quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

NOVIDADES EDITORIAIS (49)

O ESSENCIAL DE CALVIN & HOBBES - Edição Gradiva. Autor: o norte-americano Bill Watterson, que recebeu este ano o Grande Prémio de Banda Desenhada no Festival de Angoulême.
Esta sua fenomenal série é também muito popular e aplaudida em Portugal. Atendendo a que os álbuns estavam praticamente esgotados, em boa hora a Gradiva resolveu reeditá-los (e não só). Assim, este "O Essencial de Calvin & Hobbes", engloba os tomos "Calvin & Hobbes" e "Há Monstros Debaixo da Cama?", mais um trabalho inédito de Watterson.
Que os leitores saibam merecer este digna edição/reedição com mais de duzentas páginas. Parabéns, Gradiva!


LE FILS DE LA PERDITION - Edição Soleil. Autores: argumento de Christophe Bec, traço de Andrea Mutti e cores de Paolo Francescutto.
Uma obra maravilhosamente assustadora, profética e apocalíptica! Um tema, quiçá assustador e inquietante, que tem tanto de bíblico como de anti-bíblico.
A denúncia de uma terrível realidade ou apenas o relato das divagações de uma iluminada? Estarão bem à vista os confrontos do "fim dos tempos"? O sofredor personagem central, o maquinista do metropolitano de Paris, Perkis Sambatan, arrasta-se atormentado devido a um acidente de que não teve culpa alguma: atropelou mortalmente uma jovem grávida que se julgava portadora no seu ventre do Anticristo... Será, alguma vez, o suicídio (há vários registados nesta narrativa) a solução para os traumas?
Curioso: cita-se na abertura  deste álbum, uma frase de Denis Diderot, que diz: "Se há mil danados por um salvo, o Diabo tem sempre a vantagem, pois nunca abandonou o seu filho à morte"...


MAUVAIS GENRE - Edição Delcourt. Autora: Chloé Cruchaudet, segundo a obra "La Garçonne et l'Assassin" de Fabrice Virgili e Danièle Voldman. Baseado em factos reais, quase se pode considerar este álbum como uma obra-prima.
Paul e Louise amam-se e casam. Mas a Primeira Grande Guerra estoira e separa-os. Porém, Paul, dê lá para onde der, anseia escapar-se do inferno das trincheiras, deserta e encontra Louise em Paris. Está são e salvo, mas condenado a permanecer escondido num quarto de hotel. Para pôr fim à sua clandestinidade, Paul imagina então (com a cumplicidade de Louise), uma solução: mudar de identidade. Daí em diante, ele será Suzanne, pois o seu travestismo parece resultar.
Entre confusões de géneros e traumatismos da guerra, o casal vai então conhecer um destino para além do normal...


PERICO - Edição Dargaud. Autores: argumento de Régis Hautière, traço de Philippe Berthet e cores de Dominique David.
Tudo começa em Cuba, sob a ditadura imbecil (como imbecis são todas as ditaduras) do então presidente Fulgêncio Batista e, o senhor Fidel Castro programava a sua "salvadora" e "democrática" revolução...
Bem na linha negra, esta obra, que terminará no segundo tomo, narra com realismo e sem qualquer contemplação, a angustiante vivência sócio-politico-económica de um dos mais marcantes países insulares da América Latina, onde vigoravam corrupções, mafiosos, perigosas e sedutoras beldades femininas, traficantes sem qualquer escrúpulo, etc.
É nesta nada recomendável situação, que Joaquin, um jovem e apagado criado de um hotel, e a bela (e venenosa) cantora Elena, se vão cruzar e dar vazão a uma narrativa de peso...


PERDU DANS LE TEMPS - Edição Lombard. Autores: Laurent Queyssi (argumento) e Greg Tocchini (traço e cores). 
"Perdu Dans le Temps" é o primeiro tomo da série "Section Infini". 
Muito mistério bem ficcionado, tema que cai no gosto da maioria dos leitores. Podemos mesmo viajar no Tempo? Mais: ir ao futuro e vice-versa, é mesmo possível? E, se essa hipótese resulta, dará tranquilidade a cada um de nós?
É esta a grande proposta e o grande desafio desta série.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

