quarta-feira, 29 de setembro de 2021

TINTIN EM LISBOA!

Hergé, junto a uma estátua de Tintin,
no Wolvendael Park (Bruxelas)
Tem início a 1 de Outubro,  pelas 19 horas, na Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), uma grande exposição dedicada a Tintin e à vida e obra do seu criador, Hergé.
Na inauguração, estará presente o ambicioso sr. Nick Rodowell, que casou com Fanny Vlamynck, segunda esposa de Hergé e já viúva deste.
A exposição, com entradas pagas, será de 1 de Outubro-2021 a 10 de Janeiro do próximo ano.
Recorde-se, no entanto, que também com o apoio dos Studio Hergé, uma exposição similar, se bem que relativamente mais curta, esteve patente nos anos 80, primeiro em Viseu e depois na Amadora.
Esta exposição em Lisboa, encerra às terças e, nos outros dias, estará aberta das 10 às 21 horas.                                 
                                                                                  LB

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

BREVES (98)

 OS SELOS E A BANDA DESENHADA

O Clube Português de Banda Desenhada inaugurou no passado dia 11, na sua sede, sita na Avenida do Brasil, n.º 52-A, na Falagueira (Amadora) uma exposição denominada "Os Selos e a Banda Desenhada".
A exposição ficará patente até finais de Outubro e poderá ser visitada aos sábados à tarde.
Recordemos, a propósito, que o Festival Amadora BD decorrerá naquela cidade entre 21 de Outubro e 1 de Novembro próximos.


LAMIRÉS E ZUNZUNS
O clássico "Lendas Japonesas" de JOSÉ RUY, ​vai ser reeditado na íntegra, em álbum. Era bem preciso este gesto editorial. A responsável, ao que consta, será a Polvo, que se felicita desde já.

JORGE MIGUEL, que tem estado a ser editado com êxito em França (e tem alguns álbuns em português) vai ter uma justa exposição focando toda a sua obra no próximo Salão-BD da Amadora. Enfim, faz-se justiça!

O jovem viseense ​DANI ALMEIDA, ​vai finalmente estrear-se na BD, via um álbum colectivo que está a ser programado pela editora Escorpião Azul. Força, pessoal!

Está prevista a presença do grande desenhista galego MIGUELANXO PRADO, ​no próximo Comicon Portugal, em Dezembro próximo. Boa ​sorte, Miguelanxo!


CONTINUAMOS À PROCURA DE FOTOS E VÍDEOS DO MOURA BD...

A todos aqueles que visitaram o salão Moura BD 
continuamos a apelar para que nos enviem fotos ou vídeos de alguma das dezoito edições deste festival, que decorreu entre 1991 e 2013.
Pretendemos ilustrar um conjunto de artigos que estamos a preparar, sobre a história deste salão, a publicar brevemente aqui no blogue.
Até agora, os nossos esforços têm sido infrutíferos mas estamos certos de que, algures, no fundo de uma gaveta ou de um baú de recordações, ou numa qualquer pasta esquecida de um velho CD, haverá uma foto ou um vídeo que poderá fazer toda a diferença quando contarmos a história do Moura BD.
Quem nos ajuda?


"O AMOR INFINITO" TAMBÉM CHEGOU À TURQUIA!
“O Amor Infinito que te tenho”, o belo álbum de estreia de Paulo Monteiro, foi agora editado na Turquia pela Flaneur Books, com o título “Sonsuz Aşk ve diğer hikâyeler”.
“O Amor Infinito que te tenho” foi publicado em Portugal (Polvo), Brasil (Balão Editorial), Espanha (Edicions de Ponent), França (6 Pieds Sous Terre), Polónia (Timof Comics), Roménia (Revers), Sérvia (Komiko) e Turquia (Flaneur). Algumas histórias foram publicadas em alemão, checo, galego, estónio e inglês.
Daqui enviamos um grande abraço de parabéns ao Paulo por este feito!


