domingo, 29 de novembro de 2020

BREVES (88)

ANGOULÊME ADAPTA-SE E DIVIDE-SE EM DOIS...
Com um ano inteiro de eventos varridos pela pandemia, agora é a vez de o Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême (França) anunciar que, em 2021, dividir-se-á, ele próprio, em dois eventos, um reduzido a profissionais, outro alargado ao grande público.
Se as condições o permitirem, a primeira edição será realizada nas datas originais de 2021 do festival (28 a 31 de Janeiro), enquanto que a segunda está agendada para a Primavera/Verão (entre 24 e 27 de Junho).
Curiosamente, o póster oficial desta especialíssima edição de 2021, foi criado a dois, pelos ilustradores franceses Chloé Wary e Willy Ohm.
Mais informação pode ser consultada aqui.



Dodo Nitá
DODO NITÁ DIVULGA


Nosso amigo e correspondente do BDBD na Roménia, Dodo Nitá, divulgou na revista cultural "Serisul Românese" (de Craiova) um extenso e tocante artigo onde divulga a vida e obra de mestre José Ruy e, também, a adaptação de "Os Lusíadas" à Banda Desenhada por este nosso grande desenhista. Muito bem!
Rercorde-se que Dodo Nitá já esteve por cinco vezes no nosso País em Salões-BD: Sobreda (duas vezes), Viseu (uma vez) e Beja (duas vezes).
Portugal agradece-te, Dodo Nitá.




MONOGRAFIA DE MARGA STEFÃNESCU

Ainda focando Dodo Nitá, este imparável entusiasta pela Banda Desenhada, numa vertente das suas escritas, constam várias monografias: Livia Ruz, Puiu Manu, Sandu Florea, Nicu Russu, etc.
Desta vez, com todo o merecido carinho, abordou a centenária Marga Stefânescu (1913- 2015), extraordinária e delicada desenhadora, que teve uma sofrida e corajosa passagem pela vida. Sua tão válida carreira foi-lhe cortada, imbecilmente, quando o regime comunista se apossou da Roménia.
Para quem entende o idioma romeno, tão de origem latina como o português, é indicado que se leia esta monografia.


ANIVERSÁRIOS EM DEZEMBRO

Dia 01- Joe Quesada (estado-unidense)
Dia 06 - Rafael Sales
Dia 13 - Leo (brasileiro) e José Carlos Francisco
Dia 15 - Carlos Zíngaro, Zep (suíço) e P. Trust Truscinski (polaco)
Dia 17 - Fabrice Néaud (francês)
Dia 20 - Rúben Pellejero (espanhol)
Dia 24 - Mark Millar (escocês)
Dia 25 - Irene Trigo
Dia 27 - Luís Nunes
CR/LB

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

A INFLUÊNCIA DA CENSURA NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS, EM PORTUGAL (7) - por José Ruy


