terça-feira, 28 de novembro de 2017

NOVIDADES EDITORIAIS (133)

LES OISEAUX NOIRS / 2 - Edição Dupuis. Esta famosa editora belga, a Dupuis, teve o bom senso de festejar de um modo especial, os 70 anos do herói Buck Danny - no início sob a cumplicidade de Georges Troisfontaines e Jean-Michel Charlier, e a magnífica arte de Victor Hubinon. Vários autores se sucederam com esta tão popular série com aviadores de guerra, onde se destaca o inseparável trio Buck Danny, Jerry Tumbler e o divertido Sonny Tuckson.
Pois agora foi retomada e concluída, uma história que ficara incompleta e se pensava “perdida”... Mas não! Ela aí está em dois tomos: “Les Oiseaux Noirs”. Que obra! A União Soviética e os Estados Unidos da América, cada um por si, procuram dominar o mundo (serão os únicos?...), talvez através de uma bizarra guerra dirigida do nosso espaço próximo e planetário...
E depois? Isso agora, depende da vossa atenta leitura destes dois tomos, onde figuram como equipa construtora: Patrice Buendia, Frédéric Zumbiehl, André Le Bras, Gil Formosa e Frédéric Bergèse.
Ora viva!



 
LE SERMENT DU GLADIATEUR - Edição Casterman. Segundo a série original do saudoso mestre Jacques Martin, “Alix”, este é o 36.º tomo da dita cuja série, que já é de “culto” e era a preferida do mestre.
Este tomo tem argumento de Mathieu Bréda e arte gráfica de Marc Jailloux.
Para os “alixófilos”, este recente tomo é de agradável leitura, mas com melhor força no argumento de Bréda...
Assim: Alix e o seu inseparável Enak, vão até às zonas da actual Nápoles, onde reside Tullia, viúva, amiga e prima por afinidade de Alix. Este, aqui conhece o gladiador Acteus, conhecido como o “Lâmina-Serpente”, tal é a sua imbatível bravura na arena. Por estranhas conjunturas que o perseguem e amarguram, Acteus está sujeito a esta condição.
Alix, cedo se torna seu amigo e empenha-se em ajudá-lo.
No entanto, ambos vão ter de enfrentar as cruéis feitiçarias de Difsas, que desde a adolescência, ama e deseja, fanaticamente, o valoroso gladiador...



 
LA  COLÈRE DE POSÉIDON - Edição Glénat. Da maravilhosa série-colecção “La Sagesse des Mythes”, sob orientação de Luc Ferry, “La Colère de Poséidon”, é o primeiro dos quatro tomos versando “L’Odyssée” (A Odisseia) de Homero. Os responsáveis, são: Clotilde Bruneau e Didier Poli no argumento, Giovanni Lorusso no traço, Scarlett Smulkowski nas cores e Fred Vignaux como autor da capa.
O tema é bem conhecido e já teve várias adaptações, com mais ou menos rigor, ao Cinema e à BD.  Nesta nova versão à 9.ª Arte, já pelo primeiro tomo, logo nos encanta a arte do italiano Govanni Lorusso.
Odisseu, aqui tratado pelo nome latino Ulisses, após o fim da arrastada e terrível Guerra de Tróia, regressa enfim ao seu reino-ilha de Ítaca, mas... é a sua aventura-odisseia, que então começa...
LB

domingo, 26 de novembro de 2017

BREVES (50)

