quarta-feira, 14 de agosto de 2013

EVOCANDO (9)... GIANNI DE LUCA

Gianni De Luca (1927-1991) - autoretrato
Era uma vez... um grande senhor da Banda Desenhada Italiana: GIANNI DE LUCA.
Nasceu em Gagliato a 27 de Janeiro de 1927 e faleceu em Roma a 6 de Junho de 1991, para onde se mudara aos seis anos de idade. 
Pintor, ilustrador, gravador e banda desenhista, iniciou a sua carreira no semanário "Il Vittorioso" e, em finais dos anos 50, passou para "Il Giornalino", onde se manteve por muitos e largos anos, como "mágico" da 9.ª Arte.
Da sua vasta obra, reconhecida internacionalmente, em Portugal consta, pelo "Cavaleiro Andante", "David, Pastor da Judeia" (do n.º 112 ao 136)...
 

..."A Esfinge Negra" (do n.º 171 ao 190)...
 

...e "O Império do Sol" (do n.º 327 ao 338)...
 

...e ainda, um belíssimo e precioso álbum, publicado em 1977 pelas Edições Celbrasil, versando a transposição à BD de três peças de William Shakespeare: "Hamlet", "Romeu e Julieta" e "A Tempestade". Aqui, este integral "shakespeareano" é um verdadeiro luxo nos anais da Banda Desenhada.

 
Capa e pranchas de "Hamlet", "Romeu e Julieta" e "A Tempestade", respectivamente. 

Gianni de Luca tinha o condão de transformar (melhor, de adaptar) a sua arte gráfica consoante os argumentos e épocas. 
Em 1947 chegou a matricular-se na Faculdade de Arquitectura que, um ou dois anos depois, abandonou para se dedicar completamente à Banda Desenhada.
Por esta vertente artística, ter-se-á iniciado em 1946 com "Anac, il Distruttore", se bem que um ano antes tenha ilustrado, para a Editrice Libraria Siciliana, o romance de Ector Malot "Sem Família". Depois, desenha "L'Oasi di Kamarasi".
Em 1947, para "Il Vittorioso", estreia-se autenticamente com "Il Mago Da Vinci".
Depois, entre outras histórias, desenha "Il Fiore della Morte" e "Il Re della Montagna". Nos anos 1948 /49, marcam posição criações suas como "I Naufraghi del McPerson", "O Império do Sol", "A Esfinge Negra", "Il Tempio delle Genti", etc. Em 1951, com "Gli Ultimi della Terra", aborda o ambiente futurista. Em 1958, desenha "Ragazzi di Ungheria", com argumento de Lino Monchieri. 
Entretanto, de 1955 a 1959, com publicação irregular, desenha episódios da "Bíblia" (donde, pressupomos, pertence "David, Pastor da Judeia") na obra que tem por título geral "La Più Grande Storia Mai Raccontata".
Gianni De Luca sentia uma certa necessidade de ir mais além, de apostar também para uma BD para adultos. É em 1967, após um breve afastamento desta Arte e com "L'Ultima Atlantide" marcando o seu regresso, que é desafiado a "segurar" a série "Il Comissario Spada", uma das glórias da sua carreira, com argumentos de Gian Luigi Gonano, num clima policial localizado em Milão e com diversos aspectos bem actuais.
E prossegue somando êxitos, como o western "Bob Jason" (1969), "Gian Burrasca" (1983), as biografias de Totó e de Marilyn Monroe (1985), a estranhíssima e bela narrativa "Paulus" (1986) e em 1988, a publicação de "La Freccia Nera" (adaptação do romance histórico de Robert Louis Stevenson, com guião de Paola Ferrarini) e o início  de uma obra ambiciosa, "I Giorni dell'Impero", que ficou incompleta dado ao seu falecimento, mas que foi publicada, incluindo os esboços e apontamentos que já havia elaborado. 

Biografia de Totó (1985) e "Paulus" (1986)
No entanto, "a cereja no topo do bolo" é a sua magnífica trilogia shakespeareana, versando as peças "Hamlet", "Romeu e Julieta" e "A Tempestade", uma autêntica revolução ante as variantes do seu grafismo e da Banda Desenhada em geral. Aqui, duas Artes - o Teatro e a Banda Desenhada - pelo talento de Gianni De Luca, resultam numa simbiose admirável e marcante pelo seu deslumbre. 
Gianni De Luca recebeu o Troféu Yellow Kid, em 1971, e o Troféu Nettuno, em 1976.
Muito e muito ficou por se contar nesta evocação, mas o registo (sumário) feito, já conta muito. E o verdadeiro bedéfilo... (a bom entendedor...).
LB




Revista "Il Vitorioso" (n.º 26) de 29 de Junho de 1963 - capa de Gianni de Luca
O Fantasma segundo Gianni de Luca ("Avventure Americane", n.º 210, de 11-12-1966)

4 comentários:

  1. A adaptação de Shakespeare está entre aqueles livros que se lêem muitas vezes em que, de cada vez que os relemos, descobrimos um novo pormenor, um novo plano, ou um arranjo gráfico diferente.
    Considero que é uma daquelas obras que marca a história da banda desenhada.
    Saudações
    Paulo Viegas

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    1. Caro Paulo Viegas
      O Shakespeare é um génio no plano cultural da Humanidade, apenas suplantado pelos trágicos gregos Sófocles, Eurípedes e Ésquilo e pelo comediógrafo Aristófanes. Todos deviam ler estes cinco autores...mas em Portugal, o importante é o futebol...
      Um abraço
      Luiz Beira

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  2. Estou inteiramente de acordo com esta afirmação do Paulo Viegas, mas toda a obra de Gianni de Luca se lê (e aprecia) com interesse ainda hoje. O seu desenho foi sempre vanguardista em comparação com o de outros artistas do seu tempo, sem excluir Caprioli.
    Parabéns ao Luiz Beira por este excelente registo biográfico, menos sumário do que pode parecer e muito bem ilustrado. Um esclarecimento: "La Freccia Nera" é uma adaptação do famoso romance de Robert Louis Stevenson e não de uma obra original de Paola Ferrarini. Esta só fez o guião.
    Abraços do
    Jorge Magalhães

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    1. Caro Jorge Magalhães
      Um abraço reconhecido pelas tuas gentis palavras.
      Luiz Beira

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