sexta-feira, 29 de abril de 2016

TALENTOS DA NOSSA EUROPA (6) - VALENTIN TÁNASE (Roménia)

Valentin Tánase (1954)
O romeno Valentin Tánase nasceu na cidade de Iasi, a 9 de Setembro de 1954. Cursou Artes no Instituto de Artes Plásticas “Nicolae Grigorescu” de Bucareste, entre 1974 e 1978.
Não tardou muito que, a par da sua dedicação à Pintura, também se inclinasse com paixão à Nona Arte.
É com toda a justiça, um dos mais distintos e notáveis desenhistas da Roménia, abraçando vários géneros, indo de majestosas pranchas com narrativas históricas a outras, bem elegantes no traço, versando a ficção-científica e o erotismo, não faltando também a sua abordagem ao western e ao humor, sempre através de admiráveis pranchas que bem gostaríamos de ler em português...
 
Capa e pranchas de "Andro Si Gera"
"Burebista", banda desenhada publicada na revista Cutezatorii (1980),
com texto de Vlad Barna e desenhos de Valentin Tánase

Duas pranchas de "Micul Tipograf"
Valentin Tánase é também um talentoso desenhador no preto-e-branco,
como o demonstram estas quatro pranchas

Valentin Tánase, para além de Salões-BD na sua Roménia, também já foi convidado de honra em festas da 9.ª Arte na Bélgica, Grécia e França.
Tem álbuns publicados na Roménia, na Bélgica e no Canadá.
A sua arte é um belo desafio às nossas editoras, pelo menos, às que estão culturalmente atentas (e capazes) de a editar e revelar, pela sua importante qualidade.
LB
Dois belíssimos exemplos da Arte de Valentin Tánase, enquanto Pintor

terça-feira, 26 de abril de 2016

BREVES (26)

EÇA E HERCULANO NA BD
No próximo sábado, dia 30, pelas 17:00 horas, inauguram, em simultâneo, na sede do Clube Português de Banda Desenhada, na Amadora, duas exposições: "Eça de Queirós na Banda Desenhada" e "Alexandre, o Herculano". 
As exposições, comissariadas por Luiz Beira e com produção da Câmara Municipal de Moura e do Gicav - Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu, incluem todas as adaptações em banda desenhada que se conhecem sobre a obra de Eça e de Herculano, dois dos maiores vultos da Literatura Portuguesa.
As exposições podem ser visitadas, até final de Maio, todos os sábados, entre as 15:00 e as 18:00 horas. 






"TRAÇOS & TONS" DE DANIEL MAIA
Também no próximo sábado, 30 de Abril, e até 20 de Maio, o Ateneu Popular do Montijo, abre portas à exposição "Traços & Tons", de Daniel Maia.
A mostra, comissariada por Marta Ferreira, é composta por uma selecção de trabalhos recentes, figurando personagens de comics como Batman, Tartarugas Ninja e Mulher-Maravilha ou de ficção como O Infante Portugal (por José de Matos-Cruz), e completada por diários gráficos e cadernos de desenho.
A inauguração acontece às 15:30.





34.º SALÓN DEL COMIC DE BARCELONA
Entretanto, Barcelona prepara-se para mais uma edição do seu Salón Internacional del Comic, que acontecerá no Fira Barcelona Montjuic, entre 5 e 8 de Maio.
O certame contará este ano com uma superfície recorde de 45.000 metros quadrados, tendo como temática principal a presença de carros, motos e bicicletas na banda desenhada, como, aliás, deixa antever o excelente cartaz desenhado pelo veterano desenhador espanhol Francisco Ibañez, criador dos famosos personagens Salamão e Mortadelo.
Como sempre, muitos autores marcarão presença sendo que o norte-americano Frank Miller e o italiano Paolo Eleuteri Serpieri estão entre os mais aguardados pelo público.
Informação mais detalhada pode ser consultada aqui.