R.I.P. FERNANDO RELVAS
Faleceu, às 21:00 horas do passado dia 20 de Novembro (*), com 63 anos, Fernando Relvas, um dos autores portugueses mais importantes das últimas décadas.
Com obra vasta, merecem referência as histórias publicadas no jornal Se7e ("Niuiork", "Sabina", "Sangue Violeta", "Karlos Starkiller", etc) e nas revistas Tintin ("O Espião Acácio", "Cevadilha Speed", "L 123", entre outras) e Mundo de Aventuras ("O Controlador Louco", "O Povo de Ferro"). 
Publicou vários álbuns ("Çufo", "Em Desgraça", "O Nosso Primo em Bruxelas", "Karlos Starkiller", "Li Moonface", "Black Ship/Nau Negra", etc) e participou em inúmeras exposições.
Casou com a artista plástica Nina Govedarica, com quem foi viver, em 2003, para os arredores de Zagreb (Croácia). Regressou a Portugal em 2010, sendo que, nos últimos anos, problemas de saúde afectaram-no gravemente, culminando, infelizmente, no seu falecimento.
Fernando Relvas partiu demasiado cedo. Deixou-nos, contudo, uma obra vasta e de qualidade que fará com que a sua memória perdure no tempo.
Que descanse em paz!

(*) - dados rectificados à posteriori por José Ruy a quem agradecemos a deferência



REVISTA "CAMARADA" EM EXPOSIÇÃO
Inaugura na próxima terça-feira, dia 28, às 18:30, na Biblioteca Nacional de Lisboa, uma exposição dedicada aos 70 anos da revista "Camarada" (cujo primeiro número foi publicado a 1 de Dezembro de 1947).
A mostra, comissariada por Carlos Gonçalves e João Manuel Mimoso, resulta de uma parceria entre o Clube Português de Banda Desenhada e a Biblioteca Nacional, no seguimento de outras já realizadas.
Na exposição poderemos ver exemplares da revista e originais de ilustrações e pranchas BD de um conjunto representativo dos seus autores. 






SALON SOBD 2017







A sétima edição do salão SOBD 2017, em Halle des Blancs - Manteux, ocorrerá entre os próximos dias 8 e 10 de Dezembro, e terá como convidados de honra Edmond Baudoin e Philippe Sohet.
Com mais de 60 editoras e 150 autores presentes, a edição deste ano dá especial ênfase à banda desenhada suíça.
Mais informações podem ser consultadas aqui. 



TRAÇOS & TONS DE DANIEL MAIA
Uma exposição de ilustração e Banda Desenhada de Daniel Maia, pode ainda ser visitada até ao próximo dia 16 de Dezembro, na Biblioteca Municipal de S. Domingos de Rana / Bedeteca José de Matos-Cruz.
O horário é o habitual: de 2.ª a sábado, das 10:00 às 18:00.
Mais informação pode ser consultada aqui.





ANIVERSÁRIOS EM DEZEMBRO



Dia 01 - Joe Quesada (estado-unidense)
Dia 06 - Rafael Sales
Dia 13 - Leo (brasileiro) e José Carlos Francisco
Dia 15 - P. Trust Truscinski (polaco) e Carlos Zíngaro 
Dia 17 - Fabrice Néaud (francês)
Dia 24 - Mark Millar (escocês)
Dia 25 - Irene Trigo
Dia 27 - Luís Nunes
Dia 28 - Stan Lee (estado-unidense)

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

ENTREVISTAS (26) - RAFAEL COUTINHO (2.ª parte)

Concluímos hoje a publicação da entrevista iniciada no post anterior.


BDBD - Num jeito de paródia, abordaste “Mónica e Cebolinha”... O Maurício de Sousa não ficou chateado?
RC - Não... acho que ele não leu a história. Não tem tempo para isso. Mas o Sidney Gusman, que me convidou na época, é um cara muito bem humorado e inteligente e, de certa forma, todos ali gostam deste tipo de projecto e brincadeira.
Mónica e Cebolinha adultos, por Rafael Coutinho

