sábado, 28 de agosto de 2021

ENTREVISTAS (34) - JOSÉ PROJECTO (1.ª parte)

José Projecto trabalhando no seu ateliê, numa foto de 2020.

José Projecto é um nome que talvez pouco diga ao público bedéfilo dos nossos dias. Contudo, para os "jovens" bedéfilos dos anos 80 ele é um autor bem (re)conhecido, essencialmente pelo seu álbum "Geraldo", editado pela extinta Futura, assim como por outros trabalhos publicados em revistas icónicas como "Mundo de Aventuras" ou "Selecções BD".
Fizemos uma pesquisa e facilmente encontrámos o seu site, a partir do qual encetámos contacto e o convidámos a dar-nos uma pequena entrevista para o nosso blogue, algo a que, simpaticamente, acedeu com agrado. É essa entrevista, que agora aqui reproduzimos. Antes disso, porém, transcrevemos uma mini-biografia que fomos buscar precisamente ao seu site de modo a que todos os que nos leiam entendam melhor quem é o autor a quem damos hoje destaque no BDBD.

José Projecto nasceu em Évora, a 17 de Março de 1962. 
Desde muito cedo manifestou a sua motivação por representar e pintar o que o rodeava, sentindo uma inclinação especial pela 9.ª Arte. Começou por ilustrar fanzines e pequenas histórias de Banda Desenhada editadas no “Mundo de Aventuras”, “Selecções”, entre outros. 
Publicou o seu primeiro álbum de BD, intitulado “Giraldo-o-sem-pavor” em 1984. Durante a execução do segundo álbum que não chegou a terminar, as suas pranchas retratavam aspectos muito detalhados da fauna e paisagens que envolviam os personagens da história. Era o início da sua carreira como ilustrador e pintor naturalista. 
Intensificou as suas saídas de campo, reproduzindo nos anos seguintes vários elementos da nossa vida natural. Interrompendo a sua licenciatura em Belas Artes que iniciou em 1982, trabalhou como ilustrador para o actual Instituto da Conservação da Natureza. 
Simultaneamente começou a trabalhar com os Correios de Portugal e Tecnologia das Comunicações ilustrando diversos originais filatélicos para Portugal (continente, Madeira e Açores), Angola e Guiné-Bissau que se encontram divulgados em diversos países. 
Abandonou por nove anos o seu trabalho na administração pública, para se dedicar inteiramente à pintura e ilustração. Em 1992 o conjunto de selos portugueses da sua autoria, alusivos á conferência das Nações Unidas, ECO 92, foi distinguido com o prémio internacional do mais belo selo dedicado ao ambiente. 
Actualmente, repartindo o seu tempo de trabalho como funcionário da administração pública, continua pintando cenas particulares da nossa fauna.

Feitas as apresentações, é hora de avançar para a entrevista que, na verdade, não é tão pequena assim, facto que nos obriga a dividi-la em duas partes (sendo que a segunda parte será publicada nos próximos dias).
Boas leituras!
Carlos Rico


BDBD - O primeiro contacto que teve com a BD surgiu aos seis anos, através de um exemplar de "O Falcão", que lhe foi oferecido pelo seu pai (segundo nos dá conta no seu site, onde refere, até, o nome da aventura que tanto o fascinou: "O Segredo do Deserto"). O que é que viu de especial nessa história que lhe despertou esta paixão pela 9.ª Arte?
José Projecto (JP) - Desde muito cedo tive facilidade em imaginar qualquer história que me contavam. Felizmente, a minha geração foi contemporânea de um período áureo da ilustração, desde as caixas de sapatos, embalagens alimentares, anúncios de publicidade, jornais, revistas, embalagens de brinquedos, etc., quase tudo era ilustrado. Quando o meu pai me ofereceu o “Falcão #392”, com a história intitulada “O Segredo do Deserto”, deveria ter cerca de seis anos, como refere. 
Capa de "O Falcão" #392
Compreendi o meu interesse pela comunicação através do desenho porque me atraía muito tudo o que era ilustrado. Foi o ponto de partida para iniciar o desenho, reproduzindo muitas das ilustrações das revistas que passei a coleccionar sempre que era possível. Embora nunca tenha visitado o deserto, ainda hoje sinto uma atração muito especial por tudo o que se relaciona com os grandes desertos de África, a sua história, mistérios e evolução. Muitas destas histórias eram originalmente publicadas em Inglaterra e França, com ilustrações e argumentos muito bons. Felizmente, hoje é possível encontrar o trabalho de muitos dos ilustradores na internet, que maioritariamente não eram identificados. É frequente pesquisar autores como Thomas Marco Nadal no personagem de “Kalar”, Russ Manning no personagem de “Tarzan”, e outros que fizeram e fazem as delícias do meu gosto por BD. Das histórias que encontrava no Falcão, o personagem do “Robin dos Bosques”, publicado com o nome francês “Oliver”, foi sempre um dos meus preferidos, pelo lirismo que lhe atribuía princípios de democracia e distribuição de riqueza.