Lusitanso
Contei-vos nos artigos anteriores como foram nascendo as personagens de uma história impossível de publicar em Portugal, com a censura que existia, e que servira apenas para nos entreter nas horas de almoço, quando trabalhávamos na Bertrand Editora e na Editorial Íbis, como era o caso do Paulo Madeira Rodrigues e o Abreu Teixeira. Eu e o Dinis Machado estávamos na Bertrand. Mas essa utopia era criada pelo Paulo Madeira e por mim.
Lusibanco
Arrumámos o assunto e os anos passaram; nenhum de nós continuava já nessas empresas. O Dinis Machado saíra da revista Tin-Tin, o Abreu Teixeira saíra da editora Íbis e fora paginar o novo jornal diário «A Capital», o Paulo Madeira Rodrigues estava a trabalhar com o irmão numa fábrica de massas alimentícias e eu tinha aceite um convite para as Publicações Europa-América.
Em certa altura, ao arrumar as pastas numa gaveta, vi um papel rabiscado que me chamou a atenção. Era uma sinopse que o Paulo Madeira Rodrigues havia feito para a tal aventura com as personagens que havíamos criado. Li e achei que tinha muita atualidade. Haviam passado 10 anos, estávamos em 1971, e o sistema político e social não se tinha alterado em nada, e as piadas mantinham-se certeiras. 
Lusidia
Falei para o Paulo, que me disse não se lembrar nada disso.
Resolvi ir a casa dele e mostrei-lhe o papel. Reconheceu a letra e ao ler, achou o mesmo que eu. Mostrou à esposa, a Maria João, que era conservadora do Museu de São Roque em Lisboa, e também ela achou muita piada e sobretudo com uma oportunidade impressionante.
Bom, eu apenas queria mostrar como passados tantos anos o que tínhamos feito a brincar se mantinha vivo, mas o Paulo avançou com a ideia de fazermos mesmo a história.
Ri-me, pois só podia ser mais outra piada. 
Lusido
Que não, podíamos até conseguir publica-la. Sim, respondi eu, mas ao sair a primeira página seríamos logo presos.
Mas a utopia começou a criar contornos de realidade. Tínhamos um amigo comum, o Ilídio Matos, agente que representava em Portugal as histórias ilustradas inglesas, e a quem eu comprava o material inglês publicado na 2.ª série de «O Mosquito». Então o Paulo explanou-me o seu plano. Desenhava-se toda a história com 44 páginas, fazíamos fotólitos e era esse material que circularia, à semelhança do método dos franco-belgas.
O Paulo escreveria o texto em inglês, língua que dominava bem, pois estivera alguns anos em Londres, e o Ilídio faria uma importação fictícia como se se tratasse de um original estrangeiro. Usaríamos pseudónimos e assim já poderia ser publicada aqui sem grande perigo para nós, e até talvez fora do país. 
Porca de Murça
Reunimo-nos com o Ilídio que alinhou na ideia e delirou com a história.
Metemos mãos à obra. Reuníamo-nos todas as semanas, uma vez em minha casa e outra na casa dele. O Paulo Madeira Rodrigues gostava de criar oralmente as páginas, e eu ia esboçando no papel, vinheta a vinheta. A seguir ele escrevia as legendas. Durante a semana eu ia desenhando definitivamente as pranchas a nankin, tal como as legendas.
Mandámos fotografar os originais, nessa altura ainda com negativo logo ao tamanho da impressão e daí, por contacto, os fotólitos. Eram estes que enviaríamos ficando os originais na nossa mão.
Entretanto o Madeira Rodrigues continuava a dar-se com o Teixeira Abreu, e quando estávamos quase a acabar a história o Iriarte, que era o chefe da redação, chamou-nos ao jornal pois queria falar connosco.
E aí fez-nos uma proposta que nos deixou sem palavras.
Queria publicar a história. Retorquimos que era muito arriscado, que esperasse então pela «importação» fictícia de Inglaterra, pois assim a censura não deixaria passar e criaríamos problemas graves.
Ele disse que era realmente um risco, mas que podíamos tentar. Todo o material dos jornais era previamente censurado, textos, fotos e desenhos. Por isso, caso cortassem, ficava por aí. Podiam fazer ficha dos autores, mas desconhecendo o desenrolar da narrativa não descobriam o que este continha. Até porque o princípio da história não era agressivo e ele publicaria o material de modo discreto. 
Discreto dizia ele. Uns dias antes da publicação começou a pôr anúncio, com os bonecos das personagens, e fez-nos uma entrevista de meia página com fotografia de nós dois. Lamentavelmente a folha do jornal com a entrevista perdeu-se, o que não é costume pois guardo tudo. Resta a foto que saiu n’«A Capital».