BDBD - Afirmas-te mais criando em preto-e-branco e não com a cor. Tens alguma lógica pessoal por esta preferência?
RC - Encaro o preto-e-branco na Banda Desenhada como uma instituição cheia de expressões marcantes e históricas. Para a minha educação em artes, conhecer os trabalhos de Muñoz, de Milazzo ou o preto-e-branco de Jaime Hernandez, Katsuhiro Otomo, Tomaz Ott, Marjane Satrapi, Angeli, Crumb, foi como entender o mundo de outra forma toda vez. Há uma tradição aí, e quando passei a fazer quadrinhos de uma forma mais regular, sinto que sempre encarei isso como se tivesse me perguntando como eu entendia pontilhismo, hachura, luz e sombra, tons aguados ou o próprio tratamento digital dentro dessa tradição. Ao combinar essas técnicas, desenho realista, desenho solto, o que ficaria impreciso e o que puxaria para a abstracção, era como se eu estivesse me posicionando nesse meio, pedindo licença, me encontrando como autor... Mas adoro cor, pinto quadros, faço muitas histórias coloridas. É mais uma ferramenta, não sinto que evito essa. Mas o preto-e-branco foi e é um prazer à parte. Gosto muito.
"Mensur", álbum a preto-e-branco... com uma capa bem colorida

BDBD - Nota-se, de certo modo, uma linha dura e angustiante na tua obra. É assim que vês sempre a vida? Sem alegrias e optimismos?
RC - (riso) Puxa, acho que não!... São sistemas mais complexos do que isso, imagino. Tenho uma predilecção estética para o tratamento realista e uma educação artística que me direccionou para isso. Imagino que isso esteja conectado à forma como fui educado, vendo meus pais lerem certos livros, verem a vida de uma certa forma, filmes que vi na infância e adolescência, mas realmente, não teria como resumir isso tudo. No fim de contas, pouco importa, o facto é que sinto uma atracção muito forte por tragédias secas ou dramas onde uma certa “amargura” se impõe. Acho que conversa com um registo muito realista da vida, onde as desigualdades ocultam muita dor e dureza. E todas as histórias que mais me emocionaram e marcaram na vida tinham a ver com isso: roteiristas, directores e escritores com uma sensibilidade aguda para isso, uma coragem para expor aspectos das relações humanas que poucos têm.

BDBD - Em breves palavras, como defines a situação da Banda Desenhada no Brasil?
RC - Creio que esteja bem, passando por um momento de expansão em termos de quantidade de títulos e interesse tanto por editores quanto pelo público. O melhor da sua história, creio. Mas é difícil fazer essa avaliação sem levar em conta o tamanho do país e a proporção de leitores que realmente compram livros de BD no país. É baixo, se a média é de dois mil livros vendidos, para autores que publicam em editoras de pequeno e médio porte, num país com mais de vinte milhões de habitantes, e então ficamos deprimidos. Mas para quem anda acompanhando a produção intimamente nos últimos anos, é perceptível que há novos e ambiciosos livros circulando no país, e muito graças ao movimento independente de autores, que passaram a se auto-publicar e vender seus livros em eventos e feiras, outra frente que ganhou muita força nos últimos anos.

BDBD - A BD Portuguesa, mesmo minimamente, é conhecida no Brasil?
RC - Infelizmente não, e me pergunto porque não... Mas há mais projectos agora com o envolvimento de portugueses do que jamais houve. Paulo Monteiro foi aqui publicado. O roteirista André Morgado também apareceu nas livrarias e, na cena independente, já é possível participar em conversas onde Pedro Moura é citado, tal como Filipe Abranches ou Amanda Baesa. A Internet agrega um elemento meio  confuso aí, né? Todo o mundo conhece tudo e, mesmo que não seja uma entrada formal no mercado, os autores estão agora ali, a distância de um clique.

BDBD - Quando pensas voltar a Portugal... talvez pelo teu próximo álbum (qual é ele?...)?
RC - Ainda não sei dizer. Não tenho previsão. Tirei um ano para não fazer livros, mas este ano já está acabando. Ano que vem, volto com mais energia, provavelmente para fazer mais alguns volumes de “O Beijo do Adolescente”, série que venho fazendo há uns cinco anos. Há outras propostas em curso, mas nada de concreto.
Duas pranchas da série "O Beijo do Adolescente"

Obrigado, Rafael, por nos teres concedido esta entrevista.
Registamos, ainda, o nosso reconhecimento ao editor Rui Brito pelo apoio prestado.
LB

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

ENTREVISTAS (26) - RAFAEL COUTINHO (1.ª parte)