O MISTÉRIO FERNANDES SILVA

Fernandes Silva
Este é, talvez, um caso inédito (pelo menos, é o primeiro) do BDBD: que é feito de Fernandes Silva?... Quem nos ajuda a saber, o que quer quer seja, deste altíssimo valor da nossa BD? Deixamos aqui o nosso apelo, tão fraterno quão bedéfilo!
Ora agora vamos lá à vida, personalidade e invejável obra de Fernandes Silva.
De seu nome completo António Fernandes da Silva, nasceu em Lisboa a 18 de Agosto de 1931.
Frequentou a famosa escola-forja de desenhistas ilustres, Escola António Arroios.  
Há pouco mais de três anos, data em que terei (eu, LB) tido o último contacto pessoal com este mestre, vivia ele na Brandoa.
Como opção pessoal da sua personalidade, evitou (ou evita) de todo os "altos" convívios. Em encontros pessoais - mais duas ou três pessoas (ainda vá...) - era de uma afabilidade exemplar. Cuidado: digo "foi, era, é..." porque nada sei do mestre!
Eu telefonava-lhe sempre a 18 de Agosto, pelo seu aniversário, mas esse telefone já não existe!... Sabe-se, nos meios da BD, que tem um filho... de quem ninguém tem um qualquer contacto!...
Consegui-lhe duas entrevistas (que redundaram numa mútua amizade de encontros de ocasião), uma para o extinto semanário lisboeta "Branco e Negro" e outra para o "Almada BD Fanzine" n.º 6. 
Foi homenageado pelo conjunto da obra no Salão "SobredaBD/2000". Óbvio, não esteve presente, mas recebeu o respectivo "Troféu Sobredão" em sua casa, via correio postal, que agradeceu.
Até há pouco tempo, era normal encontrarmos Fernandes Silva, aos sábados de manhã, na FNAC (Chiado) ou na feira semanal de livros e postais, na  Rua Anchieta. Depois..."desapareceu". Ninguém sabe dele!... Nem eu, nem o seu amigo A.J.Ferreira, nem o Leonardo De Sá, nem o José Manuel Vilela, nem o Geraldes Lino... Que mistério!
Mestre José Ruy (mais ou menos seu vizinho), a meu pedido, incomodou-se a ir procurá-lo... Foi um incómodo amigo que deu no zero ou, como versejou o grande poeta Reinaldo Ferreira (filho), "um voo cego a nada". E agora?
Fernandes Silva pertence e pertencerá a um lugar de extrema honra de quatro grandes da Banda Desenhada Portuguesa de alto coturno: Eduardo Teixeira Coelho, Fernando Bento e, na linha explicitamente humorística, além dele próprio, também o extraordinário Artur Correia.
Ilustrador e desenhista (BD), Fernandes Silva estreou-se em 1950 no suplemento "República dos Miúdos" (do extinto jornal lisboeta "República"). 
Depois, demarcou-se bem nas publicações "Diabrete", "Cavaleiro Andante", "Flecha", "Pisca-Pisca" e "Camarada" (2.ª fase), sempre agarrando qualquer atento leitor bedéfilo tanto pelo seu traço fino e cativante como pela sua genial loucura do non sense da maioria da sua obra. Formidável!
Um dos seus primeiros heróis foi o traquina garoto "Cuca".
Aventura de "Cuca" publicada no "Cavaleiro Andante" (n.º 283)
Aventura de "Cuca" publicada no "Camarada" (n.º 10)

Mas o herói que o projectou com plena justiça e entusiasmo para a bela fama e popularidade, foi o incrível e avassalador "O Ponto", um detective de cabeça redonda e sem rosto e (lógico) fumador de cachimbo, tão herói como desastrado, que participou em três aventuras: duas no saudoso "Diabrete", que foram "Loja de Bonecos" e "Por Causa de uma Talhada de Melão" (esta, reeditada no n.º 8 dos "Cadernos Sobreda BD") e, na revista "Flecha", a terceira aventura que ficou tristemente incompleta porque a revista em questão se finou subitamente!...
"Loja de Bonecos"  ("Diabrete" n.º 856)

"Por Causa de uma Talhada de Melão" ("Diabrete" n.º 883)

Uma outra loucura da sua arte, é "O Estranho Caso do Dr. Rapioca", publicada no "Diabrete" (do n.º 867 ao 874) e reeditada no "Almada BD Fanzine", n.º 6.
Prancha publicada no "Diabrete" (n.º 867)