A 9.ª ARTE POR DIVERSOS PAÍSES (1)
Cremos não estar muito errados, mas aqui vai uma curiosidade que, julgamos sem erros, conseguimos detectar:

PORTUGAL: Histórias aos Quadradinhos, Banda Desenhada
BRASIL: Histórias em Quadrinhos, Gibi
PAÍSES ANGLÓFONOS: Comics
PAÍSES FRANCÓFONOS: Bande Dessinée
AMÉRICA LATINO-HISPÂNICA: Historieta
ESPANHA: Tebeo (*)
ITÁLIA: Fumetto
JAPÃO: Mangá
CHINA: Lianhuanhua
FINLÂNDIA: Sarjakuva
ROMÉNIA: Benzii Desenate
RÚSSIA: Komiksy
ISLÂNDIA: Teiknimyndasögur
GRÉCIA: Énaté Téchné, Komics
TURQUIA: Çizgi Roman
HUNGRIA: Képregény
BULGÁRIA: Komiks
CROÁCIA: Stripovi
Talvez, num destes dias, descubramos mais alguns...

(*) na Galiza e nas Astúrias, também já usam o termo francês, traduzido.




ANIVERSÁRIOS em MAIO

Dia 04 - Tito (espanhol)
Dia 06 - Didier Conrad (francês)
Dia 08 - André-Paul Duchâteau (belga)
Dia 09 - José Ruy e Rui Lacas
Dia 22 - Véronik Frossard (suíça)
Dia 23 - Mike Deodato (brasileiro)
Dia 25 - Inês Freitas
Dia 26 - Luís Diferr
Dia 30 - Pedro Manaças
Dia 31 - Miguel Rebelo

sexta-feira, 22 de abril de 2016

NOVIDADES EDITORIAIS (90)

BOB MORANE, L’INTÉGRALE / 2 - Edição Lombard. Argumentos de Henri Verne e arte de Dino Attanasio e de Gérald Forton. Narrativas precedidas de um dossiê elaborado por Jacques Pessis.
Esta série de integrais das aventuras de Bob Morane é sem dúvida bem preciosa para os coleccionadores bedéfilos. Os dois desenhistas estão muito bem, havendo pequeninos pormenores-falhas nos argumentos de Verne, porém desculpáveis.
Neste tomo, constam duas narrativas desenhadas por Attanasio, “Les Tours de Cristal” e “Le Collier de Çiva”, e a terceira, sob o traço de Forton, “La Piste d’Ivoire”.
A ler e/ou reler e a admirar devidamente.

L’APPEL DE CÉRÈS - Edição Glénat. Argumento de Fabien Rodhain, traço de Luca Malisan, cores de Paolo Francescutto e prefácio de Pierre Rabhi.
“L’Appel de Cérès” (O Apelo de Ceres) é o primeiro tomo da série “Les Seigneurs de la Terre”. Recorde-se que a deusa Ceres (na Mitologia Romana) é a deusa Deméter (na Mitologia Grega), protectora, sobretudo, das sementeiras.
O jovem Florian Brunet é um brilhante advogado, mas sobretudo de causas domésticas, que o não entusiasmam. Depois de uma viagem ao Paraguai, como acompanhante de seu pai, rico e prepotente agricultor francês, volta chocado com a miséria a que assistiu nesse país sul-americano. E toma uma decisão irrevogável: será camponês-agricultor, mas de uma rigorosa maneira ecológica, sem o uso de pesticidas.
Esta sua atitude frontal vem a chocar seu pai e também a sua noiva, que ele vem a surpreender a traí-lo...