O jornal tinha dois suplementos semanais, um de histórias aos Quadrinhos, que se chamava (se não estou em erro) «Quadradinhos» e saía às quintas feiras, e outro ao sábado, «Cena 7», com um apanhado dos acontecimentos da semana. Foi precisamente nesse suplemento que o Iriarte meteu a história, duas páginas. Pensámos que se fosse misturado nas outras histórias ilustradas passaria mais despercebido. 
Ficámos preocupados, pois ao aparecer naquela rubrica ficava com bastante destaque por ser o único elemento desenhado no conjunto, o que podia despertar a atenção dos censores. Mas perdidos por um, pedidos por mil. Uma vez começado não podíamos voltar atrás. Realmente os primeiros episódios pareciam inócuos e não houve qualquer reação. «Pareciam», mas observando bem, no discurso do Lusibanco havia já alusões ao 28 de maio de 1926, com a «conquista do Sul» e o «forte braço» que mantinha a posição do «escudo». 
O argumento era muito bom e foi para mim um privilégio fazer esta história que foi publicada durante seis meses, sem que a censura ligasse um episódio a outro e apanhasse o fio da meada. Na parte final empalmámos excertos de discursos de Salazar e Caetano na voz do Lusibanco.
Depois da revolução de 25 de abril de 1974, soubemos que presos políticos a quem facultavam a leitura de jornais, ao verem a série n’«A Capital», espantavam-se, pensando que tinha havido uma «abertura» na Censura.
Em 1984 a Editora Futura editou em álbum toda a história a preto e branco, pela mão do saudoso amigo Jorge Magalhães.
E aqui termina esta história de como numa brincadeira de hora de almoço se construiu uma aventura que driblou os censores da altura.

Uma das folhas do roteiro

Eis a primeira página já pronta, preparada para poder ser dividida ao meio e publicada em meias páginas, conforme o espaço disponível no jornal.

domingo, 22 de novembro de 2020

NOVIDADES EDITORIAIS (208)

A ORIGEM DAS ESPÉCIES - Edição Gradiva. Autores: argumento de Christian Clot, traço de Fabio Bono, cores de Dimitri Fogolin e tradução de Maria de Fátima Carmo. É o tomo final do díptico "Darwin", versando a vida e obra do inglês Charles Darwin. 
Sempre ansioso e irrequieto, este cientista quis descobrir "a vida na Terra"... 
Nasceu a 12 de Fevereiro de 1809 e faleceu a 19 de Abril de 1882.
Sem negar Deus (da teoria da Criatividade, segundo as doutrinas apáticas judaico-cristãs e até islâmicas), definiu-se como agnóstico.
Embarcou como investigador no navio "Beagles". Seria por pouco tempo, mas a viagem durou cinco anos, com algumas querelas com o comandante Robert FitzRoy, que era um fundamentalista bíblico.
Com várias obras publicadas, a sua obra-prima é, precisamente, "A Origem das Espécies". Um livro que sacudiu uma infinidade de gente que andou sempre entorpecida com vagas e fantasiosas teorias religiosas.
Criativiade ou Evolucionismo?!... Que diria hoje este cientista se assistisse na TV a certos programas como "Cosmos" ou "A Vida na Terra"? Claro que tudo isto tem muito que se lhe diga... pois os adeptos da Criatividade "divina", esses todos, continuam como fósseis vivos. Que aberração!