Mas, porém, todavia, contudo... para além da irresistível paixão por "O Ponto", a cereja no topo do bolo da obra belíssima de Fernandes Silva, assenta em pleno na sua espantosa adaptação à BD (considerada, invejável e internacionalmente, como uma das mais belas e conseguidas) do clássico literário de Lewis Carroll, "Alice no País das Maravilhas" (história publicada no "Cavaleiro Andante" do n.º 1 ao n.º 26, com as duas últimas pranchas, a quatro cores, no respectivo suplemento, "O Pagem").
Prancha publicada no "Cavaleiro Andante" (n.º 18)

Criminosamente - é o termo - nenhuma obra deste genial autor-BD existe, até hoje, em álbum!... O único, justo e respeitável carinho, aproximativo, foram os exemplares (esgotados) no "Almada BD Fanzine" e "Cadernos Sobreda BD", acima citados.
Capas das publicações da Sobreda BD dedicadas a Fernandes Silva

Muito, muito e muito aqui fica por se dizer sobre a admirável vida e carreira de Fernandes Silva, assuntos que ficarão para uma provável e futura abordagem. Até lá, e uma vez que os contactos com o detective "O Ponto" não estão a funcionar, perguntamos (em re-apelo de ajuda):
- Que é feito desse grande senhor da BD Portuguesa que assinava como Fernandes Silva? 
LB

N.º Especial do "Cavaleiro Andante" (Junho de 1953)


Ilustração para o "Pisca-Pisca" (n.º 1)

Ilustração para o "Pisca-Pisca" (n.º 3)
Ilustração para o "Pisca-Pisca" (n.º 3)

Agradecemos a Carlos Gonçalves a cedência de algumas imagens para este post.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A BD A PRETO E BRANCO (7) - As escolhas de Luiz Beira (7)


JESÚS BLASCO (1919-1995). 
Espanhol, é o mais famoso dos irmãos Blasco, que se dedicavam à Banda Desenhada. Será o mais internacional de todos. Abordou os mais diversos temas, incluindo o "western", e a série do seu pequeno herói "Cuto", é mais do que simplesmente admirada. Numa narrativa curta, "Jack, o Estripador" mostra bem a beleza do seu traço.
Prancha de "Jack, o Estripador"
 Prancha de "Garra de Aço", que Blasco desenhou magistralmente



JIJË (1914-1980). 
Belga, de nome próprio Joseph Gillain, é um dos fabulosos mestres da Banda Desenhada europeia. 
Do humor ao realismo, foi um guia inspirador e influenciador de tantos outros desenhistas. Participou em séries como "Jean Valhardi", "Barbe Rouge", "Tanguy et Laverdure", "Blondin et Cirage" e/ou, em tomos especiais, como "Baden Powell", "Don Bosco", "Charles de Foucauld" e "Christophe Colombo". 
Mas o ponto mais alto e mais aclamado de toda a sua imensa e marcante carreira assenta na série "Jerry Spring".
Prancha de "Jerry Spring"
Prancha de "Jean Vallardi"




JOSÉ LUÍS SALINAS (1908-1985).
Argentino, com um traço fino, elegante e pormenorizado, é bem conhecido pelo "seu" herói "Cisco Kid", série que tão bem desenhou. Mas há que lembrá-lo também por outras correctíssimas obras suas: "Hernán, el Corsario", "As Minas de Salomão", "Dick, o Goleador", "Os Três Mosqueteiros", "Capitan Tormenta"...


"Cisco Kid", o herói por excelência de Salinas
Primeira prancha de Cisco Kid
Nota: A rubrica "A BD a Preto e Branco" é subdividida entre as escolhas pessoais de Luiz Beira (10 posts e 30 autores) e de Carlos Rico (idem), num total de 60 autores! As duas imagens que ilustram a obra de cada autor foram criteriosamente escolhidas por Luiz Beira e Carlos Rico e por esta ordem serão sempre apresentadas.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