LA CITÉ ENSEVELIE - Edição Lombard. Segundo uma ideia original do malogrado Gilles Chaillet, este 26.º tomo da série “Vasco”, tem argumento e traço de Dominique Rousseau e cores de Chantal Defachelle.
O jovem arquitecto Vasco Baglioni, pela região de Nápoles, vai estar envolvido numa aventura um tanto sinistra, cheia de intrigas, crueldades e assassinatos.
E para além das violências humanas, o inesperado mais aterrador surge com uma gigantesca erupção do vulcão Vesúvio, implacável e justiceiro à sua maneira...
LB

terça-feira, 19 de abril de 2016

SÉRIES DE TIRAS BD (5) - BARBA E CABELO

Criação de Luís Afonso, "Barba e Cabelo" é uma série de tiras que ultrapassa já os vinte e cinco anos de publicação ininterrupta, sempre no jornal desportivo A Bola.
A ideia de colocar um barbeiro a falar com o seu cliente sobre desporto/futebol, surgiu a Luís Afonso quando este se lembrou da velha barbearia onde cortava o cabelo, em Aljustrel - terra natal do cartunista.
Ali se passavam (como em todas as barbearias) muitas tardes a falar do Benfica, do Sporting, do Porto... e do Mineiro Aljustrelense, histórico clube alentejano que tem em Luís Afonso um ferrenho adepto.
Hoje em dia, os leitores do jornal A Bola não dispensam a leitura diária de "Barba e Cabelo". Todavia, e apesar do tremendo sucesso alcançado, nunca se publicou qualquer álbum de tiras desta série. Aqui deixamos a sugestão...
CR

sexta-feira, 15 de abril de 2016

OBRAS RARAS (5)

Vítor Péon
A CASA DA AZENHA
Quando, pelo ano de 1949, o híper activo criador de Banda Desenhada (e não só) Vítor Péon (aliás, Vítor Amadeu Batista Péon Mourão, nascido em Luanda a 3 de Abril de 1923 e falecido em Carnaxide a 5 de Novembro de 1991) criou o vigoroso personagem-detective Ted Kirk para a revista “O Mosquito”, foi um choque que sacudiu os bedéfilos de então. Um safanão aliás bem positivo e aplaudido.
Foi com a narrativa “A Casa da Azenha” (iniciada no #1027 e concluída no #1085), então já, uma banda desenhada bem para o leitor adulto.
Houve apenas mais uma segunda aventura de Kirk, "Tormenta" (recuperada no #16 de “Cadernos Sobreda-BD”, em 2001). No entanto, é “A Casa da Azenha” que se demarca como uma das obras mais importantes da nossa Banda Desenhada. Com cores de Catherine Labey, esta narrativa foi finalmente reeditada, agora na versão álbum (esgotado) pelas edições Asa, em 1994.
Na bela e extensa bibliografia de Péon, contam-se títulos como: “Tomahwak Tom” (série), “A Reconquista de Angola”, “João Davus”, “A Palavra de Egas Moniz”, “Gesta Heróica” (dois tomos), “O Buda de Marfim”, “Yataca” (série publicada em França), “A Vingança do Jaguar”, etc.






Carlos Alberto Santos
CAMÕES 
Carlos Alberto (aliás, Carlos Alberto Ferreira dos Santos, nascido em Lisboa a 18 de Julho de 1933), se bem que mais admirado pela magnificência da sua Pintura, tem também uma relevante obra pela Banda Desenhada, embora curta.
É das suas criações pela 9.ª Arte que se destaca, com toda a força, “Camões, Sua Vida Aventurosa”, que, em 1972, a hoje extinta Agência Portuguesa de Revistas editou como um mini-álbum especial do “Mundo de Aventuras”. Raríssimo
de se encontrar!
Com texto de José de Oliveira Cosme, esta narrativa foi reeditada a cores (é álbum também esgotado) em 1990, sob edição Asa. De qualquer modo, é bem preferível a primeira edição, a preto-e-branco... Opiniões!
Da bibliografia de Carlos Alberto destacam-se títulos como: “História Maravilhosa de João dos Mares”, “Ousadia Triunfante”, “Os Fidalgos da Casa Mourisca”, “O Capitão Bravo”, “O Santo Condestável”, “O Combate de Pembe”, “O Infante Santo”, “A Espada Nazarena”, “O Almirante das Naus da Índia”, “Em Busca de Provas” ,etc.