Rafael Coutinho (Foto: www.universohq.com)
É um dos mais marcantes criadores da actual Banda Desenhada brasileira.
Nasceu a 1 de Janeiro de 1980, em São Paulo, onde reside e onde cursou Artes Plásticas na Universidade Estadual.
É filho de outro famoso desenhista brasileiro, Laerte Coutinho, que marcou digna presença no Salão Internacional de BD de Beja, em Maio de 2014.
Por sua vez, Rafael Coutinho, já esteve duas vezes em Portugal: em 2014 (Outubro/Novembro), no Festival da Amadora, onde apresentou o seu álbum “Cachalote”; e em 2017 (Maio), no Festival de Beja, onde apresentou o seu álbum “Mensur”. Ambas as edições são da Polvo, sob coordenação de Rui Brito.
Além de desenhista, Rafael Coutinho é também argumentista, editor, pintor, ilustrador e animador cultural. Muito afável no trato, está sempre atento ao mundo sócio-político que o envolve no dia-a-dia.
Já tem obra notável, da qual salientamos alguns títulos: “O Beijo do Adolescente” (já com três tomos), “Irmãos Grimm em Quadrinhos” (um álbum colectivo, onde participou com a sua versão de “Branca de Neve e os Sete Anões”), “Bang Bang” (álbum colectivo, onde desenhou “Sobre Daisy”), “Cachalote“ (com argumento de Daniel Galera), “Muchacha“ (onde colaborou com seu pai, Laerte Coutinho), “As Surpreendentes Aventuras do Barão de Munchausen” (segundo a obra homónima de Rudolf Erichraspe) e “Mensur”. Acrescente-se ainda que, numa certa linha humorística, parodiou em “Mónica e Cebolinha, Adultos”, personagens célebres de Maurício de Sousa.
Registe-se também que o seu espantoso álbum “Cachalote”, além de editado no Brasil (2010) e em Portugal (2014), também foi editado em França, em 2012.
Daí que, para não “perdermos” mais tempo, urgia esta entrevista que - por ser tão extensa - optámos por publicar em duas partes.

BDBD - Rafael, já vieste por duas vezes a Portugal, aos Festivais da Amadora e de Beja. Em breves palavras, que melhores recordações guardas por estas tuas presenças em terras lusas?
Rafael Coutinho (RC) – Foram duas viagens muito importantes, mas muito diferentes. Fiquei mais tempo na segunda, pude conhecer melhor regiões distintas do país, conheci mais autores, me sentia mais preparado para absorver e aprender sobre o país. A primeira vez, na Amadora, foi muito carregada de emoções relacionadas às nossas origens como colónia portuguesa, coisa que tinha ouvido muito de outros brasileiros.
É emocionante e um tanto paralisante conhecer Portugal pela primeira vez, muita coisa se explica para o brasileiro, e tudo impressiona demais.

BDBD - E da segunda vez?
RC - Já na segunda vez, não só fui muito bem recebido em Beja e pude mergulhar melhor na cultura lusófona, como contei com a ajuda de muitos amigos brasileiros e portugueses, que me acolheram e me orientaram em outras regiões. Pude viajar de combóio do sul ao norte, tive mais tempo mesmo para entender a BD local, entender o contexto, um pouco da história.

BDBD - O teu “Cachalote” também foi editado em França. Isto marca uma boa alegria para a tua carreira?
RC - Marcou na época, mas já faz tempo. Acho importante e emocionante ser publicado fora do país, mas tento focar no que tenho em frente a mim para fazer. Me divido em muitas actividades ao mesmo tempo, coordeno projectos, dou muitas aulas, viajo bastante pelo Brasil. Tirei um ano para não fazer nenhum álbum e poder me reciclar, respirar outros ares e confesso que tem sido bom. Acredito muito nessa frente educativa, somos um país muito grande que se distanciou dos seus leitores. A maior parte da população perdeu o interesse nos quadrinhos, e percebo que há interesse e desejo de se aproximarem mais. Este foi um ano de muita aprendizagem para mim, nessa frente.

