sábado, 26 de abril de 2014

APRESENTANDO: SÉRA

Séra
Séra (aliás, Phoussera Ing) nasceu em Phnom Penh (capital do Reino do Camboja) a 24 de Junho de 1961. 
Filho de mãe francesa e de pai cambojano, sofreu os horrores da guerra civil no seu país natal e tinha 14 anos de idade quando o seu progenitor foi assassinado pela gentalha do cruel e sanguinário ditador Pol Pot.
Ele, a mãe e os irmãos, refugiaram-se na embaixada de França e pouco depois foram residir para Paris. Este "inferno", amargamente por ele vivido, marcou a sua personalidade e tem marcado em geral a sua obra, onde denuncia horrores, mas onde também há uma doce e nostálgica poesia.
No entanto, é um cidadão jovial e bem sociável e, uma vez, disse-nos: "Sou um revoltado positivo".
Já esteve em Portugal. A última vez foi quando foi homenageado no salão "Sobreda-BD / 2002". Ultimamente, reparte-se entre a França e o "seu" Camboja (em acções relativas à Banda Desenhada).
Com um estilo muito pessoal e inusitado, na sua bibliografia, já bem vasta, contam-se obras como:
Uma biografia da inolvidável actriz Rita Hayworth; os dramáticos e admiráveis temas cambojanos "Impasse et Rouge", "L'Eau et la Terre", "Lendemains de Cendres" e "3 Pas dans le Pagode Bleue"...
 

...a enigmática trilogia "Les Processionaires", com argumento de Philippe Saimbert; o segundo tomo da trilogia draculiana "Sur les Traces de Dracula", sob argumento de Yves Huppen, " Bram  Stoker"...
Capa e prancha de "Bram Stoker" (da série "Sur les traces de Dracula"), 
com argumento de Yves Huppen (Ed. Casterman, 2006)

...e, entre outros mais álbuns, "Antichambre de la Nuit", "Flic", "H.K.O.", "Secteur 7", "Sortie de Route", "Le Temps de Vivre", etc, tendo bem no topo, o maravilhoso, terno e poético, "Mon Frère, le Fou".

Dado a nossa plena amizade com Séra (pronuncia-se, sêrá), enviámos-lhe uma boa dose de questões para uma entrevista. Respondeu-nos que estava muito ocupado no Camboja, e que nos enviaria as respostas logo que pudesse... Se ele não se esquecer e o vier a fazer, aqui marcaremos um post com a programada entrevista.
Até lá, o nosso desafio aos leitores bedéfilos para que leiam (em francês) a sua obra e a todas as nossas corajosas editoras-BD para que o publiquem em português.
Vai uma vertical aposta?...
LB
Prancha de "Impasse et Rouge"

Prancha de "Dans la Pagode Bleue"

Prancha de "HKO"

Prancha de "Sortie de Route"

Capa de "Secteur 7"

terça-feira, 22 de abril de 2014

A BD A PRETO E BRANCO (12) - As escolhas de Carlos Rico (2)

JORDI BERNET (1944). 
Outro dos grandes mestres do preto e branco é o genial desenhador espanhol Jordi Bernet, que tem como obra de vulto "Torpedo 1936", com argumentos de Enrique Sanchéz Abuli (série publicada entre nós, nos anos 80, numa colecção de seis álbuns da Editorial Futura e, também, na revista "Mosquito"). Outras séries importantes de Bernet são "Clara de Noche", "Custer", "Jonah Hex", "Light and Bold", "Sarvan", "Historias Negras", etc. 
Fez também um episódio de Tex ("L'uomo di Atlanta") para a Bonelli Comics
Em 1991 foi-lhe atribuído o Grande Prémio do Salon del Comic de Barcelona, como reconhecimento pela sua obra.

Prancha de "L'uomo di Atlanta" (com argumento de Claudio Nizzi)
Prancha de "Torpedo 1936"




RUSS MANNING (1929-1981). 
Autor norte-americano, dono de um traço "limpo" e elegante, é reconhecido pelo seu trabalho em séries como "Magnus, Robot Fighter" (histórias de ficção científica, passadas no ano 4.000), "Tarzan" (de que Manning foi um dos melhores desenhadores), "Korak" ou "Star Wars" (escreveu e desenhou as tiras, de 1979-80).


Prancha de "Ricky Nelson"
Prancha de "Star Wars"


SERGIO TOPPI (1932-2013).
Italiano, nascido em Milão, fez publicidade, ilustração e desenho animado antes de se estrear na BD, em 1960. 
A qualidade do desenho aliada à soberba planificação que aplicava em cada prancha, fizeram de Toppi um nome incontornável da banda desenhada.
Em Portugal, tem obra publicada nas revistas "Jacto", "Jornal do Cuto" e Selecções BD", para além de alguns episódios da excelente série "À Descoberta do Mundo" (colecção de álbuns editados pela Dom Quixote).
Da sua obra imensa destacamos "Sharaz-De", adaptação dos Contos das Mil e Uma Noites de que apresentamos duas pranchas.