Eugénio Silva
INÊS DE CASTRO 
“Inês de Castro” é um maravilhoso álbum e uma indiscutível glória para o seu autor, Eugénio Silva (aliás, Eugénio Rafael Pepe da Silva, nascido, onde reside, no Barreiro a 25 de Fevereiro de 1937).
Este álbum, correcta e belissimamente elaborado, foi publicado pela Meribérica em 1994. Estranha-se bem que esteja considerado esgotado e que ainda não tenha sido reeditado! Ai, que há para aí editoras-BD que são ceguetas!...
Da bibliografia de Eugénio Silva, já a salientámos quando anteriormente nos referimos a outra obra sua, “Matias Sándor”.
LB

terça-feira, 12 de abril de 2016

BREVES (25)

3.ª MOSTRA DO CLUBE TEX PORTUGAL
A terceira Mostra do Clube Tex Portugal vai ter lugar, uma vez mais, no Museu do Vinho Bairrada, em Anadia, entre 23 e 24 de Abril próximo.
Este ano, como grande novidade, refira-se a presença de dois desenhadores italianos de renome, que pela primeira vez se deslocam a Portugal: Massimo Rotundo e Maurizio Dotti.
Será mais uma oportunidade para os fãs de Tex poderem conhecer de perto, trocarem impressões e pedir autógrafos a alguns dos melhores desenhadores deste mítico personagem da BD italiana. 
Do programa consta, para além das exposições dedicadas a Dotti e Rotundo, workshops, conferências e um jantar/tertúlia.
A organização está a cargo do Clube Tex Portugal e conta com o apoio da Câmara Municipal de Anadia e a colaboração da Sergio Bonelli Editore.
Mais detalhes podem ser consultados no Blogue Português do Tex.





SOBRESSALTOS E SUSTOS ÀS SEXTAS...
No próximo dia 15 de Abril decorrerá a 4.ª sessão do ciclo dedicado ao terror sobrenatural, "Sustos às Sextas".
Em alinhamento com o evento, será inaugurada a exposição de banda desenhada "Sobressaltos", composta por 20 obras inéditas de autores portugueses.
A exposição ficará patente na galeria de arte do Palácio dos Aciprestes, em Linda-a-Velha, entre os dias 15 de Abril e 2 de Maio, podendo ser visitada todos os dias úteis entre as 10:00 e as 13:00 e as 14:00 e as 18:00 horas.
A exposição é comissariada por Geraldes Lino e Bruno Caetano e tem a colaboração e o apoio da Fundação Marquês de Pombal.
A inauguração será a partir das 21:00 horas, e a entrada é livre!




CONTINUANDO NA ONDA DO TERROR...
Decorre na Bedeteca da Amadora, desde o passado dia 31 de Março e até 7 de Maio, a exposição "Figuras Clássicas do Terror".
Criada originalmente para a edição de 2015 do "Sustos às Sextas" e alargada a mais artistas e exposta num segundo formato no "MotelX - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa 2015", é comissariada por Bruno Caetano, sendo constituída por desenhos evocativos de personagens icónicas do cinema clássico de terror.
Em paralelo, decorre às quintas-feiras, a partir das 21:00 horas, no auditório da biblioteca, o Ciclo de Cinema de Terror, com a exibição de alguns filmes deste género cinematográfico.
O público poderá, também, consultar uma mostra de livros dedicados ao tema, maioritariamente de banda desenhada.

Horário da Bedeteca:
De terça-feira a sábado,
Das 10:00 às 18:00 horas.