BDBD - Sim, mas... e a edição em França?
RC - Esta minha resposta sugere que eu não ligue para o mercado francês, porque foco no território brasileiro, o que não é o caso. Acho que é sonho de grande parte dos autores brasileiros publicar em França, conquistar os corações dos atentos leitores europeus em geral. Há uma idealização muito distante da realidade em relação ao mercado franco-belga no Brasil; os autores ainda acham que o desenhista francês vive tranquilo, sendo bem pago e podendo dedicar-se exclusivamente às suas histórias. Parte disso também se deve a um certo eurocentrismo do meio (o mesmo acontece com o mercado americano), alimentado pela própria postura dos europeus frente ao que é produzido fora dali. Quando o “Cachalote” aí foi publicado, fui a França algumas vezes e pude entender que a realidade é bem diferente, pois ninguém está ficando rico fazendo BD (ou pelo menos, a grande maioria) e que há um inchaço preocupante que se mistura a condições extenuantes de trabalho, coisa que os brasileiros conhecem bem. Ou seja, o livro foi bem, mas a tiragem era baixa, e somos, eu e o Daniel, ainda pouco conhecidos no país. Acabei percebendo o óbvio: o que importa mesmo, são os livros, e tratar de mergulhar fundo nas obras, nos projectos. Mas sim, foi muito bom, tanto para a minha carreira quanto para o meu imaturo ego de artista.


Rafael e Laerte Coutinho, dois dos expoentes
da BD brasileira actual
BDBD - Teu pai, Laerte Coutinho, teve influência para te interessares pelas artes, nomeadamente a Banda Desenhada, ou tal inclinação surgiu por ti próprio?
RC - Ele, claramente, foi uma influência. Ter um pai artista e vê-lo trabalhar diariamente nisso, teve um impacto brutal em mim, assim como a Medicina na vida de minha mãe. Foi muito importante para que eu me preparasse para as dificuldades dessa escolha, e pudesse buscar outras frentes, como animação, pintura, artes visuais, cinema. Mas ele ainda me influencia muito, somos muito amigos e próximos, fazemos projectos juntos, damos aulas. Ele me inspira muito, é uma mulher corajosa, engraçada, muito divertida.

BDBD - E preferes ser um autor total ou trabalhar em parceria com um argumentista como, por exemplo, o Daniel Galera em “Cachalote“?
RC - Ambos os processos me atraem muito. Não saberia separar. Costumo ter muitas coisas ao mesmo tempo, e percebi que buscava intuitivamente por um equilíbrio entre ambas... Projectos colectivos e/ou a solo, um alimentando o outro.
(continua)

terça-feira, 14 de novembro de 2017

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS - ARTE COM MUITA OFICINA (7)

Por: José Ruy

Continuamos com o estudo sobre as pranchas de Harold Foster que eram publicadas em jornais e revistas que não respeitavam o formato original.

Portanto, não sendo as páginas desenhadas por Harold Foster concebidas para sofrerem alteração na disposição das vinhetas, verifiquei um caso, estranho para mim.
Qual teria sido então a razão desta página ser concebida com a segunda vinheta dividida, sendo ela inteira, como se fosse para a encaixar da maneira hipotética (e da minha responsabilidade) que apresento?
Como se vê, não faz sentido essa hipótese, pois se por um acaso a prancha fosse reorganizada ao alto, ficaria no final um espaço em branco com a falha de uma vinheta. Porque foi esta segunda vinheta cortada pelo meio, em vez de ser mantida inteira? Para mim tem sido um mistério.
Mas esta estrutura de página inteira prejudicou gravemente a série quando, fora dos Estados Unidos, muitas revistas publicaram o «Prince Valiant» em outros formatos. Para não reduzirem tanto toda a página, separaram as vinhetas e fizeram uma montagem de corte à tesoura que mostro:
Trata-se de uma publicação da «Editorial Lord Cochrana» do Rio de Janeiro, à volta dos anos 50 do século XX. Como as vinhetas não se prestavam a uma adaptação ao formato, 25,5 cm por 18 cm, ou não a souberam fazer, cometeram um dos maiores atentados que conheço à obra de Foster. Cortaram figuras a meio e, em cenas que o desenhador preparara a composição de modo a chamar a atenção para um determinado pormenor, esse importante detalhe foi simplesmente amputado. Chegaram ao ponto de acrescentar «rabiscos» ao desenho do autor, sem necessidade, como assinalo na reprodução junta.
Um verdadeiro crime que escapou às malhas das leis da «King Features Syndicate», sempre tão atenta e exigente. Incompreensível. Condenável!
(continua)

