domingo, 30 de abril de 2017

TALENTOS DA NOSSA EUROPA (20) - VICENTE SEGRELLES (Espanha)

Vicente Segrelles
Da região da Catalúnia, Vicente Segrelles Sacristán, nasceu em Barcelona a 9 de Setembro de 1940.
Aos catorze anos começou a trabalhar numa fábrica de camiões na sua cidade natal, com desenhos técnicos e publicitários. Em 1960, para as Ed. AFHA, fez ilustrações para as edições dos clássicos “A Odisseia” e “A Ilíada”.
Claro que não se ficou por estes trabalhos... Para além de ilustrações soltas, muitas vezes encomendadas, também se ia aperfeiçoando, com deslumbrante perícia, na pintura a óleo. Começou mesmo a especializar-se na figura humana a cores. E o seu talento incansável ia produzindo, em alternância, grafismos publicitários com outras variantes, como a elaboração de capas espectaculares que cedo entusiasmaram a América do Norte.
Atreveu-se mesmo, para a revista “Interviu”, a fazer belas ilustrações a preto-e-branco.
Depois, fartou-se do grafismo publicitário e dedicou-se às artes afins que melhor sentia... Até que, em 1980, se “atirou” finalmente à Banda Desenhada, criando a sua obra de honra, “O” Mercenário”, para a revista “Cimoc”.
Ao que consta, foram publicados 13 álbuns, que estão traduzidos e editados em 14 países, incluindo Portugal.
Capa e prancha de "Le Mercenaire", Ed. Glénat (1982)
Capa e prancha de "Les Ancêtres Disparus", Ed. Glénat (1997)
Capa e prancha de "Géants", Ed. Glénat (1999)
Capa e prancha de "La Déliverance", Ed. Glénat (2004)

No entanto, o espectacular Vicente Segrelles, também passou por ilustrações eróticas e abordou igualmente a linha humorística com a série “El Sheriff Pat”, nos inícios dos anos 90. Quem diria?!...
"El Sheriff Pat", personagem humorístico de Segrelles
Ora aqui está um talento a descobrir ou a redescobrir, tanto mais que os poucos álbuns da série “O Mercenário” (ed. Meribérica-Líber, em Portugal) se não estão esgotados, estão perto disso.

LB

quarta-feira, 26 de abril de 2017

DE ACTORES A HERÓIS DE PAPEL (15) - BUSTER KEATON

Buster "Pamplinas" Keaton (1885-1966)
É como “Pamplinas”  que ele ficou famoso e popular em Portugal. Isto, no século passado, pois hoje em dia, ingratamente, quase ninguém se lembra dele!
Conhecido como actor que bem fazia rir, mas que nunca se ria, era a sua impagável “máscara” de seriedade que nos obrigava a gargalhar e a rir, com a nossa mais terna admiração.
Pois “Pamplinas”, ou seja, o actor norte-americano Joseph Frank Keaton, vulgarmente conhecido como Buster Keaton, nasceu em Piqua (Estado do Kansas) a 4 de Outubro de 1885 e faleceu em Los Angeles (Califórnia) a 1 de Fevereiro de 1966.
A sua carreira artística, pelo menos pelo Cinema, começou ainda no tempo dos filmes mudos, em 1917, com “The Butcher Boy”. Depois, foi uma longa e admirável carreira até quase ao fim da sua vida, cujo último filme foi a delirante comédia musical “Uma Coisa Muito Engraçada Aconteceu a Caminho do Fórum” (A Funny Thing Happened on the Way to the Forum” - 1966), tendo também participado, se bem que fugazmente, em “O Mundo Maluco” (“A Mad, Mad, Mad World” - 1963) e em “A Volta ao Mundo em 80 Dias” (1956).
Keaton no último filme em que participou,
"Uma Coisa Muito Engraçada Aconteceu a Caminho do Fórum" (1966)

Mas há outras majestosas interpretações suas na tela.
Há quem o considere superior a Charlot... Será?
Pois, precisamente, num dramático filme de Charles Charlot Chaplin, trabalharam admiravelmente juntos: Luzes da Ribalta (Limelight - 1952). Espantosa e emocionante película com dois talentos, Chaplin e Keaton, a esmagarem-nos com os respectivos desempenhos!...
Nos muitos filmes a solo, Keaton “Pamplinas” deslumbrou-nos em fitas como “Pamplinas Maquinista (“The General - 1926), “O Marinheiro de Água Doce “ (“Steamboat Bill Jr.” - 1928) ou “Em Frente, Marche! (Doughboys - 1930)Um saudoso fenómeno da Cena!
Cenas hilariantes da obra-prima de Keaton, "The General" (1926)

Pois, com justiça, a Banda Desenhada não o esqueceu. Existe em força - mesmo a sua biografia - em registos da 9.ª Arte. Mas a ausência da assinatura dos desenhistas, é tristemente notória! É o caso do exemplo seguinte do qual não temos informação do, ou dos, autores.
"Buster Keaton Forever", cujo(s) autor(es) não conseguimos descortinar.

