraniana) que, para além de genial argumentista (BD e Cinema), é também pela 7.ª Arte, realizador e actor, realizou em 1970, no México, a longa-metragem “El Topo”, onde foi também o actor principal. Mas esta película estaria
“amaldiçoada”, pois Jodorovski viu-se e desejou-se para a estrear nos Estados Unidos... Ele explica toda essa “odisseia” na abertura deste belo álbum, “Les Fils d’El Topo” (Os Filhos de El Topo).
Mais tarde, programou a continuação em Cinema, sempre recebendo canalhas recusas para um óbvio patrocínio...  Optou então pela ideia de passar esse sonho para a Banda Desenhada, na vez do Cinema. Ele próprio cita: “O fracasso
não existe, é apenas um novo caminho”.
E pronto! “Caïn” é o primeiro tomo da série-trilogia “Les Flls d’El Topo”, que vai certamente entusiasmar muito boa gente.

 
LARRY’S  PARADISE - Edição Lombard. Autores: o argumentista Stephen Desberg e o artista gráfico Bernard Vrancken.
“Larry’s Paradise” é o 17.º  álbum da série “I.R.$” que, aparentemente teria chegado ao fim. Porém, a série continua...
Larry B. Max, corajoso investigador do IRS (International Revenue Service), nos seu actos de altas apostas, é um descarado investigador ante qualquer tipo de fraudes. Agora está em escaldantes e novos apuros... muito embora
“esteja” desligado” e “reformado”...
No entanto, não é bem assim que pensam os seus antigos inimigos e os seus ex-patrões...
E, pela força das circunstâncias, lá volta o herói para perigosas e complicadas acções. Mais: de um modo insólito, vai recebendo misteriosos telefonemas da sua falecida Glória, a mulher que tanto amou e que...
Pois, que pesadelo!

UN MORT DANS L’ARÈNE - Edição Delcourt. Autores: os argumentistas Corbeyran e Chapuzet, e, Luc Brahy no traço e Aurore Folny nas cores.
“Un Mort Dans l’Arène”, é o segundo tomo da intrigante série “Cognac”.
Guerras de interesses e de heranças, para além de estranhos assassinatos, num mundo à volta do melhor conhaque em produção e venda, tudo isto vai implicar na temerária investigação da jornalista Anna-Fanély Simon na
região de Charente, onde tenebrosos factos devem vir à luz do dia...
Quem assassinou  quem, e porquê?
LB

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

OBRAS RARAS (6)

Fernando Bento
BEAU GESTE
Quando em 1924, o militar e novelista inglês Percival Christopher Wren (vulgo, P.C. Wren, 1885-1941) publicou o seu romance “Beau Geste”, estava então longe de imaginar o sucesso infindável desta sua obra. Traduzida e publicada em diversos países, também tem sido, com frequência, adaptada ao Cinema, à Televisão e à Banda Desenhada.
E é pela 9.ª Arte que nos toca uma certa alegria (e orgulho): com arte de Fernando Bento, “Beau Geste” foi publicado no “Cavaleiro Andante” do #1 ao #52, em 1952; e, em 1982, com capa expressa, foi finalmente editado em álbum, pela Futura.
Esta espantosa criação de Bento foi também editada na Bélgica, em francês e em flamengo, constando que também foi publicada em Espanha...
Segundo a “Lambiek Comiclopedia”, o “Beau Geste” por Fernando Bento, é considerado  como uma das melhores adaptações jamais feitas. No entanto, este álbum está praticamente esgotado e a exigir reedição...
Bibliografia de Fernando Bento, em exemplos soltos da sua obra: “Camões”, “Afonso de Albuquerque”, “As Mil e Uma Noites”, “A Ilha do Tesoiro”, “Revolta na Jamaica”, “O Anel da Rainha de Sabá”, “Serpa Pinto”, “Moby Dick” e “Um Campeão Chamado Joaquim Agostinho”; e, inéditos (ainda?!) em álbum: “Nun’Álvares Pereira”, “As Minas de Salomão”, “O Pagem do Rei”, “Scaramouche”, “A Torre de 7 Luzes”, etc, etc...




Hermann
ABOMINABLE
Pouco conhecido, este álbum extraordinário, é criação do grande desenhista belga, Hermann (1938).
Versando temas de terror e do insólito, foi publicado em 1988, pelas Éditions Glénat.
Feroz e “assustadora”, a obra afasta-se notoriamente dos habituais temas favoritos de Hermann. Não consta que tenha edição em língua portuguesa, o que é pena.
Bibliografia de Hermann, com apenas alguns títulos fundamentais: as séries “Bernard Prince”, “Comanche”, “Les Tours de Bois-Maury”, “Jugurtha” (apenas os dois primeiros tomos), “Jeremiah”, “Nic” e, de entre várias obras na linha “álbum único”: “Caatinga”, “Sarajevo Tango”, “On a Tué Wild Bill”, “Liens de Sang”, “Zhong Guo”, “The Girl From Ipanema”, “Le Diable de Sept Mers”, “Sans Pardon”, etc, etc.




LE CONCILE D’AMOUR
É uma obra de choque, irreverente e impiedosamente sarcástica, tal como foi e é, a original peça teatral homónima, “Das Liebeskonzil” (O Concílio do Amor), do tão controverso alemão Oskar Panizza (1853-1921).
Panizza, que foi psiquiatra, ensaísta, poeta, dramaturgo e romancista, com a sua cruel e frontal mordacidade, coloca aqui o aparecimento da sífilis na Europa, por volta de 1495. A Europa de então anda bem desbragada e o Vaticano, esse então, navega em pleno na devassidão.
Então, Deus-Pai, convoca um concílio para resolver a situação sem recorrer à destruição absoluta da Humanidade... Convocados para tal, o Diabo (dito, Lúcifer) e a Virgem Maria, e, quase como mera presença, o ainda sofredor da cruz, Jesus Cristo. Depois...é um ver se te avias!...
Esta obra em BD, foi belamente (merece atenta apreciação) adaptada à 9.ª Arte por Serge Zubeldia e teve a sua primeira edição em 1987, pelas Éditions Dominique Leroy. E foi um êxito, claro!
E, claro também, os fundamentalistas religiosos (sobretudo os diversos “seguidores” de Cristo), ficaram assanhados e furibundos, tanto com a peça teatral (Panizza chegou a estar preso) como com o álbum-BD.
Infelizmente, até agora, não se conseguiram mais dados biográficos (incluindo foto) sobre o desenhista Serge Zubeldia...
A peça teatral “O Concílio do Amor” teve uma reedição em 1974 pelas edições Estampa.
LB