BDBD - Esses tempos áureos, nos anos 70 e 80, em que nos quiosques se encontravam inúmeros títulos de revistas de banda desenhada, acabaram há muito. Hoje não temos uma única revista sob edição portuguesa (embora uma fatia de público adquira revistas com edição brasileira ou americana, por exemplo) e, em contrapartida, consomem-se maioritariamente álbuns. Tem saudades desses tempos? Acha que algum dia haverá condições para termos de novo uma revista BD portuguesa nas bancas ou julga que esse cenário estará completamente colocado de lado, nos tempos actuais?
JP - Claro que tenho muitas saudades. Quando ia de férias com os meus pais para a praia de Armação de Pêra, adorava os quiosques repletos de revistas de BD em segunda mão e todos os tostões que apanhava eram para comprar revistas. Por essa altura, deveria ter uns dez anos, comprava uns cadernos A4 da Firmo-Porto, que rapidamente enchia de desenhos, por vezes procurando reproduzir as vinhetas que me despertavam mais interesse. Passava um mês de férias completamente obcecado. Acredito que tudo tem o seu tempo, é possível que voltemos à BD nos quiosques, mas o que deu vida ao fanzine e revista de BD foi um espaço socio-cultural livre nos EUA e na Europa, após a Segunda Guerra. Em Portugal, sentimos mais este impacto depois da Revolução de Abril, porque a ditadura não permitia ter muitas edições nesta área. Actualmente, esse espaço não é o mesmo, a realidade virtual tem mais força pelas infinitas possibilidades que disponibiliza. Mesmo depois de Abril, qualquer artista tinha de trabalhar muito para ver o seu trabalho aprovado e publicado. Hoje, graças à internet, os artistas têm a possibilidade de mostrar o seu trabalho ao mundo inteiro de uma forma muito rápida e praticamente gratuita. Recordo-me de uma entrevista que tive com o Vasco Granja, próximo dos meus quinze anos, de onde saí profundamente desiludido quando lhe pedi opinião para uma BD que ilustrei sobre a vida da Marilyn Monroe. Granja afirmou que aquele trabalho era apenas uma brincadeira. Mais tarde compreendi que era uma questão política, a vida de Marilyn foi complexa e a sua morte um mistério, a história reflectia a minha falta de conhecimento e ingenuidade, próprias da idade, numa enorme paixão pela diva. Talvez Granja desejasse proteger-me, porém poderia ter sido mais construtivo e explícito nas suas observações. 
Assim como o e-book não tirou o lugar ao livro, o mesmo irá acontecer com os álbuns ou algumas revistas de BD. Mas nada que se compare ao passado. A realidade do futuro editorial, tudo leva a crer que será acima de tudo virtual.