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

DE ACTORES A HERÓIS DE PAPEL (17) - HAROLD LLOYD

Harold Lloyd (1893-1971)
Divertido e bem popular actor norte-americano, Harold Lloyd (aliás, Harold Clayton Lloyd) nasceu a 20 de Abril de 1893 e faleceu a 8 de Maio de 1971.
Participou em 214 filmes, a maior parte deles nos épicos tempos do cinema mudo.
Durante largo tempo, a par de Buster “Pamplinas” Keaton e de Charles “Charlot” Chaplin, foi considerado como um dos três maiores comediantes da época.
O seu primeiro filme, em 1913, foi a curta-metragem “The Old Monk’s Tale” e o derradeiro, em 1947, foi “Os Piores Anos da sua Vida” (The Sin of Harold Lloyd).
Começou por ser quase uma imitação estilizada de Chaplin e, de certo modo também, de Keaton. Depois, foi criando o seu próprio “boneco”, usando óculos e um chapéu de palha.
Caricaturas de Harold Lloyd, Buster Keaton e Charlie Chaplin, por Chill
É difícil apontar quais os seus melhores filmes (tão pouco vimos todos, o que é lógico), mas salientam-se algumas películas na sua extensa filmografia, como: “Via Láctea” (1936), “Levado da Breca” (1927), “O Homem Mosca” (1923), “Receitas do Dr. Jack” (1922), etc, etc.
Do deslumbrante e hilariante “universo lloydiano”, há porém, dois filmes muito especiais: “Safety Lost” (O Homem Mosca), em 1923, com os celebérrimos e clássicos momentos em que Lloyd está, bem aflito, pendurado aos ponteiros de um grande e bem alto relógio; o outro, é “For Heaven’s Sake” (Milionário Gaiato), de 1926, que é um constante e desassossegado corrupio de situações absolutamente convidativas à gargalhada.
Infelizmente, em Portugal, quase não existem em DVD exemplos da sua bela e histórica cinematografia...
Harold Lloyd na mais famosa cena da sua carreira, em "Safety Lost" (1923)

Claro que a sua celebridade não escapou ao “gancho pescador” da Banda Desenhada. Era só o que faltava, haver esta ingrata falha!...
A ilustrar esta evocação a Harold Lloyd, apresentam-se alguns exemplos deste actor na 9.ª Arte, na sua maioria desenhados por Tom Radford ou George Wakefield. Lamentavelmente, não conseguimos, até ao momento, descobrir o nome ou os nomes de outros devidos desenhistas.
Mas fica o merecido registo!

O britânico Tom Radford desenhou para a revista "Film Fun" aventuras humorísticas de Harold Lloyd (a quem chamavam "Winkle" por essa altura...).
"Winkle gets a punch into things for a start", aventura de Harold Lloyd
desenhada por Tom Radford, in "Film Fun 1/2d" #1 (17.01.1920)
Vinheta desenhada por Tom Radford para uma aventura de "Winkle"
Original de uma vinheta de Tom Radford numa aventura de Harold Lloyd publicada a 29.05.1937