LITERATURA E BD (3) - JÚLIO DINIZ NA BANDA DESENHADA

Júlio Diniz (1839-1871)
Há quem escreva agora Diniz com um s final em vez do z!... Será que alguém teve autorização do autor para tal mudança?!... E há ainda quem pronuncie (será uma chiqueza parva?) Denis em vez de Diniz... Presunções!
Júlio Diniz é o pseudónimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho, nascido a 14 de Novembro de 1839 no Porto, onde faleceu a 12 de Setembro der 1871, vítima de tuberculose, doença que já fora fatal a sua mãe e que acabou por levar também os seus oito irmãos.
Terminou o seu curso de Medicina com alta classificação a 27 de Julho de 1861 na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Mas a doença já o minava e ia progredindo implacavelmente, e de nada lhe valeu o ir residir em ambientes mais puros (Grijó e Ovar, por exemplo), donde também a ilha da Madeira, vindo a falecer com quase trinta e dois anos.
Mas é uma glória portuguesa, sobretudo como escritor, ou seja, como Júlio Diniz.
Chegou a assinar alguns ingénuos textos com o pseudónimo de Diana de Aveleda.
Pela sua  bibliografia contam-se sobretudo, poemas ("Poemas", livro editado postumamente em 1873), contos, teatro ("O Casamento da Condessa de Amieira", "Os Anéis ou Os Inconvenientes de se Namorar às Escuras", "As Duas Cartas", "A Educanda de Odivelas", etc.) e, em posição de honra, os quatro romances que escreveu: "As Pupilas do Senhor Reitor" (1867), "Uma Família Inglesa "(1868, por alguns analistas considerado como uma obra-prima), "A Morgadinha dos Canaviais" (1868) e "Os Fidalgos da Casa Mourisca" (publicado postumamente em 1871, ano da sua morte).
Como cita Feliciano Ramos na sua "História da Literatura Portuguesa", "a estilização do artista não destruiu a nota de encantador regionalismo e, já que embuído pelos aspectos nortenhos de Portugal, foi um ponto intermédio, ou seja, um seguidor do idealismo romântico e um precursor do realismo".

Na Arte da Banda Desenhada, Júlio Diniz não está esquecido:
Em oito fascículos, esgotadíssimos e editados pela extinta Agência Portuguesa de Revistas, publicou-se em 1954, "Os Fidalgos da Casa Mourisca" por Carlos Alberto (que não aprecia com bons olhos esta sua criação) com algumas capas por José Manuel Soares.
Capas de José Manuel Soares...

...e pranchas de "Os Fidalgos da Casa Mourisca", por Carlos Alberto (1954)

Por sua vez, Baptista Mendes adaptou à banda desenhada a biografia do grande escritor, em duas pranchas, publicadas no "Jornal do Exército" (em 1976), no jornal "Alentejo Popular" (em 2010) e, mais recentemente, no n.º 65 da revista "Anim'arte". 
"Júlio Diniz", por Baptista Mendes ("Jornal do Exército", 1976)

Baptista Mendes é também o autor de dois excertos de "As Pupilas do Senhor Reitor", publicados no "Jornal do Exército" e depois republicados no "Mundo de Aventuras": "Para Ver o Sol Andar" (MA/341) e "O Médico da Aldeia" (MA/416).
"Para Ver o Sol Andar...", por Baptista Mendes ("Jornal do Exército", 1978)

"O Médico da Aldeia", por Baptista Mendes ("Jornal do Exército", 1978)

E é no sempre atento e fraterno Brasil, que a extinta EBAL editou duas obras de Júlio Diniz: "A Morgadinha dos Canaviais" por Nico Rosso (de origem italiana) em "Edição Maravilhosa" n.º 147 (Maio de 1957)...


Capa e pranchas de "A Morgadinha dos Canaviais", por Nico Rosso
("Edição Maravilhosa", 1957)

...e "As Pupilas do Senhor Reitor" por Marcelo Monteiro e capa de Antônio Euzébio, em "Edição Maravilhosa" n.º 180 (Agosto de 1959).
"As Pupilas do Senhor Reitor", com capa de Antônio Euzébio...


...e pranchas de Marcelo Monteiro ("Edição Maravilhosa", 1959)

Seria fácil ficarmos por aqui, mas avançamos com mais umas achegas, embora noutras Artes, de adaptações da obra de Júlio Diniz, agora ao Cinema e à Televisão...

Terá sido entre 1959 e 1961, que a nossa RTP transmitiu uma adaptação de "Uma Família Inglesa" (ao fim e ao cabo, terá sido a nossa primeira telenovela). Lembro-me (eu, LB) de então ter visto alguns episódios... Contactei a RTP para obter melhores dados. Breve tempo depois, gentilmente, responderam-me que não me podiam valer pois nada lhes constava nos arquivos sobre este assunto!... Que estranho, mas paciência!