BDBD - A sua estreia na Banda Desenhada, enquanto autor, deu-se, naturalmente, através de publicações amadoras (vulgo fanzines) que produzia de forma artesanal, como era norma naqueles tempos. Que tipo de histórias editava? Já indiciavam o seu gosto pela História e pela Natureza ou eram de outro âmbito?
JP - Sempre fascinado pelo desenho e pela ilustração, os estudos ficavam em segundo plano. Era mais o tempo que passava a desenhar, do que a estudar. Sensivelmente pelos meus catorze anos, um amigo da adolescência propôs-me criarmos uma BD em conjunto. Dessa proposta mais tarde nasceu o “Clube Eborense de Banda Desenhada” composto por um grupo de amigos com uma visão comum, e que atravessou várias alterações, originando, entre outras atividades, cerca de seis fanzines intitulados “Calypso”. Tudo apoiado pelo FAOJ (Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis) e, já no final da sua existência, apoiado também por uma tipografia local, que contribuiu bastante para os meus conhecimentos sobre impressão em offset. Influências num misto de 7.ª e 9.ª Arte, primeiro, a ficção cientifica, as séries “Space 1999”, “Star Treck”, “Star Wars”, etc. Depois, o regresso à ficção histórica e ao fantástico com a época medieval “Robin Hood”, “Prince Vaillant” e primórdios das civilizações com “Conan”. A paixão ou influência da natureza esteve sempre presente, mas só teve relevo nas vinhetas do Geraldo. O meu crescente interesse pela fotografia ajudou-me a ter outra sensibilidade e maneira de criar os meus originais.

Capas do primeiro e último números do fanzine "Calypso" 
(Edições de 1977 e 1983)

BDBD - No princípio dos anos 80, publica nas "Selecções BD" e no "Mundo de Aventuras". Como aconteceu isso? Ser autor de BD (ou, pelo menos, publicar uma história) era algo que ambicionava e que acabou por se concretizar ou a oportunidade veio ter consigo e soube aproveita-la?
JP - A criação de “Crime do Universo” surgiu na evolução natural do meu interesse pela BD, com grande influência de ilustradores como Esteban Maroto em “5 x Infinito” e Jonh M. Burns com “Danielle” e “The Seekers”. Consumidor habitual da revista semanal “Mundo de Aventuras”, sabia que a editora estava aberta a novos autores portugueses. Quando terminei a história, dirigi-me à Agência Portuguesa de Revistas onde conheci o Jorge Magalhães, apresentei-lhe as pranchas e convidou-me a propor à direcção a sua publicação, que foi aprovada e editada. 
Prancha original de "Crime no Universo" (episódio 1), publicado no "Mundo de Aventuras"

BDBD - Fale-nos um pouco deste trabalho, "Crime no Universo".
JP - Penso ter respondido a esta questão na pergunta anterior, não há muito mais a dizer, “Crime no Universo” foi o resultado de anos de trabalho, precedido pela história de “IRA”, uma história que a minha irmã, Margarida Projecto, adaptou a partir de um poema e que foi publicada nas Seleções da Agência Portuguesa de Revistas.
Prancha original de "Ira", um trabalho dos irmãos Projecto,
José (desenhos) e Margarida (adaptação), publicado em "Selecções BD"

BDBD - Acabou, mais tarde, por fazer um segundo episódio de "Crime no Universo" que se manteve inédito (sendo hoje reveladas, em primeira mão, algumas pranchas, facto que muito lhe agradecemos). Porque é que este segundo episódio não foi publicado, como aconteceu com o primeiro?
JP - Recordo-me vagamente. Acho que esteve relacionado com o final ou restruturação da Agência Portuguesa de Revistas e a saída do Jorge Magalhães, para ficar como colaborador da Editorial Futura. Lembro-me que o último encontro que tive com o Jorge Magalhães foi precisamente para reaver as pranchas que estavam na sua posse.

Pranchas do segundo episódio de "Crime no Universo", que se mantém inédito

BDBD - Para o "Mundo de Aventuras" fez também uma série de capas, já na última fase da revista, com variados personagens. Como surgiu essa oportunidade?
JP - Como estava a estudar em Lisboa necessitava de ter algum rendimento extra, para não sobrecarregar os meus pais. Como faziam outros ilustradores, propus à Agência Portuguesa de Revistas dar apoio às ilustrações que fossem necessárias para as suas edições quando fosse possível. Ganhava-se pouco, mas ajudava a pagar o quarto.