Deste "Hard Luck", assinado por "BaloonMan", também não temos qualquer outra informação.
"Hard Luck" por BalloonMan
Ainda assim, conseguimos apurar que o grande desenhador inglês  George Wakefield produziu histórias humorísticas de Buster Keaton, na famosa revista "Film Fun".
"Got his Tobacco Back-o!", episódio de Buster Keaton, por George Wakefield,
in "Film Fun 2d" #424 (03.03.1928)
"Put him in his Place!", episódio de Buster Keaton por George Wakefield,
in "Film Fun 2d" #425 (10.03.1928)

Mais recentemente, Ian Miller desenvolveu, em dezasseis pranchas a preto e branco, uma biografia deste actor intitulada... "Keaton".


"Keaton", por Ian Miller 

... e "Drawlequin" (pseudónimo de um autor cujo verdadeiro nome desconhecemos) desenhou, para o seu projecto de tese da Hartford Art School este "Harry Houdini e Buster Keaton", em 2013.
"Harry Houdini e Buster Keaton", por "Drawlequin" (2013)

Muito antes, lá pelos anos 40 do século passado, aqui ao lado, em Espanha, a Editorial Bruguera editou a "Coleccion Cine Comico", II série, com dois números dedicados a Pamplinas.
"Coleccion Cine Comico", II série, #3 e #5, por Sabatés (texto e desenhos),
"Editorial Bruguera" - Espanha, (1943?)

Caro Pamplinas, cá por nós, os sinceros bedéfilos e cinéfilos, continuaremos sempre a prestar a justa vassalagem ao teu inigualável talento.
LB


Buster Keaton e Charlie Chaplin, numa cena de "Luzes da Ribalta"
"The Art of the Gag", episódio da série documental
"Cada Quadro É Uma Pintura", dedicado a Buster Keaton 

sexta-feira, 21 de abril de 2017

BREVES (42)

CPBD PROMOVE PALESTRA SOBRE "A LEI DA SELVA"
O Clube Português de Banda Desenhada promove uma palestra (dividida em duas partes), com apresentação de José Ruy, sobre "A Lei da Selva", uma das obras mais carismáticas da BD portuguesa.
A primeira parte da palestra (a partir de um artigo de Domingos Isabelinho, publicado na recente edição em álbum de Manuel Caldas) terá lugar amanhã, sábado, 22 de Abril, pelas 17:00 horas, na sede do CPBD, na Amadora, tendo por título: "A Lei da Selva de Raúl Correia ou O Elogio da Lentidão".
Uma semana depois, a 29 de Abril, no mesmo local e à mesma hora, estava prevista a segunda parte, sob o título "A Lei da Selva de Eduardo Teixeira Coelho ou O Elogio ao Dinamismo". Contudo, por acordo entre os participantes, a segunda sessão foi adiada para o sábado seguinte, dia 6 de Maio (*).
Bons motivos para uma deslocação à sede do CPBD, sem dúvida.
(*) Informação acrescentada posteriormente.


JUVE BD COMEMORA 20 ANOS COM EXPOSIÇÃO DE DESENHOS
"Juve BêDê: 20 Anos em Imagens" é o título da exposição que a Associação Juvemedia e o Juvebedê vão inaugurar, no próximo dia 25 de Abril, às 18:00 horas, na "Livraria Ler Devagar" no Lx Factory, em Lisboa.
Trata-se de uma exposição de autógrafos desenhados que, ao longo das últimas duas décadas, foram realizados para um dos fanzines mais regulares do nosso burgo (o "Juve Bêdê"), por alguns dos grandes autores da BD nacional e internacional.
Nomes como Achdé, André Juillard, Art Spiegelman, Cosey, Jacques Martin, Jo-El Azara, Maurício de Sousa, Ted Benoit, Tibet, William Vance (isto só para citar alguns estrangeiros), entre muitos outros, fazem parte desta exposição que merece, também ela, uma visita atenta e demorada. 
A exposição ficará patente até ao próximo dia 6 de Maio.
Parabéns, Juve BêDê!