MORREU OLMO, CRIADOR DE DON CELES
Com 99 anos, faleceu no passado dia 8 de Setembro o cartunista espanhol Luis de Olmo Alonso. Conhecido simplesmente como "Olmo", foi, muito provavelmente, o desenhador que publicou durante mais anos consecutivos uma tira diária de um mesmo personagem.
Em 1945 criou, em La Gaceta del Norte, uma banda desenhada "ao estilo das então publicadas nos Estados Unidos". Surgiu, assim, Don Celes que, desde essa data, foi publicado praticamente de forma ininterrupta, perfazendo uma estimativa de 15.000 tiras(!). A série passou a ser publicada, a partir de 1969, no jornal El Correo Español-El Pueblo Vasco, tendo Olmo trabalhado até ao dia da sua morte...
Em 2010 foi galardoado com o Prémio Notarial de Humor da Universidade de Alicante e em 2012 recebeu o prémio de "Ilustre de Bilbao".
Que descanse em paz!


ANIVERSÁRIOS EM OUTUBRO
Dia 01 - Harold Canizales (colombiano)
Dia 02 - Joe Sacco (maltês)
Dia 10 - José Pires
Dia 12 - Siro (francês)
Dia 15 - Derradé
Dia 16 - José Carlos Fernandes
Dia 17 - Augusto Trigo
Dia 19 - David Rubin (espanhol)
Dia 21 - Rui Pimentel
Dia 22 - Yuri Jigunov (russo)
Dia 24 - Ziraldo (brasileiro)
Dia 26 - Susa Monteiro
Dia 27 - Mauricio de Sousa (brasileiro)
Dia 28 - Denis Béchu (francês)
Dia 31 - Claudio Villa (italiano)
CR/LB

domingo, 19 de setembro de 2021

CAPAS (25) - VICTOR HUBINON

Cidadão belga, Victor Hubinon, nasceu em Angleur a 26 de Abril de 1924 e faleceu a 8 de Janeiro de 1979. Chegou a usar os pseudónimos de Charvick e de Victor Hughes. 
Com uma vasta e bem esmerada obra, regista-se como um dos grandes e admiráveis desenhistas europeus.
Também óptimo pintor e colorista-BD, foi professor na Academia de Belas Artes em Liège. 
Colaborou com vários argumentistas (Jean-Michel Charlier, René Goscinny, etc) e colegas seus mais directos, como Eddy Paape e Albert Wenberg.
Raras vezes abordou o humor, como num álbum da série "Blondin et Cirage", com argumento de Jijé. Mas também executou as biografias de Jean Mermoz e de Stanley. Foi editado em diversos periódicos da 9.ª Arte, inclusivé, em Portugal.
Em 1951, com argumento de Charlier e apoios (na arte) de Paape e de Weinberg, marcou grande entusiasmo o seu álbum "Tarawa, Atoll Sanglante". As séries mais curtas, ambas com três tomos e argumentos de Charlier, "Tiger Joe" e "Surcouf", foram bem aplaudidas.
Mas as séries tipo "cereja no topo do bolo", marcam-se com "Barba Ruiva" e "Buck Danny", que têm prosseguido com alguns continuadores.
Abaixo se reproduzem algumas das suas capas, evocando assim a sua bela arte e o seu elegante e vigoroso estilo.
LB

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

​NOVIDADES EDITORIAIS (224)

CALAMITY JANE - ​Edição Ala dos Livros. Autores: argumento de Thierry Gloris e arte de Jacques Lamontagne. Série: "Wild West".
Calamity Jane (aliás, Martha Jane Canary-Burke), não é uma figura de lenda, muito embora tantas vezes tenha sido "explorada" com alta fantasia pelo Cinema, Banda Desenhada e Teatro. Ela existiu e foi terrivelmente actuante em inúmeras situações de perigo e/ou violência. Era então a tal época do "Far West", em que ela viveu. No seu registo pelo Cinema, salienta-se entre outros filmes, a opereta "Diabruras de Jane" (1953), onde ela foi interpretada por Doris Day. E, na Banda Desenhada, ela é figura-titulo de um álbum do popular "Lucky Luke"... Tudo fantasias convenientes e de ocasião para facilmente embevecerem o público fácil...
Agora, neste belo álbum em português, enfrenta-se e confronta-se com a possibilidade do que foi toda a vida aventurosa e temerária desta admirável mulher, demarcando-se das lendas e sacrifícios num certo e apenas imaginado ambiente do já tão distante Oeste Norte-Americano.
Toca a ler o álbum!...