Capas da revista "Mundo de Aventuras", por José Projecto (1986)

BDBD - Quantas capas fazia por mês? As cenas eram-lhe sugeridas ou era um trabalho totalmente seu?...
JP - À semelhança do que aconteceu com muitos ilustradores, não valorizei muito este trabalho. Por vezes sugeriam-me o que deveria reproduzir, outras vezes davam-me a liberdade para escolher...
(continua)

Nota: as imagens são copyright de José Projecto
CR

domingo, 22 de agosto de 2021

NOVIDADES EDITORIAIS (222)

O FOGO SAGRADO - Edição Ala dos Livros. Autor: Vicente Segrelles.
Quando, neste nosso/vosso blogue, a 10 de Maio e a propósito das "Capas" pelo catalão Vicente Segrelles, sugerimos a necessária reedição da maravilhosa série "O Mercenário", estávamos bem longe de imaginar que a atenta Ala dos Livros já a estava a preparar... Que bela aposta!
E já aí está o primeiro tomo, "O Fogo Sagrado". Parabéns, Ala dos Livros!
Que os nossos autênticos bedéfilos se desafiem agora na "ressureição" do heróico "Mercenário"... 
E atenção absoluta ao dossiê que encerra este tomo.


BOB MORANE, INTÉGRALE 17 - ​Edição Lombard. Autores: argumentos de Henri Vernes e arte de Felicisimo Coria.
Nesta imperdível série de integrais de Bob Morane", juntam-se agora quatro tomos que foram editados, a seu tempo e isoladamente: "Les Dents du Tigre" (partes 1 e 2), "El Matador" e "Sur la Piste de Fawcett".
Tudo bem? Então toca a ler e a coleccionar com entusiasmo estas belas reedições.


NOTRE DAME DE PARIS - ​Edição Levoir/RTP, Autores, segundo Victor Hugo, tem adaptação e guião de Claude Carré e arte de Jean-Marie Michaut. Tradução de Pedro Cleto.
"Notre Dame de Paris " (Nossa Senhora de Paris), tem a celebridade de ser considerada a maior obra deste grande escritor francês, o senhor Vicror Hugo ("Ignez de Castro", "O Último Dia de um Condenado à Morte", "Hernani", "Ruy Blas", "O Homem Que Ri", "Os Miseráveis", "Lucrécia Bórgia", etc).
"Nossa Senhora de Paris", que em certas versões na BD e no Cinema leva o título de "O Corcunda de Notre Dame", é uma belíssima novela romântica, porem bem amarga e trágica. Nos amores sofridos que aqui se desenrolam, conta-se com a bela e sensual cigana "Esmeralda" e o disforme "Quasimodo"...
Victor Hugo foi genial nesta obra, mas esta versão-BD, digamos, é apenas aceitável.


A ARANHA - ​Edição Escorpião Azul. Autor: Carlos Pais.
"A Aranha" é uma estranha (e assustadora ?) narrativa, com dois bizarros personagens: o jovem inquieto "Pigmalião" e uma misteriosa aranha, que também vive sozinha e se interroga...
É toda uma invulgar fábula, toda marcada numa linha simbólica, com poucas palavras, mas muitas interrogações.
Dir-se-ia que tudo é docemente assustador, como as aranhas são bem assustadoras para muito boa gente...
O bedéfilo corajoso que se aventure nesta leitura.
LB

terça-feira, 17 de agosto de 2021

BREVES (97)

FESTIVAL DE BEJA REGRESSA EM SETEMBRO...
Cartaz de Susa Monteiro
O Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja realiza-se entre os dias 3 e 19 de Setembro. Nos dias 3, 4 e 5 (o primeiro fim-de-semana) estarão em Beja todos os autores das exposições!
Aqui vos deixamos as 13 exposições patentes
e o nome dos autores presentes.
O Festival, organizado pela Câmara Municipal de Beja, inaugura dia 3 de setembro, sexta-feira, às 21:00 horas, na Casa da Cultura.