Entretanto, aconteceram filmes e seriados:

A MORGADINHA DOS CANAVIAIS, em 1949, com realização de Caetano Bonucci e Amadeu Ferrari; e em 1990, versão da qual não temos mais dados...
"A Morgadinha dos Canaviais" (versão de 1949)

OS FIDALGOS DA CASA MOURISCA, em 1921,com realização de Georges Pallu; em 1938, com realização de Arthur Duarte; em 1964, com realização de Pedro Martins e, no Brasil, em 1972 (desconhecem-se melhores dados).

AS PUPILAS DO SENHOR REITOR, em 1924, com realização de Maurice Mauriad; em 1935, com realização de Leitão de Barros; em 1961, com realização de Perdigão Queiroga, com actores portugueses e brasileiros; em 1970, telenovela brasileira (desconhece-se o realizador); 1995, nova versão em telenovela brasileira (também se desconhece o nome do realizador); 2005, série portuguesa da RTP, com o nome de "João Semana", numa bizarra e trapalhona adaptação, talvez apenas para forçar a interpretação de Nicolau Breyner... (Acontece!).
Abertura da telenovela brasileira "As Pupilas do Senhor Reitor" (versão de 1995) 

E pronto! Se descobrirmos mais dados, eles aqui virão parar. Entretanto, procurem ler Júlio Diniz, que não vos faz mal nenhum.
LB

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

ADEUS DELABY!... ADEUS CAVANNA!...

Ainda o novel ano de 2014 está a gatinhar e, já em Janeiro, partiram para a viagem sem regresso dois grandes valores da Banda Desenhada: o belga Philippe Delaby, a 28, e o francês François Cavanna, a 29...


Philippe Delaby (1961-2014)
PHILIPPE DELABY nasceu em Tournai a 21 de Janeiro de 1961. Tinha oito anos quando seu pai lhe ofereceu o primeiro álbum de Banda Desenhada: "Tintin au Congo". Desde então as histórias aos quadrinhos não o deixaram mais. Aos 14 anos começa a frequentar a Escola de Belas-Artes de Tournai. Fascinado por Ingres e pela pintura flamenga, dedica-se a fazer quadros a óleo. Mas a BD está colada a ele. E, em 1987, estreia-se na revista "Tintin". A carreira prossegue, imparável, tendo recebido vários prémios, empenhando-se sobretudo por temas históricos.
Na sua bem notável bibliografia, contam-se as séries "Complainte des Landes Perdues" (apenas os tomos 5, 6 e 7, pois os quatro primeiros foram desenhados por G. Rosinski)...
Capa e prancha de "Complainte des Landes Perdues"

...e "Murena", espantosa e magnífica narrativa localizada na antiga Roma do imperador Nero, já com nove tomos, todos também publicados em português, sob edição Asa.
Será que, devido ao seu inesperado falecimento, por paragem cardíaca, a série fica por se concluir? Ou o argumentista Jean Dufaux e a editora Dargaud vão apostar na continuação, mesmo que já não seja com o brilhantismo do desenhista original?
Capa e prancha de "Murena"

Na bibliografia de Delaby, contam-se ainda primorosos "álbuns únicos" como "Arthur au Royaume de l'Impossible", "Bran", "Highlanders" e "Richard Coeur de Lion". 
"L'Étoile Polaire" foi uma série abandonada...
Capas de "Bran" e "L'épée et la croix"


François Cavanna (1923-2014)
FRANÇOIS CAVANNA nasceu em Nogent-sur-Marne (França) a 22 de Fevereiro de 1923. 
Vindo de uma família humilde, cedo se interessou pela leitura e pela ilustração. 
Foi jornalista, argumentista, tradutor e desenhista. Com uma delirante filosofia um tanto anarca, era um frontal crítico nos seus sarcasmos e mordacidades. Talentoso e seguro de si, nada temia. 
Estreou-se como jornalista em 1945. Em 1949, torna-se desenhista humorístico. E, em 1960, com alguns companheiros, funda a irreverente revista erótico-satírica "Hara-Kiri" que, em 1970, dá lugar ao famoso "Charlie Hebdo".
Desenhos de Cavanna - Logotipo da revista "Hara-Kiri"
e capa de um número de "Charlie Hebdo"

Cavanna escrevia sempre à mão. Escrevia e, claro, desenhava. Foi resistindo até ao fim, às diabruras amargas da Doença de Parkinson. Mesmo assim, não foi esta que o levou, mas sim, as consequências de uma fractura no fémur e a complicações pulmonares. E brincou até ao fim, pois terá pedido como último desejo, salsichas e uma cerveja...

Descansem em paz, Delaby e Cavanna!