NAB / 5 - ​Edição Bamboo. Autores: argumentos de Goulesque e Widenlocher, grafismo de Roger Widenlocher e cores de Anne Franjou-Gille.
É o quinto tomo da série "Les Nouvelles Aventures Apeupréhistoriques de Nabchodinosaure". E que tomo!... ​Só a capa, é uma paródia em desafio!
Como é que nenhuma editora-BD portuguesa ainda não agarrou esta tão delirante e impagável série? Será que as nossas editoras e o nosso leitor bedéfilo já não sabem rir?!... Ora essa!
Deixemo-nos de violências e de erotismos, e aprenda-se ou reaprenda-se a rir em pleno, de vez em quando , com os disparates propostos pelo sempre divertido Widenlocher.


SAPIENS IMPERIUM - ​Edição Les Humanoïdes Associés. Autores: argumento de Sam Timei e arte de Jorge Miguel.
Desde há largo tempo que acompanhamos com sincera admiração a arte do nosso compatriota Jorge Miguel... Um dia, ele fartou-se das editoras portuguesas e, embora continue a residir em Setúbal, é pelas francófonas editoras que vai
triunfando. Bravo!
Agora, neste primeiro tomo de "Sapiens Imperium", fica-se estarrecido pela qualidade gráfica e o devido tema. Que surpresa, grata e imensa, caro Jorge Miguel!
Se o argumentista Sam Timei se fez notar, a arte do português Jorge Miguel tudo ultrapassa admiravelmente.
Obrigado, Jorge Miguel, pela tua belíssima arte!
Esta obra é terrível! É imensa, bela e avassaladora !


BLACK PROGRAM / 2 - Edição Gradiva. Autores, com base na série "Bruno Brazil" criada por Greg e W. Vance: argumento de Laurent-Fréderic Bollée, traço de Philippe Aymond e cores de Didier Ray. Tradução de Jorge Lima.
Na casa do "Coronel L", o chefe de Forças Especiais, "Bruno Brazil", "Gaúcho Morales" "Whip Rafale" e "Tony Nomade" escutam, bem estupefactos, as revelações do "General Smith" de alto cargo na NASA: numa operação mais do que ultra secreta, a NASA enviou 
a Marte uma nave tripulada por dois astronautas!
Tudo terá corrido bem menos no regresso à Terra, onde tudo se complica de um modo terrível e de loucura sob a paranóia de um dos astronautas, o "Rutherford"... que esconde uma base perigosa em plena selva amazónica... Exige-se que todo este perigo seja devidamente "limpo"... dê por onde der.
Em paralelo, "Whip Rafale" descobre que o jovem 
"Adam", é filho e consequência de uma fogosa e impensável aventura sexual de "Bruno Brazil" e a sua pressuposta inimiga de sempre, a "Rebelle"...
LB

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

ILUSTRAÇÕES E HISTÓRIAS EM QUADRINHOS por José Ruy (3)

Normalmente Adolfo Simões Müller tinha Fernando Bento como o seu ilustrador de excelência, mas abria exceções e além de mim, também o Vítor Peon ilustrou algumas obras suas.
Entre este livro e o anterior, passaram 9 anos. Estávamos em 1966.
A capa, tal como a do livro sobre «Gutenberg», foi toda desenhada, só as letras no rodapé e as que se lêem de baixo para cima foram aproveitadas da fôrma da coleção.
As capitulares ilustradas eram uma característica desta coleção e embora sendo apenas uma alegoria, davam mais uma ajuda ao ambiente descrito.
Abriam cada capítulo, e vou mostrar apenas algumas.

Estas miniaturas foram desenhadas em formato maior para poder incluir bastantes pormenores. No fundo, eram ilustrações que iam decorando as páginas do livro, tornando-o mais apelativo.
Como no outro livro, as gravuras a partir dos desenhos foram feitas em zinco tipográfico e o livro impresso em tipografia.