Do trabalho de George Wakefield há, felizmente, muitos exemplos na net. Daí extraímos algumas histórias de Harold Lloyd desenhadas magistralmente por este autor britânico (cujo filho, Terry Wakefield, foi seu assistente e continuou algumas séries após o falecimento do pai, em 1942).
"Put Out!", episódio de Harold Lloyd por George Wakefield, in "Film Fun 2d." #418 (21.01.1928)
"A 'Fair'ly Good Day", episódio de Harold Lloyd desenhado por George Wakefield,
in "Film Fun 2d - Summer Holliday" (04.08.1928)

"A Fair'ly Good Day", episódio de Harold Lloyd desenhado por George Wakefield,
in "Film Fun 2d - Summer Holliday" (04.08.1928)
"Harold Lloyd, the funny man of the films", por George Wakefield,
in "Film Fun" (24.09.1938)



Capa de "Film Fun Annual" (1938), por George Wakefield, onde podemos observar
Harold Lloyd entre outras estrelas do cinema dessa época. 
Prancha de "Harold Lloyd", por George Wakefield, in "Film Fun Annual" (1938)
Em Portugal, foram reproduzidas algumas destas aventuras na revista "O Pirilau".
Para finalizar, duas notas curiosas.
1) A figura de Clark Kent - a identidade secreta do Super-Homem -, foi, segundo os seus criadores Joe Schuster e Jerry Siegel, inspirada no actor Harold Lloyd.
Harold Lloyd e as nítidas semelhanças com o Clark Kent desenhado por Joe Schuster

Capa da revista "Superman" #174 (Janeiro de 1965), onde Harold Lloyd e a celebérrima cena
de "Safety Lost" serviram claramente de inspiração aos ilustradores Curt Swan e George Klein.
2) Harold Lloyd foi também personagem de cinema de animação, aparecendo - com outros actores famosos da sua época - neste filme protagonizado por Mickey Mouse.
"Mickey Mouse: Mickey's Gala Premier", filme dos Estúdios Disney, realizado em 1933

terça-feira, 7 de novembro de 2017

NOVIDADES EDITORIAIS (132)

ASTÉRIX E A TRANSITÁLICA - Edição Asa. Autores: argumento de Jean-Yves Ferri, traço de Didier Conrad e cores de Thierry Mébarki.
E cá temos mais um divertidíssimo álbum da série “Astérix, tomo bem conseguido com impagáveis e hilariantes momentos.
E como costuma acontecer nesta série, mesmo nos tempos de Goscinny e Uderzo, há entidades que aparecem (ainda que fugazmente) e outras que servem de modelo. Por exemplo: Leonardo da Vinci intervém numa vinheta da prancha 22, página 24; na prancha 24, página 26, é a própria Gioconda que figura; Sofia Loren (se não é ela, bem parece) está na prancha 37, na página 39.
Como Burlus Lupus, temos o político italiano Silvio Berlusconi; e ainda, o saudoso tenor Luciano Pavarotti a fazer de um gentil estalajadeiro em Parma.
E, desta vez, não faltam os Lusitanos nesta desenfreada e louca corrida internacional através da Itália, de Modicia (Monza) até Neapolis (Nápoles).
Um fartote de paródias na paródia!...


LA GUERRE DES DIEUX - Edição Glénat. Autores: argumento de Clotilde Bruneau e Didier Poli, traço de Pierre Taranzano, cores de Stambeco, capa de Fred Vigneaux e orientação geral de Luc Ferry.
Na colecção “La Sagesse des Mythes”, versando “A Ilíada” de Homero, “La Guerre des Dieux” é o segundo e penúltimo tomo.
Na arrastada e impiedosa Guerra de Tróia, os deuses olímpicos também andam bem desavindos, pois uns tomam partido pelos Gregos e outros, o dos Troianos. Entretanto, o valoroso Aquiles, rei e comandante dos bravos Mirmidões, zangou-se com Agamémnon e cruzou os braços. Ninguém o demove, salvo o seu mais que estimado companheiro, Pátroclo, que o convence a deixá-lo ir combater, no seu lugar... com as vestes e as armas do próprio Aquiles.
Na refrega, o príncipe troiano Heitor mata Pátroclo. E é então que se dá a lendária grande cólera de Aquiles... enquanto os deuses continuam com as suas maroscas.