CLUBE TEX PORTUGAL CONTINUA A MOSTRA(R-SE) IMPARÁVEL

Entretanto, a 29 e 30 de Abril, no Museu do Vinho Bairrada, em Anadia, terá lugar mais uma Mostra do Clube Tex Portugal. Trata-se da quarta edição desta iniciativa, que contará com a presença dos consagrados desenhadores italianos Andrea Venturi e Leomacs, que também terão exposições alusivas ao seu trabalho.
O Clube Tex Portugal, único clube português dedicado a um só personagem BD e o primeiro clube oficial de Tex no mundo, promove, também, um jantar-tertúlia entre os participantes da Mostra, momento indispensável para prolongar a camaradagem e o convívio entre os dois autores convidados e os fiéis leitores e coleccionadores da série.
As inscrições para o jantar-tertúlia ainda estão abertas, até dia 25, e podem ser feitas, sob a forma de comentário no blogue português do Tex onde também está disponível toda a informação necessária sobre esta Mostra.
A toda a equipa do Clube Tex Portugal, em especial ao nosso amigo José Carlos Francisco, enviamos um abraço de felicitações pelo excelente trabalho desenvolvido desde que este clube foi fundado.


BEJA BD JÁ MEXE...







Algumas presenças já confirmadas para o Festival Internacional de Beja 2017: o argentino Juan Gimenez, os romenos Dodo Nitá e Valentin Tánase, os portugueses Rafael Sales, Jorge Deodato, José Ruy, Baptista Mendes...
A estes, mais alguns nomes se juntarão, com toda a certeza...
Aos poucos, o FIBDB vai ganhando forma. Aqui iremos dando notícias.







ANIVERSÁRIOS EM MAIO


Dia 04 - Tito (espanhol)
Dia 06 - Didier Conrad (francês)
Dia 08 - André-Paul Duchâteau (belga)
Dia 09 - José Ruy e Rui Lacas
Dia 22 - Véronik Frossard (suíça)
Dia 23 - Mike Deodato (brasileiro)
Dia 25 - Inês Freitas
Dia 26 - Luís Diferr
Dia 30 - Pedro Manaças
Dia 31 - Miguel Rebelo

terça-feira, 18 de abril de 2017

NOVIDADES EDITORIAIS (117)

LE TRIOMPHE OU LA MORT - Edição Casterman. Autores: Rudi Miel e Fabienne Pigière no argumento, e Paolo Grella na arte gráfica.
“Le Triomphe ou la Mort” é o primeiro tomo da série "Libertalia".
Para quem se entusiasma com aventuras nos mares, nos cenários exóticos e onde funcionam piratas ou “profissionais” deste campo, esta série promete bem. Os autores inspiraram-se em textos de Daniel Defoe (o autor do clássico Robinson Crusoé) e trabalharam com afinco para esta narrativa na 9.ª Arte.
Assim, no século XVIII, em Madagáscar, um corajoso grupo de piratas, funda a utópica cidade-país Libertalia. São sobretudo anti-esclavagistas e combatem, quase sem pidedade, os navios traficantes de escravos. Ao comando desta “benemérita” força, está um destemido nobrezito francês, Misson, que está desfazado ante a sua época, e o jovem padre italiano Carracioli, em dissidência total com o próprio clero que vive em faustos e prepotências.
Obviamente, as acções de Misson e Carracioli incomodam seriamente as grandes potências da época...


ÉLOÏSE DE GRAINVILLE - Edição Delcourt. Autores: texto de Fred Duval, traço de Florent Calvez, cores de Delf e capa de Ugo Pinson.
É o segundo tomo da série “Mousquetaire”, que nos encanta plenamente, em especial porque desempoeira o género “capa-e-espada”, dando-lhe uma nova iluminação.
Na corte de Louis XIV, com Versalhes em finais da sua construção deslumbrante, D’Artagnan mantém o seu respeitável cargo na confiança do rei. Mas as intrigas na corte são um constante veneno que aí se respira... O jovem mosqueteiro Alexandre de Bastan, protegido por D'Artagnan, é uma presa fácil nos caprichos da intrigante Madame de Locuste e da sua “servidora”, a bela Éloïse de Grainville, que se arrisca a tudo para uma certa vingança pessoal, mesmo estando apaixonada por Alexandre...


LE CIMETIÈRE DES MACHINES À VENDANGER - Edição Delcourt. Argumento de Corbeyran e Chapuzet, traço de Luc Brahy e cores de Jérôme Maffre.
Terceiro e último tomo da série, policial até certo ponto, “Cognac”.
Chega assim ao fim a teimosa investigação da jornalista Anna-Fanély Simon, para desvendar o trágico assassinato de uma sua amiga de infância. Tudo isto num ambiente nada ligeiro, das vindimas, do fabrico e da comercialização de afamadas aguardentes na região francesa de Charente.
Todavia, nesta escaldante ficção, verifica-se que certos conhaques podem muito bem inspirar os piores procedimentos... Acontece!
LB