MARILYN MONROE - Edição Dupuis. Autores: argumento de Bernard Swysen, traço de Christian Paty, cores de Christian Lerolle e prefácio de Mylène Demongeot. É um tomo da colecção "Les Étoiles de l'Histoire", depois de "Charlie Chaplin" e de "Brigitte Bardot".
No que toca a actrizes símbolos sexuais, a América do Norte, a França e a Itália, foram pródigas. Referente aos Estados Unidos ("Unidos"... onde?!...), há notáveis exemplos (Mae West, Jane Russell, etc.), mas como cereja no topo do bolo está, incontestavelmente, essa maravilha de Hollywood que se chama Marilyn Monroe.
Não foi só a sua beleza e o seu escultural e invejável corpo que a marcaram. Também foi uma firme actriz e para isso é bem conveniente conhecer-se a sua filmografia.
No entanto, Marilyn não teve uma vida feliz, longe disso. Nasceu a 1 de Junho de 1926, em Los Angeles, e foi encontrada morta, também em Los Angeles, a 5 de Agosto de 1962... Como e porquê: suicídio? abuso de barbitúricos? ou assassínio canalha por razões políticas?!... Tantas versões narram a sua prematura e inesperada morte...
Casou três vezes, matrimónios que acabaram em amigáveis divórcios: James Dougherty, Joe DiMaggio e Arthur Miller.
Entretanto, foi usufruindo das suas opções sexuais em "casos" de ocasião e de amizade, como com Frank Sinatra, Yves Montand e, talvez também, com Marlon Brando. Mas os mais "misteriosos" são apontados pelo seu envolvimento apaixonado com os irmãos John F. Kennedy e Robert F. Kennedy. Terá sido este (sem confirmação segura) que, em cumplicidade com o seu cunhado, o actor Peter Lawford (que Marilyn denuncia como um homossexual "raivoso") quem executou ou fez executar o seu provável e infame assassínio. Foi ou não foi?
A filmografia de Marilyn Monroe é grande e deslumbrante. Recorde-se alguns desses clássicos triunfos: "Niagara", "Os Homens Preferem as Loiras", "O Pecado Mora ao Lado", "Paragem de Autocarro", "Vamo-nos Amar", "O Príncipe e a Corista", "Quanto Mais Quente Melhor" e por aí adiante.
A Banda Desenhada jamais a esqueceu e, como tal, fizemos referência a 8 de Janeiro de 2018 na rubrica do BDBD, "De Actores a Heróis de Papel" (Ora toca lá a recordar!...). 
Os talentosos desenhistas italianos Gianni De Lucca e Sergio Toppi ou o polaco Kas, entre mutos outros, bem a registaram na 9.ª Arte. E agora, para entusiasmo dos bedéfilos, temos a versão com a arte e o humor do francês Christian Paty. 
Muito bem!


CHURCHILL / 1 - Editora Gradiva. Autores: texto de Vincent Delmas, guião de Christophe Regnault, traço de Alessio Cammardella, cor de Alessia Nocera e tradução de Maria de Fátima Carmo. E ainda, um post-facium por François Kersandy.
Aqui se narram os primeiros tempos de Wiston Leonard Spencer-Churchill, filho de um nobre inglês e de uma dama da alta roda norte-americana, que nasceu a 30 de Novembro de 1874, falecendo a 24 de Janeiro de 1965. 
Nunca foi, propriamente, muito apegado aos pais, mas admirava-os e estimava-os. Seu familiar mais próximo, quiçá cúmplice, era seu irmão Jack. Ambos amavam quem melhor os educou, a senhora Elizabeth Everest.
Ligado ao Partido Consevador, dado que seu pai era por aí deputado, procurou seguir o seu exemplo e ir mais longe: chegar a primeiro-ministro de Inglaterra. E foi isso por duas vezes, sempre enfrentando uma corajosa "odisseia" em guerras, atrevimentos, intrigas políticas... 
Por uns breves tempos, abandonou o "seu" Partido Conservador e passou-se para o Liberal (da oposição), mas depois regressou ao que já pertencera.
Político, escritor, nulidade em aprender Latim, óptimo em cavalgar e na esgrima, pintor de alta classe, historiador, registou-se para sempre como um dos grandes vultos da História do século XX, sendo no entanto, tão amado como odiado.
E nesta controvérsia de opiniões, há que se lhe "tirar o chapéu". Humanista, não lhe faltaram decisões desagradáveis: não aboliu a pena de morte e permitiu certos actos abomináveis, como a execução de anarquistas letões (encerrados num casebre que foi incendiado) ou as torturas diversas e assassínios aplicados aos independentistas do Quénia... Ninguém é perfeito!
Na África do Sul, esteve prisioneiro dos bóeres, de cuja prisão se conseguiu evadir e refugiar-se em Moçambique (então território português). Esta narrativa foi ignorante, ou terá algo contra o nosso País, pois não regista o território luso que o apoiou e o protegeu!... Menosprezo a Portugal?...