Pranchas da série "Sheraz-De"


Nota: A rubrica "A BD a Preto e Branco" será subdividida entre as escolhas pessoais de Luiz Beira (10 posts e 30 autores) e de Carlos Rico (idem), num total de 60 autores! As duas imagens que ilustram a obra de cada autor foram criteriosamente escolhidas por Luiz Beira e Carlos Rico e por esta ordem serão sempre apresentadas.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

ENTREVISTAS (14) - JOSÉ GARCÊS

José Garcês
José dos Santos Garcês, ou seja, mestre JOSÉ GARCÊSnasceu em Lisboa a 23 de Julho de 1928 e, ainda no activo, é hoje o decano dos nossos desenhistas. 
Cursou na Escola António Arroio de Lisboa.
Para além da sua vasta e admirável obra pela Banda Desenhada, é um notável ilustrador e um meticuloso elaborador de construções de armar (Mosteiro da Batalha, Torre de Belém, Mosteiro dos Jerónimos, etc.)


Construções de armar de Garcês,
in "Passatempos 2" (Ed. SEL - Sociedade Editorial, meados dos anos 70) 

Na região da Amadora, onde reside, há uma escola e uma avenida que, merecidamente, têm o seu nome.
Garcês homenageado em Moura, em 1995
Foi homenageado nos Salões de Sobreda, Moura, Viseu, Lisboa, Porto e Amadora. Falta aqui o de Beja e disso lhe perguntámos: "Beja?!... Não, Beja nunca me convidou".
A sua BD espalha-se pelos mais diversos periódicos, havendo muitas criações suas por recuperar e salvaguardar em álbum, donde títulos como "Viriato", "O Sargento-Mor de Vilar", "Xan Tung", "Caramuru", "O Terrível Espadachim", "Rumo ao Oriente", "Os Cavaleiros de Almourol", "Palo Quiri", "A Dama Pé-de-Cabra" e tantas e tantas mais.
"O Sargento-Mor de Vilar" que estreou, em 1956, no Cavaleiro Andante
Prancha 2 de "A Dama Pé-de-Cabra" (revista Tintin, n.º 29, de 29 de Novembro de 1980)

Deu cursos de Banda Desenhada em Lisboa e nos Açores.
Álbuns com criações suas, há bastantes, como por exemplo: "Através do Deserto", os quatro volumes de "A História de Portugal em BD" (com uma edição em francês), "Bartolomeu Dias" (com uma edição em inglês), "Eurico, o Presbítero" (esgotado),  "Jardim Zoológico de Lisboa -125 Anos", "O Lince Ibérico", "O Tambor / A Embaixada", "História de Faro", "História de Olhão", "História da Guarda", "História de Oliveira do Hospital", "História de Ourém", "História do Porto" e "Cristóvão Colombo" (em dois tomos).
Prancha de "Através do Deserto"

Participou no álbum colectivo "Salúquia", editado pela Câmara Municipal de Moura. 
Duas (de três) pranchas de "A Lenda da Moura Salúquia", do álbum colectivo
"Salúquia: a Lenda de Moura em Banda Desenhada" (Ed. da C.M. Moura, 2009)

Por sua vez, em mini-álbuns (esgotados) foram recuperadas as histórias "O Falcão" (em "Cadernos de Banda Desenhada, Ed.Catarina Labey) e "Picaroto, o Baleeiro / Zé Miúdo" (em "Cadernos SobredaBD", Ed. Grupo Bedéfilo Sobredense). 


"O Falcão" ("Cadernos de Banda Desenhada" - Ed. Catarina Labey, 1987)

Este é um panorama geral e necessariamente resumido, da vida e obra deste grande mestre da 9.ª Arte Portuguesa. E agora, a entrevista:


BDBD - Sendo o decano dos nossos desenhistas, o que tem a dizer ante tal "estatuto"?
José Garcês (JG) - Olhe, eu consegui fazer quatro áreas distintas para uma editora do Porto... Por aqui e ante tanta coisa que fiz, penso que tenho "o serviço arrumado". Pouco mais poderei ou terei de fazer...


BDBD - E as obras traduzidas para outros idiomas?
JG - Foram os quatro tomos da "História de Portugal em BD", em francês, e uma edição, em inglês, de "Bartolomeu Dias". Que eu saiba, nada mais.

BDBD - Porque deixou a ficção?
JG - Não, não abandonei a ficção, mas... num plano geral pela BD, prefiro a linha documental, sobretudo os temas ecológicos.

BDBD - Creio que preparava os álbuns sobre "A História de Silves", "Santo António" e "A História de Moura". Como estão estes seus entusiasmos?
JG - Silves e Santo António, estão prontos... mas a "marinar". Moura... acho que está ainda "no ovo". O caso de Silves depende da respectiva Câmara. O "Santo António", também depende da Câmara de Lisboa, mas estou a procurar outros prováveis apoios.