As Exposições:
António Jorge Gonçalves – Portugal
Bárbara Lopes – Portugal
Bartolomé Seguí – Espanha
Carlo Ambrosini – Itália
Ditirambos (coletiva) – Portugal
Jorge Magalhães – Portugal
Lele Vianello – Itália
Luís Louro – Portugal
Nicolas Barral – França
Shennawy, Tok Tok & companhia (coletiva) – Egipto
Toupeira (coletiva) – Portugal
Umbra (coletiva) – Brasil/Canadá/Portugal
Vincent Vanoli – França

Os autores das exposições presentes em Beja nos dias 3, 4 e 5 de Setembro:
António Jorge Gonçalves
Bárbara Lopes
Bartolomé Seguí
Carlo Ambrosini
Autores da coletiva Ditirambos
Lele Vianello
Luís Louro
Mohammed Shennawy
Nicolas Barral
Autores da coletiva Toupeira
Autores da coletiva Umbra
Vincent Vanoli

Outros convidados presentes em Beja nos dias 3, 4 e 5 de Setembro:
Catherine Labey – Portugal
Fabio Moraes – Brasil
Francisco Ucha – Brasil
Jean-Marc Chaussy – França
José Ruy – Portugal
Maria José Magalhães – Portugal
Nicolas Grivel – França


...E O AMADORA BD EM OUTUBRO!
Cartaz de Roberto Gomes

O Festival Amadora BD celebra trinta e dois anos... e um regresso há muito esperado. Em 2021, o Amadora BD retomará a sua realização física, entre os dias 21 de Outubro e 1 de Novembro, com um núcleo central numa nova morada, o Ski Skate Amadora Park, e dois núcleos paralelos, na Bedeteca da Cidade e na Galeria Municipal Artur Bual.
Exposições, lançamentos, sessões de autógrafos, apresentações e palestras fazem parte da programação deste ano, que contará ainda com algumas iniciativas em formato híbrido.
Os Prémios de Banda Desenhada da Amadora marcam presença na edição deste ano e distinguem, pela primeira vez, com um prémio pecuniário de cinco mil euros, a Melhor Banda Desenhada de Autor Português. 
Os Prémios são uma distinção do Município da Amadora, com a finalidade de consagrar e distinguir os autores de banda desenhada, através do incentivo à produção de obras provenientes destes géneros literários, em contexto nacional e com impacto internacional. 
Os interessados podem consultar o regulamento dos prémios aqui.


ANIVERSÁRIOS EM SETEMBRO

Dia 02 - Leonardo de Sá e Gerrit De Jager (holandês)
Dia 04 - Lucien De Gieter (belga)
Dia 05 - Stédo (belga)
Dia 06 - Ricardo Blanco
Dia 08 - Catherine Labey
Dia 09 - José Abrantes, Vicente Segrelles (espanhol) e Valentin Tánase (romeno)
Dia 13 - Luis Filipe Mendes (do GICAV) 
Dia 14 - Puiu Manu (romeno)
Dia 24 - Mara Mendes
Dia 26 - Spiros Derveniotis (grego)
Dia 27 - Pol Leurs (luxemburguês) e Matthias Schultheiss (alemão)
CR

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

​CAPAS (24) - ENRICO MARINI

Enrico Marini
​Fabuloso! É simplesmente fabuloso na sua arte que cativa qualquer um. Felizmente, tem alguma obra sua editada em português.
Muito gentil, aceitou conceder uma breve entrevista para o BDBD, a 11 de Julho de 2012, tendo sido a primeira entrevista publicada neste blogue.
Enrico Marini nasceu a 13 de Agosto de 1969, em Liestal (Suíça), mas mantém a nacionalidade italiana, que é a de seus pais. Estudou na Escola de Belas Artes de Basileia. O seu traço tem alguma influência da dos seus colegas preferidos: Hermann, Bernet, Giraud, Alex Toth e Otomo. 
O seu belo e firme grafismo cedo foi reparado por quem de direito e, quase num instante,
foi "seduzido" para criar-BD e ser editado. 
E nasceu uma admirável carreira!
Estreou-se com a série "Les Dossiers de Olivier Varèse" (4 tomos) em 1990. O primeiro, com argumento de Marelle, seguido de dois com argumento de Thierry Smolderen e o último (1993) com texto de Georges Pop.
Mas ainda em 1993, encetou a série "Gipsy" (6 tomos), todos com argumento de Smolderen. 
Em 1996, com argumentos de Stephen Desberg, criou "L'Étoile du Desert", um "western" em quatro tomos.
Em 1998, com argumento de Exem, fez o álbum único "Les Héritiers du Serpent". É neste mesmo ano que, com argumentos de Jean Dufaux, aparece a série "Rapaces" (4 tomos).
Imparável, de novo com argumentos de Desbeg, nasce em 2000 a série "Le Scorpion" (13 tomos) e em 2017 "Les Aigles de Rome" (5 álbuns), onde Marini é autor total.
Desafiado pela norte-americana DC Comics e pela francesa Dargaud, experimentou reinventar "Batman" para dois tomos (2017/2018)...
Aqui registamos algumas capas da sua encantadora obra, ficando à espera de "novidades" da sua autoria.
Bravo e bravo, Enrico Marini!