Este tema de Marco Polo também me fascinou, pela aventura, como a «Peregrinação de Fernão Mendes Pinto» que publicara em Quadrinhos
n’O Cavaleiro Andante, a partir de 1957.

Também como no livro «Exército Imortal» havia um extratexto a cores. Neste caso não foi em página dupla, mas em duas páginas separadas.

A vida aventurosa desta personagem permitiu mostrar uma diversidade de elementos das regiões por onde os irmãos Polo passaram.
Os desenhos a preto e branco foram executados a tinta da china sobre papel «contínuo» (como expliquei nos artigos anteriores) com aparo de aço e pincel.


Eis a segunda ilustração em quadricromia, também impressa em tipografia.
A técnica usada foi com ligeiro traço a tinta da china e aguarela.


A contracapa também foi aproveitada para mais um desenho, neste caso a cores.

As ilustrações sempre funcionaram como meio aliciante para prender o leitor, não só pela imagem viva dos ambientes como, muitas vezes, para incentivar à leitura do texto despertando a curiosidade em saber mais para além do que era mostrado naquela imagem.





No próximo artigo:
O estratagema que arranjei para ilustrar um livro que não tinha verba para pagar os desenhos, pois as zincogravuras eram dispendiosas.

domingo, 5 de setembro de 2021

NOVIDADES EDITORIAIS (223)

OS MAIAS - Edição Levoir /RTP. Autores: Eça de Queiroz, com adaptação/guião de José de Freitas e Canizales, arte do colombiano Harold Jiménez Canizales. E um precioso dossiê final por José Vieira.
Este álbum tão anunciado e tão adiado, surgiu finalmente no final de Agosto último. Apre, que tardou!
Um senão: a grafia de um nome jamais deve ser alterada. O apelido é Queiroz e não Queirós!... Tino, senhores editores! Não se muda levianamente o modo original como se escreve o nome, sobretudo quando não há o consentimento do visado.
Alguns dos seus contos foram adaptados à Banda Desenhada por Eduardo Teixeira Coelho ("A Aia", "O Defunto", "A Torre de D. Ramires", "O Tesouro" e "Suave Milagre"), por José Morim ("O Defunto") e por José Manuel Saraiva ("Singularidades de uma Rapariga Loira"). Dos seus romances, registavam-se até agora, apenas três, criados além-Atlântico (Brasil e Argentina), a saber: "A Relíquia" por Francisco Marcatti, "A Ilustre Casa de Ramires" por C. Raineri e "O Mandarim" por Enrique Vieyter. Agora temos finalmente "Os Maias", sob o grafismo peculiar de Canizales. Será que o exigente Eça de Queiroz iria gostar desta adaptação?...



INIMIGOS ÍNTIMOS - Edição Ala dos Livros. Autor: Luís Louro.
Aqui temos mais uma espectacular aventura de "O Corvo", por Luís Louro, magnífico como sempre. O sonhador herói, quase épico e um tanto desastrado, é um tão simpático personagem com duas vivências: de dia, ele é o banal "Vicente"; à noite, é o super-herói "O Corvo".
Mais: nunca sabe quem é e o que faz durante o dia!... Adora e devora chamuças, que lhe provocam umas intoleráveis azias.
Quem é o pior inimigo do "Corvo"? Ao que tudo indica, é apenas o seu acidentado passado que não o larga.
Façam o favor de ler este belo álbum e animem-se com a sua sedutora beleza.
Parabéns ao Luís Louro e à editora.