sábado, 15 de abril de 2017

HERÓIS INESQUECÍVEIS (46) - ALIX

O jovem e corajoso Alix Graccus é gaulês de origem, mas cedo foi  adoptado por um rico cidadão de Roma, Honorus Galla.
Pela arte e saber de Jacques Martin (1921-2010), Alix nasceu na edição belga da revista “Tintin”, a 16 de Setembro de 1948.
Na edição portuguesa desta mesma revista, estreou-se a 11 de Agosto de 1973.
Alix e Enak
Herói de uma longa e popular série de empolgantes aventuras, cedo tem como seu inseparável amigo o jovem príncipe egípcio EnakA ambiguidade desta íntima amizade jamais foi confirmada ou negada por mestre Jacques Martin.... E isso pouco importa! O que interessa, isso sim, é o deslumbramento da reconstituição dos usos, costumes e arquitectura dos territórios por onde Alix vai passando. Às vezes, apenas para marcar como então funcionavam tais nações, como por exemplo, em “O Imperador da China”. E Alix e Enak só lá “estão” pela liberdade criativa e imaginativa que a Banda Desenhada permite.

Ao fim de uma boa dose de álbuns, Martin (por problemas de visão) fez-se substituir, na respectiva arte gráfica, por discípulos ou amigos seus: Rafael Morales, Marc Henniquiau, Cédric Hervan, Christophe Simon, Ferry e, mesmo após o seu falecimento, a série continuou com Marco Venanzi, Mathieu Barthélemi, Marc Jailloux, Véronique Robin e Corinne Billon. E até, com novos argumentistas: Michel Lafon, François Corteggiani, Geraldine Ranouil, Mathieu Breda e Pierre Valmour.
Exemplarmente, Jacques Martin sempre afirmou que as suas séries deveriam continuar após a sua morte. E continuam!...

Entretanto, havia já surgido uma preciosa e didáctica série (sem BD, apenas com textos históricos e belíssimas ilustrações soltas): “Les Voyages d’Alix”... sem qualquer álbum em edição portuguesa!... Coisas do nosso lamuriento Fado!
Pormenor de uma página de "Les Voyages d'Alix"
E também, por nobre gesto das Éditions Casterman, surgiu uma espantosa série paralela: “Alix Senator”. Aqui, Alix, já cinquentão, é senador em Roma (agora sob a regência do imperador Augusto). Enak, aparentemente, está desaparecido no Egipto. Alix, em Roma, zela pela educaçã de seu filho Titus e do filho de Enak, o jovem rebelde Khephren...
Uma majestosa série com argumentos de Valérie Mangin e arte de Thierry Démarez. Claro, sem edição em português. Que birra a da miopia das editoras portuguesas!...

Todavia, da série “Alix”, a maioria das suas narrativas foram editadas entre nós, na versão álbum, primeiro pelas Edições 70 e depois, pelas Edições Asa, em parceria com o jornal "Público". Mas não vemos, nem com um eventual pó a servir de patine, tais álbuns nas prateleiras das nossas livrarias que expõem e vendem Banda Desenhada!... Ele há coisas!...

Alixna zona francófona, tem sido devidamente homenageado na Escultura e na Filatelia e, quiçá, na Pintura.
Estátua de Alix, pelo
escultor Jean-Paul Réti (1984)
Mas, sobre Alix e Enak, há mais:
1 - Os quatro romances, editados pela Casterman, com texto de Alain Hammerstein e ilustrações de Jean-François Charles: “Alix l’Intrépide”, “Le Sortilège de Khhorsabad” (inédito), “L’Ombre de César” (inédito) e “Le Sphinx d’Or”.
2 - Em 1998, uma série de animação, editada por Carrière-Projet Films-Sipec-Videal, para o canal francês FR3 e o alemão Tele Müchen.
3 - Em 1999, foi realizada com produção francesa, uma série de animação sobre o universo de Alix.
A série “Alix” tem duas séries fortemente concorrentes: “Murena” e “As Águias de Roma”. Cada uma no seu estilo construtivo, todas têm o seu imenso valor!
Desses tempos de antanho, em que tantos povos sofreram o “esclavagismo do Império Romano”, o herói-BD Alix é, sem dúvida, incontornável.
LB
Jacques Martin junto ao busto de Alix
"O Príncipe do Nilo", in revista "Tintin" #23 (25.10.1975)
"O Espectro de Cartago", in revista "Tintin" #30 (10.12.1977)
"Alix, o Intrépido", in revista "Tintin" #17 (5.9.1981)


Primeiro episódio de uma série de animação
com Alix como protagonista (1999)


O inacreditável encontro de Rastapopoulos com Alix e Enak,
numa homenagem a Hergé em "A Suivre" (Abril de 1983)


Alix foi várias vezes capa de revistas BD