LB

domingo, 8 de agosto de 2021

ENTREVISTAS (33) - DERRADÉ

Derradé
Já conhecia, superficialmente, algumas bem animadas criações de Derradé, mas não o conhecia pessoalmente...
O seu recente álbum, "A Loja" (ed. Polvo), despoletou todo o desafio para esta merecida entrevista, se bem que breve.
Derradé (aliás, Dário Rui Duarte) é um dos grandes e incontestáveis valores de uma nova geração de desenhistas portugueses. Em boa aposta, ele singra pela difícil vertente do humor e de bem fazer rir e sorrir. A sua já notável obra espalha-se por alguns álbuns, sobretudo editados pela Polvo e pela Escorpião Azul, e por participações diversas em fanzines e outras publicações e antologias, numa bela e infindável lista.
Tem participado em grandes festas-BD, como a de Beja e da Amadora. 
Com frequência, faz parceria com argumentos do economista e saxofonista Geral (aliás, Mário Alberto Caldeira Cavaco). Muito cúmplices e muito divertidos e a divertir os leitores. Espantosos!
Na obra de Derradé, para além do já citado álbum "A Loja", há que salientar: "A 25, Sempre a Abril", "Edição Extra", "Fava!", "Fúria", "Pai Natal, Um Estudo Morfológico", "Segunda Oportunidade", "A Demanda do G", os três tomos de "Há Piores!" e todas as suas loucuras por fanzines e não só.
Nasceu em Lisboa a 15 de Outubro de 1971. 
Licenciou-se em Matemáticas Aplicadas e é analista e programador de Informática.
Em 1992, iniciou-se na Ilustração, no Cartune e na Banda Desenhada.
Colaborou e/ou colabora para várias publicações mais ou menos conotadas com a 9.ª Arte, como o "Jornal de Alverca". Editou diversos fanzines e expôs em Alverca (2000, 2001 e 2002), na Amadora (2011 e 2019) e Beja (2016). 
Recebeu o Troféu Central Comics, em 2012 e em 2017. 
Tem álbuns completamente esgotados, como "Segunda Oportunidade".
Por sua vez, no álbum "Edição Extra" há uma inteligente compilação de obras que estavam dispersas.
Aí segue o nosso "diálogo".
LB

BDBD - Como e quando te surgiu a aproximação à Banda Desenhada?
Derradé (D) - Desde miúdo. Aprendi a ler com a BD, em revistas como "Tintin", "Tio Patinhas" ou "Turma da Mónica". Depois, tinha um certo jeito para desenhar, o que também ajudou. E tenho a certeza que o desprezo com que alguns adultos a votavam me influenciou teimosamente a não largar a BD...

BDBD - Algum ou alguns desenhistas te influenciaram?
D - Sem dúvida. Há aqueles que esperamos que se vejam no nosso trabalho e há aqueles que surgem no teu trabalho e que julgavas que nunca te influenciariam: Angeli, Laerte, Glauco, Peter Bagge, Gilbert Shelton, Joe Matt, Morris e Maurício de Sousa.

BDBD - De todos (são tantos) os desenhistas portugueses, quais os teus favoritos?
D - Vou-me escusar a responder a esta questão, com uma única excepção: o meu velho companheiro de luta pelo humor em Portugal, o Álvaro.

BDBD - A mesma questão em relação aos estrangeiros...
D - Para além dos que me influenciaram: Lewis Trondheim, Joaan Sfar, Mathieu Sapin, Seth, Daniel Clowes, Jeff Smith, Carl Barks, Prett, Franquin, Tillieux, Serge Clerc, Yves Chaland, Quino, Bill Waterson, Richard Thompson, Hunt Emerson...