ALEXANDRE DUMAS, O DEMÓNIO NEGRO - ​Edição Serafim & Malaqueco, Inc. Colecção "Fandaventuras" (número especial). 
Autor: José Pires.
Este belo e biográfico álbum foi publicado em França em 2010. Tardava em português!... Nosso estimado amigo José Pires, lá cedeu finalmente a publicá-lo no nosso idioma. Parabéns!
Antes de se ler o álbum, pelo título que apressadamente notamos, logo surge um precipitado engano: idealiza-se ​o Alexandre Dumas, Pai ("Os Três Mosqueteiros", "Vinte Anos Depois", "A Tulipa Negra", "O Conde de Monte Cristo", "O Homem da Máscara de Ferro", etc.) ou o Alexandre Dumas, Filho ("A Dama das Camélias", etc.). Mas não é nenhum destes, antes um antecessor (Alexandre Dumas, "Avô"), que foi um bem notável e destemido militar francês. A BD também nos ensina e esclarece!...
Muito obrigado, José Pires, por esta tua achega à nossa cultura e pela beleza da obra. A tiragem foi muito curta (apenas 40 exemplares!). Os interessados deverão contactar com o autor, para: gussy.pires@sapo.pt


HOMEM-GRILO & SIDERALMAN - Edição: FA. Autores: Cadú Simões e Will. 
Agora o Homem-Grilo e o Sideralman encontram-se no mesmo universo, trazendo um crossover entre os dois super-heróis.
O Homem-Grilo & Sideralman mostra os super-heróis às voltas com vários dos seus inimigos, numa aventura com muita ação, lutas, explosões, pancadaria, humor... ou talvez não!
Além disso, também uma aventura do Cricket Rider, a versão tokusatsu, manga ou mangá (como queiram teimar) do Homem-Grilo.
Disponível em várias lojas e plataformas on-line,
 em formato físico e digital. Pontos de venda em: https://fabd.weon.pt/
LB/CR

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

ENTREVISTAS (34) - JOSÉ PROJECTO (2.ª parte)

Publicamos hoje a segunda parte da entrevista que fizemos recentemente a José Projecto. Pode ler a primeira parte aqui.

BDBD - Como surge a ideia de primeiro fazer e depois publicar o "Giraldo"?
JP - O Giraldo (ou Geraldo), posso dizer que é a BD da minha vida, não pelo tema em si, mas pelo percurso enorme que ainda me acompanha. Fascinado pelo lirismo e romantismo medieval de Évora, decidi um dia dedicar-lhe uma banda desenhada e a lenda do Giraldo pareceu-me um bom ponto de partida. Teve várias versões até chegar à que se publicou, já com uma história melhor construída, baseada na lenda mas também numa eventual realidade histórica. Quando o Jorge Magalhães viu os originais gostou bastante e propôs a história à direcção da Editorial Futura.

BDBD - Conte-nos um pouco acerca do processo de realização deste álbum: quanto tempo demorou com ele, que dificuldades encontrou, que apoios teve, como escreveu o argumento, como se documentou...
JP - Nunca ilustrei ou pintei com rapidez. Gosto de levar o tempo que é necessário, sem stress. Se reparar no ano da minha assinatura nas vinhetas compreende que não criava muitas pranchas por ano. Em paralelo, pintava, estudava, namorava, trabalhava... O Geraldo muitas vezes tinha de esperar. Para me documentar, passei muitas horas na Biblioteca Pública de Évora e falei com alguns historiadores. 
Reuni-me com alguns amigos que me ajudaram a iniciar o argumento. No final do álbum é publicado um apontamento histórico que reflete parte desse auxílio. A história de “Ramiro” por William Vance é talvez a que mais me influenciou na criação do Geraldo. Para além dos amigos que já referi, tive o apoio do Jorge Magalhães que aceitou dar um aspeto final ao meu guião criando o argumento final.

BDBD - Porque é que, após a publicação desse álbum, em 1985 ou 1986, nunca mais ouvimos falar de si (pelo menos no que toca à banda desenhada)? Afastou-se voluntariamente ou foi obrigado a isso?
JP - Com vinte e três anos, muito desmotivado pela Escola Superior de Belas Artes e desejando criar planos para uma vida minimamente estável, receber 25 escudos por exemplar de álbum-BD não era nada promissor. Em paralelo à BD, a ilustração e pintura da vida selvagem começaram a dar fruto. Por sugestão de um amigo filatelista que gosta muito do meu trabalho, e que tinha feito parte da criação do Clube Eborense de Banda Desenhada, procurei a Direcção de Serviços de Filatelia dos CTT. Propuseram-me a primeira emissão filatélica, em 1986, sobre Aves da Madeira. Foi o início da minha carreira como ilustrador filatélico, um percurso mais seguro e independente, que ajudou a organizar a minha vida como ilustrador e pintor de natureza.