SOBRE AS NOSSAS RUÍNAS - Edição Asa. Autor: Philippe Jarbinet. Este é o oitavo tomo da série "Airbone 44", conclusão do díptico iniciado no volume anterior.
A Segunda Grande Guerra está no seu estertor, com imensas tragédias e provocando infindáveis amarguras (como qualquer guerra).
Os jovens heróis do tomo precedente, salvam-se, menos a brava "Solveig", que é ferida mortalmente....
Os anos passaram e, em 1991, dois deles mais o destemido "Henzel", agora com noventa e nove anos, escavam um certo lugar na Alemanha de Leste...
E é então que um estranho e terno final acontece.
LB

terça-feira, 17 de novembro de 2020

CAPAS (9) - JACQUES MARTIN

Jacques Martin (1921-2010)
Mestre Jacques Martin nasceu em Estrasburgo (Alsácia) a 25 de Setembro de 1921 e faleceu em Orbe (Suíça), durante o sono, a 21 de Janeiro de 2010, estando então quase cego, situação que muito o afligia.
Cidadão francês, é, no entanto, um gigante mundial pela sua poderosa e vasta obra. 
Veio pela primeira vez a Portugal para ser homenageado ao vivo na edição de 1990 do saudoso Salão "Sobreda-BD". Em futura e devida ocasião, aqui o evocaremos condignamente.
Sobretudo apaixonado por temas históricos de diversas épocas que ele atentamente investigava, criou várias séries de alto valor cultural, mas poucas desenhou, embrenhando-se mais nos argumentos e em dar correctas indicações aos seus colaboradores, dos quais alguns eram mesmo seus discípulos.
Com a sua poderosa arte gráfica e divulgações pelos textos, desenhou pelas séries "Alix" (a sua mais empenhada), "Lefranc" e "Orion". À parte estas séries, tem dois álbuns especiais: "Le Hibou Gris" (O Mocho Cinzento), onde assina como Marleb, e "Histoire d'Alsace "(História da Alsácia), com argumento de Georges Bischoff.
As suas mais notáveis séries, "Alix", "Lefranc" e "Jhen", prosseguem com outros mais ou menos hábeis continuadores. A série "Orion", aparentemente, finou-se com o terceiro álbum. Com "Jhen", foi apenas o autor dos enredos.
Tentemos pois, agora, apreciar e/ou conhecer o seu registo gráfico, através de algumas belas capas de que ele foi o autor.
LB

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

NOVIDADES EDITORIAIS (207)

OS ESCORPIÕES DO DESERTO / 2 - Edição Ala dos Livros. Autor: Hugo Pratt. Tradução de Paula Caetano.
De modo algum, toda a gente sabe, que a maravilhosa e vasta obra de Hugo Pratt (1927-1995) não se limita à série icónica das aventuras de "Corto Maltese", longe disso. A série "Os Escorpiões do Deserto", é uma das que cedo se tornou muito cativante. Está agora (e muito bem ) a ser reeditada, a preto-e-branco, em preciosos volumes "integrais", pela Ala dos Livros. A não perder!
Este segundo tomo engloba as narrativas "Um Fortim em Dancália" e "Conversa Mundana em Moulhoule". Uma correcta reedição, onde se inserem também esboços referentes (a cores) e textos muito interessantes de Gregory Alegi e de Gabriele Salvatores.
Mais palavras para quê? Há que ler este volume que é um belo desafio a convidar-nos à sua leitura obrigatória.