BDBD - Que pensa das novas gerações da nossa BD?
JG - As jovens gerações, e não só, andam muito inflamadas com o computador. O computador "resolve" tudo. Quando pessoal como eu trabalha com o lápis, a pena e o pincel, recuso-me ao computador. O traço manual marca a personalidade do artista. O computador não tem essa personalidade. Aceitei as novas tecnologias, onde o computador faz, de facto, coisas
maravilhosas, mas onde não há "aquela alma" que o traço manual regista. Com o computador perde-se o traço característico de cada artista.

BDBD - A BD Portuguesa está em crise?
JG - O País está em crise... A BD do nosso País reflecte-se nessa mesma crise.

BDBD - Finalizando por hoje e agora, quais são os seus próximos projectos?
JG - (risos)Que boa pergunta!... Projectos há, de acordo com a minha idade e na ideia de fazer alguma coisa de jeito, pois... Olhe, enquanto eu puder e me deixarem fazer, terei  muito gosto em não desiludir os meus leitores. É tudo muito problemático...
LB


in "Passatempos 2" (Ed. SEL - Sociedade Editorial, meados dos anos 70)


in "Passatempos 2" (Ed. SEL - Sociedade Editorial, meados dos anos 70)


Prancha de "Palo Quiri"
Prancha de "Eurico, o Presbítero"
"José Garcês: as Fases Diversas", de Leonardo De Sá e António Dias de Deus
(Coleccção Nonarte - Ed. Época de Ouro, 2002)

"História de Faro em BD" (Edições Asa, 2005)


"História de Pinhel - Falcão, Guarda-Mor de Portugal" (Âncora Editora, 2004)


"Lince Ibérico: a sua História em Portugal" (Ed. Liga Para a Protecção da Natureza, 2011)


domingo, 13 de abril de 2014

NOVIDADES EDITORIAIS (52)

VERCINGÉTORIX - Edição Glénat. Autores: argumento de Éric Adam e Didier Convard; arte gráfica de Fred Vignaux e apoio do historiador Stephane Bourdin.
Trata-se do registo da luta do audaz líder gaulês Vercingétorix contra as ideias imperialistas e expansionistas de Júlio César.
Vercingétorix foi para a Gália o que Viriato foi para a Lusitânia.
Preso e vilmente acorrentado numa masmorra de Roma, o nobre gaulês, pressentindo que não tarda será executado (diga-se, assassinado) pede que César o visite para lhe falar... É por este modo que se desenrola esta BD, onde o valoroso Vercingétorix conta ao imperador toda a sua história.
Um grande aplauso para esta obra!

LA COLÈRE BLANCHE DE L'ORAGE - Edição Casterman. Autor: Benoît Sokal. É o último tomo da trilogia-série "Kraa". Uma espantosa conclusão de um "western" selvagem e violento. Uma obra magistral de Benoît Sokal.
Com as teorias do xamanismo a envolver o enredo, Kraa, uma autêntica águia real justiceira, e o seu protegido jovem índio órfão Yuma, vivem uma heróica luta de sobrevivência e de protecção da Natureza e de determinados valores sagrados. São acompanhados pela jovem enfermeira Emily. Tudo termina, muitos anos volvidos, de um modo dramático e bem emotivo.

CELUI QUI VERSE LE SANG - Edição Lombard. Argumento de Darren Aronofsky e Ari Handel e arte gráfica de Niko Henrichon.
É o quarto e último tomo da bíblica história de Noé, salvando na sua famosa Arca, os vivos (humanos e outros animais) que deve salvar por "indicação de Deus".
Violência, loucura, incestos, obsessões, etc, até que a terra é vista e revisitada para sempre para além das imensas águas diluvianas.

 
U-29 - Edição Akileos. Adaptação da novela "O Templo" de Haward Phillips Lovecraft, com argumento de Rotomago e grafismo de Florent Calvez.
Por volta de 1917... O "U-29" é um submarino alemão. Tem poderosos projectores e a sua tripulação está toda dominada por trágicas e alucinantes crises psíquicas...
Enquanto situações muito estranhas acontecem, o submarino, imparável, afunda-se até ao chão oceânico, onde se vislumbram as bizarras ruínas de uma cidade... A lendária Atlântida?!... No final, só o comandante está vivo e, mesmo assim, não se sabe por quanto tempo...

 
LAST MAN / 4 - Edição Casterman. Autores: Balak, Bastien Vivès e M. Sanlaville.
Por aqui, por mundos que não são bem "deste mundo", prosseguem as aventuras, descobertas e confrontos dos três principais personagens: a jovem e destemida Marianne Velba, seu filhote Adrian e o misterioso atleta Richard Aldana.
Uma série estranha, que não deixa de encantar.