BDBD - A ilustração de natureza, com pinturas para livros, selos, quadros... é uma área que lhe dá tanto prazer quanto a BD ou, se pudesse escolher, optaria pela banda desenhada?
JP - A paixão pela BD persiste, mas a motivação pela conservação da natureza foi mais forte. De 1980 a 1990, foi uma década determinante para o meu trabalho como ilustrador de natureza. Em 1986 integrei o Serviço Nacional de Parques e publiquei a minha primeira emissão filatélica. Estes dois acontecimentos proporcionaram-me contactos, viagens, amigos e conhecimentos, que contribuíram muito para aquilo que me tornou conhecido como ilustrador e pintor de natureza. Em Lisboa faltava-me o espaço e a natureza, já não aguentava mais. Conseguir manter o emprego, a atividade como artista plástico e voltar para a província foi muito stressante. Sou uma pessoa muito emocional. Necessito de sossego. Não gosto de solidão, mas gosto de estar e trabalhar sozinho. Em 1990, fiquei doente e solicitei uma licença sem vencimento por tempo indeterminado. Levei muitos anos, com altos e baixos, para me recuperar. Não queria regressar à função pública. Em 1998, por altura de Expo 98, tinha muito trabalho. Mas, nos anos seguintes, a ilustração analógica passou a ter grande concorrência da ilustração digital. Comecei a ter muito pouco trabalho e a dedicar-me mais à pintura e a exposições. A pintura é um processo muito lento, não é rentável, a não ser que os valores se tornem exorbitantes e, mesmo assim, se estiver seis meses a pintar um quadro pelo valor mensal do vencimento mínimo nacional, nem todos os clientes estão dispostos a investir no trabalho, a não ser que compreendam o que está por trás, o que representa e o valor da criatividade. Com muita relutância e para não perder o vínculo, regressei à administração pública, algo que ainda hoje tenho muita dificuldade em aceitar. É um perfil que não me encaixa, sinto-me preso, mas é um mal necessário à minha sobrevivência e da minha condição familiar.


BDBD - E, no entanto, o "bichinho" da banda desenhada nunca saiu de si, curiosamente... Como surge a ideia de reeditar o Giraldo, com mais páginas e argumento revisto e actualizado? Não ficou totalmente satisfeito com a primeira edição ou há dados novos acerca desta personagem?
JP - A forma como vejo agora a história de Geraldo já não tem a mesma fantasia inicial. Hoje, com cinquenta e nove anos, vejo Geraldo como um mercenário ambicioso, implacável, pronto a jogar com as duas faces da moeda pra obter o que desejava. Este tipo de personagem, embora característico e notável na sua época, não tem nada que ver comigo ou com o que desejo para a humanidade ou para o planeta. Infelizmente, ainda temos muitos Geraldos entre nós, que são cópias fiéis da barbárie medieval. Quando decidi retomar, falei com o Jorge Magalhães e o Geraldes Lino. Como era de esperar, ficaram extremamente motivados. Mas os atentados terroristas aumentaram e começaram a distorcer até a história da invasão islâmica e reconquista. Interrompi novamente. Nalguns períodos históricos sobre a invasão islâmica da Península Ibérica também se viveu em paz entre o Islão, Judeus e Cristãos. Devemos bastante a esses períodos que possibilitaram a troca de valores científicos e culturais entre as diferentes religiões e culturas, que são atualmente reconhecidos como património da humanidade. Reeditar o Geraldo para ser objecto de fundamentalismo não está no meu horizonte. Por isso, se avançar, quero ter bastante cuidado com a forma imparcial e factual como vou retomar toda a história, procurando um tratamento especial para as cenas de violência. O que prevejo é continuar a visão do homem, não do herói, mercenário, ambicioso, mas um homem que sobrevive como pode e não tem religião, tanto ostenta a Cruz como o Crescente. Tal facto custar-lhe-á a vida em Marrocos, onde termina a sua jornada.