GERAÇÃO PERDIDA - Edição Asa. Autor: Philippe Jarbinet.
É uma belíssima e dramaticamente realista série de guerra, a "Airborne 44", editada em dípticos, distribuídos por ciclos. "Geração Perdida", no conjunto, é o 7.º tomo.
Mais do que qualquer outro país envolvido na Segunda Grande Guerra, a Alemanha do paranóico Hitler, foi quem mais sacrificou, ​doentiamente, a sua juventude... Alguém, da "velha guarda", se recorda desse belíssimo filme de Bernhard Wicki, "A Ponte/ Die Brücke", realizado em 1959 e que parece estar "esquecido"?... Em Portugal, este amargo e corajoso filme alemão esteve em vias de ser proibido de exibição...
O talentoso e rigoroso belga Jarbinet, nesta série, se empenha nos dramas humanos que as guerras provocam. Devemos reparar melhor neste talento e nas suas denúncias através da BD.
Falaremos em tempo próximo, da conclusão deste díptico.


SAPHARI - Edição Escorpião Azul. Autor: Miguel Angel Martin.
Este autor-BD espanhol, nascido em 1960, é um dos grandes e controversos criadores desta Arte do país vizinho.
Magnificamente inquietante e provocador, tem uma "linguagem" peculiar na sua obra, tanto nos argumentos como no grafismo.
Ele choca-nos e encanta-nos ao mesmo tempo, mas certamente repugnará algumas mentes... Paciência para estas!
"Saphari" (em bom português, "Safari"), sacode-nos em pleno, sem que possamos admitir a negação da sua personalidade, das suas ideias arrojadas e do seu talento.
Em Roma, em 1991, Miguel Angel Martin, foi um dos autores BD que recebeu o tão cobiçado Prémio "Yellow Kid".


OS CINCO VOLTAM À ILHA - Edição Oficina do Livro (grupo Leya). Autores: Béja e Nataël, segundo a popular obra (e série) "Os Cinco" de Enid Blyton. É o terceiro álbum desta série.
Uma narrativa de suave aventura e alguma ternura. Os jovens Júlio, Zé, David e Ana, fartos da arrogância da "preceptora" Sra. Stick, acompanhados pelo fiel canino Tim, fogem de casa e rumam à ilha Kirrin, onde já haviam sofrido uma aventura.
Mas não estarão sós...
LB

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

BD E HISTÓRIA DE PORTUGAL (19) - ARISTIDES DE SOUSA MENDES

Fosse este post de teor irónico e eu (LB) diria que este notável "rebelde" da História de Portugal, mesmo que involuntariamente, quis ultrapassar o nosso rei D. Sancho I, dito "O Povoador"... O certo é que o famoso cônsul português em Bordéus, foi um verdadeiro "povoador": ele e sua esposa, Maria Angelina, foram progenitores de catorze filhos (dois faleceram muito jovens)! Mesmo assim, este nosso herói também teve uma aventura sentimental extra com a francesa Andrée Cibial-Rey, que muito o amava, donde uma filha... Só algum tempo depois de ter enviuvado, é que casou com Andrée e perfilhou a filha de ambos.
Aristides Sousa Mendes
(1885-1954)

Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches, nasceu em Cabanas de Viriato (Carregal do Sal) a 19 de Julho de 1885 e, doente, amargurado e pobre, faleceu em Lisboa a 3 de Abril de 1954, assim "acabando" na nossa Pátria apodrecida...
Vertical, católico, monárquico, leal ao espírito da Pátria Portuguesa, fez tudo pelo valoroso nome do nosso País. Não actuava para a glória e vaidades pessoais, mas sempre pelo seu (nosso) País e pelo seu Bom Povo Português.
Irmão gémeo do seu sempre apoiante mano César, Aristides também singrou pela carreira diplomática e, por aqui e por ali, funcionou em Zanzibar (que era ilha-sultanato, hoje integrado na Tanzânia), Brasil, Espanha, Estados Unidos, Bélgica, até à França que o heroicizou para sempre.
Serviu, mesmo contrafeito, o regime do ditador António Salazar, até que disse: "BASTA!". E daí, toda a heróica amargura na sua vida e de sua família. Aristides foi corajosamente firme, após breves dias de sofrimento, recolhido em justa meditação, com a ajuda plena de sua esposa e dos filhos. Um exemplo!
A paranóia e total demência assassina de um austríaco (de origem judaica), o tal Adolf Hitler, ia esturrando a irrequieta Europa, sobretudo em relação aos judeus, homossexuais, ciganos, prováveis comunistas, incluindo ainda vários católicos. Que sinistro canalha! Um horror histórico na destruição da espécie humana!
Salazar, sempre teimosamente opaco (mais os seus servis "capangas"), não perdoou ou não quis compreender a muito nobre e humana rebeldia de Aristides. Apenas o "amigo íntimo" do ditador português, o cardeal Manuel Cerejeira, terá criticado com uma certa indignação, as paranóias hitlerianas...
Aristides, em plena e absoluta consciência, com astúcia, inteligência e bem atrevido humanismo, salvou milhares de vidas, "apagadas" por Hitler, por Mussolini, pelo titubeante papa Pio XII, e pelos "ambíguos" ditadores ibéricos, Franco e
Salazar...
Foi duas vezes condecorado pelo rei belga Leopoldo III. Conviveu com várias celebridades, como o escritor Maurice Maerterlick e o cientista Albert Einstein.
Pelo mundo do espectáculo, constam-nos três exemplos dignos: dois filmes, "Désobeir" (2008, França) realizado por Joël Santoni e com o actor Bernard Le Coq, e, em 2011, "O Cônsul de Bordéus", com o actor Vitor Norte e realização de João Corrêa/Francisco Manso. 


Já neste 2020, a Companhia Contracanto Associação Cultural de Nelas (Viseu), levou à cena uma magnífica versão musical, ou seja, a opereta "Aristides, o Musical", com brilhante interpretação de Rúben Madureira e a bela participação da acriz Manuela Maria, espectáculo que a RTP 2 transmitiu. Bravo!

​Finalmente, pela Banda Desenhada e/ou Ilustração, temos:
"Aristides de Sousa Mendes, Herói do Holocausto", sob edição Âncora, com a arte de Mestre José Ruy.  
Esta obra foi, também, traduzida e editada em hebraico e, em 2016, teve novas versões revistas e actualizadas, nas línguas francesa e inglesa...
 
Capa e pranchas de "Aristides de Sousa Mendes - herói do holocausto", por José Ruy (texto e desenhos),
Ed. Âncora Editora (2004)

Por deferência de Mestre José Ruy, apresentamos quatro pranchas (que actualizam o álbum) produzidas recentemente, e que se mantêm inéditas até uma posterior reedição desta obra.

Pranchas inéditas de "Aristides de Sousa Mendes - herói do holocausto", por José Ruy

Num estilo completamente diferente, "Aristides de Sousa Mendes", por Mestre Artur Correia e texto de António Gomes de Almeida, na série "Super-Heróis da História de Portugal" (sob Ed. Bertrand, em 2004/6, reeditada posteriormente pelo Correio da Manhã, em 2016).


"Aristides de Sousa Mendes", in "Super-heróis da História de Portugal 2",
por António Gomes de Almeida (texto) e Artur Correia (desenhos) - Ed. Bertrand (2006)

Pela Didáctica Editora (2011), há uma simpática biografia por Manuel Margarido e ilustrações por Maria João Clemente e pela Pato Lógico/Imprensa Nacional Casa da Moeda (2015) uma outra biografia escrita por José Jorge Letria e ilustrada por Alex Gozblau.
Capas de "Aristides de Sousa Mendes", in Colecção "Chamo-me..." -  Ed. Didáctica Editora (2011) e de "Um homem de coragem", in Colecção "Vidas Portuguesas" - Ed. Pato Lógico/Imprensa Nacional Casa da Moeda (2015)

O Panteão Nacional é o justo lugar onde Aristides de Sousa Mendes deve estar, sempre, a repousar...
LB

Nota: Agradecimentos a José Ruy pela cedência de imagens para este post.