LE BANQUET DES DAMNÉS / 2 - Edição Glénat. Autores: segundo o romance original de Didier Convard, este episódio de “Michel Ange”, é o segundo e último de “Le Banquet des Damnés”, com argumento de Éric Adam e arte gráfica de Thibaud De Rochebrune.
Um apelo urgente e misterioso, leva Miguel Ângelo a deixar os seus trabalhos em Roma / Vaticano, para se deslocar de imediato a Milão, onde tenebrosos crimes têm acontecido... Em plena época da Renascença, esta história é um sórdido policial envolto em aspectos esotéricos.
Que tem o genial Miguel Ângelo a ver com todo este sanguinário enredo?
Bem, o álbum explica...
LB

sábado, 4 de novembro de 2017

BREVES (49)

VERVE DIGITAL TEM INSCRIÇÕES ABERTAS
No próximo dia 18 de Novembro, na Biblioteca Municipal de S. Domingos de Rana / Bedeteca José de Matos-Cruz, realiza-se uma "introdução à produção de BD, experienciada através da janela do computador", por Daniel Maia e Susana Resende.
As inscrições encontram-se abertas até um máximo de vinte participantes.
Mais informações podem ser obtidas clicando aqui ou pelo telefone 21 481 54 03/4. 



AMADORA BD 2017



Até 12 de Novembro ainda pode visitar o 28.º Festival Amadora BD, no Fórum Luís de Camões (Brandôa).
De entre as várias exposições, salientamos apenas algumas: "O Espírito de Will Eisner", "Jack Kirby - 100 anos de um visionário", "Tudo isto é Fado" (de Nuno Saraiva), "Revisão - Bandas Desenhadas dos anos 70", "Fernando Relvas - retrospectiva / outra perspectiva", "O Rio Salgado" (de Jan Bauer), para além da exposição central "Contar o Mundo - a reportagem em banda desenhada".
Quanto a presenças em sessões de autógrafos amanhã, dia 5, destaque para Marcello Quintanilha, Henrique Magalhães, Jan Bauer, entre outros. 
Pode conferir tudo sobre o Festival clicando aqui.




RAFAEL SALES


O jovem desenhista de Penalva do Castelo, Rafael Sales, está a terminar o 2.º tomo da série “Detective Raton, o Beirão”, a ser editado muito brevemente pela Escorpião Azul. Por sua vez, o GICAV, prepara uma exposição sobre a sua obra, a ter lugar em Viseu, provavelmente em Janeiro próximo.
Força para todos!



CORTO MALTESE EM EDIÇÃO DE LUXO

Sob o genérico “L’Arte di Hugo Pratt”, e incidindo nos 50 anos de Corto Maltese, em Itália, a Biblioteca di Repubblica / L’Expresso, está a reeditar com um certo luxo, a obra de Pratt, insistindo essencialmente nas aventuras de Maltese.
Daqui, por exemplo, o tomo “Le Celtiche”, cuja capa aqui apresentamos. Neste volume, ainda o dossiê “I Sogni Sono d’Oro, la Realtá è di Piombo” por Luca Rafaelli e outro, no final, “L’Universo Femminile di Hugo Pratt” por Michel Pierre.
Recorda-se que Corto Maltese, é também personagem do filme português “Zéfiro”, realizado em 1993 por José Álvaro Morais e com o actor Paulo Pires na pele do famoso aventureiro. Em DVD, este filme encontra-se integrado como “extra”, com o filme “Peixe Lua” do mesmo realizador.
Por sua vez, há poucos anos,a companhia teatral “Fatias de Cá”,com direcção de Carlos Carvalheiro, levou à cena um belo espectáculo (que de vez em quando é reposto), versando o episódio “Concerto em Ó Menor para Harpa e Nitroglicerina”, que pertence precisamente ao tomo “As Célticas”, onde Paulo Moura vive o personagem de Corto Maltese. Este espectáculo está gravado em DVD, com edição da “Fatias de Cá”.