Contacto: 214 369 054






FALECEU GALLIENO FERRI
Nascido em Génova (Itália) a 21 de Março de 1929, nessa sua cidade natal, faleceu no passado dia 2 de Abril, Gallieno Ferri (aos 87 anos de idade), um dos grandes desenhistas italianos.
Ligado ao grupo editorial Bonelli, esteve sempre imparável a desenhar.
Da sua bibliografia contam-se séries famosas, como Zagor, Yuma, Atémi, Mister No, etc. Muitas das suas criações têm argumentos de Guido Nolita, pseudónimo de Sergio Bonelli.
Infelizmente, o seu valor gráfico ainda não é merecidamente conhecido em Portugal.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

ENTREVISTAS (21) - SPACCA

Spacca (1964)
Honra-nos hoje com uma entrevista o desenhista Spacca, um dos grandes valores brasileiros actuais da Banda Desenhada e da Caricatura.
De seu nome completo João Spacca de Oliveira,  nasceu em S.Paulo a 28 de Junho de 1964, residindo agora em Mogi das Cruzes (a 50 quilómetros da sua cidade natal). Já participou em algumas festas-BD em Portugal.
Pela 9.ª Arte, tem obras como “O Verbo Que Se Vê (Padre António Vieira)”, “O Castigo de Judas, o Beijoqueiro (publicada nas “Selecções BD #8, em 1999), “Jubiabá”, “Santô e os Pais da AviaçãoDebret em Viagem Histórica e Quadrinhesca ao Brasil”, D. João Carioca”, “As Barbas do Imperador”, Mil Léguas Transamazônicas (um álbum onde Spacca é responsável pelo argumento, fazendo parceria com o desenhista Will), etc.
Ganhou duas vezes o Troféu HQMIX.
E vamos à nossa “conversa”.

BDBD - Quando foi que sentiste o apelo para as histórias aos quadrinhos?
Spacca (S) - Desde criança. Assim que percebi que era capaz de desenhar, e antes de saber ler, “lia” os gibis que apareciam em casa, acompanhando as imagens e entendendo o que era possível. Às vezes, pedia para minha mãe escrever alguma frase, para eu copiar nas minhas primeiras tentativas de quadrinhos.
E pedia para que ela escrevesse “na minha letra”, ou seja, em letras maiúsculas, para ficar parecido com as HQ.
Ou seja, a identificação com os quadrinhos - a “minha letra” - sempre foi muito forte.

BDBD - Uma das tuas obras é a adaptação de “Jubiabá” de Jorge Amado. A teu ver, foi uma ousadia tua agarrares um texto de um grande senhor da Literatura?
S - Essa pergunta levanta vários aspectos.
Por um lado, sim, Jorge Amado é um criador importante, e sua obra deu origem a inúmeras adaptações para cinema e TV, algumas excelentes.
Por outro, Jorge é depreciado por certa ala da crítica, justamente por ser um escritor “fácil” e pouco experimental.
Por outro, ainda, foi um escritor beneficiado por ter sido do Partido Comunista e ter contado com sua estrutura para uma divulgação monumental pelo mundo; o que não nos impede de constatar seu valor próprio, de um talentoso contador de histórias e um dos criadores da “mitologia baiana”.
Considerando tudo isso, tentei agarrar a essência dessa obra, despretensiosa na narrativa que se permite ser fácil e saborosa, picaresca até, às vezes apelativa, mas também grandiosa no seu imenso painel de tipos humanos que parecem tirados da vida real.
Acho que é uma grande obra de caricatura, tomada no seu melhor sentido, e isso é o que permitiu que um caricaturista como eu a compreendesse e tentasse transpor para a HQ.

BDBD - E Jorge Amado chegou a conhecer esta tua versão?
S - Infelizmente, não, e nem Zélia, sua esposa. Os familiares, sim, tive alguma notícia de que uma neta gostou muito.
A resposta dos baianos tive face a face, quando fiz um lançamento em Salvador e fui sabatinado numa entrevista prazeirosamente severa, promovida pela Academia de Letras Baiana. No final, uma professora foi me cumprimentar por eu ter sido “macho” por ter aceitado o desafio, e acho que me saí bem.