Pranchas inéditas de "Giraldo, o Sem-Pavor"

BDBD - Sendo um álbum que se centra num personagem histórico, que tanto diz a Évora, nunca houve interesse, por parte da autarquia eborense, por exemplo, de patrocinar uma reedição?
JP - Respondo-lhe com o seguinte ditado: “os santos da casa não fazem milagres”. E também não sou eu que os procuro. A cultura e a arte em Évora sempre foram muito elitistas e eu não gosto de elites. Se algum dia esta história chegar ao fim, tenho tempo de me preocupar com a sua edição. Se for necessário, edito-a em Espanha. Tenho boa relação com Olivença, onde fiz a minha última exposição de pintura. A história do Geraldo, se avançar, vai deixar de se concentrar na conquista de Évora mas sim na vida (com bastante ficção) do personagem.

BDBD - Uma curiosidade que me ocorreu agora: sendo o José Projecto um ilustrador que domina perfeitamente a utilização da cor no seu trabalho, na BD optou sempre pelo preto e branco. Porquê?
JP - Adoro a cor, mas também adoro a ilustração a preto e branco principalmente em BD. Depende do ilustrador, há artistas que desenham para a cor, no preto e branco, sente-se a falta dela e há outros em que a cor adicionada só estraga. Na escola italiana de ilustradores do personagem “Tex Willer”, existem excelentes artistas a preto e branco. A cor não faz lá falta. Fabio Civitelli é um bom exemplo do que estou a afirmar.

BDBD - Estando tão ligado à ilustração de Natureza, nunca aconteceu fazer uma BD focando esta temática?
JP - Sim, tenho duas páginas sobre um lince. Deixo aqui as reproduções.


BDBD - Continua a manter contacto com a "Tribo da BD", de alguma maneira? Qual a sua relação com esta forma de arte nos dias que correm?
JP - É praticamente nula. De vez em quando troco e-mails com a Chaterine Labey, viúva do Jorge Magalhães, e quero enviar um e-mail ao Esteban Maroto para saber se está bem. Trocámos de e-mails uma ou duas vezes e gostei muito.

BDBD - Pretende deixar alguma mensagem especial a alguém?
JP - Na divulgação da primeira parte desta entrevista recebi o apoio de vários amigos, a quem agradeço profundamente, mas houve um em particular que me comoveu e tocou no principal motivo que, 
ao longo de todos estes anos, me moveu como ilustrador. Não foi o dinheiro, carreira, ou ambição. Apenas o amor à ilustração, a vontade de partilhar a fantasia e imaginação, fazer parte desse mundo, dessa variante artística.
José Gaspar foi meu colega na administração pública. Agora aposentado, temos afinidades desde que nos conhecemos, mas muito pouca convivência. Surpreendeu-me com o seu comentário, do qual transcrevo um excerto, que me fez sentir bastante realizado ao optar por esta vida nada fácil que é ser ilustrador em Portugal:
«A minha personalidade e vivência criança/adolescente construiu-se à volta de "figuras" como Kit Carson, David Crockett, Buffalo Bill, Daniel Boone, Tarzan, Major Alvega, grande fã do Fantasma e tantos outros. Também era leitor assíduo do "Mundo de Aventuras".
Alguns destes, como vi agora, tiveram capas desenhadas por ti. Portanto, de alguma forma és responsável pelo mundo maravilhoso e pelo universo de sonhos em que me construí.
Já ganhei o dia!

Forte abraço.»
A todos os que me apoiam e acompanham ao longo da minha carreira como ilustrador, em particular aos que amo e me são mais próximos, o meu muito obrigado.


BDBD - Muito obrigado nós, José Projecto, por esta entrevista.
JP - Obrigado também, pelo interesse no meu trabalho e convite para a entrevista, trazendo boas lembranças de outros tempos. Espero ainda ter oportunidade para nos conhecermos pessoalmente e de retomar este maravilhoso mundo da BD, onde a fantasia se confunde com a realidade.

Nota: as imagens são copyright de José Projecto
CR