BDBD - ​​Aplicas-te essencialmente ao humor, às vezes com a bela malícia cáustica. A BD realista não te atrai?
D - Eu sou autodidacta. Os meus desenhos mais realistas acabam sempre com um ar cartunesco, o que quer dizer que só leio Humor a 100 %, mas gosto de um desenho que foge do real e que se estiliza, que se cartuniza.
Capa de "Pai Natal: um estudo morfológico", por Geral (texto) e Derradé (desenhos)
Edições Polvo (2001)

BDBD - Em "A Demanda do G", ajustas em cada prancha, em baixo e como rodapé, uma tira de divertida discussão entre o "desenhista" e o "argumentista". É ideia tua, do Geral ou de ambos?
D - A ideia de usar esse sistema no livro foi do Geral. A contribuição do Geral para esse livro, foi exactamente essa estrutura, as duas primeiras páginas, a última e duas tiras. Mas a ideia não é nossa, mas sim do que o Gilbert Shelton costumava fazer nas pranchas dos Freak Brothers, com as tiras do Fat Freddy's Cat.
Capa e prancha de "A Demanda do G", por Geral (texto) e Derradé (desenhos)
Edições Polvo (2016)

BDBD - Em "Há Piores", por exemplo, funcionam os sonhos e as frustrações erótico-sexuais. Há alguma base autobiográfica nesta linha?
D - Há sempre algo de autobiográfico em qualquer personagem que criemos. Neste caso, quem sabe? Quando fazemos BD também fazemos um pouco de terapia. A série "A Paixão Segundo Derradé", incluída no "Há Piores!... 3", surgiu de um desafio que me foi lançado pelo Nuno Amado do blogue "Leituras de BD" e é abertamente mais sexual. Foi uma experiência engraçada.
Capa e prancha de "Há Piores 3#, por Geral (texto) e Derradé (desenhos)
Edições Polvo (2014)

BDBD - Por sua vez, no bem pândego álbum "A Loja", parodias-te a ti próprio e ao universo-BD português. Excluindo a diversão que aí consta, é assim que julgas mais seriamente toda esta situação?
D - Olhando friamente, sim. Aliás, acho que é mais irreal do que a parodiei, digna de uma certa aldeia de gauleses, mas que ao contrário destes, não resistirão ao invasor romano. Já me pediram um segundo livro, mas não será para já. Histórias não faltam...
Capa e prancha de "A Loja", por Derradé (texto e desenhos)
Edições Polvo (2019)

BDBD - Em certos momentos, incluis figuras reais (Garcia Lorca, Serge Gainsbourg, Vinicius de Moraes, etc.). São autores da tua simpatia e aparecem, ao teu jeito, como um certo tipo de homenagem?
D - Sem dúvida. Sempre que puder, e fizer sentido, irei incluir esse tipo de homenagens. Aliás, todo "A Demanda do G" é, de certo modo, uma homenagem ao Joe Strummer.

BDBD - E a seguir, o que tens planeado?
D - A reforma!... O tempo escasseia e terei de ser mais criterioso com os projectos que ainda me proponho idealizar. Assim, estou a terminar para a Escorpião Azul, o que posso definir como uma autobiografia fictícia pós-apocalíptica viral. Depois, tenho mais quatro projectos para a Polvo. Tudo irá ser feito a seu tempo e sem pressas.

Registo o meu agradecimento pleno pelos apoios para esta entrevista, para além do do próprio Derradé, os das editoras Polvo (Rui Brito) e Escorpião Azul (Jorge Deodato).
Avante, pois parar é morrer antes do tempo!
Luiz Beira

Capa de "A 25, sempre a Abril", por Geral (texto) e Derradé (desenhos)
Edições Polvo (2002)

Capa de "Segunda Oportunidade", por Geral (texto) e Derradé (desenhos)
Edição Escorpião Azul (2013)


Capa e prancha de "Edição Extra", por Geral (texto) e Derradé (desenhos)
Edição Escorpião Azul, 2015)