BDBD - De um modo geral, na tua já admirável obra, focas temas sérios, mas com um certo toque humorístico, quase caricatural no traço. É uma ideia intencional?
S - Mais que ideia, é uma inclinação natural. A caricatura, além de brincar, é um modo de conhecer uma pessoa ou coisa mais profundamente, e expressar salientando seus traços essenciais. Gosto mais de expressar a graça natural que encontro, do que impor ao meu objecto uma graça postiça.
Acho o humor absolutamente compatível com a seriedade.
Só refreio, às vezes, por pudor, levar a brincadeira muito adiante.
Acredito que é preciso dosar o humor com compaixão e refrear o impulso sádico diante de certas fragilidades.
É por isso que, apesar de obviamente ter ficado chocado com aquele atentado aos cartunistas, “je ne suis pas Charlie”.


BDBD - No Brasil, é difícil a carreira para um desenhista?
S - Sim, e tem ficado mais difícil. À medida em que aumentaram as facilidades para estudar e desenhar, graças aos fantásticos meios da informática, consequentemente os espaços para absorver ilustradores diminuíram.
Não só isso: o modelo comercial que unia revistas e anunciantes foi quebrado com a democratização da informação.
Como consumidor de conhecimento não posso reclamar, mas como fornecedor de desenhos a vida ficou mais difícil.

BDBD - Já vieste a Portugal a três festivais de BD: Portocartoon em 2010, Amadora em 2011 e Beja em 2015. Como analisas estas tuas três presenças?
S - Há tantos aspectos...
Primeiro, por ter feito o “D.João Carioca”, queria muito que os portugueses conhecessem meu trabalho. Infelizmente, as negociações dos editores daí com minha editora não seguiram adiante.
Depois, tem o interesse pela cultura portuguesa, que todo brasileiro faz alguma idéia do que seja, e está afundada num oceano de estereótipos que escondem o quanto somos semelhantes.
Mais ainda: a elite cultural brasileira obedeceu aos modernistas paulistas, e cortou mesmo relações com a herança portuguesa – ou seja, com a nossa própria História.
Vivemos hoje numa miséria intelectual e cultural tão grande, que nem música brasileira temos mais – os mesmos hits são regravados em roupagens cada vez mais pobres, e o “funk pancadão” é a última versão da barbárie musical.
E ainda mais: demagogos da língua ficam ensinando que o português correto é a “norma culta” falada pelas elites (falsíssimo, nossas elites sempre foram burras e quem cultivou a língua foram pobretões e descendentes de escravos), estimulando o povo da periferia a permanecer no idioma do seu bairro. Isto é mais perverso que o aparheid, é mais um isolamento que impede o brasileiro de conhecer sua língua e sua história.
Em cima: João Amaral, Luís Louro, Carlos Rico e Luiz Beira.
Em baixo: Jorge Machado Dias e Spacca, no FIBD de Beja, em 2015.
De modo que é preciso, é vital, redescobrirmos a cultura luso-brasileira, nosso tronco. Sem isso, o Brasil vai morrer.
Terceiro aspecto: conhecer alguns bambas da Nona Arte e trocar figurinhas com amantes da HQ. Isso é outra coisa muito preciosa. Uma das minhas referências mais importantes é a BD europeia, e certamente minhas idas aí acentuaram essa predilecção.

BDBD - Qual é a tua próxima (e quando) obra a ser editada?
S - É a biografia em HQ do padre Pio de Pietrelcina, um santo italiano, feita para uma fundação do mesmo nome, que mantém um site na internet (padrepauloricardo.org). Termino de fazer este semestre, não sei quando conseguem editar.

BDBD - Quando pensas voltar a Portugal?
S - Ah, não sei. Na última vez percorremos o sul até o meio, falta conhecer o norte e o interior... Quando as finanças permitirem..


Muito obrigado, Spacca, pela tua gentileza de nos teres concedido esta entrevista e... até breve.
LB